Por Rogerio Ruschel (*)
A inclinação é de quase 100 graus - um pouco mais do que um angulo reto
– e você tem nas mãos um engradado grande e pesado cheio de cachos de uva. O chão é de
terra escorregadia ou de pedras que podem machucá-lo ou se soltar a qualquer momento. Você
pode estar com a cabeça nas nuvens, mas os pés tem que estar firmes no chão
porque se cair vai rolar uns 40 metros ou mais, até chegar no rio!
A foto acima, das ladeiras dos vinhedos de Alandi, sobre o rio Sil, dá uma idéia ao declividade.
A foto acima, das ladeiras dos vinhedos de Alandi, sobre o rio Sil, dá uma idéia ao declividade.
Este é o cenário de grande parte dos vinhedos da Denominação de Origem
(DO) Ribeira Sacra, na Galicia, região espanhola no noroeste do país, em torno
do rio Minho, perto da fronteira com Portugal (veja o mapa abaixo). A DO atinge a área rural dos
municipios de Portomarín, Paradela, O
Saviñao, Pantón, Monforte de Lemos, A Pobra do Brollón, Quiroga, Ribas do Sil,
Taboada, Chantada,
Sober y Carballedo (este na
Provincia de Lugo) e A Peroxa, A Pobra de Trives, Manzaneda, A Teixeira, Castro
Caldelas, Parada do Sil, San Xoán de Río y Nogueira de Ramuín na Provincia de
Ourense.
Considerada
uma das vindimas mais perigosas do mundo (se não a pior delas), a DO Ribeira
Sacra é também conhecida uma das mais bonitas do mundo (dá para ver pela foto acima) – e seus vinhos – tipos
Ribeira Sacra ou Ribeira Sacra Súmmum - são comparados por especialistas franceses
a produtos de qualidade similar a bons rótulos de Bordeaux e Borgonha, embora, é claro, os espanhóis os
achem melhores, evidentemente…
Atualmente
cerca de 3.000 viticultores trabalham em 1.200 hectares de vinhedos que se
espalham por 5 sub-zonas definidas pelo Consello Regulador da D.O. Ribeira
Sacra, criado em 1996. Mas a tradição é antiga: Ribeira Sacra vem produzindo
vinhos desde o tempo dos romanos, há mais de 2.000 anos; na Idade Média os monges
difundiram o cultivo e no século XX finalmente a produção se profissionalizou.
O território é definido
por uma bela paisagem de ladeiras íngremes com terras e pedras, muitas pedras,
formadas pelos canyons dos rios Minho (ou Miño, em espanhol) e Sil e seus afluentes menores pontuadas
por igrejas, capelas e monastérios espalhados pelas comunidades e estradinhas rurais
onde se comem especiarias deliciosas. Nas duas Rotas do Vinho Ribeira Sacra (norte
e Sul) estão bodegas, vinhedos, alojamentos rurais, restaurantes, o Parador de Turismo de Monforte, o Castelo de São
Vicente (abaixo), o Centro do Viño da Ribeira Sacra, o Mosteiro de
Santo Estevo de Ribas de Sil (abaixo) e o Museu Etnográfico de Quiroga entre outras atrações.
O terroir tem como componentes o clima atlântico
mediterrâneo; a presença de dois rios como agentes termorreguladores; pouca
chuva; solo granítico ou xistoso; inclinação em terraços que favorecem a
drenagem e muita insolação nas ladeiras.
Neste solo são plantadas uvas regionais e pouco conhecidas
dos que preferem vinhos franceses e italianos mais comuns: as tintas (Mencía,
Brancellao, Merenzao, Sousón, Caíño Tinto e Tempranillo) e as brancas (Godello,
Albariño, Loureira, Treixadura, Dona Branca e Torrontés). Para o
enquadramento na DO podem ser utilizada também pequenas percentagens das uvas
Garnacha Tintorera e Mouratón. Na foto abaixo cachos da uva Mencía.
Em recente reportagem o
jornal britânico Daily Mail destacou o risco dos agricultores e dos turistas,
já que entre setembro e novembro é a época da colheita. O trabalho é de um esforço
incrível, não só para manter o equilíbrio com caixas pesadas, mas também para
evitar torcer ou quebrar tornozelos ou os pés por causa da inclinação. As
caixas têm que ser levadas a pé ou por elevadores mambembes (veja abaixo) até o rio
para serem transportadas - e é claro, com extremo cuidado para não amassar ou
perder o frescor!
É realmente um trabalho
heroico e complicado que continua inclusive nas adegas, como você pode ver na
curiosa foto abaixo, na qual o produtor está mexendo no mosto. E por falar em heroico, anote: a DO Ribeira Sacra é parte integrante de um projeto turístico
denominado “Viticultura heroica” que abrange Portugal e Espanha. O projeto
“Viticultura heroica”, vem sendo realizado com recursos de um programa europeu
de colaboração transfronteiriça e se baseia em raizes culturais e não em
questões politicas, como divisão de paises. Mas este belo projeto será apresentado
em outro post aqui no In Vino Viajas.
Por enquanto temos que
ficar atentos para não escorregar nas ladeiras inclinadas. E mesmo que a cabeça se sinta nas nuvens, temos que manter os pés firmes no solo.
E
para encerrar, uma dica prá deixar você com água na boca: com a chegada do
outono europeu, a partir do fim de outubro começou a ser operada uma trilha de
caminhada de 9 KM, com uma guia especializada no ecosssitema na região, com partidas aos sábados
da igreja de Santo Estevo de Ribas de
Miño, na foto abaixo.
Para ver fotos em 360
graus: http://rutadelvinoribeirasacra.org/panoramicas/Doade1/DOADE_1.html
Para saber mais: http://rutadelvinoribeirasacra.org/por-que
Veja aqui no In Ivo Viajas outras rotas de vinho da Espanha - digite Espanha no espaço Pesquisar à esquerda embaixo da barra verde do título do bog.
Veja aqui no In Ivo Viajas outras rotas de vinho da Espanha - digite Espanha no espaço Pesquisar à esquerda embaixo da barra verde do título do bog.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e vai utilizar cordas quando
for fazer a colheita na Ribeira Sacra. Fotos: jornal Daily Mail, Getty Images, site
da Rota do Vinho Ribeira Sacra e outras fontes.
Gostaria mesmo é de tirar uma dúvida; nas fotografias as pessoas estão fazendo a colheita de cima para baixo, parecendo que as uvas estão rente ao chão. Então a pergunta é; qual a altura dos parreirais ? Como são sustentados os ramos?
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