Pesquisar neste blog

Mostrando postagens com marcador vinho ecológico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador vinho ecológico. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Vinhos orgânicos, azeites finos, alfarrobas saudáveis e animais felizes: veja como o capitão Zeppenfeld construiu um pequeno paraíso sob o glorioso céu do Alentejo


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, há cerca de 25 anos um capitão da marinha mercante e também armador de Bremen, Alemanha, chamado Horst Zeppenfeld, lançou âncoras no Vale do Açor de Cima, em Mértola, no Baixo Alentejo, Portugal. O alemão e sua mulher se apaixonaram pela região (o que não é dificil porque todo mundo se apaixona pelo Alentejo) e resolveu investir na compra de uma propriedade atendendo um sonho antigo: produzir vinhos com qualidade e identidade, de maneira sustentável.


Naquele tempo poucas pessoas falavam em vinhos sustentáveis, mas ele comprou a sociedade Agrícola Herdade dos Lagos e começou a trabalhar com este foco. 25 anos depois hoje a vinícola trabalha com as uvas tintas Aragonez, Syrah, Touriga Nacional e Alicante Bouschet e as brancas Alvarinho e Arinto (vindas do Norte do país), com os quais produz 100% de vinhos biológicos que ganham prêmios internacionais e recomendações de especialistas – e é a unica vinicola do Alentejo que conseguiu isso.

O capitão Zeppenfeld e sua equipe tiveram muito trabalho, enfrentaram muita burocracia, mas colheram bons frutos. Atualmente a Herdade dos Lagos ocupa uma área de 1000 hectares, nas quais foram construídas quatro barragens com lagos que ajudam na agricultura e na alimentação de cerca de 1000 ovelhas da raça Merina (foto abaixo), que devem ser felizes porque vivem bem em troca apenas da lã. Mas as ovelhas são um complemento ao negócio, porque em primeiro plano está o cultivo de vinhas, das olivas e da alfarroba, um vegetal que pode substituir o cacau.

Na propriedade de 1000 hectares, a Herdade dos Lagos produz vinhos tintos, rosés e brancos biológicos (alguns veganos) em 25 hectares; azeite extra virgem de alta qualidade em oliveiras que ocupam 80 hectares; produz também um mel biológico muito puro e uma vagem chamada alfarroba em 260 hectares do solo seco. Além de fibras alimentares, a alfarroba (foto abaixo) contém muito cálcio e ferro, o que a torna ideal para dietas e para a alimentação de crianças e para fazer farinhas sem colesterol, glúten e lactose, uma alternativa perfeita para pessoas alérgicas o chocolate. Bem coisa de alemão, não?

Hoje tudo na propriedade é feito seguindo os princípios da agricultura biológica certificada, um modelo de negócio baseado na utilização eficiente dos recursos naturais e baixa pegada ambiental. A produção vinícola, por exemplo, chegou a 100% de certificação biológica no ano de 2006. Veja no quadro abaixo os principios da vitivinicultura orgânica.

Mas a Herdade dos Lagos vai além de produtos certificados: faz o aproveitamento das águas da chuva e da energia solar, faz colheita manual, investe na manutenção do ecossistema e das cadeias alimentares e ajuda a preservar plantas e animais. Um dos destaques atrai muitas pessoas porque é interessante: mais de 30 ninhos artificiais de grande porte colocados em postes e árvores da Herdade (foto abaixo) para servirem de “residência de verão” as cegonnhas. E todos os anos nidificam cerca de 1.500 grous (Grus grus) e outras aves migratórias que fazem dos lagos da Herdade dos Lagos locais de estadia temporária, todos os anos.



Os ninhos de cegonha foram colocados pela Liga da Proteção da Natureza – a mais antiga ONG de meio ambiente da Peninsula Ibérica – porque há 15 anos as aves corriam o risco de desaparecer. Elas vêm do Norte da Europa (Fino-Escandinávia) fugindo do frio, chegam à Península Ibérica no final de Outubro e se distribuem pela Andaluzia e Extremadura (na Espanha) e pelo interior do Alentejo, viajando até 3.500 Km. Em março e abril eles nidificam e em julho vão embora com um ou dois filhotes. No inverno de 2015/2016 foram contados 2.184 animais no Baixo Alentejo. 

A filha do Capitão Zappenfeld, Antje Kreikenbaum, atualmente comanda a administração da empresa com o apoio do marido, o arquiteto paisagista Thorsten Kreikenbaum e a ajuda de Carsten Heinemeyer, enólogo e dos executivos portugueses Helena Ferreira Manuel, gestora agrícola, que gere em Portugal a propriedade e Carlos Delgado, agrônomo responsável pelo marketing e vendas, com quem estou na foto abaixo. As vendas e o marketing internacional são realizados pelo escritório de Bremen, onde os produtos podem ser encomendados diretamente. Aliás, cerca de 50% da produção é vendida na Alemanha.
Então você já sabe: dentro uma taça de um HDL Aragonez Bio estão os premiados aromas do Alentejo, mas também o resultado de uma série de ações em benefício de um futuro melhor para nosso planeta. Eu brindo a isso!
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e conheceu o sonho do capitão Zeppenfeld a convite da Vinhos do Alentejo.

sábado, 21 de maio de 2016

Patos adubadores, morcegos protetores e vinhedos energizadores: tres pequenas grandes ideias para a produção de vinhos mais sustentáveis

Por Rogerio Ruschel (*)


Meu prezado leitor ou leitora, não quero ser um eco-chato, mas precisamos pensar sobre o quanto estamos maltratando as condiç∫oes de nosso planeta produzir alimentos – e vinho! Já publiquei muitas reportagens sobre o assunto sobre o mundo do vinho e as pressões provocadas pelas mudanças climáticas – veja ao fim desta matéria.  No que se refere a vinhos, a aposta é em ciclos de produção mais sustentáveis nos vinhedos, nas adegas e na distribuição, e muitas vezes é necessário mais vontade para fazer e menos dinheiro para investir. Veja a seguir três pequenas grandes ideias que podem ser feitas em qualquer vinhedo.

Os patos adubadores


A primeira pequena grande ideia vem de uma vinícola da Africa do Sul que usa patos para substituir agrotóxicos e adubar vinhedos. A vinícola se chama Vergenoegd Wine State, fica em Stellenbosch e vem trabalhando com os patos desde 1984 com resultados 100% positivos. A Vergenoegd tem mais de 1.000 patos que diariamente são soltos todas as manhãs na área produtiva (produtos agrícolas e vinhedos), onde passeiam livremente até metade da tarde. Os patos comem caracóis, insetos e parasitas fazendo o que se chama de controle biológico das pragas nos vinhedos.
Segundo a empresa, esta estratégia tem ajudado a vinícola a reduzir o uso de pesticidas e a manter a produção mais saudável em todos os sentidos. E mais: a imensidão de patos atrai turistas, centenas deles nos fins de semana, que podem fazer piqueniques, passear nos vinhedos, alimentar patinhos e principalmente ver a “Parada dos Patos”.  Pois é, enquanto as crianças se divertem com os patos, como acima, os adultos ficam gastando seu rico dinheirinho em degustações e na compra de vinhos. Aliás, os vinhos são produzidos com uvas carbernet sauvignon, shiraz, merlot, sauvignon blanc e até mesmo a casta portuguesa touriga nacional – e são muito prestigiados.
Com esse trabalho a vinícola está ajudando a manter a vida do solo e o equilibirio do ecossistema no qual os vinhedos estão inseridos, o que foi atestado pela conquista do Selo de Biodiversidade da WWF – Fundo Mundial para a Natureza, aquela simpatico ONG do ursinho panda.

Os morcegos protetores

Outra experiência bem sucedida em utilizar animais para ajudar a combater pragas dos vinhedos vem sendo feita em Portugal. No Alentejo – a principal região produtora de alimentos do país - a vinícola Herdade do Esporão realiza desde 2011 um projeto que oferece “casa e comida” para morcegos defenderem os vinhedos de insetos esfomeados. As poucos eles foram construindo caixas para atrair os animais e hoje a população de morcegos "empregados" com “residência fixa” nas cerca de 40 caixas (como as mostradas nestas fotos) já implantadas nos vinhedos é de cerca de 200 animais.
O projeto da Herdade do Esporão está atraindo morcegos-de-kuhl e morcegos arborícolas, duas das 27 espécies existentes em Portugal, que são muitos pequeninos mas todas as noites comem metade do seu peso em insetos. Os resultados são muito animadores como me disse o gestor agrícola Rui Flores e são altamente positivos não só para os vinhedos, mas tambem para todo ecossistema da região. Estes vinhedos ficam próximos do lago Alqueva, o maio lago artificial da Europa, e a presença dos morcegos ajuda toda a cadeia alimentar da região. A empresa realiza muitos outros investimentos em sustentabilidade e meio ambiente, e está iniciando outro projeto interessante: vai plantar urtiga, um repelente natural de vários insetos.
Os vinhedos energizadores

A Espanha é o maior produtor de vinhos orgânicos da Europa, com uma área de mais de 81.000 hectares certificados, mais de 500 operadores e cerca de 400 vinícolas. E é na Espanha que vem sendo feito um esforço coletivo em uma nova frente da produção sustentável de vinhos: a transformação das sobras da poda das vinhas em biomassa para gerar energia.
O projeto se chama “ Viñas por calor”, nasceu em Vilafranca de Penedés  no contexto da “Estrategia Española del Cambio Climático y Energía Limpia” e vem atraindo parceiros de vários países – na foto acima técnicos de sete países europeus conhecem o projeto, trazidos pela Fundación CIRCE, Centro de Investigación de Recursos y Consumos Energéticos, de Zaragoza. O objetivo é promover o aproveitamento da biomassa proveniente da poda das vinhas para gerar bioenergia para as adegas, reduzir as emissões de CO2, diminuir a conta da energia e até mesmo gerar novos postos de trabalho, mediante a implementação do Círculo Virtuoso da Vinha (CVV).
O projeto vem realizando simpósios e encontros para envolver todos os participantes na cadeia de valor: fornecedores dos restos das vinhas, coletores de biomassa e produtores de energia, distribuidores de energia aos consumidores, e tem a supervisão de um fiador institucional: o município de Vilafranca. O objetivo é ajudar a salvar o planeta para as futuras gerações.
Pois é meu caro leitor ou leitora: pequenas grandes ideias inteligentes “fora da caixinha” podem fazer um planeta melhor e um vinho mais saudável. Eu brindo a isso.

Veja outros artigos de In Vino Vijas sobre vinhos e meio ambiente:

Os impactos do Réchauffement de la Planète (a versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html

As mudanças climáticas e a produção mundial de vinhos no ano de 2050 – http://invinoviajas.blogspot.com.br/2016/05/o-vinho-do-futuro-estudo-sobre-mudancas.html

Saiba como a rolha de cortiça preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html

Associazione Vino Libero: um manifesto italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html

Conheça a vinícola portuguesa que emprega morcegos do bem para proteger os vinhedos de insetos do mal - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2016/01/uma-luta-ecologica-na-noite-alentejana.html

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e tem um profundo respeito pelo meio ambiente.