O Brasil é um grande importador
de azeite de oliva, o terceiro maior do mundo: importamos US$ 316 milhões em azeite
e US$ 121 milhões em azeitonas em 2013.
Segundo informes sobre a produção mundial de azeite de
oliva em 2013/2014 (veja quadro abaixo) a liderança da Espanha continua
incontestável, com mais de 55% da produção mundial e a Europa é a região líder
com 75% do azeite mundial. Países emergentes de outros continentes (América, Austrália
e China) são responsáveis por apenas 3,8% da produção. Mas mesmo assim o
Brasil tem mercado e condições de produção para substituir importações que são muito altas.
Ao que tudo indica em 10 anos o Brasil será um pequeno produtor de azeitonas e de azeite de oliva, mas já estaremos substituindo importações. No primeiro post desta série (veja em
http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/azeite-de-oliva-made-in-brazil-producao.html ) mostramos que esta é uma grande oportunidade para interessados e a região sul
do Brasil tem clima e solo propícios para a plantação das oliveiras, como
mostrado no mapa abaixo. Então porque não produzir aqui?
Desde 2012 o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vem apoiando a produção de
azeitonas, especialmente com a atuação de um dos seus órgãos, a Embrapa, que estuda
solos, trabalha no desenvolvimento de mudas de oliveiras adequadas e investe em
um laboratório para análise da qualidade dos azeites fabricados e consumidos no
País.
Em 2012 tinhamos cerca de 600
hectares com oliveiras no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Minas Gerais, mas a idéia é aumentar em pelo menos 20% esta área a
cada ano. E isso vem sendo feito por agroindustrias, mas especialmente por
pequenos produtores – geralmente famílias – que, como na Itália e Portugal,
podem não ser os grandes exportadores mas são eles que ajudam a manter a
produção de azeites com personalidade, exatamente como com vinhos.
Para registrar um exemplo típico
do que está acontecendo com as oliveiras no solo brasileiro, In Vino Viajas foi
buscar o depoimento do casal Ricardo e Monica Ruschel,
um depoimento que pode incentivar outros produtores – amadores ou profissionais
– a perceberem a oportunidade e considerar as dificuldades de produzir azeite
de oliva no Brasil. Veja o depoimento deles a seguir.
Nossas oliveiras
Por Monica e Ricardo Ruschel (*)
Quando estivemos na Itália, em
2008, ficamos hospedados numa
residência que tinha um imenso jardim. Neste havia pequenas plantações
de oliveiras, tomates e lavandas. A proprietária, com muito orgulho, nos mostrou
e ofereceu pratos executados com as conservas de tomates e muito azeite, tudo
produzido pela propriedade. Os quartos sempre tinham, nas gavetas, maços de
lavanda seca que os perfumavam suavemente. Fiquei encantada, e quando voltamos
providenciei trazer junto umas sementes de lavanda e manjericão, outro tempero
recorrente na culinária italiana.
Como moramos em apartamento, nem
cogitamos em trazer mudas de oliveiras, ou melhor, nem nos passou pela cabeça tal
feito. Mas, em 2009, quando passamos por Mendoza, Argentina, visitamos um
imenso pomar de oliveiras e conhecemos o processo de extração do azeite. Nesta
oportunidade estávamos acompanhados de um casal amigo, cuja família possui
propriedade rural, aí então, começamos a cogitar a ideia de plantar alguns pés
de oliveiras apenas para consumo familiar – uma experiência. Quando regressamos
apresentamos uma proposta de parceria que foi muito bem recebida. Depois de
alguns contatos partimos para a ação.
O lugar escolhido foi a Fazenda
Figueira, em Garruchos, meio hectare cercado, vedado ao ingresso de gado.
(Garruchos é um município com 3.500 moradores, e que faz fronteira fluvial com
as províncias Argentinas de Corrientes e Missiones). O clima é adequado ao cultivo de oliveiras: elevadas
temperaturas, baixo índice pluviométrico e muito frio para a hibernação. Nos
associamos à Associação dos Olivicultores de Caçapava do Sul, a OLISUL, por
serem muito interessados e prestarem a orientação necessária para o cultivo da
planta. Encomendamos as mudas através da associação que importava da Espanha:
150 mudas da variedade Arbequina - veja na foto abaixo como recebemos as mudas. O passo seguinte foi a análise do solo e o “repique“ das mudas para
suporte maior, que mostramos na foto abaixo.
As fotos abaixo mostram as mudas depois de feito o repique
(transplantar para um suporte maior) e com a aplicação de lã de ovelha, no
talo, para evitar ataques de formigas. Na foto seguinte aparece uma parte do
pomar plantado com as estacas e algumas com uma tela protetora contra um
"curioso" lebrão que andava por lá.
Finalmente, depois de 3 meses, fizemos a plantação no solo,
definitiva. Contamos com apoio fundamental das meninas do casal (netas
emprestadas) e outros amigos (foto abaixo), foi uma festa da plantação. E a
sorte foi lançada. Agora temos que cuidar e podar das árvores enquanto elas
crescem, como podemos ver nas fotos abaixo, com 1 e 3 anos, aproximadamente.
Por enquanto nossa intenção é
produzir apenas para consumo próprio, como uma experiência, podendo, mais
tarde, ampliar a extensão do pomar. A capacidade média de produção por pé é de
4 litros, o que totalizaria 600 litros ao ano. Trata-se de pouco, muito pouco
para fins comerciais, mas o suficiente para a família e para presentear os
amigos.”
Acima, o casal investidor entrevistado: um brinde a estes brasileiros que
estão construindo uma indústria da qual ainda vamos nos orgulhar.
(*) Depoimento e fotos de Ricardo
Raupp Ruschel, jurista, professor e enófilo (e irmão deste editor), e Monica Esteve Ruschel, artista
plástica especializada em restauração de cerâmica, produtores iniciantes de
azeite de oliva na região da campanha do Rio Grande do Sul.