Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, parece que a América do Sul vai ganhar um atrativo enoturístico gigantesco: uma rota que se propõe a ser a maior do mundo, com 1.300 quilometros entre o sul do Chile e o noroeste da Argentina e deve incluir mais de 170 vinícolas. Vai ser bom quando estiver pronta e já for possivel viajar pelo mundo pós-pandemia.
O roteiro visa reviver a façanha que a travessia da Cordilheira dos Andes e o patrimônio gerado pela indústria do vinho significaram na época da conquista espanhola. O projeto conta com o apoio de diversas organizações do Chile e da Argentina, das áreas de vinicultura, cultura e turismo, além da simpatoa de organizações internacionais de enoturismo. A região é importante produtora de frutas, de pisco, e tem fama de ter uma “energia mágica”.
A rota enoturística vai atravessar paisagens montanhosas e apresentar um patrimônio histórico-cultural praticamente desconhecido ao longo de 1.300 kms entre a região de Coquimbo e quatro províncias da Argentina. Segundo consta, o roteiro vai resgatar parte da história do vinho de ambas as nações, os antecedentes que mostram as origens da viticultura no Chile, Argentina e Cone Sul.
Durante a conquista espanhola, Francisco de Aguirre e o clérigo Juan Cidrón, ligaram os oceanos Pacífico e Atlântico por meio de uma rota comercial. Franciso de Aguirre foi governador da provincial de Tucumán de 1553 a 1554 e fundador e primeiro prefeito de Santiago de La Nueva Extremadura em março de 1541, atual Santiago do Chile.
Essa rota comercial no sul do Chile deu vida às primeiras cidades do país transandino e também gerou um próspero intercâmbio comercial, tecnológico e cultural que com o passar do tempo não traria apenas a vinha, o vinho e o álcool da região de Coquimbo (capital da Provincia de Elqui, no Chile) para a Argentina e o Alto Peru (Potosí) mas também criariam uma surpreendente rede de estradas, diversidade cultural em torno da agricultura, pecuária, arte, mineração, religião e turismo.
Depois de uma longa investigação, em 2018 foram iniciados os contatos entre profissionais chilenos e a Subsecretaria de Turismo de Santiago del Estero. O projeto rapidamente ganhou força e uniões de turismo (Câmara de Turismo da Região de Coquimbo, Inprotur, Organização Mundial de Turismo Eno), universidades (Santo Tomás) e instituições estaduais (Corporação de Desenvolvimento Produtivo Regional, Município de La Serena e Sernatur) aderiram. Além disso, até o momento 170 vinícolas de ambos os países embarcaram na iniciativa.
O objetivo é poder recriar aquela viagem, feita primeiro por espanhóis e indígenas, e mantida viva hoje por artilheiros e aventureiros, através do Vale do Elqui (foto acima), cruzando o passo Água Negra e depois entrando nas quatro províncias argentinas de San Juan, La Rioja, Catamarca e Santiago del Estero.
O historiador e doutor em Estudos Latino-americanos da USACH, Pablo Lacoste, diz sobre o projeto que “temos vinhedos patrimoniais que se distinguem dos da Argentina central e do Chile central. Também a forte presença de pequenos viticultores, não teremos as grandes áreas de cultivo das empresas concentram-se na área central das duas paisagens. E temos paisagens culturais homogêneas com arquitetura em terra crua, paredes de pedra e taipa, um patrimônio religioso que tem se mantido muito bem, uma cultura do tropeiro e da pequena pecuária."
Os atrativos são muitos, não só na visita às vinhas, mas também igrejas, moinhos, alambiques, fossos, estradas, socalcos, cidadelas e fortalezas indígenas, paisagens naturais surpreendentes, um vasto património histórico, arquitectónico e cultural associado a esta indústria.
Brindo a isso.
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