Por Rogerio Ruschel (*)
Já estava há uns 20 dias viajando pela Sicília e depois de conhecer
Taormina, Palermo, Segesta, Érice e Agrigento (veja posts publicados), achei que já tinha conhecido os melhores atrativos da Sicília.
Mas o agente de viagens de Messina que estava me ajudando a montar os futuros
roteiros turísticos, insistiu que eu devia conhecer Piazza Armerina. Então apontei
meu Fiat Panda alugado para o centro da Sicília – e hoje sei que devo muito a
esta dica do cara.
Piazza Armerina é uma
cidade com uns 25.000 habitantes, na região central da Sicília (ou quase isso).
Saindo de Catania é fácil de chegar de carro pela free-way A19 via Enna, ou por
uma rodovia também muito boa, via Caltagirone: Piazza Armerina está entre estas
duas cidades, uns 50 quilometros de cada uma. Recomendo o que me sugeriram:
prefira o roteiro via Caltagirone, para poder se deliciar com a arquitetura, mas
principalmente com as cerâmicas – veja mais adiante algumas fotos.
Fundada durante o dominio árabe, Piazza Armerina tem igrejas bonitas no centro histórico, as
típicas ruelas interessantes e o Spinelli Castelo. É bonita, tem bons cafés e
restaurantes e uma festa anual de eventos medievais – o Palio Normando, que,
Segundo dizem, não é assim uma brastemp comparado com o badalado Palio de
Siena, na Toscana. Mas a grande atração da cidade é mesmo o site arqueológico
da vila romana, há alguns poucos quilometros da cidade.
Achei que ia ver o de sempre:
as tradicionais ruínas, desta vez com alguns mosaicos. Mas a tal vila romana - que
se chama Villa del Casale - é veramente
um espanto! Dizem que é uma das maiores habitações
romanas do tipo “villa” sobreviventes, e com certeza é a maior
coleção de cerâmicas romanas. Teria sido construída entre 330 e 360 DC e embora não se saiba por quem, o cara
devia ser mais do que rico, um milionário excéntrico.
A vila tem partes de paredes e portais ainda de pé, e a
estrutura de receptivo aos turistas é bem feito – como de resto, em toda a
Sicilia. Na área que atrai os turistas que se amontoam em passarelas (veja abaixo), estão
cerca de 3.500 metros quadrados de mosaicos, a maioria nos pisos, mas
também alguns murais.
Mais do que bonito, é molto bello, como dizem os italianos. Os mosaicos
representam cenas da vida diária de um romano
no século IV como festanças (orgias?), animais, atividades
agrícolas, caça e outras coisas que os especialistas chamam de motivos do Norte
Africano.
Um dos conjuntos (veja abaixo) mostra mulheres vestidas em
trajes de banho de duas peças malhando com halteres que me lembraram as fotos amareladas da minha
avó na praia: mais um espanto!
Eu e você, como turistas, nos surpreendemos com a beleza
das cerâmicas, mas os arqueólogos se espantam por causa dos temas dos painéis (com
valor para estudos sociológicos) e principalmente por causa de sua inusitada
localização: fica no interior da ilha e não no litoral, como a maior parte da
herança histórica da Sicília.
Formulei uma tese, sem nenhum fundamento histórico, é
claro: além de produzir vinho e azeite (que é o que tinha prá fazer naquela
região), o proprietário devia estar no ramo de importação de animais da África
para comer cristãos no Coliseu de Roma e queria uma vida discreta, fora das
rotas tradicionais dos navios. Suspeito mesmo que ele usava sua mansão como
alguns políticos brasileiros: para hospedar, paparicar e dar grandes festas
para funcionários públicos corruptos do império romano!
Mas enfim, caro leitor, a Villa del Casale de Piazza Armorina é realmente um show – não
dá pra visitar a Sicília sem conhecê-las. Saí de lá e fui jantar e dormir em
Caltagirone, onde devorei massa com carne de porco selvagem tomando um vinho
local, servido em jarra (excelente, é claro!) remoendo minha tese do milionário
excêntrico corrupto.
E vendo aquelas peças maravilhosas inspiradas na arte dos
séculos IV a VIII, me lembrei novamente de Piazza Armerina – o quão bela devia
ter sido com jardins, fontes e escravas semi-nuas servindo vinhos em jarros
para os convidados do milionário corrupto. Catzo: acho que nasci no tempo e no
lugar errados!
Mas isso deve ser herança do inconsciente coletivo de
brasileiro, não?
Este post é dedicado a Ana Maria Naccache, que me honra com sua
leitura deste blog: ela tem os pés em Caraguatatuba, mas a cabeça nos melhores
rincões do planeta.
Veja mais sobre a Sicilia:
Agrigento e Segesta: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/10/agrigento-e-segesta-melhor-heranca.html
A terra dos três
mares: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/08/sicilia-terra-dos-tres-mares.html
Lenguaglossa,
Moio Alcântara, Castiglione e Malvagnia:
Vale do Alcantara: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/09/vale-do-alcantara-vilarejos-magicos.html
Tindari e as montanhas
Peloritani:
Delicias sicilianas: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/09/produtos-da-terra-as-delicias-sicilianas.html
A brava gente
siciliana: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/a-brava-gente-siciliana-alma-de-um.html
Pesquisa da Universidade
de Catania:
(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br - editor deste
blog é turista inveterado, jornalista de ecoturismo e meio ambiente e consultor
especializado em sustentabilidade. Ruschel esteve na Sicília durante 30 dias
pesquisando roteiros turísticos.
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