Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado leitor ou leitora, comprar vinhos
de uma vinícola com mais de 100 anos traz pelo menos duas certezas: 1) não há
dúvida de que a empresa teve muito tempo e acumulou experiência suficiente para
aprender a fazer bons produtos e 2) a longevidade é um sinal de
qualidade, porque ninguém se mantém por tanto tempo num mercado competitivo e personalista como o de vinhos sem conquistar e manter o respeito do consumidor. Pois aqui no Brasil quem tem uma ficha como essa é a Vinícola
Peterlongo, de Garibaldi, no Rio Grande do Sul, a capital dos espumantes do Brasil.
Foi o imigrante italiano Manoel Peterlongo (foto
que abre esta matéria) quem desenvolveu e lançou a primeira champanhe do
Brasil, em 1915. Para isso ele constituiu uma empresa com o nome de Armando Peterlongo, seu
filho mais velho (foto abaixo) que foi, nos anos seguintes, com grande talento, o realizador dos sonhos do pai. A foto acima mostra parte da fábrica nos
anos 1940. Naquela época, a champanhe era elaborada somente pelo método
Champenoise, desenvolvido pelo abade Don Perignon em
Epernay, Champanhe, no século XVII - aliás, a empresa se mantém fiel a este método até hoje. Outra herança deste pioneirismo é que a Peterlongo tem autorização judicial para utilizar o nome “champanhe” – a Denominação
de Origem da famosa região francesa - em seus
produtos .
E para comemorar seus 100 anos, a vinícola do seu Manoel Peterlongo
está reinventando a alegria de viver, beber, harmonizar e se divertir – verbos
que combinam perfeitamente com champanhe... Vou
resumir esta história centenária. A primeira champanhe brasileira foi desenvolvida em instalações
agora históricas que incluem pelo menos duas propriedades que podem ser
chamadas de magníficas. Uma delas é a primeira residência da familia
Peterlongo, erguida como um castelinho (veja na foto abaixo), onde hoje são
realizadas degustações e cursos para visitantes, mas que em breve poderá ser parte de um
hotel que está em planejamento.
A outra propriedade é uma cave subterrânea de
10 mil m² construída com belissimas pedras de basalto nos moldes das
caves francesas da época, e que representa uma espetacular solução de
engenharia ao manter a temperatura ambiente interna baixa e constante para as
garrafas em todas as estações do ano. O corredor da foto abaixo mostra um destes ambientes da cave, que hoje é parte do Museu Peterlongo.
Atualmente a cave está sendo utilizada
para atividades de turismo. João Ferreira, sommelier e diretor geral me
apresentou o museu que lá está instalado, os projetos de adaptação para tornar
o local um centro de eventos e festas, e também me mostrou por onde passa um
riacho hoje subterrâneo, que ajudava a levar água para o processo produtivo e
fazer a refrigeração da cave. Na foto abaixo João Ferreira, de pé, comanda uma
degustação harmonizada para mim e para Marcio Carlotto, da Setur de Garibaldi.
Hoje a Peterlongo é uma empresa moderna, com
equipamentos atualizados (foto abaixo) e produz e exporta uma ampla linha de
champanhes Brut, Extra Brut, Moscatel, brancas e rosés; vinhos frisante; champanhes filtrados Espuma de Prata; refrigerantes e sucos de uva e vinhos
tranquilos com uvas Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Riesling e Tannat,
varietais e assemblages. A lista de prêmios é enorme e pode ser consultada no
site da empresa; o prêmio mais recente do meu preferido, o Presence Moscatel, é uma
Medalha de Ouro no Concurso Mundial de Bruxelas, na edição brasileira do ano
passado.
Como todas as empresas longevas, a Peterlongo
também teve que superar dificuldades apresentadas pela economia; afinal, em 100
anos de vida enfrentou duas guerras mundiais, várias turbulências políticas
internacionais e nacionais e inúmeros planos econômicos tropicais - e as crises e variações de mercado provocadas por
tudo isso. No fim dos anos 1990 a empresa estava concordatária e foi adquirida pelo
empresário Luiz Carlos Sella (na foto abaixo recebendo um prêmio), que já tinha
negócios na serra gaúcha. Como ele mesmo me disse, a idéia era realizar os
aportes de capital, inovação e gestão necessários para colocar a Peterlongo
novamente no caminho da liucratividade, e então vendê-la.
Pois durante 15 anos os tais investimentos
foram feitos, uma nova equipe gestora foi contratada e sob o comando do próprio
Sella e do executivo João Ferreira, oriundo da competitiva indústria
automotiva, a empresa voltou ao azul em 2014. Mas como é bastante comum no
mundo do vinho, o investidor se apaixonou pela atividade e em vez de vender a Peterlongo,
decidiu ampliar os investimentos. O relacionamento com a comunidade, que foi
abandonado nos duros tempos de crise está sendo retomado e em breve vai ser lançado um livro com
a memória dos 100 anos da empresa, o que, segundo Ferreira, é de enorme
significado e importância para a Peterlongo. Na foto abaixo, rótulos
históricos da empresa.
Como a Peterlongo recebe muitos turistas, muitos
planos começam por aí. A antiga cave de pedras de basalto deve se tornar um
centro de eventos para casamentos e festas, cursos, degustação e varejo. O atual
museu vai ser ampliado e modernizado. O castelo residencial da familia deve ser
parte de um hotel a ser construído. E nos jardins da empresa, ao lado de um
vinhedo que costuma ser visitado pelos turistas (veja a foto abaixo), será implantado
um espaço para projeções de cinema ao ar livre, mais um ato de memória a Armando Peterlongo que fazia
filmes de interesse comunitário que estão sendo recuperados.
Esta é a parte visivel das mudanças, mas na
área de produção também estão sendo realizados investimentos que ainda não
estão sendo revelados. Mas como me disse João Ferreira, “Vamos honrar a memória
dos pioneiros Manuel e Armando Peterlongo com ideias, produtos e serviços de qualidade superior”.
Tenho certeza de que isso vai acontecer, meus caros João e Sella, porque
somente com qualidade superior uma empresa produtora de champanhes poderá
continuar a ser competitiva local e globalmente. Faço um brinde a todos do passado e do futuro desta empresa gaúcha e brasileira da qual todos devemos nos orgulhar. E eu quero voltar na Peterlongo para ver todos estes projetos realizados.
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino
Viajas e já viu garrafas de champanhe Peterlongo em muitos eventos no Brasil e
exterior, nos ultimos 40 anos.