Por Rogerio Ruschel (*)
Cheguei em Bordeaux perto do meio dia, vindo de trem de Paris (TGV,
primeira classe, R$ 130,00 com desconto, 3:15 hs). Como tinha quase 2 horas para o
check-in no hotel, fiquei na Gare St. Jean (abaixo) confirmando os roteiros para Saint Émillion
e tentando entender o mapa do transporte público. Me lembrei que, pelos
registros históricos, durante a Segunda Grande Guerra daquela estação sairam centenas
de trens carregados de judeus diretamente para Auschwiz.
O transporte público da cidade é ótimo. Cheguei no meu hotel com apenas
um tram de superfície e uma caminhada de duas quadras. Larguei a mala e saí
correndo para almoçar: estava com fome propositalmente porque todos os guias
informam que Bordeaux tem uma das melhores gastronomias da França, ao lado de
Paris e Lyon e eu queria confirmar. Aliás, confirmei...
Caminhei pelo Cours de Châteaux Rouge, no centro, perto do Grand Thêatre
e acabei pousando num dos muitos simpáticos e pequenos restaurantes lotados de
pessoas. Evitei frutos do mar, deixei para comer no dia seguinte: pedi uma saladinha light de entrada, uma costelinha
de carneiro temperada com vinho e uns raminhos verdes e uma batata soutê, com duas taças de vinho da casa: 32 Euros.
Além de muito caprichada, a comida em Bordeaux é farta. Farta porque os
pratos tem mais quantidade do que em Paris e farta porque Bordeaux tem pelo
menos 1.000 restaurantes e cafés, para 240.000 moradores: é a cidade com mais
restaurantes por moradores. E não é tão cara quanto Paris: com 18 a 22 Euros
você pode escolher uma das alternativas do menu fechado, comendo bem.
Nos quatro dias que fiquei na cidade experimentei pelo menos duas vezes a
segunda especialidade da cidade, os frutos do mar, porque a verdadeira
especialidade, ostras, eu não gosto. E experimentei muitos temperos, vinagres e
molhos diferentes que costumava ver em lojas especializadas.
Em quase todos os momentos em que passava na frente de uma boulangerie ou pâtisserie, tinha que resistir a não provar um “docinho”, especialmente
o cannelé, um bolinho macio por
dentro e crocante por fora, feito com rum, baunilha e flor de laranjeira –
bandidinho de tão bom!
Evidentemente também bebi vinho em todas as refeições. Talvez o leitor espere que eu diga que
bebi vinhos raros ou que tenha feito coisas bacanas, mas eu não minto: não fui a nenhum
grande restaurante estrelado em Bordeaux – e a cidade tem pelo menos 26, pelo
que soube.
Por obrigação turística dei uma espiada no Grand Hotel de Bordeaux e Spa, na praça da Comédie que tem sete restaurantes badalados entre os quais o Le Pressoir D’Argent, estrelado no Guia Michelin, mas confesso que não almocei lá.
Por obrigação turística dei uma espiada no Grand Hotel de Bordeaux e Spa, na praça da Comédie que tem sete restaurantes badalados entre os quais o Le Pressoir D’Argent, estrelado no Guia Michelin, mas confesso que não almocei lá.
Posso ser um viajante duro mas não sou burro. Sempre pedia um bordeaux da
casa, com preço de taça entre oito e onze Euros, o que é uma boa pedida para
uma taça, porque em lojas eu poderia comprar garrafas de médio padrão por este
preço. Mas isso não me incomodava porque qualquer vinho que eu pedisse teria
sido muito bom, porque afinal eu estava em Bordeaux, a cidade que tem os melhores vinhos do mundo ao alcance
da mão.
Por curiosidade e dever de
ofício estive em várias enotecas e na École du Vin da Academie du Vin de
Bordeaux (abaixo), mantida pelo Conseil Interprofessionnel du Vin, e da qual cerca de 60
chatêaux fazem parte entre os quais os Châteaux Haut-Brion, Lafite Rotschinld,
Latour e Margaux.
Estas obras primas são levadas
a sério em Bordeaux. Eles não produzem vinhos, eles criam vinhos! Na região de
Bordeaux existem cerca de 10.000 châteaux (na verdade nem todos são castelos e
nem residências gigantescas como na Borgonha e Champagne).
Estive na L´Intendant, talvez
a mais famosa loja de vinhos da cidade, perto do Grand Théâtre. As pratelerias
desta loja são em forma de espiral (veja abaixo), e cada andar passa por uma região vinícola,
pomeroal Margaux, Cadillac, Pauillac, Saint-Émilion – de ambos os lados do rio
Garone. Bem mais acima estão os brancos e os vinhos mais caros como os
badalados Châtêau Petrus e Château d´Yquem .
Estes châteaux produzem
cerca de 950 milhões de garrafas de vinhos finos por ano de 57 apellations muito complicadas de
entender, distribuidas por grandes regiões como Médoc (veja foto abaixo), Graves,
Blaye, Saint-Emillion, Pomeral e Cadillac, cortadas por dois rios, o Garone e o
Ardogne, na foz com o Oceano Atlântico – veja o mapa.
Como tinha pouco tempo,
escolhi uma destas regiões para visitar. A escolhida foi Saint Émillion e o resultado você vai conhecer em outros posts
aqui no In Vino Viajas.
Um brinde a isso, caro leitor.
(*) Rogerio Ruschel – rruschel@uol.com.br
- é jornalista de turismo e consultor especializado em sustentabilidade; foi a Bordeaux
por conta própria, e por isso não precisa ficar elogiando fabricantes de vinhos.
Parabéns pelo blog: Maravilhoso, saboroso, informativo e colorido.
ResponderExcluirObrigado, Professor Marcos. Vindo de você, a mensagem é uma boa coçada no ego...
ResponderExcluirabs, Rogerio