Por Rogerio Ruschel
Estimado leitor ou leitora, boas notícias: o Brasil está acelerando propostas de certificação de origem para vinhos e espumantes e isso vai ajudar a conquistar respeito e mercado, dentro e fora do país. Estamos muito atrasados em relação a produtores com os quais queremos competir: em 2017 existiam 1.043 Identidades Geográficas - IGs apenas de vinhos, na Europa; só a França tinha 473 regiões certificadas, a Itália tinha 464 e a pequena Luxemburgo, que tem pouquíssima experiência com vinhos e um território do tamanho de uma fazenda de médio porte no Brasil, tem 36 regiões certificadas de vinhos. O quadro abaixo, retirado do meu livro “O valor global do produto local”, mostra um resumo.
Então a boa notícia é que corremos atrás do prejuizo. Hoje o Brasil já dispõe de sete IGs de vinhos, sendo seis delas de Indicações Geográficas (Campanha Gaúcha, a mais recente; Altos Montes, Farroupilha, Monte Belo, Pinto Bandeira, Vales da Uva Goethe) e uma de Denominação de Origem (Vale dos Vinhedos, a mais antiga). Mas outras três estão em processo de reconhecimento: Altos de Pinto Bandeira, Região do Planato Catarinense e Vale do São Francisco.
Não precisamos ter centenas de anos de cultivo e milhares de hectares de produção de uvas e vinhos para que valha a pena investir na identidade e origem. A Vinícola Miolo, por exemplo, com apenas 32 anos de existência, investe na valorização de 10 vinhos e espumantes que levam o selo de Denominação de Origem Vale dos Vinhedos – um pequeno número no universo de sua produção total que inckuioutras regiões.
Quando um produto adquire uma identidade territorial derivada da região onde é produzida (uma Identidade Geográfica – IG), a certificação das características exclusivas ou intrínsecas deste produto, agrega valor de mercado e ajuda a protegê-lo de cópias, através de um selo que garante sua identidade e lhe acrescenta valor como Propriedade Industrial – PI. Venho pesquisando, estudando e reportando sobre este tema não só aqui no In Vino Viajas, mas criei o WebCanal Tesouros no Fundo do Quintal, hoje com 27 videos com historias de sucesso sobre o tema e escrevi o primeiro livro brasileiro de marketing sobre o assunto, “O valor global do produto local – A identidade territorial como estratégia de marketing”, publicado em 2018 pela Editora Senac. Veja os links no fim desta matéria.
Voltando aos vinhos, veja o que um especialista informa: “As Indicações Geográficas brasileiras representam um reconhecimento dos territórios do vinho organizados, geridos de forma coletiva pelos produtores para valorizar a origem, promover e garantir a qualidade dos produtos. São regiões que estão ampliando seurenome, o que reforça a imagem junto ao mercado consumidor. Apresentam um diferencial para assegurar posição no mercado competitivo. A agregação de valor aos produtos faz parte de uma construção da imagem e do renome, que normalmente evoluem com a consolidação das indicações geográficas”, segundo Jorge Tonietto, Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, na foto abaixo.
A meu pedido o Dr. Jorge Tonietto, fez um resumo das três solicitações de reconhecimento de origem que tramitam no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI): Altos de Pinto Bandeira, Região do Planato Catarinense e Vale do São Francisco. Ele é Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com mestrado em Fruticultura de Clima Temperado pela Universidade Federal de Pelotas - UFPEL e doutorado em Biologie de L'évolution et Ecologie - École Nationale Supérieure Agronomique de Montpellier, França e um dos mais importantes especialistas brasileiros em Indicações Geográficas. Com a palavra, Jorge Toniolo.
Indicação de Procedência “Vinhos de Altitude de Santa Catarina”
Esta IG localiza-se em latitudes pouco tradicionais da viticultura mundial. Possui a área geográfica delimitada vitivinícola com as temperaturas mais frias do Brasil, mesmo estando em latitudes mais baixas do que as encontradas nas regiões produtoras de vinhos do Rio Grande do Sul. Estastemperaturas amenas são resultado da altitude onde os vinhedos são cultivados -sobretudo a partir de 900m, podendo chegar a 1400m, em altitudes onde não existe viticultura na Europa. Nestas condiçõesdo Brasil, o ciclo da videira é mais longo, sobretudo no período de maturação das uvas, resultando em uvas de qualidade que dão origem aos chamadosVinhos de Altitude de Santa Catarina. A produção de vinhos finos tranquilos e espumantes naturais é limitada ao volume de produção de poucas centenas de hectares de vinhedos cultivados na região.Os Vinhos de Altitude de Santa Catarina compõem uma identidade até então inexistente na vitivinicultura brasileira doséculo XX.
Esta nova região produtora enriquece o patrimônio vitivinícola nacional e amplia a diversidade dos vinhos de qualidade brasileiros. A estruturação desta IG foi resultado de uma parceria entre a Epagri, Embrapa Uva e Vinho, Sebrae e os produtores da associação “Vinho de Altitude –Produtores & Associados”, que depositou o pedido de registro da IG no Instituto Nacional de Propriedade Industrial –INPI em 2020, o qual está seguindo os trâmites do processo, com perspectivas de obtenção do registro ainda em 2021.Parasaber mais sobre a IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina: http://sistemas.epagri.sc.gov.br/semob/consulta.action?subFuncao=consultaPublicacoesDetalhe&cdDoc=47709
Indicação de Procedência de vinhos “Vale do São Francisco”
Sem dúvida esta é uma IG muito particular na viticultura brasileira e mundial. Trata-se da produção dos chamados vinhos tropicais, no clima tropical semiárido do Vale do São Francisco. Nesta condição, não há alternância entre verões e invernos como ocorre nas regiões de viticultura tradicional do mundo e a videira pode manter o ciclo vegetativo ao longo do ano, possibilitando colheitas e elaboração de vinhos de janeiro a dezembro. Além disto, os vinhos possuem uma identidade própria que resulta da interação das variedades com o clima e o soloda região. A IG Vale do São Francisco é um marco, pois é a primeira em nível mundial estruturada com requisitos equivalentes aos utilizados na União Europeia. E a primeira em vinhos tropicais.
Isto garante a origem e a identidade destes produtos, que inclui os espumantes naturais, espumantes moscatéis, vinhos tintos, rosados e brancos. Um amplo projeto coordenado pela Embrapa Uva e Vinho em parceria da Embrapa Semiárido e diversas outras instituições, incluindo os produtores através do instituto Vinhovasf, apoiou a estruturação inédita desta IG de vinhos tropicais. Com pedido de registro depositado no INPI em dezembro de 2020, estima-se que a IG possa estar reconhecida no primeiro semestre de 2022.Para saber mais: https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/58842515/brasil-e-pioneiro-em-indicacao-geografica-de-vinhos-tropicais
Denominação de Origem de espumante natural “Altos de Pinto Bandeira”
As denominações de origem contemplam produtos que apresentam características próprias que resultam do efeito dos fatores naturais (clima, solo, relevo) e dos fatores humanos (variedades, sistemas de cultivo, técnicas de elaboração e envelhecimento) da região delimitada. Altos de Pinto Bandeira é o resultado de um trabalho evolutivo da região de Pinto Bandeira, hoje compartilhado por uma coletividade de produtores nesta região diferenciada, que se beneficia de um clima ameno de uma zona de maior altitude da Serra Gaúcha. Trata-se da primeira DO brasileira exclusivamente de espumantes naturais. Possui um conjunto estrito de requisitos de produção para garantir verdadeiros produtos de terroir: produção das uvas na área delimitada, apenas três variedades autorizadasde alta aptidão, sistemas de cultivo específicos e com controle de produtividade, técnicas de vinificação particulares, incluindo a prensagem de uvas inteiras, segunda fermentação exclusivamente pelo método tradicional, tempo mínimo de um ano de contato com as leveduras no período de autólise, padrões de qualidade do vinho base e do produto finalizado, incluindo aspectos analíticos e sensoriais.
A Serra Gaúcha tem como produto ícone os espumantes naturais, reconhecidos no mercado nacionalpela sua qualidade. A DO Altos de Pinto Bandeira garante a origem deste produto, com os melhores padrões de produção tradicional numa área demarcada de excelência. Com isto, os consumidores podem ter acesso a estes produtos diferenciados.Um projeto liderado pela Embrapa Uva e Vinho, com a parceria da UCS, UFRGS e dos produtores da Asprovinho, concluiu a geração dos elementos que possibilitarão o imediato depósito do pedido de registro da DO junto ao INPI, com expectativa de reconhecimento para início de 2022. Saim mais: https://www.embrapa.br/en/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil
Para saber mais:
* WebCanal Tesouros no Fundo do Quintal – https://www.youtube.com/channel/UCc4c2FU6Z88_XU_2I2lFbmA
* Livro “O valor global do produto local” – https://www.essentialidea.com.br/portfolio-item/o-valor-global-do-produto-local/
* Artigos sobre Identidade Geográfica http://www.invinoviajas.com/?s=identidade+geo