Pesquisar neste blog

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Conheça o Asprinio de Aversa, o raríssimo vinho de uma uva da Campânia, Itália, que cresce até 15 metros de altura!


Por Rogerio Ruschel (*)
Aposto uma (boa) garrafa de vinho que essa você não conhecia: vinhedos com 15 metros de altura que precisam ser colhidos por “colhedores malabaristas” no sistema de plantio de uvas chamado “Aversa arborizada” - ou “alberata aversana” em italiano!

Pois In Vino Viajas apresenta para você as uvas Asprinio que geram o Asprinio de Aversa, um vinho de mesa branco exclusivo da província de Caserta, região da Campânia, perto de Nápoles, na Itália. Para ser classificado como Asprinio de Aversa DOCG o vinho precisa ter pelo menos 85% de uvas da vinha Asprinio; o Aversa DOC, uma versão espumante, precisa ser feito 100% com a uva Asprinio. 

A vinha é na verdade uma árvore que lança galhos agarrada em uma árvore e em uma estrutura de arames de aço e vai trepando até cerca de 15 metros de altura. A uva Asprinio (foto abaixo), uma espécie de silvestris vitis, foi introduzida na região das planícies de Aversa pelos etruscos há milhares de anos provavelmente para a produção de vinagre, mas foi sendo melhorada e utilizada para produzir um vinho branco seco e forte (o espumante é bastante refrescante) para acompanhar pratos à base de peixe e mussarela Aversana. Segundo historiadores, a videira foi sendo desenvolvida “para cima” para evitar a competição pelo uso da terra, que durante séculos foi utilizada também para produzir grãos, alimentos e culturas sazonais.

A área de produção do Asprinio de Aversa (que tem como nomes alternativos Grego Branco, Olivese, Ragusano, Ragusano Bianco, Asprino e Uva Asprina ) inclui o território de 22 municípios, alguns a apenas 15 Km do oceano: Aversa, Carinaro, Casal di Principe, Casaluce, Casapesenna, Cesa, Frignano, Gricignano di Aversa, Lusciano, Orta di Atella, Parete, San Cipriano d'Aversa, San Marcellino, Sant'Arpino, Succivo, Teverola, Trentola-Ducenta, Villa di Briano e Villa Literno na Provincia de Caserta e Giugliano, Qualiano e Sant'Antimo, na  Provincia de Napoles.

O vinho Asprinio de Aversa é uma raridade porque existem poucos produtores da uva Asprinio; os principais produtores são a Cantine Grotta del Sole, a I Borboni, a Azienda Magliulo e a Masseria Campito, que você encontra na internet. É muito difícil produzir uvas no sistema “alberata aversana”, porque o processo etrusco aproveita tutores vivos (árvores) como o álamo (Populus alba) ou o olmo (Ulmus ) para suportar os galhos (veja na foto abaixo o tronco e o telado em fase inicial), ao contrário do sistema grego (e internacional) que utiliza tutores mortos, isto é, estacas de madeira para apoiar as videiras. 

Embora interessante do ponto de vista de turismo, o sistema “alberata aversana” é impraticável do ponto de vista econômico para a produção de vinhos porque gera uma única colheita anual (setembro) que custa em média pelo menos três vezes mais do que uma colheita de videira "normal"
 Além disso é necessário mão de obra altamente especializada para a colheita: habilidosos camponeses locais, apelidados de "homens-aranha", os únicos capazes de mexer com as pesadas escadas imponentes (acima) e subir agilmente ao longo das videiras para capturar cachos de uvas nas "paredes". E isso sem falar no trabalho gigantesco e complexo de "ancorar" e podar as mudas, que na verdade exige do agricultor uma espécie de "bordado", um processo de ligar os ramos entre si a vários metros de altura e prendê-los em algum lugar. É realmente muita mão de obra!
  E o vinho? Eu ainda não provei, mas segundo especialistas, ele é de coloração branca esverdeada e tem um aroma delicado que lembra flores amarelas, maçã e notas cítricas. Mas dizem que é na boca que se evidencia porque tem elevada acidez devido aos altos níveis de ácido málico, o que o torna uma excelente base para a produção de vinho espumante de qualidade.

Atualização em setembro de 2014: Abaixo fotos da colheita na I Borboni S.r.l., vinicola de Lusciano, na Campagnia italiana:
 (*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e prefere beber vinhos de montanhas, ao invés de montanhas de vinhos.





terça-feira, 26 de novembro de 2013

Vinhos amadurecendo no fundo do mar ou descansando com blues & jazz: idéias criativas para produtos com identidade e sabor próprios

Por Rogerio Ruschel (*)

Tesouros no fundo do mar

Tesouro é o único fabricante de vinhos espanhóis submarinos, com sua adega localizada no Golfo da Biscaia. Depois do tradicional  amadurecimento em barricas de carvalho americano, o vinho é colocado no fundo do mar e continuamente monitorado por biólogos e enólogos. Segundo os fabricantes, no fundo do mar é onde o rótulo Tesoro adquire o seu caráter único e ao mesmo tempo ajuda o criar um recife artificial onde foram identificadas mais de 80 diferentes espécies de vida marinha.
O cliente recebe uma garrafa praticamente nua, com um pacote muito especial: três peças perfuradas e uma peça sólida compõem a embalagem na qual a garrafa será alojado. Duas tiras de borracha protegem o interior do tesouro – todos materiais simples, reciclados e fora do contexto de um projeto convencional.
Mas a Tesoro espanhola não está sozinha. Piero Lugano, um artista, produtor e comerciante de vinhos em Chiavari, na Riviera Italiana, estoca seus vinhos no fundo do mar há vários anos (veja na foto que abre este post). Segundo ele "É melhor até mesmo do que na melhor adega subterrânea, especialmente para o vinho espumante. A temperatura é perfeita, não há luz, a água impede até mesmo um pouquinho de ar de entrar, e a contra-pressão constante mantém as bolhas de champanhe. Além disso, as correntes submarinas agem como um berço, balançando suavemente as garrafas e mantém as borras que se deslocam através do vinho. 
Do outro lado do oceano a Mira Winery, de Santa Helena, no Napa Valley, Estados Unidos, no começo de 2013 fez experiências envelhecendo garrafas de Cabernet Sauvignon em uma profundidade de 20 metros no Charleston Harbor, durante 3 meses. Dizem que o resultado foi ótimo.

Repouso com canções de ninar vinhos

Winesongs 59H 35 '03 "Wine & Canções vol. 1” é um vinho de Denominação de Origem (DO) Yecla, da Espanha, um dos mais originais da tradiciponal vinícola Bodegas Señorio de Barahonda.  A história dele é muito maluca: após o engarrafamento, os vinhos ficaram descansando em repouso no armazenamento ouvindo música variada durante 59 horas 35 minutos e 03 segundos. Entre os artistas no cardápio do funcionário estavam Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Franco Battiato, Fatoumata Diawara, Desfile, Dalila, Nike Drake, Enrique Morente e Célia Cruz – blues, jazz e música espanhola caliente. A embalagem procura parecer uma caixa de CDs, mas as garrafas são maiores. O fabricante jura que a música transferiu ao vinho uma personalidade e bom gosto de notas musicais. 
Acho que descansar os vinhos com música combina com o ambiente: a Bodega Señorio de Barahonda, está situada no nordeste da Murcia, na região do Altiplano, uma zona de transição entre a “meseta”  eo mediterrâneo, rodeada por um anel de montanhas baixas e serras mais altas – sem incomodações… Na foto acima, a Catedral de Murcia.

 Um vinho desesperado
Depois de um verão com muita chuva, a vinícola The Pawn Wine Company  da Austrália fez um grande esforço para conseguir uma edição limitada de seu vinho rosé. Este esforço, quase um desespero para o produtor, acabou gerando o nome "The Desperado"  que vem do jogo de xadrez: no xadrez, é chamado de "The Desperado" o peão colocado estrategicamente no tabuleiro que fica esperando o momento do ataque. Por tudo isso, o design do rótulo reflete o nome e a circunstância que trouxe este vinho para a vida. Não vai dar pra você ver, mas tem uma impressão de meio-tom que gera uma imagem dupla que muda o rótulo de "bom" e "ruim" quando a garrafa é inclinada, mostrando a dupla face deste pobre vinho Desesperado.
Laltre – de ponta cabeça

Às portas dos Pirinéus, abraçado pelas montanhas do norte vento "Sierra Larga", a meio caminho entre as regiões de Segrià e Noguera, estão os vinhedos da Vinícola Lagravera, na Denominação de Origem (D.O) Costers del Segre. Laltre é o vinho mais jovem que a Lagravera produz e seu nome (um trocadilho com a palavra “o outro”, em italiano) é uma brincadeira baseada em uma ilusão de ótica de que a imagem representa um homem idoso ou jovem, dependendo de como você está vendo – representa o outro. Segundo a vinícola, isto representa os valores combinados da juventude e frescor da uva com a experiência e a sabedoria dos métodos tradicionais adotados pela adega. É uma boa história prá contar já na primeira taça...

(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gosta de mergulhar ... na leitura!



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Caminho dos Prodígios: a surpreendente land-art nos bosques da Serra de Francia em Salamanca, Espanha.


Por Rogerio Ruschel (*)
Na região da Serra de Francia, no sul da província de Salamanca, Castilla y Leon, Espanha, existe uma atração turística única no mundo que vai realmente surpreender você: os “Caminhos das Maravilhas”, quatro roteiros de caminhadas em uma floresta preservada, enriquecida cuidadosamente com dezenas de obras de arte.


 Os roteiros combinam a natureza com esculturas surpreendentes como gaiolas sobre o vale, sirenes ao longo do caminho, penas com folhas de bronze em pedra, asteróides em uma ermida com uma curva impossível, portas abertas no campo, camas prontas no bosque, pedras costuradas com agulhas.

Os criadores do projeto (as prefeituras e as comunidades da região) associaram elementos-surpresa e oportunidades de reflexão com intervenções de artistas plásticos. Esta é a chamada land-art e os artistas são espanhóis como Félix Curto, Alfredo Omaña, Marcos Rodrigues, Fernando Casas, Alfredo Sáez, Florencio Maíllo, Lucy Loren, Luque López, Manuel Perez de Arrilucea e Pablo Herrera.

Os quatro roteiros são o Caminho dos Prodígios (o principal), entre os vilarejos de Chestnut Miranda e Villanueva del Conde; o Caminho da Floresta dos Espelhos, ligando as vilas Sequeros, Las Casas del Conde e S. Castanha de Martin; o Caminho das Raízes nos arredores de La Alberca; e o Caminho da Água, ligando Mogarraz e Monforte de la Sierra. Como os caminhos são circulares, podem ser iniciados em qualquer uma das cidades.

As quatro rotas (com 7 a 10 Km cada) estão dentro do parque Batuecas-Natural Sierra de Francia, um labirinto de vales escondidos de grande valor ambiental declarados como Reserva da Biosfera pela UNESCO juntamente com a Sierra de Béjar.


Colinas, vales e riachos se sucedem em meio a uma vetegação surpreendente com castanheiros, carvalhos, oliveiras, videiras, samambaias, matas ciliares e até mesmo pequenos bosques de morango. Os visitantes também têm a oportunidade de ver o patrimônio etnográfico escondido na região como moinhos e capelas. Adultos, crianças e até mesmo idosos podem participar das caminhadas.

E por falar em patrimonio, os cinco municípios da região são reconhecidos como Conjunto Histórico da Espanha: O valioso patrimônio arquitetônico da região reflecte-se nos cinco municípios reconhecidos como um histórico: La Alberca, San Martín del Castañar, Sequeros, Mogarraz e Miranda del Castañar.

Na região se pode experimentar os deliciosos vinhos regionais – tintos, jovens e com personalidade própria – que têm uma Denominação de Origem Protegida exclusiva, chamada D.O.P. Serra de Salamanca, que no mapa de vinhos com DOs de Castilla y Leon (mapa abaixo), fica próximo das retiões Terra del Vino e Toro.   

Além do vinho - produzido aqui desde os tempos dos romanos e chamados também de vinhos de Sierra de Francia - a região é conhecida também por seus azeites, queijos, patês, jamón ibérico e outras especiarias.

 A cidade de Salamanca surgiu cerca de 2.700 anos atrás, durante a Primeira Idade do Ferro e desde então o lugar foi testemunha da passagem de váceos, vetões, romanos, visigodos e muçulmanos. É uma das cidades espanholas mais ricas em monumentos da Idade Média, Renascimento e das épocas clássica e barroca. Abaixo, uma ponte romana da cidade e sua famosa Catedral. Um brinde aos romanos e espanhóis.

(*) Rogerio Ruschel é jornalista de turismo, enófilo, ambientalista e acha, como dizia Joãzinho Zinho Trinta, que até pobre gosta de arte.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Segundo Salão de Enoturismo do Festuris mostra 14 roteiros do vinho no Rio Grande do Sul


Por Martha Caus (*)
A força e a diversidade do enoturismo no Rio Grande do Sul foram destaques na 25ª edição do Festival de Turismo de Gramado (Festuris), realizado dias 8 e 9 de novembro de 2013. Distribuídos em um estande de 193m², e agrupados na área destinada ao 2º Salão de Enoturismo, 14 roteiros de três diferentes regiões do Estado do Rio Grande do Sul apresentaram suas atrações aos mais de 14 mil visitantes que circularam pelo Festuris.

“O espaço se manteve lotado todos os dias da feira, e agradou tanto o público como os próprios expositores. Neste último caso, tanto pelo interesse demonstrado pelos visitantes como pela qualidade dos contatos feitos”, observa a coordenadora do Projeto Enoturismo RS, Janine Basso Lisboa. Na triagem dos visitantes, cerca de 75% dos contatos registrados foram de profissionais de operadoras, agências de turismo e guias, ou de profissionais de empresas ligadas a serviços da atividade como hotéis e restaurantes. Além destes, o espaço foi visitado por órgãos governamentais, associações ligadas ao turismo, imprensa e instituições de ensino. Abaixo, casa de imigrantes no roteiro Caminhos de Pedra.
Outra novidade do espaço foi a representação de experiências que os turistas vivenciam durante os passeios, como a degustação de vinhos, a produção de geleias, enoterapia, apreciação da paisagem e a colheita da uva.
A secretária de Turismo do estado do Rio Grande do Sul, Abgail Pereira, em seu discurso na abertura do Festival, destacou o crescimento do turismo na economia gaúcha. Segundo ela, a atividade representou, em 2012, 6% do PIB do estado, ante os 3,6% registrados em 2009. No Brasil, o turismo movimentou $ 170 milhões no ano passado, o que corresponde a 3,7% do PIB. A média mundial de participação do turismo na economia é de 8,9%. “O estado do RS tem números superiores à média nacional, mas temos um espaço para crescer ainda mais, e o Enoturismo tem uma contribuição importante neste resultado, com potencial para desenvolvimento ainda maior”, avalia.

A mestra em Turismo, Ivane Fávero, destaca a relevância que este segmento de turismo atingiu nos últimos anos: “Hoje estamos entre os principais destinos de enoturismo do mundo. O Rio Grande do Sul não é competitivo em praia, mas nos diferenciamos e somos referencia em roteiros ligados ao universo da uva e do vinho”. Embasando a argumentação da especialista, a revista americana Wine Enthusiast elegeu o Vale dos Vinhedos, localizado na Serra Gaúcha, entre os 10 mais importantes destinos atuais de enoturismo. Leia sobre isso aqui - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/01/serra-gaucha-e-um-dos-10-melhores.html 

O diretor técnico do Ibravin, Leocir Botega, afirma que o turismo ligado ao mundo do vinho vai além dos passeios pelos parreirais e consumo dos produtos nas vinícolas. “Ele agrega a questão cultural dos lugares e das pessoas em que é desenvolvido, envolve a gastronomia, a história, a paisagem, enfim, diversos aspectos que fazem com que seja uma das principais atrações do nosso estado”.
Além de destinos já reconhecidos como Vale dos Vinhedos, que apresentou um aumento de 315% no fluxo de turistas nos últimos dez anos, a edição deste ano do Salão apresentou os novos roteiros Caminho do Moscatel, em Farroupilha, e Compassos da Mérica, Mérica, Flores da Cunha. O estande foi coordenado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em parceria com o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares – Região Uva e Vinho (SHRBS) e apoio das secretarias de Turismo (Setur) e de Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) do Estado do Rio Grande do Sul.

Roteiros presentes no 2º Salão de Enoturismo:
Região da Campanha
Região do Alto Uruguai
Região da Serra
- Estrada do Sabor (Garibaldi)
- Rota dos Espumantes (Garibaldi)
- Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul)
- Rota das Cantinas Históricas (Bento Gonçalves)
- Caminhos de Pedra (Bento Gonçalves)
- Vinhos de Pinto Bandeira (Pinto Bandeira)
- Termas e Longevidade (Protásio Alves, Nova Prata, Vila Flores, Veranópolis e Cotiporã)
- Caminhos da Colônia (Caxias do Sul)
- Caminho do Moscatel (Farroupilha)
- Compassos da Mérica, Mérica (Flores da Cunha)
- Vinhos dos Altos Montes (Flores da Cunha e Nova Pádua)
- Vinhos do Vale do Rio das Antas

Contatos registrados no evento:
- Agências de turismo, operadores e guias: 310
-
 Empresas ligadas ao turismo (como hotéis e restaurantes entre outros): 148
-
 Órgãos governamentais e associações ligadas ao turismo: 76
-
Imprensa: 50
-
Instituições de ensino: 76
 
Veja vários posts sobre Bento Gonçlaves e a Serra Gaucha no In Vino Viajas. Acesse http://invinoviajas.blogspot.com.br/ e digite Bento Gonçalves no local de Pesquisa, logo abaixo da barra verde com o nome do blog.
(*) Martha Caus é jornalista da assessoria de imprensa do Ibravin – Instituto Brasileiro do Vinho. Fotos assessoria e serviços de turismo de Bento Gonçalves