Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado
leitor ou leitora, não quero ser um eco-chato, mas precisamos pensar sobre o
quanto estamos maltratando as condiç∫oes de nosso planeta produzir alimentos –
e vinho! Já publiquei muitas reportagens sobre o assunto sobre o mundo do vinho
e as pressões provocadas pelas mudanças climáticas – veja ao fim desta matéria. No que se refere a vinhos, a aposta é em ciclos de produção mais sustentáveis nos vinhedos, nas adegas e na distribuição, e
muitas vezes é necessário mais vontade para fazer e menos dinheiro para
investir. Veja a seguir três pequenas grandes ideias que podem ser feitas em
qualquer vinhedo.
Os patos adubadores
A primeira pequena grande ideia vem de uma
vinícola da Africa do Sul que usa patos para substituir agrotóxicos e adubar
vinhedos. A vinícola se chama Vergenoegd
Wine State, fica em Stellenbosch e vem trabalhando com os patos desde 1984 com
resultados 100% positivos. A Vergenoegd tem mais de 1.000 patos que diariamente
são soltos todas as manhãs na área produtiva (produtos agrícolas e vinhedos),
onde passeiam livremente até metade da tarde. Os patos comem caracóis, insetos
e parasitas fazendo o que se chama de controle biológico das pragas nos vinhedos.
Segundo a empresa, esta estratégia tem ajudado a vinícola a
reduzir o uso de pesticidas e a manter a produção mais saudável em todos os
sentidos. E mais: a imensidão de patos atrai turistas, centenas deles nos fins
de semana, que podem fazer piqueniques, passear nos vinhedos, alimentar
patinhos e principalmente ver a “Parada dos Patos”. Pois é, enquanto as
crianças se divertem com os patos, como acima, os adultos ficam gastando seu rico
dinheirinho em degustações e na compra de vinhos. Aliás, os vinhos são
produzidos com uvas carbernet sauvignon, shiraz, merlot, sauvignon blanc e até
mesmo a casta portuguesa touriga nacional – e são muito prestigiados.
Com
esse trabalho a vinícola está ajudando a manter a
vida do solo e o equilibirio do ecossistema no qual os vinhedos estão inseridos,
o que foi atestado pela conquista do Selo de Biodiversidade da WWF – Fundo
Mundial para a Natureza, aquela simpatico ONG do ursinho panda.
Os morcegos protetores
Outra experiência bem sucedida em
utilizar animais para ajudar a combater pragas dos vinhedos vem sendo feita em
Portugal. No Alentejo – a principal região produtora de alimentos do país - a
vinícola Herdade do Esporão realiza desde 2011 um projeto que oferece “casa e
comida” para morcegos defenderem os vinhedos de insetos esfomeados. As poucos
eles foram construindo caixas para atrair os animais e hoje a população de
morcegos "empregados" com “residência fixa” nas cerca de 40 caixas (como as mostradas nestas fotos) já
implantadas nos vinhedos é de cerca de 200 animais.
O projeto da Herdade do Esporão
está atraindo morcegos-de-kuhl e morcegos arborícolas, duas das 27 espécies
existentes em Portugal, que são muitos pequeninos mas todas as noites comem
metade do seu peso em insetos. Os resultados são muito animadores como me disse
o gestor agrícola Rui Flores e são altamente positivos não só para os vinhedos,
mas tambem para todo ecossistema da região. Estes vinhedos ficam próximos do
lago Alqueva, o maio lago artificial da Europa, e a presença dos morcegos ajuda
toda a cadeia alimentar da região. A empresa realiza muitos outros
investimentos em sustentabilidade e meio ambiente, e está iniciando outro
projeto interessante: vai plantar urtiga, um repelente natural de vários
insetos.
Os
vinhedos energizadores
A Espanha é
o maior produtor de vinhos orgânicos da Europa, com uma área de mais de
81.000 hectares certificados, mais de 500 operadores e cerca de 400 vinícolas. E é na
Espanha que vem sendo feito um esforço coletivo em uma nova frente da produção
sustentável de vinhos: a transformação das sobras da poda das vinhas em biomassa para gerar energia.
O projeto se chama “ Viñas
por calor”, nasceu em Vilafranca de Penedés
no contexto da “Estrategia Española del Cambio
Climático y Energía Limpia” e vem atraindo parceiros de vários países – na foto acima técnicos de sete
países europeus conhecem o projeto, trazidos pela Fundación CIRCE, Centro de Investigación de Recursos y Consumos
Energéticos, de Zaragoza. O objetivo é promover o aproveitamento da biomassa
proveniente da poda das vinhas para gerar bioenergia para as adegas, reduzir as
emissões de CO2, diminuir a conta da energia e até mesmo gerar novos postos de
trabalho, mediante a implementação do Círculo Virtuoso da Vinha (CVV).
O projeto vem realizando simpósios e encontros para envolver todos os
participantes na cadeia de valor: fornecedores dos restos das vinhas, coletores
de biomassa e produtores de energia, distribuidores de energia aos
consumidores, e tem a supervisão de um fiador institucional: o município de
Vilafranca. O objetivo é ajudar a salvar o planeta para as futuras gerações.
Pois é meu caro leitor ou leitora: pequenas grandes ideias inteligentes “fora da
caixinha” podem fazer um planeta melhor e um vinho mais saudável. Eu brindo a
isso.
Veja outros artigos de In Vino Vijas sobre
vinhos e meio ambiente:
Os impactos do Réchauffement de la Planète (a
versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html
As mudanças
climáticas e a produção mundial de vinhos no ano de 2050 – http://invinoviajas.blogspot.com.br/2016/05/o-vinho-do-futuro-estudo-sobre-mudancas.html
Saiba como a rolha de cortiça
preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html
Associazione Vino Libero: um manifesto
italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade
- http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html
Conheça a vinícola portuguesa que emprega morcegos do bem para
proteger os vinhedos de insetos do mal - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2016/01/uma-luta-ecologica-na-noite-alentejana.html
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino
Viajas em São Paulo, Brasil, e tem um profundo respeito pelo meio ambiente.
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