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terça-feira, 27 de abril de 2021

A CNI pega a estrada para revelar os produtos com identidade geográfica do “Brasil que a gente produz”

 Por Rogerio Ruschel

Exclusivo: Entrevista com Ariadne Tamm Sakkis, Editora de Conteúdo da Agência CNI de Notícias e diretora da Série “O Brasil que a gente produz” sobre produtos com Indicação Geográfica

Meu caro amigo ou amiga, se você pensava que a CNI - Confederação Nacional da Indústria - a poderosa organização que representa mais de 20% do PIB brasileiro - só transita em grandes prédios industriais, ruas asfaltadas e salas atapetadas, precisa conhecer outro lado de sua atuação, o que valoriza a indústria de pequeno porte dos rincões do país. Neste “lado B” está, por exemplo, a redescoberta dos patrimônios escondidos dos brasileiros revelados em produtos com Indicações Geográficas - IGs, certificados de origem e identidade que distinguem produtos como vinho, café, renda, queijo, arroz, banana, camarão, pedra, cachaça, tecnologia, cajuína, goiaba, café, cacau, uva, biscoito, guaraná… Enfim, atualmente são mais de 70 produtos reconhecidos como portadores da identidade de uma determinada região do país, alguns em locais inesperados. Como por exemplo, o cacau cabruca do Sul da Bahia, produzido em fazendas como a da foto de abertura desta matéria.

Foi o que descobriu um pequeno grupo de jornalistas mobilizados pela jornalista Ariadne Sakkis que em novembro de 2018 viveu momentos de aventura para chegar a Uarini, uma comunidade com 13.000 habitantes no coração da Amazônia, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, 600 Kms de Manaus. Nesta aldeia, cerca de 2.000 pequenos agricultores, pequenos industrializadores e pequenos empreendedores criaram um pólo de excelência na produção de uma farinha de mandioca artesanal. A farinha, já famosa no Norte e junto a uma legião de admiradores e chefs de cozinha, estava em processo no Instituto Nacional de Propriedade Industrial –INPI para ser reconhecida com uma Indicação de Procedência – IP, um dos tipos de certificados de origem (ou IGs) que protegem um produto original de cópias; a IP seria concedida pelo INPI em agosto de 2019.

O vídeo feito pela equipe hoje está no site da Confederação Nacional da Indústria como um dos 19 pequenos documentários já produzidos pela Agência CNI de Noticias na primorosa série especial “O Brasil que a gente produz” sobre o valor de produtos com Indicação Geográfica que vem sendo realizada desde 2018 na forma de reportagens, vídeos e ações em redes sociais. Ao lembrar da produção deste filme, Ariadne Sakkis, Editora de Conteúdo da Agência CNI e diretora da série, quase sempre se emociona, como me confessou na entrevista:Me emociono com uma frequência até indesejada. Vivo chorando nas entrevistas desta série”. Na foto abaixo lembranças da equipe na produção da reportage sobre a erva-mate com IG de São Mateus do Sul, no Paraná.


Ela tem razão em se emocionar, porque estes produtos estão íntimamente relacionados com o território e as pessoas. Mais do que produtos, refletem vidas e patrimônios, como você vai ver em seguida. Ariadne é formada em Jornalismo e Publicidade e especialista em Relações Internacionais. Antes da CNI, onde está desde 2014, trabalhou no jornal Correio Braziliense. Há 2 anos é a gerente de Conteúdo Multimídia da CNI e em 2018 começou a série sobre produtos com Identidade Geográfica. Veja a entrevista a seguir.

Rogerio Ruschel - A CNI reúne organizações como o SESI, o SENAI e o IEL. Qual o papel destas entidades? Como a Agência CNI se integra neste contexto?

Ariadne Tamm Sakkis - A Agência CNI é o veículo de jornalismo oficial dos departamentos nacionais do SESI - Serviço Social da Indústria que promove a saúde a segurança no trabalho e educação de excelência dos trabalhadores, do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial que qualifica profissionais e é parceira da indústria com pesquisa, tecnologia e inovacão e do IEL - Instituto Euvaldo Lodi, que atua na formação executiva de lideranças empresariais - todos coordenados pela CNI.

Rogerio Ruschel - Como o Acordo Mercosul e União Européia de Livre Comércio assinado em junho de 2019, de importância estratégica para produtos com IGs, vem sendo percebido na CNI?

Ariadne Tamm Sakkis - O acordo jogou luz nesse assunto. Se você reparar, os grandes veículos de comunicação passaram a enxergar o universo de indicações geográficas em função do peso que os negociadores europeus deram ao tema ao longo de todo a discussão do acordo. Faz sentido porque, há séculos, eles já se deram conta do potencial de suas criações mais peculiares e as protegem com muito empenho. A proteção desse ativo intelectual é uma constante não só dos acordos que a União Europeia negocia como bloco, mas também dos acordos bilaterais negociados pelos países europeus.  

A CNI vem, desde 2018, dando destaque para o potencial e o valor das indicações geográficas por meio do projeto O Brasil que a Gente Produz, um especial que conta as histórias das IGs brasileiras, que são a combinação entre pessoas e seus territórios.  Já são duas temporadas da série, que conta com reportagens, vídeos e ações em redes sociais.

Rogerio Ruschel - A CNI tem trabalhado na valorização da bioeconomia, da diversidade ecológica, do Protocolo de Nagoia e da sustentabilidade como um todo. Como o tema dos ativos naturais vem sendo tratado pela Agência CNI?

Ariadne Tamm Sakkis - Como você mesmo já adiantou, produzindo muitos conteúdos (especiais ou factuais) acompanhando as discussões. Nós, do jornalismo, trabalhamos em muitas parcerias com as áreas técnicas para ajudar a divulgar, desmitificar e popularizar temas mais árduos. O caso da propriedade intelectual (PI) é bastante simbólico. Com a ajuda da comunicação, conseguimos simplificar conceitos duros e traduzir a importância da PI no dia a dia das pessoas. Veja, estamos no meio de uma pandemia e quem saiu na frente na corrida das vacinas? Quem investiu pesadamente (e sistematicamente) em inovação, em pesquisa, em educação. E a propriedade intelectual permeia tudo isso, só que ainda falta fazer mais pontes entre o que sai de um laboratório e a vida das pessoas. Nosso papel, enquanto jornalistas, é esse. 

“Se o Brasil, sozinho, tem 20% da biodiversidade do mundo, podemos atrelar nosso desenvolvimento ao uso racional e sustentável do que o nosso território nos oferece. Nesse aspecto, a indicação geográfica é como uma coroação do saber fazer.”

Rogerio Ruschel - Como valores da bioeconomia podem ser ampliados com a estratégia das Indicações Geográficas?

Ariadne Tamm Sakkis - Estou muito longe de ser uma grande conhecedora da bioeconomia, mas até onde sei, a estratégia é aproveitar a riqueza da sua biodiversidade para criar soluções com mais sustentabilidade, inteligência e inovação. Se o Brasil tem, sozinho, 20% da biodiversidade do mundo, há possibilidades praticamente infinitas de atrelar o nosso desenvolvimento econômico e social ao uso racional e sustentável do que o nosso território nos oferece. Nesse aspecto, a indicação geográfica é como uma coroação do saber fazer. Pensemos no cacau, fruto amazônico; pensemos no guaraná; no própolis; nos usos ainda desconhecidos das plantas que temos, das frutas. Claro que faz sentido! O que falta são políticas e programas que concatenem os elos da produção. É aí que instituições como a CNI podem ajudar.

Rogerio Ruschel - Como, quando e porque a CNI decidiu produzir a série “O Brasil que a gente produz” sobre Indicações Geográficas?

Ariadne Tamm Sakkis - Atuo na CNI há 7 anos. Nos primeiros 5, fui assessora de imprensa na área de propriedade intelectual. Por muitos anos, a indústria centrou seus esforços em resolver o dilema das patentes, da demora absurda para analisar os pedidos. Estudando o tema de PI, me deparei com as indicações geográficas. Foi uma paixão imediata. Fiz cursos na OMPI, no INPI, e, com a ajuda da Maria Cláudia Nunes, à época especialista em PI da CNI, aprovamos o projeto dessa série especial para mostrar o que são as IGs brasileiras e por que temos de valorizá-las. Começamos com 3 produtos muito famosos: o café do Cerrado Mineiro, o queijo Canastra e o vinho do Vale dos Vinhedos. De quebra, ainda conseguimos mostrar os desafios de uma comunidade amazonense em busca da sua IG para a farinha de Uarini.

O resultado foi surpreendente, pela aceitação, audiência e interesse do público sobre o tema. Afinal, estamos falando de patrimônios brasileiros e contando as histórias de quem os faz. Não tem como não gostar. Dentro da CNI, o projeto também ganhou outros pais e mães, como o Diego Campos, nosso cinegrafista e editor, e a Joana Pericás, coordenadora de redes sociais, que fez um trabalho brilhante ao levar as IGs para influenciadores digitais.

Em 2019, diante desse sucesso, nos programos para fazer uma nova "temporada", produzida entre 2019 e 2020, na qual falamos sobre a erva-mate de São Mateus do Sul, do cacau do Sul da Bahia e da cachaça, a única IG de âmbito nacional que temos.  O que acho que temos conseguido mostrar é que a indústria também tem origem, também envolve pessoas, que dedicam suas vidas a aperfeiçoar uma producão. Mostramos também que, ao contrário do que muita gente pensa, a indústria, muitas vezes, nasce e sobrevive num âmbito familiar, do envolvimento de gerações com um território e do conhecimento que atravessa os anos, sendo sofisticado, oxigenado com a modernidade. Na foto abaixo, um dos vilarejos do município de Uarini, no coração da Amazônia, onde é feita a Farinha de Uarini.

Rogerio Ruschel -  Qual o video mais dificil de realizar? Por que?

Ariadne Tamm Sakkis - A história do cacau, particularmente, foi uma das mais difíceis pelo histórico de luta, violência, ascenção e queda da região Sul da Bahia. Essas marcas estão vivas em quem segue cultivando o cacau e reescrevendo a história do chocolate brasileiro. Demorei muito para escrever a matéria e fechar o vídeo. Tinha que encontrar um balanço entre saga e ressureição porque é isso que essa região vive. O vídeo de Uarini também foi desafiador, e aqui devo agradecer meu colega Aerton Guimarães, que estava no Amazonas fazendo outro projeto, do Samaúma, o barco-escola do SENAI, e pode nos ajudar. Uarini é um local de difícil acesso, o deslocamento é só por barco, então a logística foi difícil.

Rogerio Ruschel - Qual o video que você sugere (e permite) que seja publicado com link para os leitores de “In Vino Viajas”?

Ariadne Tamm Sakkis - Pelo público, iria com o VInho do Vale e o queijo Canastra. Mas qualquer um é muito legal. Eu sou suspeita para falar!

Veja o video dos vinhos do Vale dos Vinhedos aqui: https://noticias.portaldaindustria.com.br/especiais/o-vinho-do-vale/

Rogerio Ruschel -  Quais os produtos ou serviços com IGs serão os próximos? 

Ariadne Tamm Sakkis -  A pandemia dificultou tudo. Ainda não temos essa definição. Quem sabe em breve.

Rogerio Ruschel - Como a série vem sendo recebida internamente na CNI, por seus dirigentes e pelos empresários em geral? E por outros públicos externos?

Ariadne Tamm Sakkis - Como eu falei antes, a série foi muito bem recebida. De quebra, também nos ajudou a materializar esse assunto para a imprensa, o que me deixa muito feliz. Os retornos não poderiam nos deixar mais orgulhosos.

Rogerio Ruschel - Em uma entrevista você disse que se apaixonou pelo tema porque conta histórias de pessoas? Como funciona isso?

Ariadne Tamm Sakkis - Porque essa relação entre terra, atmosfera e gente é muito bonita. Em São Mateus do Sul, por exemplo, me emocionei com a Casa da Memoria Padre Bauer, que preserva a história da erva-mate, desde os registros de usos por povos indígenas até a chegada de milhares de imigrantes italianos e poloneses que tomaram amor por essa planta pra eles exótica e por essa terra distante de seus berços. Você pode optar por se ater ao produto, como ele é feito, dados técnicos, etc, mas se você conta isso pela perspectiva de quem os faz, tudo ganha outra dimensão. Veja os jovens refazendo a Canastra, recuperando a tradição de curar o queijo, que foi uma obra de destino e distância entre as Gerais e Rio e São Paulo. Me emociono com uma frequência até indesejada. Vivo chorando em entrevista. Ahahhahahhaha.

“A minha geração quer saber isso, quer consumir algo que faça sentido e que tenha propósito. A gente vive esse momento de valorizar o local, o que tem origem, mão humana.”

Rogerio Ruschel - A certificação de produtos e serviços culturais com Identidade Geográfica protege também serviços culturais como o saber-fazer, o folclore, a dança e as indústrias criativas. Como a Agência CNI pretende trabalhar as IGs da indústria criativa?

Ariadne Tamm Sakkis - Cenas dos próximos capítulos!

Rogerio Ruschel - Empreendedores brasileiros parecem estar descobrindo a importância das IGs. E sobre os consumidores? Você considera isso uma tendência definitiva e irreversível?

Ariadne Tamm Sakkis - Considero, sim. As Indicações Geográficas ajudam a responder novas velhas perguntas: onde isso foi feito? Quem fez? Como é feito? Por que isso é feito, onde é feito? A minha geração quer saber isso, quer consumir algo que faça sentido e que tenha propósito. Há uma mudança no drive do consumidor, muito em função das pressões ambientais, da necessidade de sermos mais sustentáveis e pensarmos que o ato da compra é um ato de apoio. A gente vive esse momento de valorizar o local, o que tem origem, mão humana. A indústria também é parte disso.

Viaje pela série a partir daqui: https://noticias.portaldaindustria.com.br/especiais/indicacao-geografica-o-redescobrimento-do-brasil/

Fotos da Agência CNI de Noticias 

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Surpresas do Novo Mundo na lista das 50 marcas de vinho mais admiradas do mundo – edição 2021


Por Rogerio Ruschel

 

Prezado amigo ou amiga, no mundo dos vinhos as citações, prêmios e destaques valem dinheiro, muito dinheiro, porque a percepção de valor de um vinho está fundamentada parcialmente em aspectos tangíveis (aroma, gosto, cor, safra, uvas, retrogosto, qualidade como produto) e outra parte em aspectos intangíveis como origem, marca, terroir, “fama” do enólogo e imagem construída da vinícola.

 

Mas como nós sabemos, a imagem construída não necessariamente reflete o valor de um vinho, quer dizer, os aspectos tangíveis podem ser mais definitivos do que os intangíveis, como o mundo descobriu a partir do histórico “Paris Wine Tasting” ou “O Julgamento de Paris”, no dia 24 de maio de 1976. Nesta data Steven Spurrier, um comerciante de vinhos da Inglaterra convidou juízes franceses para fazerem duas degustações às cegas em Paris; uma para avaliar vinhos Chardonnays de qualidade superior franceses e norte-americanos e outra para comparar vinhos tintos - vinhos de Bordeaux, da França contra vinhos Cabernet Sauvignon da Califórnia. Pois mesmo com juízes franceses, os vinhos californianos ganharam dos franceses. Então lembre-se: nem só de fama se sustenta o preço de um vinho.

 

Semana passada foi divulgado o ranking “As Marcas de Vinho Mais Admiradas do Mundo” da revista Drinks International. Esta lista é feita a partir de pesquisas realizadas entre profissionais internacionais do setor (Masters of Wine, jornalistas e escritores do vinho, consultores, enólogos, importadores, sommeliers ...) de 48 países, que são convidados a votar nas marcas de vinho que mais admiram, com base em aspectos como qualidade, autenticidade e imagem de marca. Cada um deles deve escolher e avaliar seis marcas de vinho com as quais não tem ligação. 

 

A espanhola Familia Torres foi eleita este ano a marca de vinhos mais admirada do mundo. Torres já havia liderado a classificação em anos anteriores. Catena, da Argentina, primeira no ano passado, está em segundo lugar, enquanto outra espanhola, Vega Sicilia, está em terceiro. 

 

Seguem-se o australiano Henschke, que ocupa a quarta posição, e Concha y Toro, que está na quinta posição. Por países, a França lidera o ranking com 12 marcas entre as mais admiradas do mundo, seguida da Espanha com 8 marcas. Em seguida estão a Itália e o Chile com 6 e 5 marcas, respectivamente. Austrália, EUA e Nova Zelândia colocam 4 marcas cada. Brasileiros, meu caro amigo ou amiga, ainda não. Quem sabe em breve...

 

Veja a seguir a lista das marcas de vinho mais admiradas do planeta segundo a revista Drinks International:

 

1 Família Torres – Espanha (terceiro lugar em 2020)   
2 Catena – Argentina  (primeiro lugar em 2020)   
3 Vega Sicilia - Espanha (nono lugar em 2020)       
4 Henschke - Austrália  (18o.lugar na lista em 2020)
5 Concha y Toro - Chile  (quinto lugar em 2020)      
6 Penfolds - Austrália  (segundo lugar em 2020)   
7 Domaine de la Romanée-Conti - França     
8 CVNE - Espanha  (niova na lista) 
9 Antinori - Itália  (sexto lugar em 2020)      
10 Château Musar - Líbano    
11 E. Guigal - França     
12 Château Lafite - França     
13 Errazuriz - Chile     
14 Felton Road - Nova Zelândia     
15 Villa Maria - Nova Zelândia     
16 Yalumba - Austrália     
17 Planet - Itália     
18 Château Cheval Blanc - França     
19 M. Chapoutier - França     
20 Château d'Yquem - França     
21 Ridge - Estados Unidos    
 22 Symington - Portugal     
23 Château Petrus - França     
24 Frescobaldi - Itália     
25 Château Palmer - França     
26 Gaja - Itália     
27 Montes - Chile     
28 Cone Sul - Chile     
29 Jackson Family Wines - Estados Unidos     
30 Craggy Range - Nova Zelândia     
31 Château Margaux - França     
32 Campo Viejo - Espanha     
33 Château Haut-Brion - França     
34 Nederburg - África do Sul     
35 Château Mouton-Rothschild - França     
36 Bruce Jack - África do Sul     
37 Bodegas Abadal - Espanha     
38 Esporão - Portugal     
39 Gallo Family Vineyards - Estados Unidos     
40 Sassicaia - Itália     
41 Louis Latour - França     
42 McGuigan - Austrália     
43 Ramón Bilbao - Espanha     
44 Oyster Bay - Nova Zelândia     
45 Royal Tokaji - Hungria     46 Beringer - Estados Unidos     
47 Raventós Cordoníu - Espanha     
48 Santa Rita - Chile     49 Tignanello - Itália     
50 La Rioja Alta - Espanha

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Saiba porque produtos locais, extrativistas e da agricultura familiar estão atraindo Investimento Social Privado e a atenção do GIFE

 

Por Rogerio Ruschel

Incentivar cadeias produtivas nos municipios nocauteados pela pandemia é o investimento social (privado ou público) com retorno mais rápido e duradouro para socorrer a economia local.

Meu prezado leitor ou leitora, uma revolução silenciosa mas de enorme importância para nosso país está acontecendo longe dos olhos da chamada “grande mídia” que só tem visto problemas da coronavirus. Estou falando da mobilização de pessoas, entidades e organizações pela valorização dos produtos locais – como agroalimentos da agricultura familiar, extrativismo, pequenas indústrias locais e cooperativas. Esta mobilização acontecia discretamente, mas agora acelerou e “está na moda” por causa de campanhas do tipo “prefira produtos locais” surgidas como resposta à crise da pandemia.

Este segmento produtivo do empreendedorismo rural é composto por 22 milhões de produtores e industriais pequenos e médios que movimentaram 107 bilhões de reais, ou 23% de toda produção agropecuária brasileira, em 2019. Segundo o IBGE (Censo 2017) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, a agricultura familiar é responsável pela produção de 80% dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros.

Só prá lembrar, estes 22 milhões são aqueles que muitos brasileiros urbanos ainda acham que são gente simplória, porque na maioria das vezes a “grande mídia” os retrata de camisa xadrez, chinelo de dedo e com um pé de alface na mão - e sempre com carências.  Pois é: estes “jeca-tatus” foram responsáveis em 2019 por 88 milhões de toneladas de milho, 30 bilhões de litros de leite, 4,7 bilhões de dúzias de ovos, 1,36 bilhão de cabeças de aves, 173 milhões de cabeças de gado; 48% da produção de café e da banana, 80% da produção da mandioca, 69% da produção de abacaxi, 42% da produção do feijão. E estes brasileiros rurais compram bilhões de Reais em produtos diversos – de carros a internet – igualzinho aos brasileiros urbanos.

Cedo ou tarde, meu querido leitor ou leitora, a importância destes produtores, até mesmo para nossa segurança alimentar, teria que ser valorizada. E veja isso: estes números tem atraído a atenção das forças produtivas – inclusive dos investimentos sociais privados, cuja principal razão não é o retorno lucrativo imediato, e sim a promoção do desenvolvimento sustentável coletivo. Por exemplo, do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas que reúne cerca de 160 associados que investem cerca de R$ 2,9 bilhões por ano para ampliar a qualidade, legitimidade e relevância da atuação dos investimentos sociais privados em projetos e ações com foco no desenvolvimento sustentável local.

Em seu congresso anual de março de 2021, o GIFE distribuiu como brinde para palestrantes um pacote de produtos de pequenos produtores familares, prestigiando ações de relevante impacto social para o país. Veja o pacote na foto de abertura desta reportagem. Mas a preocupação dos associados do GIFE com o tema não é de hoje – e é mesmo anterior à pandemia: o segundo Happy Hour GIFE, realizado em setembro de 2018, foi sobre o tema.

Na prática um grupo crescente de empresas e OSCs tem incorporado aos seus desafios de negócio o desenvolvimento territorial, porque, como afirma o próprio GIFE,  “o tema tem se tornado uma agenda cada vez mais estratégica para o campo do investimento social privado, tanto pelo interesse no alinhamento do investimento social ao negócio, quanto pelo papel do campo de influenciar e aprimorar políticas públicas que respondam aos maiores desafios do país na atualidade”.

O GIFE defende que o investimento social deve ser capaz de pautar a empresa em sua integralidade para a produção de bens públicos e geração de impacto social

Investir na produção de base local nos municipios atingidos pela pandemia é o investimento social com maior capacidade de impacto social para retomar a economia nacional – e global. O GIFE defende que o investimento social deve ser capaz de pautar a empresa em sua integralidade para a produção de bens públicos e geração de impacto social. E neste momento, meu caro leitor ou leitora, investir na produção de base local, nos produtores rurais, nas micro-indústrias, na cadeia produtiva de prestadores de serviços nos municipios atingidos duramente pela pandemia de saúde e pela crise econômica, é certamente o investimento social – privado ou público – com maior capacidade de impacto social para acelerar a economia local.

Tenho trabalhado com este tema e identifiquei 12 grupos de benefícios de impacto social positivo ao se apoiar os empreendedores rurais e pequenas indústrias locais. Venho apresentando este ponto de vista como professor de marketing, em palestras, artigos, entrevistas e também no livro "O valor global do produto local – A identidade territorial como estratégia de marketing" (Ed. Senac, 2018). E para facilitar o entendimento transformei 27 casos de sucesso de produtos locais em pequenos e divertidos videos no WebCanal Tesouros no Fundo do Quintal. O livro pode ser encontrado no site da Editora Senac ou na Amazon.com e os vídeos estão aqui: https://www.youtube.com/channel/UCc4c2FU6Z88_XU_2I2lFbmA

O investimento em qualificação dos empreendedores rurais e pequenas indústrias locais potencializa vários benefícios com impacto social positivo:

1.     Agrega valor, aumenta a renda dos produtores e potencializa a geração de empregos locais

2.     Ajuda a estruturar cadeias produtivas de base local, tornando o tecido produtivo mais forte

3.     Estimula a ação cooperada, o que gera sinergia no aproveitamento dos recursos

4.     Aumenta a proteção dos produtores contra a competição de produtos globais, que geralmente tem custos de produção menores

5.     Aumenta a auto-estima da comunidade

6.     Aumenta a autonomia produtiva da comunidade, reduzindo a dependência de ações ou vontades políticas

7.     Valoriza conhecimentos tradicionais

8.     Amplia mercados

9.     Valoriza propriedades rurais

10.  Preserva a biodiversidade e os recursos ecossistêmicos

11.  Transforma áreas rurais em locais de consumo, reduzindo o esvaziamento habitacional

12.  Incentiva a criação de serviços associados ao turismo que por sua vez gera ua grande cadeia de fornecedores

É por essas e outras razões que reitero que incentivar cadeias produtivas nos municipios nocauteados pela pandemia é o investimento social (privado ou público) com retorno mais rápido e duradouro para socorrer a economia local.

E cumprimento o GIFE e os empresários que estão contribuindo com essa visão. Conheça aqui: https://gife.org.br/

A foto de abertura foi publicada por Sonia Consiglio Favaretto em seu perfil de Linkedin.