Por
Rogerio Ruschel
Meu
caro leitor ou leitora, em todos os momentos da vida você pode fazer escolhas;
eu escolhi sempre continuar aprendendo. E esta semana minha escolha se
transformou no Certificado de Conclusão do curso “Adding Value to the Origin of
Products Through Geographical Indications (GIs)” sobre “Como agregar valor à
origem dos produtos com a Indicação Geográfica - IG” expedido pela ITC SME Trade Academy, de Genebra, Suiça, a
plataforma de capacitação internacional do International Trade Center (ITC).
Fiz
o curso para me manter atualizado em termos internacionais e enriquecer a
segunda edição do meu livro “O valor global do produto local – A identidade
territorial como estratégia de marketing” publicado pela Editora Senac em maio
de 2019. Entendo que me manter informado sobre este assunto é fundamental. Como
com o Acordo Mercosul – União Europeia cerca de 350 produtos europeus de alta
qualidade com identidade territorial (como Camembert, Gorgonzola, Bologna, Pata
Negra, Conhaque, Champanhe…) vão competir entre si por preço dentro do
território brasileiro, corremos o risco de ficar só
assistindo.
Com
o Acordo o preço dos produtos,
especialmente agroalimentos (como café, queijo, vinho, frutas, doces, frios,
carnes, tecidos, mel, artesanato, cachaça, couro, pedras, cacau, etc) vai
gradativamente perder importância na decisão de compra. E então a valorização
da personalidade de um produto através da identificação com um território –
seja um Selo Senaf, Marca Coletiva, Identidade Geográfica ou Denominação de
Origem – será (como sempre foi) o único elemento que de fato vai diferenciar,
personalizar e agregar valor a um produto, tirando-o da competição de commodity
no Mercado Global. Então estou me preparando para ajudar produtores brasileiros
(especialmente os pequenos e oriundos da Agricultura Familiar) a se prepararem
para este embate.
Um curso internacional
O
International Trade Center (ITC) tem sede em Genebra, Suiça. Minha professora
foi uma italiana com pos-graduação em propriedade intelectual e tive cerca de
30 colegas de todo o mundo, especialmente da America Latina e Ásia. Três deles
(até agora) pediram cópia do meu livro (que enviei, certamente): o indiano Amod
Salgaonkar, dirigente de uma ONG de Mumbai (Maharashtra); o vietnamita Ky Anh
Tran, que trabalha no Vietnam National Office of
Intellectual Property e Rebecca Ferderer, que não identificou seu
pais de origem.
O
curso foi feito em ingles e online em cerca de duas semanas. Investi umas 16
horas para assistir três aulas (todas com questionários próprios), avaliar um
estudo de caso, fazer um trabalho de conclusão de curso (TCC) e finalmente
fazer uma avaliação do curso.
Meu
estudo de caso foi sobre a Denominação de Origem Chá
Darjeeling, um produto da região do Norte de Bengala, India, e que
tem uma Identidade Geográfica fortissimo, reconhecida praticamente no mundo
inteiro. Tive que estudar a história da produção e mobilização, as
características do produto, o processo de certificação, parte da legislação,
estrutura oficial de monitoramento, controle e marketing, e os esforços para
manter o Chá Darjeeling como a mais importante Denominação de Origem de chás do
mundo. Muito know-how inglês, aprendi muito.
Para
fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tinha que Identificar um produto em um país em
desenvolvimento que pudesse se beneficiar do reconhecimento de IG; descrever o
caminho da identificação para o reconhecimento como IG (elementos para se
qualificar para o status da IG, etapas que precisam ser tomadas para
estabelecer a IG e os principais atores que devem estar envolvidos no
processo); e finalmente desenvolver uma estratégia de reconhecimento, proteção
e promoção, para incentivar o desenvolvimento sustentável na área de origem.
Meu TCC foi sobre o Talian. O Talian, um idioma falado por
cerca de 500.000 brasileiros e o segundo mais falado no Brasil no dia-a-dia de
famílias segundo o IBGE, é falado exclusivamente no sul do país, e não
encontrado na Itália de onde derivou – e Talian é a palavra italian sem o
inicial "i".
O
Talian é um idioma oficialmente reconhecido como "Referência
Cultural Brasileira" pelo Ministério da Cultura (MinC) e como
"Patrimônio Cultural" pelos Estados do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, resultante de 150 anos de miscigenação dos idiomas português,
espanhol e indígena com os vários dialetos italianos existentes na Itália até
1859, trazidos imigrantes do Lazio, Lombardia, Veneto, Sicília, Piemone,
Sardenha e muitos outros regiões da Itália. Estes dialetos vieram para o Brasil
com os imigrantes e aqui continuaram sendo falados em família, enquanto
desparaeciam na Itália por causa da unificação.
O
Talian persiste no sul do Brasil em programas de rádio e WebTV, revistas,
dicionários, cursos e programas educacionais – além de se o idioma “interno” de
milhares de famílias. Nos municípios de Serafina Correia, Flores da Cunha,
Parai e Nova Erechim o Talian é reconhecido localmente como idioma oficial, ao
lado do português. Para saber mais sobre isso acesse http://www.invinoviajas.com/2015/10/veneto-trentino-e-toscano-veja-como/
O
International Trade Center (ITC) foi criado em 1964 pela Organização Mundial do
Comércio (OMC) e Organização das Nações Unidas (ONU) e é a única agência de
desenvolvimento totalmente dedicada ao apoio à internacionalização de pequenas
e médias empresas (PMEs). Seu objetivo é apoiar as PMEs, especialmente das
economias em transição, para que se tornem mais competitivas e se conectem aos
mercados internacionais de comércio e investimento, aumentando a renda e
criando oportunidades de emprego, especialmente para mulheres, jovens e
comunidades pobres.
Como
sou um pequeno empresário, vivo em uma economia de transição e quero ser mais
competitivo, fiz o curso. E brindo a quem me permitiu isso: Deus – e o
International Trade Center.
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