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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Slow Food realiza evento internacional de seis meses para valorizar a identidade e a origem de alimentos saudáveis

 

Por Rogerio Ruschel

Meu caro amigo ou amiga, há males que vem para o bem. O mais importante evento de promoção e intercâmbio sobre alimentação saudável do mundo - o Terra Madre Salão do Gosto, realizado pelo Movimento Slow Food internacional - este ano, por causa da quarentena, vai ser ampliado e espichado: em vez de um congresso de 5 dias, vai se realizar durante 6 meses. Os eventos começam dia 8 de outubro de 2020 e terminam somente em Abril de 2021. Isso mesmo, seis meses! E será realizado em dezenas de locais do mundo, a maioria eventos online mas também alguns eventos físicos, onde for possível. E nesta edição histórica de 2020, o tema do evento será Nossa Comida, nosso Planeta, nosso Futuro” e vai se discutir também o impacto da Covid-19 nos sistemas produtivos da alimentação do planeta.

 

A identidade e a origem como valor

O Movimento Slow Food foi criado pelo italiano Carlo Petrini em 1986, e tem como objetivo promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente. Atualmente a organização atua através de mais de 1 milhão de associados em 160 países. Por esta razão os militantes valorizam a identidade e a origem dos alimentos – e a força dees estea na valorizaçnao da biodiversidade. Exemplo: o Slow Food colocou nas Arca do Gosto do Brasil - 12 tipos de mel nativos do Brasil e que não são valorizados comercialmente, porque todo o sistema produtivo do capitalismo faz com que o Mercado prefira o mel das abelhas africanizadas, que não são nativas do Brasil. A Arca do Gosto é um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais.

Pequeno produtor de mel de abelha Mandaçaia na Caatinga

 

Em 2019 centenas de milhares de pessoas de dezenas de países se reuniram durante 5 dias em Turim – foi um happening grandioso. O contato pessoal de um evento assim não vai ser possível, mas se ampliam as oportunidades de conhecer pessoas, alimentos e culturas locais e com identidade, porque será possível participar dos eventos digitais ao vivo ou vê-los à vontade depois de terem acontecido, como dos Fóruns, Conferências, Palestras sobre Alimentação, Como é Feito e muito mais.

Aos jornalistas credenciados será permitido utilizar todos os materiais em vídeo ou parte deles para publicação online, para acompanhar os artigos, ou como fonte das histórias. 

Por causa da quarentena, o Movimento Slow Food vai realizar a maior e mais ampla edição de todos os tempos em termos de número de países envolvidos (quase 160!), de participantes e de quantidade de “ações por mudança” que será posta em prática por um milhão de ativistas em todo o mundo. Além disso, na nova geografia do Terra Madre, o Slow Food colocará em segundo plano as fronteiras políticas entre estados e regiões e concentrará a atenção em quatro ecossistemas globais (terras de altitude, territórios aquáticos, baixadas e áreas urbanas).

Os ativistas do Slow Food analisarão as várias fragilidades, problemas, soluções e oportunidades compartilhadas por esses ecossistemas, enquadrando o debate como parte da luta contra a atual crise climática e ambiental, que continua sendo a maior ameaça ao futuro da humanidade. Nossas relações com nossos alimentos – como produzimos, distribuímos, escolhemos e comemos – têm enormes impactos em nosso planeta e, consequentemente, em nosso futuro.

No Terra Madre, a idéia é entender para onde estamos indo e identificar as ações corretivas necessárias para garantir um futuro melhor… porque estamos ficando sem tempo! Para piorar as ameaças das mudancas climáticas, da poluição e do uso excessive dos recursos naturais, o sistema alimentar foi profundamente afetado pela pandemia de Covid-19. Os impactos na oferta e demanda de alimentos estão ocasionando sérias consequências nos quatro pilares da segurança alimentar: disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade. Então, como é possível alimentar o planeta e garantir alimentos bons, limpos e justos para todos?

O Slow Food tem a resposta: biodiversidade. O movimento sustenta que o único caminho a seguir é através da promoção da biodiversidade em todas as suas formas: desde bactérias invisíveis até as maiores espécies, bem como a diversidade de conhecimentos e culturas humanos. Esta missão é mais oportuna e urgente do que nunca. E para cumprir esta missão, é que o Terra Madre Salão do Gosto é necessário.

Acompanhe e participle dos eventos acessando aqui: https://terramadresalonedelgusto.com/en/event/

 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Porque a Três Corações investe em cafés de terroir, com identidade territorial e cultura comunitária? Porque é um ótimo negócio 2


Por Rogerio Ruschel

 Prezado amigo ou amiga, a Três Corações, talvez o maior produtor brasileiro e um dos gigantes exportadores de café do Brasil, está investindo em produtos bem pequeninos, verdadeiramente de nicho, em paralelo às milhares de toneladas exportadas anualmente, que conquistaram o mundo. Afinal, porque faz isso? Porque é ótimo para os negócios – e vou explicar porque.

A Três Corações desenvolveu a marca Rituais Cafés Especiais para agregar valor a um produto que no mercado interno é vendido em seu maior volume como um produto generico, sem diferenciação aparente. Há uma boa probabilidade de que a iniciativa seja resultado da ótima experiência que a empresa vem obtendo com exportações, inclusive dentro do conjunto do trabalho da Denominação de Origem – D.O. Café do Cerrado Mineiro.

Trata-se de uma clara declaração de amor à valorização da identidade territorial, com foco na diferenciação dos terroirs.

Segundo o fabricante, os Rituais Cafés Especiais surgiram “para explorar sabores, aromas e texturas que envolvem e surpreendem, são uma jornada que conduz para um novo lugar.” E continua: “Para nós, a origem do café é seu próprio destino, e essa travessia transforma”. Trata-se de uma clara declaração de amor à valorização da identidade territorial, com foco na diferenciação dos terroirs. Neste caso a Três Corações já tem produtos de terroirs do Brasil (Cerrado Mineiro, Mogiana Pauista, sul de Minas, Orgânico) e de outros países com identidade geográfica consolidada como Java,  Etiópia, Kenia e Colombia.

Você pode dizer: OK, terroir já vem sendo explorado pelos vinhos, queijos e cafés. É verdade, terroir é fundamental para a Identidade Geográfico - IG ou Denominação de Origem - DO. Mas além da valorização destes terroirs, a empresa mantém uma linha vintage (excepcional e extemporânea) denominada “Microlotes do Projeto Florada”, com cafés criados para “reconhecer o trabalho de mulheres cafeicultoras de todo o Brasil”, como resultado de um concurso para agricultoras. É mesmo uma ótima ideia. E na sequência desta boa ideia, teve uma outra: contratou o Padre Fabio de Melo como embaixador do Projeto Floorada, em novembro de 2019. 

E olha o que ele diz: “Fui conhecer de perto o Projeto Florada no sítio da cafeicultora Luciene Mota, em Pedralva, e o que mais me encantou nesta imersão foi, além de conhecer a história e a família da Luciene, perceber a oportunidade que a 3 Corações proporciona a estas cafeicultoras. (…) Além disso, sou apaixonado por café, e saber quem produziu esta bebida e sua história, é o que o torna ainda mais especial”. De novo, uma declaração de amor à identidade territorial – ou, neste caso, uma oração…

O comercial pode ser visto aqui: https://www.facebook.com/cafe3coracoes/videos/1322746554571033/?v=1322746554571033

Para saber mais, sugiro a leitura de:

http://www.invinoviajas.com/2019/08/produtos-com-identidade/

 

Entregue em Santa Catarina o primeiro Selo Arte, que valoriza a autenticidade e a origem de queijos artesanais

 

Por Rogerio Ruschel

Prezado leitor ou leitora, no dia 16 de setembro, em plena pandemia econômica e de saúde, o casal Air e Jacinta Zanelato, do Sítio Santo Antônio, em Bom Retiro, recebeu uma boa notícia: foram os primeiros produtores de queijo artesanal Serrano de Santa Catarina a receber o Selo Arte, criado para valorizar produtos saudáveis e artesanais. Para ser considerado artesanal, o produto deve ser individualizado, genuíno e manter as características tradicionais, culturais ou regionais. Além disso deverá ser regulamentado e reconhecido como artesanal pelo Estado de Santa Catarina. O Selo Arte para produtos artesanais representa o reconhecimento de um Tesouro no Fundo do Quintal pelo governo de Santa Catarina e pode funcionar como um selo de marketing para ajudar a reduzir a penúria de pequenos produtores rurais.

O Selo Arte dos Zanelato foi um momento importante para o casal - pequenos produtores de queijos com cerca de apenas 2 Kgs de produtos por dia -  porque vai permitir que o produto agora seja comercializado em todo o país. Mas foi também importante políticamente falando, porque o casal recebeu o Selo do secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, Ricardo de Gouvêa, e do secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, o catarinense Fernando Henrique Kohlmann Schwanke, além é claro de autoridades municipais e dirigentes setoriais.

Aliás, o Secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do MAPA, Fernando Schwanke, é um especialista em certificação e marcas coletivas com experiência internacional, inclusive na ONU (FAO) e tem percepção da importância das regras do mercado e certamente encontrará apoios para esta mobilização. O MAPA já havia criado em novembro de 2018, um selo próprio, o Selo Nacional da Agricultura Familiar (Senaf), para rastrear, identificar e promover produtos da agricultura familiar. Trata-se de uma espécie de IG – Identificação Geográfica; serão 6 tipos de Selos (Mulher, Juventude, Quilombola, Indígena, Sociobiodiversidade e Empresas) emitidos para cooperativas, associações agrícolas, agricultores e empresas com forte produção familiar, estabelecendo diferenciais.

 
Esse tipo de iniciativa está brotando em todo o Brasil nos últimos meses, muito por causa da crise financeira gerada pela pandemia de saúde que impactou fortemente pequenos produtores rurais com suspensão temporária de fornecimento para escolas públicas via PNAE; perdas de produção e quebras na estrutura de logística e distribuição; fechamento ou redução de muitas feiras livres nas cidades; quebra da entrega de produtos frescos em comércios ligados à gastronomia, restaurantes e bares e até mesmo a redução de compras de produtos não-alimentícios pelo setor de varejo e outros considerados “não-essenciais”.

Ao que parece produtores, sindicatos e entidades representativas de produtores se deram conta de que é preciso investir em marketing para diminuir a distância entre o produtor e o consumidor – e distâzncia não apenas física de logistica. Isso requer investir na qualidade, na origem e na rastreabilidade do produto, para que queijos artesanais com identificação de origem possam competir com queijos europeus certificados como IGs ou DOs, que tem longas histórias de tradição e origem para contar. A qualidade está sendo ampliada gracas ao esforço de organizações como a Embrapa, Epamig, Epagro e tantas outras – o que falta mesmo é percepção de marketing, do ciclo inteiro de marketing, da concepção à promoção nos mercados de destino, passando pela apresentação e embalagem, posicionamento, marca e conceitos e serviços pós-venda.  

As autoridades dos municípios, estados e do governo federal também se deram conta de que ficar constrangendo métodos produtivos com exigências excessivas para os produtores, só atrapalha a vida deles. É claro que questões de sanidade e saúde pública precisam ser seguidas e monitoradas, mas exigir instalacões caras para a produção de leite e queijo, por exemplo, pode ser um exagero – até porque os concorrentes europeus de queijos de leite cru também tem um pouco de “liberdade” para produzir seus produtos.

A história do Sítio Santo Antônio teve início em 2006, quando o casal Air e Jacinta Zanelato encerrou suas atividades no funcionalismo público e adquiriu uma área de 48 hectares no município de Bom Retiro. Os planos eram produzir vinhos e trabalhar com a criação de gado. A produção do queijo, trazida da cultura de seus antepassados, era um hobby para aproveitar o leite produzido, mas aos poucos foi se sobressaindo às demais atividades e se tornou um objetivo de vida.

“Somos pequenos, mas trabalhamos com muita qualidade. O Queijo Artesanal Serrano é feito com poucos ingredientes, mas tem muito da história e da tradição dos nossos antepassados. Eles nos deram de presente o bem fazer de um produto que atravessa gerações e é único para a nossa região. Apresentá-lo a mais pessoas e regiões é motivo de orgulho”, comemora o produtor Air Zanelato.

Todos ganham com a existência deste tipo de iniciativa como o Selo Arte catarinense, além do casal Zanelato que vai poder vender seu queijo fora da porteira sem correr o risco de ser preso por estar fora da lei. A chamada grande imprensa poderia ajudar valorizando isso – mas creio que não vai fazê-lo porque não é um big-business do agronegócio, daqueles que envolvem soja, carne e bilhões de dólares.  

Mas os leitores de canais inteligentes e sintonizados na realidade, como In Vino Viajas sabem que entendemos como arte do nosso trabaho aproximar este tipo de produto de valor artesanal do consumidor urbano, para que ele conheça nosso produtos – porque até hoje, por preconceito, falta de informação, falta de confiança ou esnobismo mesmo, continua preferindo produtos estrangeiros.

É por isso que escrevo aqui e gravo meus videos para a série Tesouros no Fundo do Quintal – TNFDQ (#tnfdq), onde mais de 25 vídeos contam historias de sucesso de pessoas que tem talento e investem em produtos e serviços saudáveis, com qualidade e com uma historia para contar.

Que sãoTesouros do Fundo do Quintal – como o queijo artesanal do casal Air e Jacinta Zanelato.

Fotos: Julio Cavalheiro / Secom; textooriginal: Assessoria de Comunicação – Cidasc