Por Rogerio
Ruschel (*)
Meu caro amigo ou amiga, talvez a gente não
esteja mais aqui lendo, escrevendo e bebericando vinhos no ano 2050. Mas é bom
saber o que já está acontecendo hoje e deve se acelerar como tendência no mundo
do vinho em relação as mudanças climáticas, ao aquecimento global e outras
questões que afetam a agricultura como um todo e a sobrevivência dos vinhedos
em particular. Na verdade nós seres humanos precisamos inventar um modo mais
inteligente de manter a beleza (e a eficiência produtiva) da natureza que seja
melhor do que o da foto abaixo.
Nós sabemos que o mundo produz vinhos com
cerca de 2.000 diferentes tipos de uvas (como as da foto abaixo) e organizações
internacionais investem para verificar o desempenho daquelas com maior
potencial para sobreviver em um mundo mais quente em 2050.
Entre outros dados, o estudo “Climate change, wine, and conservation” revela um fato
preocupante para os grandes players
do momento: as regiões mais produtivas no mundo de hoje não serão capazes de
manter o seu desempenho no futuro. Por outro lado o estudo revela que em outras regiões do planeta,
mais frias, onde a produção agora é muito menor ou até mesmo inviável, se
tornarão áreas potenciais de produção de vinho ou mais eficientes. O mapa que
abre este artigo - publicado pelo portal Vinetur, da Espanha - apresenta um resumo do impacto das mudanças climáticas nas
principais regiões produtoras de vinho do mundo no ano 2050. E a foto abaixo
mostra a vida real do mundo do vinho.
Já se sabe que a Austrália e a França estão
assustadas com as mudanças do regime de chuvas, e que muitos especialistas
apostam em vinhos biológicos para enfrentar os tempos difíceis. Não está cientificamente
confirmado, mas a região de vinhos de altitude em São Joaquim, na serra de
Santa Catarina (foto abaixo), poderá se beneficiar com o frio.
Este estudo
foi realizado por um grupo de pesquisadores indepedendentes do setor de vinho,
de universidades dos Estados Unidos, China, França e Chile – veja a fonte no
fim deste texto. Aliás, já publiquei várias reportagens sobre o assunto aqui no In Vino Viajas –
veja no fim deste texto os links de algumas destas matérias. O estudo prevê um
aumento das regiões vinícolas mais frias, aquelas com temperaturas médias
anuais entre 13-15 °C de GST. O GST - Growing Season Temperature é um índice
desenvolvido pelo Instituto de Investigação Agrária de Tasmânia (Austrália)
para medir temperaturas médias, e é calculado tomando-se a temperatura média
para cada mês da temporada da produção de vinho de sete meses (Outubro a Abril
na hemisfério sul, e de abril a setembro no hemisfério norte), dividida por
sete.
Você que é leitor de In Vino Viajas vai ser informado em primeira mão o que mundo vai saber no fim do mes de maio: o Simpósio Internacional sobre Temperaturas Frias do Vinho (em inglês International Cool Climate Wine Symposium - ICCWS), que vai ser realizado em Brighton, Inglaterra, de 26 a 28 de maio de 2016, vai consolidar com mais clareza os melhores lugares de clima frio para a viticultura no futuro, dependendo da sua GST. Mas já vem sendo divulgado um ranking das mais frias regiões vinícolas do mundo e alguns impactos potenciais; ou, digamos assim, uma suspeita do que poderia acontecer nestas regiões firas - veja a seguir.
Marlborough, Nova Zelândia (15,4 ° C)
As variedades Sauvignon Blanc, Pinor Noir e Chardonnay são colhidas em 23.200 hectares. O clima é frio e seco e a Sauvignon Blanc amadurecem mais lentamente em Awatere Valley. Na área mais próxima do litoral tem muito vento frio e as culturas deverão ser reduzidas devido a uma floração deficiente.
Rheingau, Alemanha (15,2 ° C)
Pinor Noir e Riesling são as principais variedades, colhidas em 3.200 hectares. Esta área é constituída por encostas íngremes com orientação para o sul, contribuindo para receber mais temperaturas frias e em um alto risco de geadas tardias. No período mais frio da colheita são obtidas as melhores uvas das encostas viradas para o sul, e nos anos mais quentes as uvas de frente para o leste serão mais beneficiadas.
Okanagan Valley, British Columbia, Canadá (15,1 ° C)
Merlot, Pinot Gris, Chardonnay e Pinor Noir são as variedades mais importantes. Com o tempo mais frio no norte, neste lugar o risco de congelamento é reduzido graças ao lago Okanagan. O ice-wine (vinho do gelo) produzido em baixas temperaturas em torno de -8 ° C e -14 ° C pode se beneficiar nesta região.
Suíça (14,9 ° C)
Pinot Noir, Chasselas, Gutedal e Gamay são plantadas em 14.800 hectares. Esta área é caracterizada por muitos meso-climas. As vinhas são plantadas em diferentes altitudes acima do rio Rhone. As áreas mais frias estão nas vinhas mais altas e com tempo mais frio em Valais.Central Otago, Nova Zelândia (14,8 ° C)
Pinot Noir, Pinot Gris e Riesling estão em 1.950 hectares. Especialistas dizem que a variedade Pinot Noir, que tem níveis de açúcar e maturidade que o torna diferente, poderão ser incrementados. Nesta área é normal ter mudanças bruscas de temperatura, o que fornece uma intensidade frutada, cor e acidez nas uvas – e isso pode aumentar.
Kremstal, Áustria (14,7 ° C)
As variedades Grüner Veltliner, Riesling e Zweigelt estão plantadas em 2.400 hectares. Nesta área, um sistema de três camadas com a idéia de diferentes épocas de coleta é usado, e a inclinação de suas encostas aumenta a energia solar e os ventos moderados Danúbio ajudam a manter um bom clima.
Champagne (14,7 ° C)
Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay são colhidas em 35.000 hectares. O clima desta região permite a produção de um vinho espumante com uvas de maturação baixa.Tasmânia (14,4 ° C)
Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc são cultivadas em 1.800 hectares. Esta área tem um clima excelente, tanto para a produção de vinhos espumantes como para vinhos tranquilos.Região do Rio Ruwer, Alemanha (13,8ºC)
Riesling, Müller-Thurgau e Elbling são as variedades colhidas em 8.800 hectares.Nesta área, os vinhos de diferentes aromas poderão assumir um maior equilíbrio e elegância, porque as plantas têm mais dificuldades para amadurecer com o frio mais intenso.
Saiba mais no estudo “Climate change, wine, and conservation” em http://migre.me/tFzgx
Alguns
artigos já publicados por “In Vino Viajas” sobre sustentabilidade:
·
Microvinhas: os benefícios de
produzir vinhos que são eco, micro, top e show - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/11/oportunidades-e-dificuldades-para-o.html
Olá Rogério,
ResponderExcluirAdorei seu artigo!
Sem dúvida uma ótima reflexão.
Parabéns!
Obrigado, Amália. Grato pelo prestigio da leitura.
ExcluirAbraços
Boa tarde
ResponderExcluirNa nossa serra do sudeste gaúcha, quais as perspectivas?
Prezado Ari, pesquisei e não encontrei dados seguros a respeito. Abraços
ResponderExcluirRogerio