Fonte: TV Prato, Toscana; edição Rogerio Ruschel
Meu estimado leitor ou leitora, mais uma vez "In Vino Viajas" vai te contar
uma novidade internacional em (quase) primeira mão. Experimentar um vinho cuja garrafa ficou na
água do mar por alguns meses já foi uma novidade - mas isso agora é coisa
antiga. A novidade é o renascimento do vinho Nesos, cujas uvas brancas da casta
Ansonica, de Elba, são marinadas no mar Egeu por vários dias, antes da
vinificação. Na mitologia grega, as Nesos eram as deusas das ilhas, filhas da mãe Gaia. A idéia de recriar o vinho, depois de 2.500 anos, seguindo os
traços de um mito, nasceu pelas mãos de Antonio Arrighi, pequeno produtor da
ilha de Elba, que por mais de dez anos vinificou um vinho local em ânforas de
terracota Impruneta, em colaboração com Attilio Scienza, professor de
viticultura da Universidade de Milão, que pesquisava sobre este mitológico
vinho da ilha grega de Chios (ou Quio).
Pois 40 garrafas com safra de 2018 do Nesos, o vinho
marinho, finalmente foram apresentados dia 13 de novembro de 2019 em Florença,
durante uma conferência organizada em colaboração com a Região da Toscana, a
Promoção do Turismo da Toscana, a Fondazione Sistema Toscana e a Vetrina
Toscana.
Os vinhos de Chios, uma pequena ilha no leste do mar
Egeu, faziam parte de uma famosa elite de vinhos gregos considerados produtos
de luxo no rico mercado de Marselha e, posteriormente de Roma. O escritor
romano Marco Terenzio Varrone o chamou de "vinho dos ricos" no ano de
22 a.C. e, como foi registrado por Plínio, o Velho, César o ofereceu no
banquete para celebrar seu terceiro consulado. Como os vinhos de Lesvos, Samos
ou Thaso, os vinhos de Chios eram doces e alcoólicos, a única garantia para suportar
o transporte marítimo, como os atuais vinhos Porto e Madeira.
Mas tinham um
segredo que os tornava particularmente aromático: a presença de sal resultante
da prática de imergir as uvas em cestas no mar, com o objetivo de remover a
flor da casca e acelerar a secagem ao sol, assim preservando o aroma da
videira. A partir das análises realizadas pela Universidade de Pisa, constatou-se
que o conteúdo fenólico total do vinho do mar é o dobro do produzido
tradicionalmente, e isso se deve à maior extração ligada à redução parcial da
resistência à casca.
A ligação entre este vinho mitológico e a ilha de Elba
também é histórica. Como todos os comerciantes gregos, também os do vinho de
Chios, faziam escala no caminho de volta à sua terra natal, à ilha de Elba e a
Piombino, para carregar materiais ferrosos, entrando em contato com o mundo
etrusco. Achados arqueológicos de ânforas em naufrágios, túmulos ou na
construção de drenos, testemunham que muitas cidades costeiras da Toscana
etrusca estavam entre os locais mais frequentados pelos comerciantes de Chios.
Pois é, caro leitor ou leitora: pesquisas científicas, descobertas arqueológicas, a teimosia de um produtor de vinhos, a paixão pelo cultivo e cultura da vinha em um território inigualável como o do Parque do Arquipélago da Toscana deram vida a um produto único que conta uma história milenar de dentro da garrafa: o mitológico vinho Nesos.
Pois é, caro leitor ou leitora: pesquisas científicas, descobertas arqueológicas, a teimosia de um produtor de vinhos, a paixão pelo cultivo e cultura da vinha em um território inigualável como o do Parque do Arquipélago da Toscana deram vida a um produto único que conta uma história milenar de dentro da garrafa: o mitológico vinho Nesos.
O processo não retira as leveduras naturais da casca? Com que leveduras se faz a fermentação?
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