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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Diretora da OMT anuncia cooperação entre a Organização Mundial do Turismo e a Organização Internacional da Vinha e do Vinho


Por Rogerio Ruschel

EXCLUSIVOEntrevista exclusiva com Sandra Carvão, Diretora de Inteligência de Mercado e Competitividade da Organização Mundial do Turismo (OMT)

Prezado amigo ou amiga, a cada dia fica mais claro que a atividade de Enoturismo tem demonstrado grande capacidade de modernizar e transformar comunidades rurais estagnadas e criar empregos fora dos centros urbanos. E este foi o tema da 4ª Conferência Mundial de Enoturismo realizada no Vale de Colchagua, Chile, entre os dias 4 e 6 de dezembro de 2019 pela Organização Mundial de Turismo (OMT) e pelo Governo do Chile.

O enoturismo reúne participantes dos setores vitivinícola, turístico e cultural e  por esta razão no evento foi anunciada uma linha de cooperação entre a Organização Mundial do Turismo e a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, reiterada nesta entrevista exclusiva de “In Vino Viajas” com a Diretora de Inteligência de Mercado e Competitividade da OMT, Sandra Carvão.

Sandra Carvão é formada em Relações Internacionais pelo Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa e pós-graduada em Marketing pela Universidade Complutense de Madri. Antes de ingressar na OMT em 2003, Sandra foi gerente de mercado na Turismo de Portugal em Lisboa. Na OMT foi Chefe de Comunicações e Publicações por 8 anos e atualmente é Diretora de Inteligência de Mercado e Competitividade do Turismo. Com a palavra, Sandra Carvão.
R. Ruschel -  A quarta edição da Conferência Mundial sobre Enoturismo focou-se na capacidade do setor para transformar as comunidades rurais, construir economias e criar empregos fora dos centros urbanos. Quais são os principais indicadores disponíveis sobre estes temas?
Sandra Carvão - O Enoturismo tem um potencial enorme para o desenvolvimento das comunidades locais. Para tal, segundo as conclusões da Conferencia do Chile, que se dedicou ao tema da co-criação de experiências em enoturismo, é essencial criar modelos de cooperação publico/privados a nivel local, investir na formação das comunidades locais e criar oportunidades para que estas se integrem na cadeia de valor do turismo. Por exemplo, trabalhando para que pequenos produtores de produtos locais sejam parte da oferta de enoturismo. 
R.Ruschel -  Qual será o foco da quinta edição da Conferência Mundial, em Reguengos de Monsaraz?
 Sandra Carvão - O tema da Conferencia de 2020 em Portugal será Enoturismo e Desenvolvimento Rural. (Perguntei a José Calixto - na foto abaixo com Sandra Carvão - o Prefeito de Reguengos de Monsaraz e Presidente da Rede Europeia de Cidades dio Vinho, sobre este tema e ele reitera: “Reguengos de Monsaraz acolhe em 2020 a 5.ª Conferência Mundial de Enoturismo da OMT com enorme honra e considerando ser este um momento histórico para a projecção do Enoturismo de Reguengos de Monsaraz e do Alentejo no Mundo. A estratégia de promoção global do nosso território assentea nos valores da nossa ruralidade, pois são esses valores que nos distinguem. “)
R. Ruschel - Uma das conclusões da 4a. Conferência Mundial de Turismo Enológico foi ”Criar modelos fortes e estáveis de governança: público + privado + comunidade”. Como isso é possivel na prática?
Sandra Carvão - É possivel a nível local, onde é essencial promover formas de associação onde todos possam estar representados.
R. Ruschel -  Outra das conclusões foi ”Cooperação internacional - App de rotas do mundo, observatório de turismo”. Como isso pode ou deve se realizar?
Sandra Carvão - A Conferência colocou em destaque que ainda existe muita falta de informação e deu nascimento a uma linha de cooperação entre a OMT e a Organização Internacional da Vinha e do Vinho para trabalhar o tema de datos e tendências.
R. Ruschel -  De que maneira a OMT poderia ampliar o compartilhamento da experiência e o alto perfil promocional da vitivinicultura e do Enoturismo de Sonoma County apresentado no evento do Chile, para outras regiões em desenvolvimento? 
Sandra Carvão - Todas as apresentações estão disponiveis na pagina da OMT https://www.unwto.org/4th-unwto-global-conference-wine-tourism
R. Ruschel - Profissionais de turismo na atividade vitivinícola: a OMT possui dados ou estimativas do número de pessoas empregadas permanentemente na área de Enoturismo na Europa ou qualquer outra região? E de pessoas que trabalham transitoriamente na área de turismo?  
Sandra Carvão - Como referido anteriormente esta é uma das áreas onde há muito por fazer e  esperamos que nos próximos anos possamos contar com alguns dados globais da atividade.
R. Ruschel -  A OMT considera o Turismo Enológico como um sub-tipo do Turismo Gastronômico. Esta mesma consideração abrange também o turismo realizado motivado por outros produtos agroalimentares com identidade como queijos, azeites, carnes, temperos, chás, frutas, embutidos, etc.? Este tipo de turismo já é relevante?
Sandra Carvão - Sim, totalmente; todos os produtos são a essência do Turismo Gastronômico mas cada vez mais com um espaço próprio. No caso do enoturismo tem um espaço próprio muito destacado.
R. Ruschel -  As viagens internacionais devem chegar a 1,8 bilhão em 2030, segundo as projeções da OMT. Como o turismo pode ser sustentável com uma mobilização deste porte?
Sandra Carvão - O Turismo é hoje um dos sectores mais importantes a nivel global em termos de desenvolvimento e criação de emprego, e que tem crescido imenso nos ultimos anos. Para maximizar estes beneficios temos que trabalhar para medir melhor o impacto social e ambiental do sector (nesta área a OMT desenvolve Observatorios de Turismo Sustentável a nivel mundial nos destinos), investir em políticas de apoio a esta agenda que beneficie as empresas que apostam pelo turismo sustentável por exemplo. Vemos que os consumidores são os que mais pedem esta mudança e todo o sector tem de se adaptar. 
R. Ruschel -  Quais as políticas públicas de turismo implantadas pelo governo brasileiro poderiam ser compartilhadas como modelares pela OMT?
Sandra Carvão - Temos vistos muitos avanços exemplares como a política de vistos, a aposta na tecnologia e digitalização e no turismo gastronômico, áreas nas quais a OMT esta a trabalhar com o Ministério do Turismo.  
R. Ruschel - Dentre as atividades do Departamento de Inteligência de Mercado e Competitividade da OMT, quais as tarefas que tem exigido mais dedicação e investimento?
Sandra Carvão - Temas como a medição do turismo mundial ou a criação de guias e recomendações para o desenvolvimento do turismo urbano e a adequada gestão dos fluxos de turismo nas cidades onde o turismo tem um papel cada vez mais relevante.

Saiba mais sobre a 4ª Conferência Mundial de Enoturismo em  http://www.invinoviajas.com/2019/12/4a-conferencia/  

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

4ª Conferência Mundial sobre Enoturismo da OMT no Chile encerra celebrando a transformação rural e a criação de empregos



Por Rogerio Ruschel
Vale de Colchagua (Chile), 9 de dezembro de 2019 – Texto da Organização Mundial do Turismo. 
Meu prezado leitor ou leitora, a 4ª Conferência Mundial de Enoturismo, organizada pela Organização Mundial de Turismo (OMT) e pelo Governo do Chile, concluiu seus trabalhos nesta segunda-feira 9/12/2019 com uma forte recomendação para usar a capacidade única do setor de rejuvenescer e apoiar comunidades rurais. O evento, realizado no vale de Colchagua, sede de alguns dos melhores produtores de vinho do Chile, contou com a presença de mais de 400 participantes de países como Argentina, Brasil, Estados Unidos, Espanha, França, Itália, Portugal e África do Sul, que compartilharam experiiencias para explorar as muitas oportunidades que o enoturismo representa.

Ao receber os delegados, o Secretário Geral da OMT, Zurab Pololikashvili, disse: “O enoturismo cria empregos e oportunidades de empreendedorismo. Esse tipo de turismo está ligado a todas as áreas da economia regional, por meio de vínculos com artesanato, gastronomia e agricultura. Aí reside o seu grande potencial para gerar oportunidades de desenvolvimento em destinos remotos. ” A esse respeito, o ministro da Economia, Desenvolvimento e Turismo do Chile, Lucas Palacios, afirmou que “o enoturismo continua a crescer graças ao impulso das vinhas que vão cada vez mais longe, expandindo seus horizontes além da produção e venda de vinho; mas é também graças ao fato de que, a partir do Estado, implementamos uma política pública que promove o desenvolvimento sustentável do turismo, onde temos um tremendo potencial. ”

A subsecretária de Turismo, Mónica Zalaquett, disse que “esta é uma oportunidade para mostrar nosso território. Hoje existem mais de 100 vinhedos abertos ao enoturismo e este congresso é sobre isso. Eles vão transferir conhecimento, compartilhar experiências, promover diálogos e fornecer ferramentas, para que possamos melhorar essa oferta de enoturismo. ”
A quarta edição do mais importante evento anual de enoturismo do mundo enfocou a capacidade do setor de transformar comunidades rurais, construir economias e criar empregos fora dos centros urbanos. Além das sessões sobre o turismo como motor do desenvolvimento socioeconômico rural, a conferência também apresentou oficinas e debates sobre como os destinos podem ser diversificados para se adaptar às mudanças na demanda dos consumidores. Ao mesmo tempo, especialistas da OMT explicaram os benefícios potenciais da adoção da transformação digital e do empreendedorismo no turismo, particularmente nas áreas rurais. O evento contou com a participação de Sandra Carvão, Diretora de Inteligência de Mercado e Competitividade da OMT e teve visitas técnicas, encontros paralelos e debates tematizados.

A região do Alentejo em Portugal sediará a edição 2020 da Conferência Mundial da OMT sobre o Enoturismo. O epicentro do evento internacional será a cidade de Reguengos de Monsaraz – seu prefeito José Calixto, na foto acima - também Presidente da Rede Europeia de Cidades do Vinho (Recevin) - esteve no Chile para apresentar a cidade sede junto com o Embaixador António Manuel Leão Rocha, o jornalista responsável pela promoção do turismo de Portugal na America Latina, Bernardo Cardoso e dirigentes do Turismo de Portugal, da Agência de Promoção Externa do Alentejo (ARPTA) e da ERT do Alentejo.
Vamos todos ao Alentejo!!!
 

sábado, 7 de dezembro de 2019

Chegou “Tesouros no Fundo do Quintal”, a vitrine digital de produtos com identidade e do turismo com os valores do território

 
Por Rogerio Ruschel
Meu caro amigo ou amiga, produtos que tem uma identidade territorial agregam forte valor econômico ao produto, ao produtor, ao consumidor e ao território. Mas vão além disso: também tem impacto social positivo porque mantém as novas gerações no campo e geram cadeias produtivas de base local mais sustentáveis. Ou seja: valorizar produtos “do lugar”, caipiras, com ou sem uma identidade territorial já formalizada (como Identidade Geográfica ou Denominação de Origem), é tudo de bom. E mais do isso, é estratégico: é o que o Brasil precisa para enfrentar a concorrência dos produtos similares que vão invadir nossas prateleiras com preços cada vez mais baixos por conta do Acordo Mercosul e União Europeia.
Por isso com dois parceiros estratégicos e experientes do mundo digital, através do In Vino Viajas estou lançando o projeto Tesouros no Fundo do Quintal – TNFDQ. São eles a Agência Digital Sopa.ag, um núcleo efervescente de jovens talentos com 10 anos de experiência em Estratégias de Social Media, E-commerce, Marketing de Conteúdo e Campanhas de Mídia que também já opera em Portugal; e a Umbrella Production, uma produtora de fotos, filmes e vídeos nascida em Dublin, Irlanda, e que desde 2013 também opera no Brasil. Na foto abaixo, Luke, Diego e eu.


Com Tesouros no Fundo do Quintal, o Brasil ganha o primeiro projeto integrado de comunicação & marketing para valorizar produtos autênticos, que carregam em sua alma os valores de um território ou comunidade. O projeto começa com um Canal YouTube e perfis no Instagram e Facebook; futuramente planejamos transbordar. 

Em vídeos divertidos e atraentes, fotos, reportagens e podcasts, vamos mostrar a importância dos tesouros que as pessoas tem no seu “quintal” mas que nem sempre percebem seu verdadeiro valor. Vamos falar de frutas, bebidas, locais, músicas, pessoas, conhecimentos e heranças culturais, de patrimônios tangíveis e intangíveis. Vamos lembrar aos brasileiros o valor de sua (nossa) cultura e herança, romper a inércia de achar que produtos importados são sempre melhores; vamos levantar bandeiras e propor mudanças de atitude em relação a isso.

Essa vontade de nadar contra a correnteza dos produtos commodities e similares é uma das coisas que atraiu a Agência Sopa.ag para o projeto. Como ressalta Diego Campos, CEO, “com este projeto vamos reforçar a visão que percebemos para nossa atividade com conteúdos: networks empoderam, viabilizam e potencializam causas que lutam por um ideal – é isso o que Tesouros no Fundo do Quintal vai fazer".

Tesouros no Fundo do Quintal terá um vídeo novo por semana no Canal YouTube. 11 deles já foram gravados em três sessões, abordando produtos do terroir da Bahia, o Cambuci, Mercado Ver-o-Peso, bananas criativas, filó italiano, vinho dos mortos de Portugal e até mesmo a muvuca dos indios Ikpeng do Xingu. Luke Martins, Diretor da Umbrella MP procura colocar ordem no caos criativo que o projeto vem provocando, mesmo antes de entrar no ar: “Vamos definir uma rotina de processos criativos e análise estratégica para entender o presente e nos planejarmos para o futuro. Esse processo envolverá todas as pessoas que tem parte no projeto, inclusive você como apresentador. Faremos tudo coletiva e colaborativamente.”

Para mim, que há sete anos pesquiso e publico estas histórias no “In Vino Viajas”, é uma evolução natural do respeito que tenho pelos leitores que preferem produtos com personalidade e identidade; produtos mais saudáveis e menos industrializados, socialmente valiosos e ambientalmente honestos. Quero que eles conheçam os agroalimentos produzidos pelos 22 milhões de produtores da agricultura familiar do Brasil, produtos geralmente tão bons quanto seus concorrentes da França, Itália, Alemanha e Espanha, mas com menor valor comercial.
Entendo que mobilizando potenciais consumidores e assim apoiar produtores e fabricantes destes produtos vamos mudar a economia de hoje no Brasil e melhorar a perspectiva do amanhã. Convido você a compartilhar comigo esta ideia.
Visite agora Tesouros no Fundo do Quintal, basta clicar em https://www.youtube.com/channel/UCc4c2FU6Z88_XU_2I2lFbmA/featured


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Italianos recriam o vinho que Leonardo da Vinci produzia em 1498 em Milão


Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, que tal provar um vinho feito por Leonardo da Vinci? Depois de 11 anos de pesquisa uma vinícola da Lombardia produziu a primeira safra com 338 garrafas safradas de 2018 do “vinho de Leonardo” com as mesmas uvas e no mesmo local em que se acredita que Leonardo da Vinci tenha tido  videiras. E algumas destas garrafas vão ser leioloadas.

Vou contar esta história. Mais famoso por pintar a Mona Lisa, da Vinci também foi escultor, cientista, matemático, astrônomo, mestre desenhista, cartógrafo e engenheiro. Uma mostra interativa em cartaz até o fim de dezembro de 2019 em São Paulo mostra um pouco destes múltiplos talentos. Pois agora já dá para dizer que Leonardo da Vinci também curtia uma de enólogo.

Pesquisadores já haviam identificado que no pouco tempo livre que ele tinha, o mestre também gostava de mexer no cultivo de uvas Malvasia de Candia – uva branca, adocicada, deliciosa - de um vinhedo com 16 fileirias de vinhas em Milão que havia recebido de presente, em 1498, de Lodovico Sforza, em troca ou como parte do pagamento de uma de suas obras-primas, “A Última Ceia”. Sabia-se também que o local das vinhas, atualmente no centro de Milão (foto abaixo), sobreviveu com as videiras por 444 anos até ser bombardeado pelos aliados em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial.

 
O Vinhedo de Leonardo começou a renascer em 2015, por ocasião da Expo 2015. A abertura ao público do Vinhedo foi possível graças à boa vontade da Fundação Portaluppi e dos atuais proprietários da Casa Atellani, em colaboração com o enólogo Luca Maroni e com a Universidade de Artes Agrícolas, representada pela geneticista Serena Imazio e especialista em DNA de videira, o Professor Attilio Scienza.

Esta equipe de pesquisadores levou 11 anos para localizar o vinhedo de da Vinci, identificar os restos de videira descobertos durante a escavação e, em seguida, encontrar um clone da uva Malvasia de Candia Aromatica semelhante à sobrevivente, que foi localizado em Piacenza, a sudeste de Milão. A partir daí o Castello di Luzzano, de Rovescala, província de Pavia, foi escolhido para liderar o projeto porque trabalha há séculos com a casta Malvasia di Candia. 


Pois é: um vinho feito a partir da uva Malvasia di Candia Aromatica, no mesmo terreno em Milão, onde da Vinci mantinha seu vinhedo, foi recriada. E agora? Agora é esperar que um dia esta produção seja ampliada. Os produtores envelheceram as 330 garrafas de vinho em ânforas de barro, antes de engarrafar. Terão que pesquisar métodos e ampliar a produção. O vinho foi lançado agora porque em 2019 é o ano que se relembra os  500 anos da morte de Leonardo Da Vinci em Milão, dia 2 de maio de 1519.

De qualquer maneira é possível visitar o vinhedo de da Vinci em Milão que é aberto ao público e tem bistrô, museu, venda de produtos relacionados e é muito bonito.  Fica na Vigna de Leonardo, uma entidade que cuida desta parte da herança de Leonardo da Vinci em Milão. Anote aí: Corso Magenta, 65,Milão. Você não vai encontrar o vinho do Mestre, mas qualquer vinho que provar por lá vai ser bom. Saiba mais aqui: https://www.vignadileonardo.com/en


Mas como “In VIno Viajas” é cultura, anote aí dois mestres da literatura que também gostavam muito do vinho da mesma uva Malvasia de Candia: William Sheakespeare e José Saramago. Os dois curtiam muito o Malvasia Vulcânico DO Lanzarote, produzido há centenas de anos nas Ilhas Canárias por um processo complicadíssimo. Veja aqui: http://www.invinoviajas.com/2014/01/conheca-o-vinho-malvasia-que-nasce-na/
 

sábado, 23 de novembro de 2019

Acordo histórico entre União Europeia e China vai proteger 200 Indicações Geográficas de alimentos da agricultura familiar

Por Rogerio Ruschel

Meu caro leitor ou leitora, a cada dia fica mais óbvia a importância de se agregar uma denominação de origem a produtos agroalimentos como forma de diferenciação e valorização em um mercado global de commodities. Tenho reiterado isso aqui no “In Vino Viajas”, no meu livro “O valor Global do Produto local”, da Editora Senac, e em palestras que venho fazendo sobre o tema em geral e sobre o Acordo Mercosul X União Europeia em particular. Aliás, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e já tinha apresentado em 2018 seu interesse em um acordo com o Brasil envolvendo 100 de suas Indicações Geográficas; então acho que em breve teremos novidades.
Pois dia 6 de novembro de 2019 foi formalizado um acordo bilateral de enorme importância econômica e estratégica que podemos considerar histórico porque vai proteger 100 indicações geográficas europeias na China e 100 indicações geográficas chinesas na União Europeia (UE) contra imitações e falsificações. Quer dizer: os chineses não vão poder produzir e comercializar queijos “tipo camembert” ou presuntos “tipo pata negra” e em compensação os europeus não vão poder produzir e comercializar “chá branco tipo Anji Bai Cha” ou “arroz tipo Panjin Da Mi”.  O acordo agora será aprovado formalmente pelas partes: a UE pretende obter a aprovação do Parlamento Europeu até o final de 2020. Os quadros abaixo mostram alguns destes produtos e sua denoiminação protegida em chinês.

Os acordos visam proteger designações específicas de produtos para promover suas características únicas, vinculadas à sua origem geográfica e ao know-how tradicional – que obviamente agregam valor porque diferenciam os produtos da gigantesco cenário de commodities alimentícias. E vai ser ampliado: quatro anos após a sua entrada em vigor, será estendido para abranger outras 175 indicações geográficas de ambas as partes. Essas denominações devem seguir o mesmo procedimento de registro que as 100 denominações iniciais de cada parte já cobertas pelo acordo inicial.
Enquanto no Brasil consideramos mais importante a exportação de alimentos sem valor agregado, como commodities, que tem financiamento oficial e apoio governamental de todos os tipos, os agroalimentos de origem da Agricultura Familiar são um dos grandes trunfos da agricultura europeia porque preservam cultura, geram empregos e receitas, diminuem a migração de pessoas para as cidades e oferecem uma série de benefícios.
A União Europeia possui mais de 3.300 denominações registradas como indicação geográfica protegida (IGP) ou denominação de origem protegida (DOP); no Brasil não chegam a 70.  As indicações geográficas da UE têm um valor de mercado de cerca de 74,8 bilhões de Euros e representam 15,4% do total das exportações de alimentos e bebidas da UE; no Brasil ainda não temos dados oficiais. Além disso, existem cerca de 1.250 denominações de países terceiros protegidos na UE, principalmente devido a acordos bilaterais como o que acaba de ser assinado com a China. 
Os europeus perceberam que os Estados Unidos estão se isolando por conta própria. O presidente Trump faz questão de inimizar com a China que é o segundo destino para as exportações agroalimentares da UE, com um valor de 12,8 bilhões de Euros no período de doze meses entre setembro de 2018 e agosto de 2019. É também o segundo destino para as exportações dos europeus de produtos protegidos, como indicações geográficas, que representam 9% do seu valor, incluindo vinhos, produtos agroalimentares e bebidas espirituosas.
O mercado chinês tem um alto potencial de crescimento para alimentos e bebidas de qualidade como os europeus, com uma classe média afluente e crescente que aprecia produtos europeus autênticos, emblemáticos e de qualidade. Os chineses também possuiem seu próprio sistema de indicações geográficas bem estabelecido, com especialidades que os consumidores europeus agora podem descobrir graças a este acordo. Produtos como espumante, champanhe, queijo feta, uísque irlandês, Polska Wódka, Porto, presunto de Parma e queijo Manchego estão incluídos na lista de indicações geográficas a serem protegidas na China. Entre os produtos chineses, a lista inclui, por exemplo, Pixan Dou Ban (pasta de feijão Pixian), Anji Bai Cha (chá branco Anji), Panjin Da Mi (arroz Panjin) e Anqiu Da Jiang (gengibre Anqiu).
A cooperação entre a UE e a China em indicações geográficas começou há mais de dez anos em 2006 e resultou no registro e proteção por ambas as partes de dez denominações de indicações geográficas em 2012, que lançaram as bases da cooperação atual.
Enquanto isso no Brasil é lenta a mobilização para aprovar internamente o Acordo Mercosul com a União Europeia e também não nos mobilizamos para dotar nossa Agricultura Familiar de recursos de inteligência de mercado para poder competir em um mercado global. 
O mundo gira, a fila anda. E o comércio se sofistica.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Conheça o Nesos, o mitológico vinho grego feito com uvas banhadas no mar Egeu, recriado após 2.500 anos


Fonte: TV Prato, Toscana; edição Rogerio Ruschel
Meu estimado leitor ou leitora, mais uma vez "In Vino Viajas" vai te contar uma novidade internacional em (quase) primeira mão. Experimentar um vinho cuja garrafa ficou na água do mar por alguns meses já foi uma novidade - mas isso agora é coisa antiga. A novidade é o renascimento do vinho Nesos, cujas uvas brancas da casta Ansonica, de Elba, são marinadas no mar Egeu por vários dias, antes da vinificação. Na mitologia grega, as Nesos eram as deusas das ilhas, filhas da mãe Gaia. A idéia de recriar o vinho, depois de 2.500 anos, seguindo os traços de um mito, nasceu pelas mãos de Antonio Arrighi, pequeno produtor da ilha de Elba, que por mais de dez anos vinificou um vinho local em ânforas de terracota Impruneta, em colaboração com Attilio Scienza, professor de viticultura da Universidade de Milão, que pesquisava sobre este mitológico vinho da ilha grega de Chios (ou Quio).
Pois 40 garrafas com safra de 2018 do Nesos, o vinho marinho, finalmente foram apresentados dia 13 de novembro de 2019 em Florença, durante uma conferência organizada em colaboração com a Região da Toscana, a Promoção do Turismo da Toscana, a Fondazione Sistema Toscana e a Vetrina Toscana.
 
A uva usada para recriar esse método específico de vinificação (que, na minha opinião vai virar Patrimônio Intangível da Humanidade em 10 anos) é a Ansonica, uma uva branca típica de Elba, provavelmente um cruzamento de duas uvas antigas do mar Egeu, Rhoditis e Sideritis, variedades com uma casca muito resistente e uma polpa crocante que permitia uma longa estadia no mar. As uvas do Nesos foram imersas no mar por 5 dias a uma profundidade de cerca de 10 metros, protegidas em cestas de vime – como na foto acima.Esse processo permitiu eliminar parte do florescimento superficial, acelerando a subsequente secagem ao sol nas prateleiras, sem atingir a produção de um vinho doce. O sal marinho durante os dias de imersão, por "osmose", penetra mesmo no interior, sem danificar a uva, que depois é fermentada em ânforas de terracota após a separação dos caules. A presença de sal nas uvas, com efeito antioxidante e desinfetante, evita o uso de sulfitos e é um vinho extremamente natural, muito semelhante ao produzido há 2.500 anos.


Os vinhos de Chios, uma pequena ilha no leste do mar Egeu, faziam parte de uma famosa elite de vinhos gregos considerados produtos de luxo no rico mercado de Marselha e, posteriormente de Roma. O escritor romano Marco Terenzio Varrone o chamou de "vinho dos ricos" no ano de 22 a.C. e, como foi registrado por Plínio, o Velho, César o ofereceu no banquete para celebrar seu terceiro consulado. Como os vinhos de Lesvos, Samos ou Thaso, os vinhos de Chios eram doces e alcoólicos, a única garantia para suportar o transporte marítimo, como os atuais vinhos Porto e Madeira. 
Mas tinham um segredo que os tornava particularmente aromático: a presença de sal resultante da prática de imergir as uvas em cestas no mar, com o objetivo de remover a flor da casca e acelerar a secagem ao sol, assim preservando o aroma da videira. A partir das análises realizadas pela Universidade de Pisa, constatou-se que o conteúdo fenólico total do vinho do mar é o dobro do produzido tradicionalmente, e isso se deve à maior extração ligada à redução parcial da resistência à casca.

A ligação entre este vinho mitológico e a ilha de Elba também é histórica. Como todos os comerciantes gregos, também os do vinho de Chios, faziam escala no caminho de volta à sua terra natal, à ilha de Elba e a Piombino, para carregar materiais ferrosos, entrando em contato com o mundo etrusco. Achados arqueológicos de ânforas em naufrágios, túmulos ou na construção de drenos, testemunham que muitas cidades costeiras da Toscana etrusca estavam entre os locais mais frequentados pelos comerciantes de Chios.

Pois é, caro leitor ou leitora: pesquisas científicas, descobertas arqueológicas, a teimosia de um produtor de vinhos, a paixão pelo cultivo e cultura da vinha em um território inigualável como o do Parque do Arquipélago da Toscana deram vida a um produto único que conta uma história milenar de dentro da garrafa: o mitológico vinho Nesos.