Por Rogerio Ruschel (*)
A candidatura da Cultura do Vinho
como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco (post anterior a este, aqui
no In Vino Viajas), que está sendo preparada pela Association for Culture and
Tourism Exchange (ACTE), representará o interesse universal, coletivo de outras
iniciativas regionais ou nacionais que já fornecem ao vinho o status de bem
patrimonial da humanidade. Humanidade que deve muito à Geórgia, pelo processo produtivo (acima) e pela convivência do vinho com a paisagem das montanhas (abaixo).
Atualmente entre os quase 1.000 sítios tombados pela Unesco em 155 países, mais de
190 são naturais, e entre eles estão seis regiões produtoras de vinhos: Alto
Douro, em Portugal; Vinhas do Pico, em Açores/Portugal; o simpático vilarejo de
Saint-Emillion, em Bordeaux, na França; a região de Tokay na Hungria, que
denomina um tipo de vinho; a belíssima Lavaux, entre Genebra e Montreaux, cujos
vinhedos se debruçam sobre Lago Léman, na Suiça (foto abaixo) e a região de Mittelrhein,
na Alemanha. Conheça melhor estes patrimônios em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/03/seis-vinhedos-patrimonio-da-humanidade.html
Pelo menos outras duas regiões
vinícolas do mundo procuram um reconhecimento similar: a região de Champagne,
na França, que já teve o pedido encaminhado pelo governo francês à Unesco em
2012 e a
região de La Rioja (foto abaixo, no outono), que segundo informações, terá sua
candidatura apresentada pelo governo da Espanha em 2014.
Segundo arqueólogos, a Geórgia é considerada o berço
da vinificação no mundo, com evidências arqueológicas datadas de 6000 A.C – ou
8.000 anos no total! A Geórgia é um belo país que fica entre o Mar Negro, a
Rússia,
a Turquia, a Armênia e o Azerbaijão, tem uma população basicamente cristã
ortodoxa, um alfabeto próprio e exclusivo, e o vinho faz parte intrínseca da
sua cultura e fé. Na verdade a convivência (emocional e técnica) com o vinho vem sendo
transmitido há centenas de gerações, como mostra a foto.
Reconhecendo
isso, no começo de dezembro de 2013 a Unesco tombou o “Qvevri”, o ancestral método de elaborar vinhos na Geórgia,
que data de estimados 8.000 anos, como Patrimônio Cultural Intangível da
Humanidade. Pelo processo “Qvevri”, as uvas são
fermentadas em grandes ânforas de barro enterradas no solo, junto com as cascas
e até mesmo com os engaços (galhinhos) mais maduros em ambientes de trabalho
como este abaixo e nas próximas fotos.
Veja a seguir o que o site Decanter.com
publicou a respeito:
“Os qvevri normalmente são
enterrados no chão da adega ou Marani, um local semi-sagrado para a maioria dos
georgianos e encontrado em quase todas as casas rurais.
A prática recentemente se espalhou para outros países, como a Eslovénia,
Itália, Armênia, Croácia e até mesmo para os Estados Unidos, acompanhando o
interesse atual em vinhos naturais e “laranja”. (Na produção do vinho laranja as cascas não são retiradas o que gera a
cor característica, muito aroma e sabor, e taninos – coisa rara em vinhos
brancos – além de notas minerais e florais aromas cítricos e de frutas
cristalizadas - abaixo).
Segundo a Unesco, “a tradição qvevri desempenha um papel vital na vida cotidiana e
nas celebrações, e é uma parte inseparável da identidade cultural das comunidades
georgianas, com vinho e vinha sendo freqüentemente evocados nas tradições orais e
músicas.”
Segundo especialistas, o reconhecimento da metodologia “qvevri” vai ajudar
os produtores a promover a autenticidade da forma tradicional de vinificação,
bem como o que foi construído sobre esta tradição – que inclui fazer os jarros
“em casa”, como os mostrados na foto abaixo.
Andrew Jefford, do Financial Times, escreveu sobre os vinhos da Geórgia: "Há duas razões para provar o vinho georgiano. A primeira é a autenticidade, o seu repertório de uvas com castas autóctones: 525 tipos de uvas georgianas sobreviveram, de um total que foi estimado certa vez em 1.400 espécies.
A segunda é o processo produtivo, a
oportunidade de provar os vinhos que
foram fermentados em jarros de barro revestido de cera e enterrados, os qvevri. Vinhos tintos e brancos podem ser feitos assim.”
Eu acrescentaria
que outra razão para visitar a Geórgia é fazer turismo para conhecer suas badaladas
águas límpidas; sua arquitetura histórica - como o vilarejo de Shatili nas
montanhas, veja abaixo; sua cultura e arte - como o Monastério de Shavnabada, que “inventou” seu próprio vinho, veja
abaixo no alto da colina; e suas cidades,
como Tbilisi, a capital, na foto abaixo em uma cena noturna.
Porisso faço um brinde aos amigos georgianos: meu respeito a quem inventou o vinho e respeita a natureza onde crescem frutas maravilhosas.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista,
enófilo, gosta de vinhos de todas as cores – inclusive laranjas.
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