Por Rogerio
Ruschel (*)
Cego de
nascença, Henry “Hoby” Wedler, com 27 anos, estudante de Química Computacional
Orgânica na Universidade de Davis, na Califórnia, Estados Unidos, vive
aparecendo em jornais, revistas e na televisão, e se tornou uma estrela no
mundo da ciência sensorial, especialmente no mundo do vinho, como um respeitado
crítico, consultor e educador.
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Seu talento
é compartilhado em palestras mensais batizadas de "Tasting in the
Dark" (“degustando no escuro”, em tradução literal) na vinícola do diretor
de cinema Francis Ford Coppola e atrai centenas de pessoas que aprendem a
apreciar o vinho com os olhos vendados. Veja abaixo, uma sessão de degustação
com o mestre.
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Elogiado por
seu desempenho superior em identificar aromas, Wedler trabalha como voluntário
em campanhas públicas e ajuda a organizar acampamentos para cegos, o que lhe
rendeu uma homenagem da Casa Branca. O segredo dele? Não tem segredo: "Eu
presto muita atenção aos detalhes", explica Wedler. "Eu me treinei a
confiar no meu olfato para saber onde estou. Não acho que seja melhor do que
ninguém, mas eu me concentro no meu olfato e na audição, então meus sentidos
ficaram bem desenvolvidos."
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No
Brasil muitos deficientes visuais também estão desenvolvendo seus talentos na
ciência sensorial e se qualificando para trabalhar com a identificação de
aromas (foto acima). O melhor trabalho neste sentido vem sendo feito pela Casa da Travessa,
um conhecido espaço de cursos, eventos, feiras e degustação de vinhos dirigido
pela sommeliére Daniella Romano. No elegante sobrado dos ano 20, reformado e
adaptado para estes eventos, quase não existem datas livres por causa da
realização permanente de cursos profissionalizantes em vinhos e destilados, uisques,
queijos, chocolates, charutos e cervejas entre outros.
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Mas
uma vez por semana Daniella (de roupa clara, na foto acima, com seus alunos) fecha a casa para
receber os participanters do “Ver o Vinho”, um grupo de deficientes visuais que
estuda análise sensorial de vinhos, alimentos e outras bebidas. É um trabalho
sem fins lucrativos, gratuito para os alunos, que começou em 2010 e que foi
evoluindo e gerando recursos próprios e atividades especiais – como por
exemplo, um passeio no Mercado Municipalde São Paulo para conhecer e
identificar centenas de aromas de frutas, ervas, alimentos e bebidas (foto abaixo).
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“Com
a convivência, fui observando que o material que estava utilizando com eles não
estava ajudando muito, era dificil de manipular e eles ficavam muito
dependentes de mim. Então comecei a testar e a desenvolver materiais que fossem
acessíveis”, diz Daniella Romano que é a criadora de uma caixa de aromas (na
foto abaixo), a melhor do Brasil, um estojo com dezenas de aromas diferentes e
textos de apoio que é utilizado nos diversos cursos regulares. Mas para poder
utilizá-la no programa “Ver o Vinho”, foram desenvolvidos textos e documentos
em braile.
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A
caixa de aromas do vinho é uma ferramenta indispensável para as pessoas
que gostam ou que querem aprender a degustar vinhos, porque ajuda no treino da
memória aromática, no reconhecimento dos aromas das uvas, e ajuda a ampliar o
vocabulário especializado, pois às vezes não temos a palavra "certa"
para definir o que estamos sentindo. Os alunos do grupo “Ver o Vinho” tem
desempenho superior no trabalho
com a caixa. “Estudei análise sensorial e essa formação desperta os sentidos;
sei que deficientes visuais tem potencialmentse uma capacidade incrível
para desvendar aromas, e achei que eles poderiam desenvolver esta habilidade em
algo útil e assim decidi montar um grupo com pessoas portadoras de deficiencia
visual para oferecer treinamento”, resume Daniella.
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In
Vino Viajas faz um brinde a Hoby Wedler, estrela da Vinícola de Francis
Ford Coppola e aos alunos do “Ver o Vinho”, da Casa da Travessa, por mostrarem
que talento e a dedicação supera todas as deficiências. Tim-tim!
(*) Rogerio
Ruschel é editor deste blog em São Paulo, Brasil, e tem certeza de que o
talento deve ser apoiado em qualquer lugar do planeta.