Pesquisar neste blog

sábado, 27 de março de 2021

Queijo do Marajó, feito com leite fresco de búfala, ganha reconhecimento de Indicação de Procedência – IP

 

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, mais uma boa noticia: o Queijo do Marajó, um queijo fresco de leite de búfala, produzido de forma artesanal há mais de 200 anos no arquipélago do Marajó, no Pará, acaba de ser reconhecido como um patrimônio de valor coletivo. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) atribuiu a ele o registro de Indicação de Procedência, uma das formas de Indicação Geográfica do Brasil.  Na abertura, veja a alegria das vaquinhas de Marajó, que agora são VIPs!!!

Trata-se de um reconhecimento importante para proteção do valor de um produto de base local, um queijo único no mundo que é reconhecido como patrimônio produtivo dos municípios de Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure, cidades que fazem parte do território da Ilha do Marajó. Gabriela Gouveia, um das produtoras que faz parte da Associação de Produtores de Leite e Queijo do Marajó – organização que solicitou em 2018 a Indicação de Procedência - relembra os grandes marcos na trajetória, até a conquista do registro. “É um sonho se materializando. Primeiro com a introdução do búfalo na produção, o uso da desnatadeira até reconhecimento como primeiro produto com serviço de inspeção sanitária em 2013 e a conquista do Selo Arte em 2020 para venda em todo país e agora, finalmente a IG”, diz. 

Historicamente o queijo era produzido por produtores portugueses e franceses com leite de vaca durante dois séculos, mas passou-se a utilizar leite de búfala com a chegada destes animais ao Marajó entre o final do século XIX e o início do século XX. Atualmente a produção está inserida no contexto cultural local, em um processo de produção bem peculiar e artesanal, o que inclui o fato de que o ofício da produção do queijo é aprendido pelos produtores ainda na infância.

Fico feliz porque a realidade dos produtos locais está mudando no Brasil: os produtores estão mais cuidadosos e interessados e os órgãos estatais de registro estão mais flexíveis porque todos estão chegando à conclusão de que se produtos estrangeiros similares podem ser vendidos no Brasil com valor aumentado em até 270% por causa da certificação como IG, porque os nossos não poderiam? Sim, podem, se o mundo souber que eles existem. Os produtores esperam que com a IP o queijo aumente suas chances de conquistar novos mercados, promovendo o desenvolvimento econômico local. Sim isso pode ser feito, mas, repito, desde que o mundo fique sabendo que o queijo de Marajó existe, que é bom, que tem valor - e isso só vai acontecer se os produtores fizerem marketing, marketing bem feito.

O trabalho junto ao INPI foi realizado através do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com o apoio do Fórum Técnico de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas do Estado do Pará via articulação, divulgação e visibilidade. O fórum é formado por 32 instituições-membro, entre elas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as secretarias de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e de Turismo (Setur), a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater).

O analista técnico do Sebrae Pará Péricles Carvalho acompanhou a trajetória dos produtores para a conquista da IG e lembra que por muito tempo o queijo do Marajó foi marginalizado, mas que hoje é considerado uma iguaria por grandes chefs da gastronomia. Diz ele: “Nosso primeiro contato com os produtores foi em 2012 quando fizemos o diagnóstico do potencial do produto como IG. Com o resultado positivo, começamos a trabalhar em várias frentes com o apoio de uma rede de parceiros. Foi preciso começar da base, com orientações desde boas práticas e ações para que o produto pudesse ser comercializado dentro da lei para outras localidades dentro do estado”. 

Gostaria de destacar que os ganhos com a denominação de Identidade Geográfica começam sempre antes da formalização – até porque um processo de registro de uma IG pode levar muitos anos (nesse caso, quase três). Carvalho relata:  “Aos poucos houve uma mudança de mentalidade de um senso individual de cada produtor para um senso coletivo, que fez toda a diferença. Eles também acreditaram no Sebrae e na condução do processo. Acompanhamos a criação da associação que foi responsável pelo depósito da IG e também houve um trabalho para estimular os jovens a se interessarem pelo ofício de queijeiro, como oportunidade de negócio”, explicou. 

Agora o Pará tem três produtos com Indicações Geográficas que tenho acompanhado e divulgado, aqui nos blogues “In Vino Viajas”, nos meus livros e palestras e também no meu Web Canal Tesouros no Fundo doQiuintal: o cacau de Tomé-Açu (veja aqui: https://youtu.be/JDCtSOl5vds ), o Guaraná da Terra Indígena Andirá-Marau (veja aqui: https://invinoviajas.blogspot.com/2020/12/terra-indigena-andira-marau-e-primeira.html). Mas em breve deve certificar mais um produto local, a farinha de Bragança.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Prost!!! A cultura do vinho é reconhecida como o 35o. patrimônio cultural imaterial da Alemanha

 

Por Rogerio Ruschel

 

Meu prezado leitor ou leitora, fico feliz em informar que mais um bem da cultura que existe no entorno da produção de vinhos acaba de ser reconhecido como um patrimônio cultural. Estou falando da cultura do vinho na Alemanha, reconhecida em 9 de março de 2021 pelo registro alemão do patrimônio cultural imaterial, por recomendação do comitê de especialistas da Comissão Alemã para a UNESCO - Organização das Naçõs Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Este é o 35o. registro oficial no inventário nacional alemão do Patrimônio Cultural Imaterial e é um importante passo para ser reconhecida pela própria Unesco como um Patrimônio da Humanidade Cultural Imaterial. A informação é do German Wine Institute.

 

Patrimônios da Humanidade são regiões, monumentos, criações, áreas (denominadas “sítios”) ou modos de fazer, tecnologias sociais, produções culturais ou heranças comunitárias consideradas pela comunidade científica e intelectual de inigualável e fundamental importância para a humanidade. E por esta razão são protegidas, como “In Vino Viajas” tem mostrado frequentemente. Podem ser naturais, culturais, imateriais  - em março de 2021 a lista incluía 1.121 sítios e bens reconhecidos, distribuídos em 167 países. Todos os anos propostas, pesquisas e documentos sobre bens patrimoniais são preparados e apresentados na forma de candidatura à Unesco, que pode ou não reconhecê-los como Patrimônios da Humanidade.

 

Pois o reconhecimento da cultura do vinho na Alemanha no registro nacional do patrimônio cultural imaterial homenageia a cultura do vinho na Alemanha como um cultivo aberto, vivo e adaptável de uma tradição firmemente ancorada na sociedade. O raciocínio também destacou que a cultura do vinho na Alemanha inclui aspectos sociais, lingüística, artesanato e paisagem cultural, bem como inúmeros festivais e costumes. Molda o ritmo de vida de muitas pessoas e por isso muitas vezes contribui para a identidade local, especialmente nas regiões vitivinícolas. E foi baseada numa candidatura apresentada pela Academia Alemã do Vinho (DWA) em outubro de 2019 ao secretariado responsável pelo Património Mundial da Renânia-Pfalz no Ministério da Ciência, Educação Continuada e Cultura.

 

"Estamos muito felizes e, junto com todos os defensores da cultura do vinho na Alemanha, estamos muito felizes com esta decisão", disse a diretora-gerente da Academia Alemã do Vinho (German Wine Academy), Monika Reule. Desde o início, a candidatura da Academia Alemã do Vinho foi apoiada pelo Estado da Renânia-Pfalz através do Ministério da Economia, Transportes, Agricultura e Viticultura e foi aconselhada pelo Ministério da Ciência, Educação Superior e Cultura.

Em maio de 2018 fiz uma pesquisa e encontrei cerca de 30 bens materiais e imateriais ligados à cultura do vinho, com reconhecimento pela Unesco. Veja alguns deles a seguir.

 

Patrimônios Materiais

  • Paisagem Culturald e Wachau – Áustria (2000)
  • Vale do Loire entre Sully-sur-Loire e Chalonne – França (2000)
  • Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico – Portugal (2001)
  • Paisagem Histórica Cultural da Região Vinícola de Tokaj – Hungria (2002).
  • Vale do Reno – Alemanha (2002)
  • Porto da Lua e centro histórico de Bordeaux – França (2007)
  • Vinhedos, colinas e propriedades vinícolas de Champagne- França (2015)
  • Climats e terroirs da Borgonha – França (2015)
  • Áreas protegidas da região de Cape Floral, Cabo – África do Sul (2004)
  • Paisagem Vinícola do Piemonte – Itália (2014)

 

Patrimônios imateriais da cultura do vinho:

  • Prática agrícolatradicional “vite adAlberello” – Ilha Pantelleria, Itália
  • Método devinificação ancestral “Qvevri” – Georgia
  • Iter Vitis – Associação Europeia para a Promoção dos Territórios Vitivinícolas

 

Brindo a isso – Prost!!!

 

Para saber mais: Conheça mais de 20 bens da cultura do vinho que são reconhecidos pela Unesco como Patrimônios da Humanidade - https://wpconseld.com.br/invinoviajas/2018/05/patrimonios-da-humanidade/

 

segunda-feira, 15 de março de 2021

As aventuras gastronômicas no maravilhoso mundo em miniatura de Pierre Javelle e Akiko Ida

 


Por Rogerio Ruschel (*)

 

Prezado leitor ou leitora, Você gostaria de brincar de escorregar em um prato de chantilly? Ou mergulhar em um lago de chocolate? Esculpir em um amendoim? Ou quem sabe jogar golfe em um biscoito? Pois isso você pode fazer se tiver a mesma imaginação de dois gastrônomos-artistas-fotógrafos muito criativos que você vai conhecer agora. Publiquei este artigo em 2015 e repito agora porque a beleza nnao sai de moda.

 

Desde 2002, os fanáticos pela gastronomia Pierre Javelle e Akiko Ida foram inventando e fotografando uma série de dioramas lúdicas, que eles chamaram de “Minimiam”, combinando estatuetas em miniatura de pessoas interagindo com vários tipos de alimentos.

 

Um diorama é um modo de apresentação artística de um ambiente, feito de maneira muito realista representando cenas da vida real para exposição com finalidades de instrução ou entretenimento. Lembra daquelas vitrines com animais em museus? Pois é aqueles são dioramas ”normais” com os animais em tamanho natural. E o nome Minimiam é uma combinação das palavras “miniatura” e "delicioso" (“miam” em francês).

 


 Akiko é uma japonesa que além de ser boa em culinária, também sempre gostou de fotografar. Akiko se especializou em criar pães e acabou se tornando uma fotógrafa de alimentos muito badalada na Europa. Pierre é francês da Borgonha e também trabalha com desenhos. Ele se confessa influenciado pelos personagens das Histórias em Quadrinhos (de onde vem as miniaturas?) e pelo trabalho do famoso fotógrafo Cartier-Bresson.

 

Pois os dois juntos criaram os Minimiams que são utilizados como ilustrações por revistas de gastronomia, design e revistas de bordo como Air France Magazine, TGV Magazine, ou jornais como Le Monde ou Paris-Times – alem de campanhas publicitárias de produtos alimentícios, é claro.

 

Os dramas em miniatura criam cenários muito criativos e atraentes que nos permitem ver cenas da vida de pessoas comuns, relaxando ou trabalhando, em ambientes criados com elementos de gastronomia como frutas, legumes, pratos prontos ou doces, como se fossem situações quotidianas.

 


Realmente uma bela criação que valoriza os alimentos, as pessoas e a beleza gráfica. Atualmente a dupla também realiza projetos não incluindo o mundo da gastronomia, que você pode conhecer no site deles, aqui: http://www.minimiam.com/en/goen.html

 

Faço um brinde a Pierre Javelle e Akiko Ida, os criadores dos Minimiams.

 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Rio Grande do Sul colheu 800.000 toneladas de uva em 122 municípios: uma safra muito boa para vinhos que prometem qualidade


Por Rogerio Ruschel, com texto da Conceito.com

Meu prezado leitor ou leitora, no periodo de metade de janeiro a comecinho de março aproximadamente os brasileiros colhem a safra anual de uvas – tanto para consumo na mesa quanto para produção de sucos ou vinhos. Pelos meus calculus, ea atividade da vitivinicultura envolve direta ou indiretamente cerca de 5 milhões de pessoas em pelo menos 170 localidades e municípios em 40 regiões de 10 Estados brasileiros. As avaliações iniciais falam em uvas de qualidade que podem levar a mais uma safra de ótimos vinhos, como tem sido nos últimos anos.

A União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) acaba de divulgar os resultados da safra 2021, a colheita das uvas no estado do Rio Grande do Sul, principal pólo produtor do fruto, de sucos e de vinhos do Brasil.  O texto a seguir (e a foto) é da assessoria de imprensa Conceito.com.

“Novas áreas cultivadas que entram em produção este ano e a ausência de perdas em razão de intempéries projetam uma safra da uva muito maior que a do ano passado. As previsões indicam um leve aumento, podendo ultrapassar as 800 mil toneladas somente no Rio Grande do Sul. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje o estado mantém 46.774 hectares destinados ao cultivo da uva. Em relação a qualidade, ainda é cedo para fazer uma avaliação geral. Entretanto, as uvas precoces, destinadas à elaboração de espumantes apresentaram excelente sanidade e equilíbrio entre acidez e açúcar, o que é ideal para a bebida.

As condições de estiagem, combinadas com grande amplitude térmica diária, de dias quentes e noites frias, ocorridas no final da primavera e início do verão, não anteciparam o ciclo e foram muito favoráveis para a quantidade e a qualidade enológica das uvas precoces. Entretanto, apesar de uma previsão de maior quantidade em relação à safra 2020, o prognóstico de maiores índices de chuvas pode restringir o potencial qualitativo de algumas cultivares intermediárias e tardias, o que exige maior atenção dos produtores.

Para o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Deunir Argenta, ter uma grande safra e de qualidade é um alento para um setor que viu seus estoques praticamente desaparecerem diante do excelente de desempenho de vendas em 2020 em razão da pandemia. “As pessoas ficaram mais em casa, mudando hábitos de consumo. A alta do dólar também ajudou, fazendo com que o brasileiro degustasse e descobrisse o vinho brasileiro, aprovando a experiência, tanto pela qualidade, quanto pelo bom preço”, avalia. Argenta também destaca o problema da falta de garrafas que vem se agravando ano a ano. “Se já enfrentávamos este problema com uma safra menor, nosso grande desafio será resolver esta situação, uma vez que o consumo per capita subiu no ano passado”.

A safra gaúcha em números

Quando falamos de safra da uva, logo vem à mente cidades como Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Garibaldi, Farroupilha, Caxias do Sul. Mas, o mapa da vitivinicultura gaúcha é muito maior. Hoje, o Rio Grande do Sul tem 497 municípios. Destes, 122 vivem do cultivo da uva, entre outras culturas, conforme dados do Cadastro Vinícola do Estado do Rio Grande do Sul (SISDEVIN/DAS). Menos de um quinto deste grupo, ou seja, 22, produzem apenas variedades viníferas. Outras 34 cidades mesclam as áreas com uvas viníferas e americanas, e a grande maioria, 66 delas, se dedicam ao cultivo exclusivo das uvas americanas.

A aposta única nas viníferas está distribuída por diversas regiões em pequenas cidades, como André da Rocha, Bagé, Candiota, Canela, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaara, Itaqui, Lavras do Sul, Mariana Pimentel, Muitos Capões, Passo do Sobrado, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Piratini, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento, São Borja, São João do Polesine, São Sepé e Uruguaiana. Neste caso, a maior representatividade está em Santana do Livramento com 10% de toda produção de uvas viníferas do Estado, chegando a 6,9 mil toneladas no ano passado.

 Considerando os municípios que cultivam viníferas e americanas, o maior produtor de uvas é Flores da Cunha com um total de 84 mil toneladas em 2020, seguido por Bento Gonçalves com 73 mil toneladas e Farroupilha com 50 mil toneladas. Entretanto, o maior produtor de uvas viníferas é Bento Gonçalves com 12 mil toneladas.

Das 735 mil toneladas de uvas colhidas em 2020 (IBGE) no Rio Grande do Sul, sendo 502 mil toneladas industrializadas, por cerca de 15 mil famílias, 86% são de variedades americanas. Das 34 castas cultivadas (21 tintas, 12 brancas e uma rosé), o grande destaque fica com as tintas Isabel e Bordô, amplamente usadas para a elaboração de suco de uva. Agora, quando falamos de viníferas, o cenário amplia para 78 variedades, sendo 38 tintas, 38 brancas e duas rosés. A maior produção é de Moscato Branco e Chardonnay, além das tintas Merlot e Cabernet Sauvignon. Castas como Garganega, Moscato Rosado e Itália (Pirovano 65) não ultrapassam mil quilos. Toda essa produção é processada por 614 vinícolas no Rio Grande do Sul, segundos dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em todo o Brasil, são 831 vinícolas.

 

Imagens: Divulgação Safra 2021