Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado amigo ou amiga, cartaxo é o nome
de um pássaro em Portugal. Mas é também uma cidade, uma bela cidade portuguesa
no Distrito de Santarém, cerca de 70 quilometros de Lisboa, que vem arrancando
elogios de visitantes ilustres há séculos: Gil Vicente, o primeiro grande
dramaturgo portugues em 1530 dizia que Cartaxo era uma das povoações mais bonitas de Portugal e
Almeida Garrett, o impulsionador do teatro no país, também era fã da região, já
nos anos 1840. Na foto abaixo o Mercado municipal.
Pela
vizinhança com Santarém, Cartaxo (foto aérea, abaixo) certamente tem raizes bem
antigas. A historia registra que o nome Cartaxo foi dado pela Rainha Santa
Isabel, mulher do rei Dom Dinis. Aliás, Dom Dinis em 1.320 criou uma política
pública que podíamos copiar no Brasil, 700 anos depois: ele isentou os
agricultores de impostos por cinco anos se plantassem uvas para a produção de
vinho!
Indo a Cartaxo aproveite
para visitar Santarém, a capital do gótico português, cidade cuja fundação data de cerca de 800 anos AC e é citada nas
mitologias greco-romana e cristã – veja abaixo foto da Igreja do Seminário de
Santarém.
Cerca de 65% do território de Cartaxo é
ocupado pela agricultura - especialmente pela vitivinicultura, realizada na
região desde o século X com uvas tintas e brancas, atualmente uma sub-região com
a DOC Ribatejo. A uva está até mesmo no brazão da cidade (veja abaixo) e a
Adega Cooperativa do Cartaxo, com uma área de cerca de 1.000 hectares, na qual
produz cerca de 7 milhões litros de vinho por ano, é a mais conhecida produtora
da região – veja seus vinhos na foto abaixo.
Cartaxo é a
sede da AMPV – a Associação que congrega cerca de 60 dos Municipios Portugueses
do Vinho: em Cartaxo estão o presidente, Pedro Magalhães Ribeiro, também
prefeito de Cartaxo e o secretário geral, José Arruda.
Lá está
também o Museu Rural e do Vinho do Cartaxo, criado em 1984, o mais antigo museu
sobre a temática do vinho e do mundo rural existente em Portugal. Ele fica na
Quinta das Pratas, com cerca de 20 ha que recriam uma propriedade agrícola
portuguesa do século XX, com adega restaurada e uma taberna, um espaço de
convívio no meio rural – veja as fotos abaixo.
Cartaxo está na Rota dos Vinhos do Tejo (DOC Ribatejo) e tem
várias festas ligadas a agricultura e ao vinho, além de participar ativamente do
Dia do Enoturismo, em novembro, como mostra o cartaz abaixo.
Desde 1988 a cidade realiza uma conhecida Festa do Vinho, no começo de maio, evento
que em 2015 reuniu cerca de 50 expositores e incluiu apresentação de novos vinhos,
provas guiadas, seminário técnico, concursos, música, danças e gastronomia da melhor qualidade que ajudam a promover a fama da “Capital do Vinho”, uma mobilização criada pela
Câmara Municipal em 2002 para dinamizar a atividade vinícola no municipio.
Outras duas festas ligadas ao vinho animam o calendário cultural de Cartaxo: a Festa das Vindimas e a Festa dos
Fazendeiros. A Festa das Vindimas é realizada há mais de três décadas no mes de
outubro em Vila Chã de Ourique, e um dos pontos altos é o Cortejo das Vindimas
que sai às ruas mostrando as principais tarefas rurais montadas em carros alegóricos - como o alegre cidadão da foto abaixo.
De dois em dois anos, desde 1956, se realiza
a Festa dos Fazendeiros no Domingo de Pascoela, um dos eventos mais típicos da
freguesia de Pontével e do concelho (município) do Cartaxo. É uma festa popular na qual se
apresentam tradições rurais e agrícolas, através do cortejo de carros
alegóricos e da decoração de janelas e fachadas das casas da vila.
Estando em Cartaxo pense além do vinho e aproveite para conhecer o
patrimônio cultural da cidade que deve incluir a Igreja Matriz de São João
Batista (1522) veja foto acima e o vizinho Cruzeiro do Senhor dos Aflitos, do
primeiro quartel do século XVI, tombado como Monumento Nacional e composto por
uma imagem do Senhor dos Aflitos crucificado, esculpido em pedra, uma
obra de grande valor artístico. Faça uma visita a Igreja de Nossa Senhora da
Purificação, em Pontével, a Aldeia da Palhota, em Valada e ao Palácio dos Chavões,
em Vila Chã de Ourique.
E não se esqueça de provar as delícias
gastronômicas com o vinho da região, como o pão de trigo ou de milho, migas e
magusto; os peixes sável, fataca e enguia além das tradicionais sardinhas
assadas e do bacalhau; as carnes de porco, galinha ou coelho, toucinho e os chouriços. Na foto acima, lombos de bacalhau com
broa e chouriço, uma delicia, meu caro leitor ou leitora.
Então já sabe: boa viagem e bom apetite.