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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Os nove melhores locais para enoturismo do mundo

Por Rogério Ruschel (*)

 
Categoria Práticas Turísticas Sustentáveis - Yealands Estate (Marlborough - Nova Zelândia) - www.yealands.co.nz 

Acabou o suspense: a Great Wine Capitals – uma associação de promoção de nove cidades produtoras de vinho – se reuniu em Florença, Itália em novembro, e divulgou os resultados da premiação de Melhores locais para enoturismo do ano. 

O concurso recebeu 398 projetos concorrentes e premiou 55 regionais e nacionais das nove cidades participantes da rede Great Wine Capitals: Bordeaux, Florença, Mendoza, Christchurch, Mainz, Porto, San Francisco, Cape Town e Bilbao. Entre os escolhidos houveram alguns empates.

Conheça a seguir os outros oito grandes campeões nas principais categorias (um deles é o Yealands, da Nova Zelândia, acima) para, quem sabe, poder visitá-los na primeira oportunidade.

  Categoria Acomodação  - Finca de Los Arandinos (La Rioja - Espanha) - www.fincadelosarandinos.com
 
Categoria Acomodação - Fattoria Lavacchio (Florença - Itália) - www.fattorialavacchio.com

Categoria Arte e Cultura - Maison des Vins de Cadillac (Bordeaux - França) - www.cadillaccotesdebordeaux.com

Categoria Práticas Turísticas Sustentáveis - La Motte Wine Estate (Cape Town - África do Sul) - www.la-motte.com

Categoria Arquitetura e Paisagem - Wasems Kloster Engelthal (Ingelheim - Alemanha) - www.wasem.de

Categoria Arquitetura e Paisagem - Quinta do Vallado (Douro - Portugal) - www.quintadovallado.com

Categoria Experiências Inovadoras - Entre Cielos (Mendoza - Argentina) - www.entrecielos.com


Categoria Experiências Inovadoras - Long Meadow Ranch (Califórnia - EUA) - www.longmeadowranch.com
 
(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - editor deste blog é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Alsácia: um convite à beleza e ao sabor


Por Rogério Ruschel (*)


 A história da Alsácia é uma epopéia. Ocupando um vale fértil ao longo do Rio Reno protegido pelas montanhas Vosges, no nordeste da França, fronteiriça com Alemanha e Suiça, a região foi habitada por tribos nômades de caçadores em tempos pré-históricos e pelos Celtas a partir de 1.500 A.C. Por volta do ano 58 A.C. virou um território romano dedicado à viticultura; com o fim do Império Romano foi território de Alamanos, Francos, parte do Sacro Império Romano-Germânico e cedida à França no fim da Guerra dos 30 Anos, em 1648. 

Mas tem mais: nos séculos seguintes foi disputada por Alemanha e França, junto com um território vizinho, a Lorena; após a Primeira Grande Guerra a Alemanha perdeu a Alsácia para a França, anexou-a de volta durante a Segunda Grande Guerra, e finalmente perdeu-a novamente para a França em 1944.


Como resultado destes quase 5.000 anos de história conturbada, na Alsácia de hoje predominam vilarejos com nomes alemães ou franceses onde moram franceses de origem alemã (embora a maioria da população alemã tenha sido expulsa e o idioma duramente combatido pela França), tendo como principal cidade Estrasburgo, bem ao Norte. Para o turista é uma região belíssima e culturalmente diferenciada por tantas influências e muitos destes vilarejos ainda apresentam ruínas romanas e inúmeros castelos dos tempos áureos de famílias poderosas do Sacro Império Romano-Germânico, como os Habsburgos.

Atrações em toda parte

Além do vinho (que você poderá conhecer em detalhes em outro post neste blog) e da cerveja, pães, doces e queijos – que fazem a fama da Alsácia, o turista encontra locais verdadeiramente encantadores para visitar. Cada vilarejo tem atrações próprias como muralhas romanos, castelos de 800 anos, riachos encantadores, restaurantes charmosos, bosques preservados, shows com animais, festivais de musica e vinho e feiras livres. Todos são cuidadosamente preservados e floridos e muitos fazem parte destacada do programa “Villes Et Villages Fleuris” francês, como Eguisheim, que se considera uma das mais antigas cidades da Alsácia (com registros do ano 720 DC) e berço da vinicultura na região.


É difícil destacar atrações, até porque no segundo dia você já não lembra mais o nome dos vilarejos, mas é imperdível uma visita ao Castelo de Haut-Koebnigsbourg, em Orschwiller, que, segundo registros existentes, teria sido construído no século XII. Foi propriedade dos Habsburgos, dos Tierstein, pilhado e incendiado durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Entre 1900 e 1908 foi restaurado pelo Imperador alemão Guilherme II, e finalmente passou a ser propriedade da França em 1919, com o Tratado de Versalhes.



A cegonha é o símbolo da Alsácia desde tempos imemoriais, e em alguns vilarejos pode-se ver ninhos nos tetos de torres, vigiados severamente pela população. Aliás, a preservação de bosques, riachos e animais é parte do modo de viver alsaciano. Visitei um belo show de aves de rapina treinados (falcões, águias, corujas, abutres e assemelhados), o La Volerie dês Aigles, no Castelo de Kintzheim, parte de um programa de re-introdução destas aves. Outros centros de preservação, pesquisa e exibição de animais silvestres da região trabalham com lontras, cegonhas (em Hunawihr) e macacos Magot.

Em termos de gastronomia a riqueza está nas diversas influências culturais. Pode-se comer típicos chucrutes, backeofes, kugelhopf, bretzels e muita carne de porco alemães, ao lado de tartes aux myrtilles, coq au riesling e tartes flambées e tartes a l’oignon bem franceses. E queijos, é claro.
Hospedei-me em Colmar (centro comercial do vinho alsaciano), de onde fazia incursões diárias de até 30 quilometros a Sélestat, Ribauvillé, Ingersheim, Bergheim, Saint-Hippolyte, Riquewhir, Zellenberg, Kayserberg, Kientzheim e outros vilarejos com nomes impronunciáveis e muito atraentes. 


Em Colmar vale visitar o Museu Interlinden, com obras da Idade Média ao Renascimento; o Museu Bartholdi, arquieto criador da Estátua da Liberdade; os canais com casas floridas da Petit Venise e degustar o ambiente. No caminho entre Colmar e Mulhouse ficam duas atrações que não conheci: a Cité de l’Automobile, o maior museu de automóveis da Europa e o Ecomuseu da Alsácia, com 72 casas rurais dos séculos 16 a 18.


Enfim, trata-se de uma região que mesmo destruída por invasões durante vários séculos, tem um povo receptivo e de bom gosto que mantém profundo respeito pelo território em que vive. E que sabe que o turismo é parte fundamental da economia. Um brinde a isso!


(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade  - http://www.ruscheleassociados.com.br/ .Ruschel viajou à Alsácia por conta dele mesmo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Enoturismo em Bento Gonçalves – RS: um verão divertido e diferente


Por Rogério Ruschel(*)
Os parreirais de Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos, serra gaúcha, sobem e descem colinas graciosa e elegantemente. E com a proximidade do verão estão carregados de uvas européias para vinhos como a Isabel (Vitis vinifera), e também com cachos de deliciosas uvas para mesa e suco: 2013 terá uma grande colheita. 
E você pode participar ativamente desta experiência com as facilidades do “4O. Bento em Vindima”, a quarta edição de um show de enoturismo com uma programação repleta de atividades em torno da cultura da uva e do vinho no Brasil, tendo como pano de fundo a beleza da serra gaúcha e a graciosa cidade de Bento Gonçalves. 

Para enriquecer a experiência dos milhares de turistas brasileiros e estrangeiros que visitam a serra gaúcha no verão, a Secretaria Municipal de Turismo de Bento Gonçalves organizou uma programação de 65 dias – entre 12 janeiro e 17 de março – que inclui passeios turísticos nas cinco rotas do município: o Vale dos Vinhedos (a primeira DO - Denominação de Origem oficial do Brasil), Caminhos de Pedra, Vinhos de Pinto Bandeira, Rota das Cantinas Históricas e o Vale do Rio das Antas. 
Vale do Rio das Antas
O evento tem a parceria do Bento Convention Bureau, Conselho Municipal de Turismo e Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares.

Entre os atrativos, destaque para a degustação de uvas, cursos de degustação de vinhos, colheita noturna, um Ciclo de Cinema especial sobre o assunto, participação na colheita e na pisa das uvas, visita às vinícolas, jantares harmonizados, um grandioso Jantar sob as Estrelas.

Também no roteiro: caminhadas ecológicas, passeios ciclisticos, passeios de trem Maria-Fumaça que encantam crianças e adultos, exposição Vinhedo do Mundo e o contato imediato com herancas culturais italianas e regionais como o jogo de truco (acima), o estilo de vida colonial e o filó italiano.

A cidade de Bento Gonçalves fica perto de Caxias do Sul, Gramado e Canela, que podem ser incluídos em um roteiro mais longo, mas também oferece atrativos como estes outros destinos serranos. Na área urbana vale a pena conhecer o Pipa Pórtico, as igrejas do Cristo Rei (acima), de Santo Antonio e a modernosa Igreja de São Bento; a Fundação Casa das Artes com obras principalmente de artistas gauchos. 

Fique um dia a mais para visitar também o Museu dos Imigrantes (se já estiver reaberto das reformas); fazer o tour Via del Vino, passeio pelos principais atrativos da simpatico e arborizada cidade, incluindo a La Fontana, uma fonte onde jorra vinho tinto, com paradas estratégicas em cafés e lojas de souvenirs.

O receptivo tem tradição de simpatia e diversão. Você pode se hospedar hotéis estrelados ou pousadas familiares – são dezenas de opções para todos os bolsos e gostos, na cidade ou em áreas rurais. Vai se deliciar com receitas gastronômicas italianas famosas como massas feitas em casa, galetos com temperos inimitáveis, churrasco, doces coloniais, queijos, pães e outras surpresas típicas da região.

É uma oportunidade para fazer no sul do Brasil o que você achava que só tinha na Itália e Espanha. Agende-se: Bento Gonçalves abre seu coraçnao para os turistas entre 12 de janeiro e 17 de março. A programação completa do “4º Bento em Vindima” está disponível no site www.turismobento.com.br
Imagens de Fabiano Mazzotti e Gilmar Gomes, cedidas pela Prefeitura de Bento Gonçalves, disponíves no site da cidade.


(*) Rogério Ruschel é turista, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade. Ruschel é gaúcho e acredita que turismo de qualidade só existe quando também acrescenta cultura ao turista.


 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Porque nosso turismo tem que ser tão pobre?



Por Rogerio Ruschel (*)
Neste post não vou falar de vinhos – mas vou falar de algo que está profundamente associado ao enoturismo: a qualidade no turismo. Acontece, caro leitor, que ando muito chateado com a pobreza de conteúdo, a falta de qualidade do turismo oferecido no Brasil para turistas brasileiros e com o gigantesco desperdício de oportunidades de valorização de um dos nossos maiores patrimônios: nossa diversidade. Quer ver um exemplo clássico? Porto Seguro, na Bahia, é o berço do descobrimento do Brasil e foi considerada Patrimônio Histórico Nacional e de Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO. Sabe qual é a principal atração turística e foco do investimento público? A Passarela do Álcool, uma rua que é isso mesmo (veja a foto acima, retirada do site da Prefeitura Municipal). 

Escrevi o texto abaixo como um artigo encomendado por uma revista de turismo; então, se parecer longo ou técnico demais, me desculpe. Seja compreensivo: como cidadão e jornalista vou usar todos os meios que puder para sensibilizar os que planejam e vendem pacotes turísticos para que entendam que o turismo só se completa quando promove o crescimento do turista. E este bloguezinho é um destes canais.

Em marketing caracteriza-se o turista como toda pessoa que se desloca de um lugar para outro para conhecer, ver, provar, fazer e sentir coisas que não tem no seu lugar de origem, como parte de seu tempo livre. E como as pessoas têm diferentes formações, experiências e expectativas, as atrações turísticas são tão múltiplas quanto os grãos de areia da praia de Jeriquaquara. Mas não é assim no Brasil: os produtos turísticos mais vendidos oferecem programas pobres em conteúdo e nivelados por baixo: beber/comer/pegar-sol ou fazer compras (em moeda nacional ou estrangeira).
Nossa posição de 6o. lugar no PIB e 82o. no IDH mundial pode explicar isso. O turismo no Brasil tem uma história curta: de um passado recente no qual apenas a elite viajava (e preferia destinos internacionais) só nos anos 80 começou a ser democratizado com o trabalho de pioneiros como Guilherme Paulus, com a CVC. Além de atender a classe média “tradicional” com a oferta de destinos mais sofisticados no Brasil, estes pioneiros criaram produtos para operários com mais tempo livre, procurando lazer e maior poder aquisitivo com o desenvolvimento da indústria automobilística.

Esta democratização foi baseada na criação de “pacotes”, um modelo econômicamente acessível de turismo, mas pobre em qualidade como crescimento pessoal: ao turista cabe embarcar, se hospedar, passar o tempo pegando sol, comendo e bebendo, fazer um passeio rápido para fotografar os lugares mais badalados e embarcar de volta. Vende-se assentos em ônibus ou aviões e leitos em hotéis. E só, mais nada. Um modelo pobre se a referencia for o que é praticado em países onde turismo é uma atividade estratégica e o turista é tratado como um ser humano que precisa ser respeitado e um consumidor que precisa ser cativado.

No turismo interno a relação do turista com o local visitado é vazia e o acréscimo do ponto de vista cultural é displicente: o turista é apenas um visitante sem envolvimento com a comunidade, a história e a cultura do destino. (Isso sem contar que em muitos destinos o turista é um depredador dos recursos naturais e sociais - mas isto é outra história). Na outra ponta, a relação do prestador de serviços (bares, restaurantes, hotéis, lojas) em termos gerais também é marcada pelo distanciamento do turista: o negócio dele é explorar o turista e não o turismo. É um modelo acessível, mas não sustentável; um lamentável desperdício de oportunidades para valorizar nossa cultura regional, talvez porque as comunidades também não se dão ao respeito – e se você visitar Gramado, por exemplo, vai entender o que é “se dar ao respeito”.
 Gramado durante o Natal Luz: uma cidade que respeita o turista e é respeitada por ele (Foto do site da Prefeitura Municipal)

Quem trabalho no ramo vai me dizer, com certa razão, que o turista brasileiro prefere sol&mar e que não está interessado em cultura; que vendemos o que o mercado procura; que a maioria dos destinos não oferece opções culturais; que passeios culturais devem ser oferecidos por receptivos e muitos já estão nos city-tours; que não vale a pena ter produtos sofisticados; que até mesmo estrangeiros quando vêm ao Brasil preferem sol&mar. Tudo isto é verdade, precisamos aplaudir o esforço do trade porque em termos econômicos está funcionando: o setor faturou cerca de R$ 60 bilhões em 2011, emprega cerca de 2,2 milhões de pessoas na cadeia produtiva que engloba 52 setores e deve contabilizar 64 milhões de desembarques no país em 2012. A contribuição econômica é bem vinda, mas isso não muda o fato de que do ponto de vista de qualidade cultural continuamos a vender turismo pobre em conteúdo, focado apenas no lazer e entretenimento - sem falar nas viagens de compras, as de “contrabandinho”, contabilizadas como se turismo fossem.

Mas o turismo deve propiciar cultura, além de lazer e entretenimento e seguir referências de sustentabilidade, segundo declaração do ministro Gastão Vieira durante a Rio+20. Pois o ciclo vicioso (porque incompleto) que praticamos infelizmente deve se perpetuar nos próximos anos para atendimento aos consumidores das classes C e D, a “nova classe média”. Já democratizado, o turismo no Brasil vai ser massificado – e por baixo. Se nenhuma iniciativa for tomada vamos continuar tratando o turista como um assento em avião ou um leito em hotel; vamos continuar a oferecer turismo pobre culturalmente – em um pais que é campeão mundial em diversidade cultural!

Reconheço que isto faz sentido econômico porque, segundo o Ministério do Turismo, o turismo doméstico responde por cerca de 85% do turismo brasileiro e o marketing mais fácil e óbvio é oferecer o que o mercado procura.

Mas mesmo assim pergunto: não seria a hora de ter um pouco de generosidade com o país e investir na qualidade de conteúdo da oferta turística, mesmo estando na “contra-mão” do mercado? Será MESMO que o turista brasileiro é avesso a cultura – mesmo vendo que exposições de arte atraem dezenas de milhões de pessoas todos os anos? Será MESMO que os destinos mais visitados não têm nada a oferecer além do básico? Será que incluir atividades culturais no pacote, hoje “opções” a serem compradas localmente, inviabilizaria o negócio? Será MESMO que não compensaria aos destinos qualificarem suas atrações e tratarem seus visitantes com respeito? Será MESMO inviável oferecer ao turista, no pacote, folhetos caprichados sobre patrimônios culturais (alguns tombados pela UNESCO) como as de Olinda, São Luis, Paraty, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Recife, Diamantina, Brasília, Petrópolis e Salvador – ou de museus em cidades como São Paulo e Belo Horizonte? Será MESMO que destinos de alta relevância cultural e ambiental como Inhotim, em MG, não merecem ser incentivados? Custa “caro demais” valorizar nosso patrimônio e cultura?
Inhotim, MG: na frase de Ricardo Freire, autor da foto, "o melhor passeio que você ainda não fez"

Entendo que as agencias de viagens deveriam assumir este desafio por uma questão estratégica, por pelo menos três razões: 1) confiar o futuro do negócio na venda de produtos básicos pode ser perigoso a longo prazo porque significa competir por preços, exige escala, tem altos custos operacionais e perpetua um modelo pobre; 2) porque em algum momento as agencias vão precisar justificar sua utilidade junto ao consumidor que pode comprar este básico pela internet; 3) e finalmente porque produtos mais sofisticados, mesmo os de nicho, atraem viajantes freqüentes, de maior poder aquisitivo e possibilitam margem de lucro maior. (Existe uma quarta razão, mas que provavelmente só vai ser importante tarde demais: o compromisso do profissional de turismo, enquanto cidadão, de ajudar o desenvolvimento sustentável dos destinos que hoje são percebidos apenas como locais para desembarcar assentos ou ocupar leitos).

Agregar qualidade de conteúdo na oferta de pacotes ajudará a resolver outro problema: segundo o Ministério do Turismo, 65,4% dos turistas em visita ao Brasil não utiliza serviços de agências de viagem. E natureza, ecoturismo e aventura são as motivações de 27% de estrangeiros que vêm ao Brasil – produtos hoje oferecidos como nicho e apenas por agencias especializadas de pequeno porte, do Brasil e do exterior.

Claro que estas reflexões estão na contra-mão da luta diária dos profissionais de turismo e respeito suas decisões. Mas em algum momento vamos ter que ir além do trivial no turismo brasileiro. E prefiro acreditar na possibilidade de que esta reflexão sensibilize algum leitor com capacidade de liderança e iniciativa que pense no turismo como um pacote completo para o crescimento do turista.

(*) Rogerio Ruschel, editor deste blog, é jornalista e consultor especializado em sustentabilidade, autor de 5 livros e 27 estudos sobre meio ambiente, sustentabilidade e cidadania.



domingo, 2 de dezembro de 2012

O vinho suiço vai encontrar os deuses, pendurado no céu


Por Rogerio Ruschel (*)
Prezado leitor, em breve vou ter que reescrever meu post sobre os vinhedos de Lavaux (Plateau, Cantão do Vaud), na Suiça - veja aqui em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/05/nos-vinhedos-de-lavaux-suica-um.html
É que na região poderá ser construído o Museu do Vinho Suiço, debruçado sobre o Lago Genebra (Léman, oficialmente). O projeto do arquiteto suíço Mauro Turin começou como um simples desenho em uma revista de design, mas chamou a atenção da imprensa. Agora, os políticos da região pretendem concretizar a construção – e acho que não vai faltar dinheiro…
 
O Museu do Vinho Suiço vai ter as bases fincadas nas montanhas Jura (parte dos Alpes suiços) e se estender por uma plataforma de concreto e vidro suspenso no ar porque os vinhedos de Lavaux (no Plateau) são um Patrimônio Histórico da Unesco e por isso, nada pode ser construído sobre a terra. A construção permite, literalmente, uma caminhada no ar – e com certeza vai desafiar os bebedores das oito diferentes denominações de vinhos locais: Chardonne, Saint-Saphorin, Calamin Grand Cru, Epesses, Dézaley Grand Cru, Vevey-Montreaux, Villette e Lutry

A ideia do arquiteto era criar algo que não só contasse a história da região, mas que também fosse uma atração para os turistas – mais uma!
A região fica no Cantão de Vaud e tem 14 vilas e pequenas cidades, com 40 Kms de frente para o Lago Genebra, entre Corseaux e Lutry, que concentra 830 hectares de vinhedos em terraços debruçados sobre o lago sempre azul, mantidos por cerca de 220 pequenos produtores, geralmente famílias. Toda a produção é praticamente consumida na Suíça por falta de escala para exportação.

Hoje os vinhedos são assim - coisa feia, não?
Os vinhedos, com altitude variando de 372 a 936 metros, tem a proteção das montanhas do Jura de um lado, e a refrigeração dos ventos que entram pelo Lago Genebra vindos dos Alpes franceses e do Mont Blanc, no outro.

Segundo consta, uvas vem sendo cultivados nos Lavaux desde o século XI, quando foram introduzidas por monges. Agora, quem beber demais vai poder re-encontrar os deuses e levar mensagens dos monges.
Imagens: Acervo particular e revista Casa e jardim

(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade.