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sábado, 19 de dezembro de 2020

Chile e Argentina trabalham para implantar a mais longa rota de enoturismo do mundo, com 1.300 kms


Por Rogerio Ruschel

 

Meu prezado leitor ou leitora, parece que a América do Sul vai ganhar um atrativo enoturístico gigantesco: uma rota que se propõe a ser a maior do mundo, com 1.300 quilometros entre o sul do Chile e o noroeste da Argentina e deve incluir mais de 170 vinícolas. Vai ser bom quando estiver pronta e já for possivel viajar pelo mundo pós-pandemia.

 

O roteiro visa reviver a façanha que a travessia da Cordilheira dos Andes e o patrimônio gerado pela indústria do vinho significaram na época da conquista espanhola. O projeto conta com o apoio de diversas organizações do Chile e da Argentina, das áreas de vinicultura, cultura e turismo, além da simpatoa de organizações internacionais de enoturismo. A região é importante produtora de frutas, de pisco, e tem fama de ter uma “energia mágica”.

 

A rota enoturística vai atravessar paisagens montanhosas e apresentar um patrimônio histórico-cultural praticamente desconhecido ao longo de 1.300 kms entre a região de Coquimbo e quatro províncias da Argentina. Segundo consta, o roteiro vai resgatar parte da história do vinho de ambas as nações, os antecedentes que mostram as origens da viticultura no Chile, Argentina e Cone Sul.

 

Durante a conquista espanhola, Francisco de Aguirre e o clérigo Juan Cidrón, ligaram os oceanos Pacífico e Atlântico por meio de uma rota comercial. Franciso de Aguirre foi governador da provincial de Tucumán de 1553 a 1554 e fundador e primeiro prefeito de Santiago de La Nueva Extremadura em março de 1541, atual Santiago do Chile.

 

Essa rota comercial no sul do Chile deu vida às primeiras cidades do país transandino e também gerou um próspero intercâmbio comercial, tecnológico e cultural que com o passar do tempo não traria apenas a vinha, o vinho e o álcool da região de Coquimbo (capital da Provincia de Elqui, no Chile) para a Argentina e o Alto Peru (Potosí) mas também criariam uma surpreendente rede de estradas, diversidade cultural em torno da agricultura, pecuária, arte, mineração, religião e turismo.

 


 

Depois de uma longa investigação, em 2018 foram iniciados os contatos entre profissionais chilenos e a Subsecretaria de Turismo de Santiago del Estero. O projeto rapidamente ganhou força e uniões de turismo (Câmara de Turismo da Região de Coquimbo, Inprotur, Organização Mundial de Turismo Eno), universidades (Santo Tomás) e instituições estaduais (Corporação de Desenvolvimento Produtivo Regional, Município de La Serena e Sernatur) aderiram. Além disso, até o momento 170 vinícolas de ambos os países embarcaram na iniciativa.

 

O objetivo é poder recriar aquela viagem, feita primeiro por espanhóis e indígenas, e mantida viva hoje por artilheiros e aventureiros, através do Vale do Elqui (foto acima), cruzando o passo Água Negra e depois entrando nas quatro províncias argentinas de San Juan, La Rioja, Catamarca e Santiago del Estero.

 

O historiador e doutor em Estudos Latino-americanos da USACH, Pablo Lacoste, diz sobre o projeto que “temos vinhedos patrimoniais que se distinguem dos da Argentina central e do Chile central. Também a forte presença de pequenos viticultores, não teremos as grandes áreas de cultivo das empresas concentram-se na área central das duas paisagens. E temos paisagens culturais homogêneas com arquitetura em terra crua, paredes de pedra e taipa, um patrimônio religioso que tem se mantido muito bem, uma cultura do tropeiro e da pequena pecuária."

Os atrativos são muitos, não só na visita às vinhas, mas também igrejas, moinhos, alambiques, fossos, estradas, socalcos, cidadelas e fortalezas indígenas, paisagens naturais surpreendentes, um vasto património histórico, arquitectónico e cultural associado a esta indústria.

 

Brindo a isso.

 

Estudo de Harvard com 210 mil norte-americanos por 30 anos garante: o vinho é um dos alimentos “mais amigos” do coração

 Por Rogerio Ruschel

Estimado leitor ou leitora, fico feliz em poder divulgar a conclusão de pesquisas da Universidade de Harvard sobre como o consumo equilibrado de vinho faz bem para o coração. Isso já havia sido mostrado por outros estudos, mas este agora é o pai de todos os estudos por seu alcance e prestígio. E lamento ter que informar que o consumo de carne e carboidratos refinados pode aumentar os riscos cardiovasculares. Enfim, acho que não se pode ter tudo ao mesmo tempo…

Então anote: beber vinho, café e comer vegetais com folhas verdes pode ser a chave para ter um coração saudável, de acordo com as descobertas de uma nova pesquisa, pioneira no estudo do impacto dos alimentos saudáveis ​​nos alimentos. Pesquisadores da Harvard T.H. Chan School of Public Health, unidade da Universidade de Harvard, estudou mais de 30 anos de dados dietéticos de um total de 210.145 americanos, com o objetivo de avaliar o quanto certos alimentos influenciam os riscos de doenças cardíacas e derrames. O resultado foi publicado em novembro de 2020 no Journal of the American College of Cardiology.

Eles descobriram que uma dieta rica em ingredientes pró-inflamatórios, como carnes processadas e carboidratos refinados (pão, pãezinhos, doces, massas, arroz branco, açúcar, sucos, bebidas doces ...), poderia aumentar o risco em 46% de doenças cardíacas e em 28% de acidentes vasculares cerebrais.

Pelo contrário, o estudo revelou que os participantes que comeram muitos alimentos antiinflamatórios tiveram um risco menor de desenvolver doenças cardíacas. Especificamente, o estudo cita alimentos como vegetais de folhas verdes, vegetais laranja e amarelo, grãos inteiros, café, chá e vinho tinto; todos ricos em antioxidantes e vitaminas essenciais para os benefícios da saúde.

Este estudo, liderado pelo Dr. Jun Li, é o único no qual os pesquisadores analisaram o impacto cumulativo dos alimentos pró-inflamatórios no risco de doenças cardíacas; em outras palavras: por que alguns alimentos são mais prejudiciais à saúde cardíaca no longo prazo do que outros. Na verdade o estudo está entre os primeiros a vincular um índice inflamatório alimentar (baseado em alimentos) a um risco de doença a longo prazo cardiovascular.

Depois de controlar os fatores de estilo de vida, eles descobriram que as pessoas que comiam alimentos ou bebidas processadas eram mais propensas a ter ataques cardíacos ou desenvolver doenças cardíacas durante o estudo. Todos esses grupos de alimentos estão ligados a biomarcadores que indicam inflamação e estresse no corpo.

Meu caro amigo ou amiga, infelizmente gosto de carne, pães, massas e doces, mas Se quiser detalhes, procure “Dietary Inflammatory Potential and Risk of Cardiovascular Disease Among Men and Women in the U.S.” - https://www.jacc.org/doi/10.1016/j.jacc.2020.09.535

Terra Indígena Andirá-Marau é a primeira Indicação Geográfica para povos indígenas do Brasil - do Waraná, o guaraná mágico dos Sateré-Mawé


Por Rogerio Ruschel

Prezado amigo ou amiga, vamos fazer uma pequena viagem ao coração da floresta amazônica para ver como a identidade agrega valor a um produto. A Terra Indígena Andirá-Marau, com 8.000 Km2, localizada na divisa dos estados do Amazonas e do Pará, conquistou a primeira Indicação Geográfica (IG) de Origem concedida a um povo indígena brasileiro, em razão de dois produtos locais: o waraná (guaraná nativo) e o pão de waraná (bastão de guaraná).

Pois o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) reconheceu no dia 20 de outubro de 2020 a Terra Indígena Andirá-Marau como Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem, para estes dois produtos, porque ficou provado que o waraná, como é chamado pelos indios Sateré-Mawé, ou guaraná nativo, apresenta características únicas devido ao bioma local e o “saber-fazer” do povo indígena com seu modo próprio de cultivo e obtenção do produto.

O guaraná/waraná é uma planta mítica, mágica, muito importante para o povo Sateré-Mawé, uma comunidade étnica com cerca de 13.000 moradores e 200 famílias produtoras do waraná. Representante do Consórcio de Produtores Sateré-Mawé (CPSM), Obadias Batista Garcia diz que “Para nós, o guaraná é uma palavra que significa princípio de sabedoria, é a nossa cultura e educação. A sabedoria e o reconhecimento de como ser um grande líder é repassado por meio do guaraná ao longo de gerações. É no guaraná que está todo o conhecimento do povo Sateré-Mawé”.

Débora Gomide Santiago, coordenadora de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do Mapa - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “Foram mais de dez anos de apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no processo de estruturação da indicação geográfica. Além de ser um reconhecimento importantíssimo para o povo indígena Sateré-Mawé, pela sua história de domesticação da planta do guaraná e produção única, que guarda cultura, tradição e saber-fazer, é uma conquista de todo o país. Trata-se de um produto 100% brasileiro, reflexo da riqueza do nosso povo, da nossa tradição e da nossa biodiversidade”.

O Mapa atuou ao menos em quatro vertentes no processo de estruturação da indicação geográfica: identificação dos potenciais da região, contratação de consultoria, em parceria com a FAO, para desenvolvimento de ações de sensibilização, emissão de instrumento oficial para delimitação de área e forneceu suporte aos indígenas em relação ao pedido de registro no INPI.

A meta da Denominação de Origem também foi perseguida pela Fundação Slow Food para a Biodiversidade. “Acreditamos no waraná desde o início dos anos 2000”, lembra Serena Milano, secretária-geral, informando que desde 2002 a organização criou a Fortaleza Slow Food.  “Conseguir a Denominação de Origem significa certificar que o produto, cujas características específicas se devem a fatores humanos e naturais, existe apenas naquele meio geográfico específico”, explica Maurizio Fraboni, economista social de desenvolvimento que, há 25 anos, trabalha ao lado dos Sateré-Mawé. “No caso do waraná, no entanto, há muito mais do que isso: a bacia hidrográfica formada pelos rios Andirá e Marau é o banco genético do guaraná, o único no mundo. Um santuário ecológico e cultural construído ao longo dos séculos”.

Durante o último século, o guaraná foi ficando conhecido em diversas regiões do Brasil;, graças a seu sucesso comercial. Com isso a indústria agroalimentar começou a impor a muitos produtores o cultivo fora da terra indígena e o uso exclusivo de cultivares obtidas por clonagem. Ou seja, a industrialização maciça do guaraná descaracterizou a matéria-prima. “A Denominação de Origem do waraná é o reconhecimento de décadas de lutas pela defesa de um produto que não deve ser considerado mera mercadoria”, explica Maurizio Fraboni.

O cultivo do guaraná nativo é feito de forma artesanal pelos produtores, que desidratam e defumam os grãos resultando no bastão de guaraná com cor, aroma, sabor e consistência únicos. Além disso, os guaranazais não podem ser reproduzidos por meio de clonagem na região delimitada. Os membros da comunidade indígena coletam as mudas nascidas das sementes caídas ao pé dos cipós e as transplantam em clareiras onde crescem como arbustos, tornando-se produtivas. De acordo com o INPI, o método adotado pelos Sateré-Mawé garante a conservação e a adaptação genética do guaraná em seu ambiente natural, com a Terra Indígena Andirá-Marau se constituindo no único banco genético in situ do guaraná existente no mundo.

O reconhecimento da Denominação de Origem do waraná da terra indígena Andirá-Marau vai ser importate também para agregar vaor ao produto que já é comercializado na Europa, pela empresa parisiense Guayapi, especializada em produtos étnicos e pelo Salão do Gusto Terra Madre, do Slow Food. Uma caixa do produto é vendida por cerca de 68,50 Euros.

Indicações Geográficas Brasileiras

A Indicação Geográfica (IG) serve para apontar a origem geográfica para um produto ou serviço. É conferida a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, que detêm valor intrínseco, identidade própria, o que os distingue dos similares disponíveis no mercado. Com isso, a IG ajuda a combater a usurpação e uso indevido do nome por terceiros não legitimados e pode contribuir para a agregação de valor econômico ao bem ou serviço. Somente os produtores e prestadores de serviços estabelecidos no respectivo território, geralmente entidades representativas, podem usar a IG. 



O Brasil conta com 72 Indicações Geográficas (IGs) nacionais registradas, sendo 58 na espécie Indicação de Procedência (IP) e 14 como Denominação de Origem (DO).  Na Região Norte, existem oito IGs registradas, sendo que a Terra Indígena Andirá-Marau (logotipo acima) é a primeira Denominação de Origem – DO da região.

As outras IGs foram registradas na modalidade Indicação de Procedência. São elas: Região do Jalapão do Tocantins, para artesanato em capim-dourado; Rio Negro, para peixes ornamentais; Cruzeiro do Sul, para farinha de mandioca; Maués, para guaraná; Tomé-Açu, para cacau; Uarini, para farinha de mandioca; e Novo Remanso, para abacaxi.

Saiba mais sobre Indicações Geográficas em http://www.invinoviajas.com/?s=indica%C3%A7%C3%A3o

Fortaleza Wateré-Mawé: https://www.fondazioneslowfood.com/en/slow-food-presidia/satere-mawe-native-warana/