Por Rogerio Ruschel (*)
Segundo uma pesquisa divulgada no segundo dia em que eu estava em
Bordeaux, 26 de abril de 2013, a cidade (com 36% dos votos) é a segunda cidade grande mais
querida do país na opinião dos próprios franceses; só perde para Paris
(com 52% de preferência), mas ganha das cidades de Toulouse (33%), Montpellier (31%) e Lyon (30%) todas muito
encantadoras.
Para comemorar fui
obrigado a compartilhar com a família do proprietário e outros hóspedes do
hotel, algumas garrafas de um Bordeaux Superior. Aliás, este é
um dos traços mais marcante de Bordeaux: é uma cidade que parece estar sempre
comemorando alguma coisa.
Segundo me disseram no
Departamento de Turismo (aliás, com ótimo atendimento) outras pesquisas
informam que Bordeaux é a cidade de grande porte que oferece a melhor qualidade
de vida no país – o que seria outra razão permanente para este espírito
comemorativo. E olha que eles não tem problemas para escolher o vinho nas
comemorações, não?Interior do Grande Teatro
Mas nem sempre foi assim.
Bordeaux faz sucesso hoje, mas teve que se reinventar. Recentemente, nos anos
iniciais da década de 2000 a cidade passou por uma das mais importantes
revitalizações urbanas que se tem noticia.
Os prédios do centro
histórico que estavam degradados foram limpos e recuperados; automóveis foram
explulsos das áreas centrais (mas a cidade oferece transporte civilizado);
bulevares foram criados, estátuas foram revitalizadas e praças foram
remodeladas. Tudo em grande quantidade: avenidas largas, prédios enormes,
praças espaçosas.
Atrações interessantes
foram criadas, como o Miroir D’Eau (abaixo), um enorme espelho d’água que refresca as
pessoas com névoas refrescantes ou jatos de água de até dois metros de altura
em frente a Place de La Bourse, Saint Pierre, que atrai crianças e adultos.
O resultado do
investimento foi imediato: quase metade da cidade - 1.808 hectares ou 18
quilometros quadrados! - foi tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade
pela UNESCO, em 2007. Trata-se do maior conjunto urbano protegido do mundo
cercado pela mais importante região produtora de vinho do mundo. O tombamento
inclui cerca de 350 construções do século XVIII, entre os quais as igrejas
Saint-André, Saint-Michel e Saint-Seurin.
Caminhar pela cidade é uma
delícia. Entre as atrações estão ruas antsigas (como a Sainte-Catherine) e bairros como
Saint-Michel, com ruas estreitas e mágicas e Chartrons, com os antiquários e
seus "brocanteurs"; os prédios do Grande Teatro, sede da Ópera e do Balé Nacional de Bordeaux na
Place de La Comédie, onde está também o Grand Hotel de Bordeaux e Spa.
Interior do Grande Teatro
Em todo o lugar existem
monumentos bonitos, praças iluminadas, avenidas largas como promenades, jardins
e locais para passeios, passarelas, ciclovias e bares simpáticos.
Em termos economicos
Bordeaux já era importante desde os tempos romanos por causa de seu porto que
exporta muitas mercadorias e especialmente vinhos, mas importa mercadorias e
turistas para a França: a cidade é a segunda parada dos cruzeiros na costa
atlântica francesa que ancoram quase no centro da cidade, em frente à Place de
la Bourse.
Bordeaux não tem nem um
décimo do patrimônio cultural de Florença; não tem os jardins charmosos e
surpresas arquitetônicas de Paris; não tem tantos museus quanto Berlim; não tem
a importância histórica de Roma e não é encantadora como Praga ou Siena ou surpreendente
como Genebra. Acho que grande parte do turismo, do movimento em hotéis e nas
ruas ainda é ligado às atividades do vinho, e não à cidade em si.
Mas isso não é um problema
– é uma oportunidade, um espaço que a cidade tem para crescer. Não sei se
Bordeaux é mesmo a cidade mais simpática da França, como os bordoléus e as
pesquisas afirmam, mas é bonita, tem os melhores vinhos do mundo, preços
razoáveis e um sensacional sistema de transporte público para turistas, com
tramways e onibus que qualquer um entende e pode utilizar.
Um brinde a isso, caro
leitor.
(*) Rogerio Ruschel – rruschel@uol.com.br
- é jornalista de turismo e consultor especializado em sustentabilidade; foi a Bordeaux
por conta própria, e porisso escreve com independência.
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