Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, há
cerca de 25 anos um
capitão da marinha mercante e também armador de Bremen, Alemanha, chamado Horst
Zeppenfeld, lançou âncoras no Vale do Açor de Cima, em
Mértola, no Baixo Alentejo, Portugal. O alemão e sua mulher se apaixonaram pela
região (o que não é dificil porque todo mundo se apaixona pelo Alentejo) e
resolveu investir na compra de uma propriedade atendendo um sonho antigo: produzir vinhos com qualidade e
identidade, de maneira sustentável.
Naquele tempo poucas
pessoas falavam em vinhos sustentáveis, mas ele comprou a sociedade Agrícola Herdade dos Lagos e começou a trabalhar
com este foco. 25 anos depois hoje a vinícola trabalha com as uvas tintas Aragonez,
Syrah, Touriga Nacional e Alicante Bouschet e as brancas Alvarinho e Arinto
(vindas do Norte do país), com os quais produz 100% de vinhos biológicos que ganham prêmios
internacionais e recomendações de especialistas – e é a unica
vinicola do Alentejo que conseguiu isso.
O capitão Zeppenfeld e sua equipe tiveram muito
trabalho, enfrentaram muita burocracia, mas colheram bons frutos. Atualmente a Herdade dos Lagos ocupa uma área de 1000 hectares, nas quais foram construídas quatro barragens com lagos que ajudam na agricultura e na alimentação de cerca
de 1000 ovelhas da raça Merina (foto abaixo), que devem ser felizes
porque vivem bem em troca apenas da lã. Mas as ovelhas são um complemento ao negócio, porque
em primeiro plano está o cultivo de vinhas, das olivas e da alfarroba, um
vegetal que pode substituir o cacau.
Na propriedade de 1000 hectares, a Herdade dos
Lagos produz vinhos tintos, rosés e brancos biológicos (alguns veganos) em 25
hectares; azeite extra virgem de alta qualidade em oliveiras que ocupam 80
hectares; produz também um mel biológico muito puro e uma vagem chamada
alfarroba em 260 hectares do solo seco. Além de fibras
alimentares, a alfarroba (foto abaixo) contém muito cálcio e ferro, o que a
torna ideal para dietas e para a alimentação de crianças e para fazer farinhas
sem colesterol, glúten e lactose, uma alternativa perfeita para pessoas
alérgicas o chocolate. Bem coisa de alemão, não?
Hoje tudo na propriedade é feito seguindo os princípios da agricultura biológica
certificada, um modelo de negócio baseado na utilização eficiente dos recursos naturais
e baixa pegada ambiental. A produção vinícola, por exemplo,
chegou a 100% de certificação biológica no ano de 2006. Veja no quadro abaixo
os principios da vitivinicultura orgânica.
Mas a Herdade
dos Lagos vai além de produtos certificados: faz o aproveitamento das águas da
chuva e da energia solar, faz colheita manual, investe na manutenção do ecossistema
e das cadeias alimentares e ajuda a preservar plantas e animais. Um dos
destaques atrai muitas pessoas porque é interessante: mais de 30 ninhos artificiais de grande
porte colocados em postes e árvores da Herdade (foto abaixo) para servirem de
“residência de verão” as cegonnhas. E todos os anos nidificam cerca de 1.500 grous (Grus
grus) e outras aves migratórias que fazem dos lagos da Herdade dos
Lagos locais de estadia temporária, todos os anos.
Os ninhos
de cegonha foram colocados pela Liga da Proteção da Natureza – a mais antiga ONG de meio
ambiente da Peninsula Ibérica – porque há 15 anos as aves corriam o risco de
desaparecer. Elas vêm do Norte da Europa (Fino-Escandinávia) fugindo do frio,
chegam à Península Ibérica no final de Outubro e se distribuem pela Andaluzia e
Extremadura (na Espanha) e pelo interior do Alentejo, viajando até 3.500 Km. Em
março e abril eles nidificam e em julho vão embora com um ou dois filhotes. No
inverno de 2015/2016 foram contados 2.184 animais no Baixo Alentejo.
A filha do Capitão Zappenfeld,
Antje Kreikenbaum, atualmente comanda a administração da empresa com o apoio do
marido, o arquiteto paisagista Thorsten Kreikenbaum e a ajuda de Carsten
Heinemeyer, enólogo e dos executivos portugueses Helena Ferreira Manuel, gestora
agrícola, que gere em Portugal a propriedade e Carlos Delgado, agrônomo responsável
pelo marketing e vendas, com quem estou na foto abaixo. As vendas e o marketing
internacional são realizados pelo escritório de Bremen, onde os produtos podem
ser encomendados diretamente. Aliás, cerca de 50% da produção é vendida na
Alemanha.
Então você
já sabe: dentro uma taça de um HDL Aragonez Bio estão os premiados aromas do
Alentejo, mas também o resultado de uma série de ações em benefício de um
futuro melhor para nosso planeta. Eu brindo a isso!
Saiba mais
em http://pt.herdade-dos-lagos.de/
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e conheceu o sonho do capitão Zeppenfeld a convite da Vinhos do Alentejo.
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