Meu
prezado leitor ou leitora, vinhos sempre tem história – veja essa. Nos séculos
XVI e XVII padres jesuitas espanhóis andaram por toda a America do Sul
implantando aldeias na Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil para catequizar
indígenas – e, segundo alguns historiadores, servindo de instrumento político
para reis espanhóis em sua disputa com os portugueses. No Brasil os jesuitas implantaram
sete aldeiamentos, hoje chamados de Sete Povos
das Missões, na região gaúcha Oeste, entre os anos de 1682 e 1706 - veja o mapa
abaixo. Estas Missões Jesuíticas começaram a desaparecer a partir do Tratado de
Madri que em 1750 definiu que o território do atual Rio Grande do Sul passasse
a ser dos portugueses. Tem 150 anos de história e estórias por trás disso, mas
agora vamos lembrar apenas duas coisas: foram os jesuitas que trouxeram
vinhedos e bois para esta região do mundo.
Sonia
Denicol, a Madame do Vinho, revela para os leitores de In Vino Viajas uma parte
desta herança que aparece no trabalho da Vinícola Malgarim de São Borja, na
região das Missões, Rio Grande do Sul, quase 600 Km da Serra Gaúcha e próximo
da fronteira com a Argentina. Plantando uvas francesas em menos de 4 hectares, os
Malgarim, descendentes de italianos, transformaram em realidade o potencial do então
desconhecido terroir missioneiro para a vinicultura de qualidade e estão
resgatando uma história iniciada em 1626. Na foto abaixo veja as ruínas de São
Miguel, um dos Sete Povos das Missões, declaradas Patrimônio da Humanidade pela
Unesco em 1983; em primeiro plano veja a cruz missioneira, um dos símbolos da
Vinícola Malgarim. Com a palavra, Sonia Denicol.
"Já
ouviu falar na região dos Sete Povos das Missões? E de vinhos produzidos por
lá, pela vinícola Malgarim? Parece inusitado, mas foi nesta região, no extremo
oeste do Rio Grande do Sul, que foram plantadas as primeiras videiras no
estado, trazidas a partir de 1626 pelos padres jesuítas, encarregados de
catequizar os índios guaranis que habitavam a região. Em 1976 o historiador
suíço Clóvis Lugon, estudioso das missões jesuíticas na América Latina, relatou
em seus estudos que naqueles tempos se produzia bons vinhos por lá. Porém
conflitos de interesse entre as coroas da Espanha e Portugal culminaram em
guerras que dizimaram estes povoados, interrompendo a produção da uva e do
vinho.
Felizmente
a família Malgarim resgatou a produção de vinhos nesta histórica região. Em
1870 o imigrante italiano Dom Augusto Malgarim iniciou o cultivo das vinhas na
Quarta Colônia do Rio Grande do Sul, hoje Santa Maria. Anos depois foi seu
neto, Redêncio Malgarim, levou as vinhas para São Borja, o primeiro dos Sete
Povos fundados na região missioneira e onde se instalou a vinícola da família –
veja a fachada da vinicola na foto acima e da cave na foto abaixo.
A
certeza para investir neste projeto veio com os estudos de Sérgio Malgarim,
filho do Sr. Redêncio - na foto abaixo com o filho Daniel, quarta e quinta
gerações. Estes estudos revelaram através de um coeficiente hélio-pluviométrico
o extraordinário potencial das condições de solo e clima da região, com
elevados índices de radiação solar, estações bem definidas, adequada amplitude
térmica e menor incidência de chuvas , dando segurança a família para levar
adiante os investimentos neste lugar especial.
A
produção é de apenas 10 mil litros por ano, toda baseada em sustentabilidade.
Nas palavras do jovem enólogo Daniel Malgarim “estamos sempre pensando além da
qualidade, numa produção sustentável e limpa, sem exageros nem desperdícios”.
Daniel também prefere vinhos com maior expressão das características naturais
das uvas e do terroir missionário. Eu também!!!
Esta
filosofia é facilmente percebida em cada um dos vinhos, com incrível pureza de
aromas, nenhum exagero ao paladar, sabores agradáveis e grande frescor.
Eu me encantei com estes vinhos, frutos de um trabalho primoroso, comprometido com qualidade, identidade e sustentabilidade, e que entrega aos consumidores vinhos que são um verdadeiro prazer de beber!
Eu me encantei com estes vinhos, frutos de um trabalho primoroso, comprometido com qualidade, identidade e sustentabilidade, e que entrega aos consumidores vinhos que são um verdadeiro prazer de beber!
MALGARIM TEMPRANILLO 2013
Este vinho surpreendeu os produtores e é considerado um legítimo representante do terroir missioneiro. Junto com a Merlot, que também dá belos vinhos por lá, é a grande aposta da vinícola para vinhos mais estruturados. A Tempranillo tem ciclo de maturação mais precoce, se beneficiando de pleno amadurecimento e gerando taninos mais robustos e álcool de 13%, sem perder o frescor da acidez. Este conjunto proporciona maior capacidade de envelhecimento em garrafa. Os aromas são complexos trazendo frutas negras, couro, chocolate e tostados da madeira. Está pronto para beber, mas com certeza vai se beneficiar de mais alguns anos de guarda.
Este vinho surpreendeu os produtores e é considerado um legítimo representante do terroir missioneiro. Junto com a Merlot, que também dá belos vinhos por lá, é a grande aposta da vinícola para vinhos mais estruturados. A Tempranillo tem ciclo de maturação mais precoce, se beneficiando de pleno amadurecimento e gerando taninos mais robustos e álcool de 13%, sem perder o frescor da acidez. Este conjunto proporciona maior capacidade de envelhecimento em garrafa. Os aromas são complexos trazendo frutas negras, couro, chocolate e tostados da madeira. Está pronto para beber, mas com certeza vai se beneficiar de mais alguns anos de guarda.
MALGARIM CABERNET FRANC 2013
Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de Cabernet Franc. Esta variedade está presente no Rio Grande do Sul há muitas décadas e se dá muito bem por lá. Então quando eu descobri este vinho numa região histórica tão importante, tive certeza de que se tratava mesmo de um projeto especial, que busca o melhor do seu terroir.
O vinho não passa por madeira, então se pode sentir toda sua pureza de aromas, que remete a terra, a frutas silvestres típicas do Brasil, como a jabuticaba e a pitanga, com toques de pimenta e sálvia. Depois de um tempo aberto começa a mostrar o defumado de um embutido, como a copa. O corpo é médio, com taninos bem redondos, acidez gostosa, que pede comida. Chama atenção o teor de álcool de apenas 12%, não muito comum para tintos, mas que reflete o respeito desta vinícola ao terroir, a expressão da safra e ao lema da família de produzir vinhos honestos. Assim o que chega as nossas taças é puro vinho, muito prazeroso de beber.
Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de Cabernet Franc. Esta variedade está presente no Rio Grande do Sul há muitas décadas e se dá muito bem por lá. Então quando eu descobri este vinho numa região histórica tão importante, tive certeza de que se tratava mesmo de um projeto especial, que busca o melhor do seu terroir.
O vinho não passa por madeira, então se pode sentir toda sua pureza de aromas, que remete a terra, a frutas silvestres típicas do Brasil, como a jabuticaba e a pitanga, com toques de pimenta e sálvia. Depois de um tempo aberto começa a mostrar o defumado de um embutido, como a copa. O corpo é médio, com taninos bem redondos, acidez gostosa, que pede comida. Chama atenção o teor de álcool de apenas 12%, não muito comum para tintos, mas que reflete o respeito desta vinícola ao terroir, a expressão da safra e ao lema da família de produzir vinhos honestos. Assim o que chega as nossas taças é puro vinho, muito prazeroso de beber.
MALGARIM RIESLING ITÁLICO 2012
Que deliciosa surpresa! A Riesling Itálico, que se dá muito bem na Serra Gaúcha, tanto em brancos como em espumantes, também mostra suas qualidades nas Missões, e bem ao estilo dos vinhos verdes portugueses. Ao servir o vinho na taça já se formam as minúsculas bolhas, típicas daqueles vinhos, e que “picam” a língua logo no primeiro gole. Aromas muito agradáveis de frutas cítricas, abacaxi e maçã, que se confirmam no paladar. Apenas 9,7% de álcool, é puro frescor!"
Que deliciosa surpresa! A Riesling Itálico, que se dá muito bem na Serra Gaúcha, tanto em brancos como em espumantes, também mostra suas qualidades nas Missões, e bem ao estilo dos vinhos verdes portugueses. Ao servir o vinho na taça já se formam as minúsculas bolhas, típicas daqueles vinhos, e que “picam” a língua logo no primeiro gole. Aromas muito agradáveis de frutas cítricas, abacaxi e maçã, que se confirmam no paladar. Apenas 9,7% de álcool, é puro frescor!"
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, gaúcho e editor de In Vino
Viajas. Sonia Denicol é sommelière e desenvolve um trabalho de divulgação e
venda de vinhos brasileiros com identidade, através de sua marca, a Madame do
Vinho – http://madamedovinho.blogspot.com.br
Conheça outra história de vinhos gaúchos diferenciados em “Salamanca do Jarau - a lenda gaúcha de um amor proibido que inspirou um vinho de concepção francesa e alma brasileira” - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/salamanca-do-jarau-lenda-gaucha-de-um.html
Acompanhe uma caminhada de peregrinação nas Missões, feita por Alexandre e Maria Zenaide Cousandier, em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/caminho-das-missoes-paisagens-lindas.html
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