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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Saiba porque produtos locais, extrativistas e da agricultura familiar estão atraindo Investimento Social Privado e a atenção do GIFE

 

Por Rogerio Ruschel

Incentivar cadeias produtivas nos municipios nocauteados pela pandemia é o investimento social (privado ou público) com retorno mais rápido e duradouro para socorrer a economia local.

Meu prezado leitor ou leitora, uma revolução silenciosa mas de enorme importância para nosso país está acontecendo longe dos olhos da chamada “grande mídia” que só tem visto problemas da coronavirus. Estou falando da mobilização de pessoas, entidades e organizações pela valorização dos produtos locais – como agroalimentos da agricultura familiar, extrativismo, pequenas indústrias locais e cooperativas. Esta mobilização acontecia discretamente, mas agora acelerou e “está na moda” por causa de campanhas do tipo “prefira produtos locais” surgidas como resposta à crise da pandemia.

Este segmento produtivo do empreendedorismo rural é composto por 22 milhões de produtores e industriais pequenos e médios que movimentaram 107 bilhões de reais, ou 23% de toda produção agropecuária brasileira, em 2019. Segundo o IBGE (Censo 2017) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, a agricultura familiar é responsável pela produção de 80% dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros.

Só prá lembrar, estes 22 milhões são aqueles que muitos brasileiros urbanos ainda acham que são gente simplória, porque na maioria das vezes a “grande mídia” os retrata de camisa xadrez, chinelo de dedo e com um pé de alface na mão - e sempre com carências.  Pois é: estes “jeca-tatus” foram responsáveis em 2019 por 88 milhões de toneladas de milho, 30 bilhões de litros de leite, 4,7 bilhões de dúzias de ovos, 1,36 bilhão de cabeças de aves, 173 milhões de cabeças de gado; 48% da produção de café e da banana, 80% da produção da mandioca, 69% da produção de abacaxi, 42% da produção do feijão. E estes brasileiros rurais compram bilhões de Reais em produtos diversos – de carros a internet – igualzinho aos brasileiros urbanos.

Cedo ou tarde, meu querido leitor ou leitora, a importância destes produtores, até mesmo para nossa segurança alimentar, teria que ser valorizada. E veja isso: estes números tem atraído a atenção das forças produtivas – inclusive dos investimentos sociais privados, cuja principal razão não é o retorno lucrativo imediato, e sim a promoção do desenvolvimento sustentável coletivo. Por exemplo, do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas que reúne cerca de 160 associados que investem cerca de R$ 2,9 bilhões por ano para ampliar a qualidade, legitimidade e relevância da atuação dos investimentos sociais privados em projetos e ações com foco no desenvolvimento sustentável local.

Em seu congresso anual de março de 2021, o GIFE distribuiu como brinde para palestrantes um pacote de produtos de pequenos produtores familares, prestigiando ações de relevante impacto social para o país. Veja o pacote na foto de abertura desta reportagem. Mas a preocupação dos associados do GIFE com o tema não é de hoje – e é mesmo anterior à pandemia: o segundo Happy Hour GIFE, realizado em setembro de 2018, foi sobre o tema.

Na prática um grupo crescente de empresas e OSCs tem incorporado aos seus desafios de negócio o desenvolvimento territorial, porque, como afirma o próprio GIFE,  “o tema tem se tornado uma agenda cada vez mais estratégica para o campo do investimento social privado, tanto pelo interesse no alinhamento do investimento social ao negócio, quanto pelo papel do campo de influenciar e aprimorar políticas públicas que respondam aos maiores desafios do país na atualidade”.

O GIFE defende que o investimento social deve ser capaz de pautar a empresa em sua integralidade para a produção de bens públicos e geração de impacto social

Investir na produção de base local nos municipios atingidos pela pandemia é o investimento social com maior capacidade de impacto social para retomar a economia nacional – e global. O GIFE defende que o investimento social deve ser capaz de pautar a empresa em sua integralidade para a produção de bens públicos e geração de impacto social. E neste momento, meu caro leitor ou leitora, investir na produção de base local, nos produtores rurais, nas micro-indústrias, na cadeia produtiva de prestadores de serviços nos municipios atingidos duramente pela pandemia de saúde e pela crise econômica, é certamente o investimento social – privado ou público – com maior capacidade de impacto social para acelerar a economia local.

Tenho trabalhado com este tema e identifiquei 12 grupos de benefícios de impacto social positivo ao se apoiar os empreendedores rurais e pequenas indústrias locais. Venho apresentando este ponto de vista como professor de marketing, em palestras, artigos, entrevistas e também no livro "O valor global do produto local – A identidade territorial como estratégia de marketing" (Ed. Senac, 2018). E para facilitar o entendimento transformei 27 casos de sucesso de produtos locais em pequenos e divertidos videos no WebCanal Tesouros no Fundo do Quintal. O livro pode ser encontrado no site da Editora Senac ou na Amazon.com e os vídeos estão aqui: https://www.youtube.com/channel/UCc4c2FU6Z88_XU_2I2lFbmA

O investimento em qualificação dos empreendedores rurais e pequenas indústrias locais potencializa vários benefícios com impacto social positivo:

1.     Agrega valor, aumenta a renda dos produtores e potencializa a geração de empregos locais

2.     Ajuda a estruturar cadeias produtivas de base local, tornando o tecido produtivo mais forte

3.     Estimula a ação cooperada, o que gera sinergia no aproveitamento dos recursos

4.     Aumenta a proteção dos produtores contra a competição de produtos globais, que geralmente tem custos de produção menores

5.     Aumenta a auto-estima da comunidade

6.     Aumenta a autonomia produtiva da comunidade, reduzindo a dependência de ações ou vontades políticas

7.     Valoriza conhecimentos tradicionais

8.     Amplia mercados

9.     Valoriza propriedades rurais

10.  Preserva a biodiversidade e os recursos ecossistêmicos

11.  Transforma áreas rurais em locais de consumo, reduzindo o esvaziamento habitacional

12.  Incentiva a criação de serviços associados ao turismo que por sua vez gera ua grande cadeia de fornecedores

É por essas e outras razões que reitero que incentivar cadeias produtivas nos municipios nocauteados pela pandemia é o investimento social (privado ou público) com retorno mais rápido e duradouro para socorrer a economia local.

E cumprimento o GIFE e os empresários que estão contribuindo com essa visão. Conheça aqui: https://gife.org.br/

A foto de abertura foi publicada por Sonia Consiglio Favaretto em seu perfil de Linkedin.

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