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terça-feira, 23 de junho de 2015

França investe pesado para colocar 20 milhões de turistas no mapa de suas rotas de vinho em 2020

 
Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, a França é mesmo surpreendente no que se refere a vinhos: quer receber 100 milhões de turistas em 2020, dos quais 20 milhões serão enoturistas! Esta revelação foi feita pelo Ministro das Relações Exteriores da França, Monsieur Laurent Fabius, em uma entrevista coletiva dia 10 de junho em Paris, e está alinhado com a história do país: na França foi criada a primeira Rota dos vinhos Gran Crus do mundo - na Borgonha em 1934, há 80 anos! - e atualmente cerca de 5.000 vinícolas praticam religiosamente o enoturismo e suas melhores práticas. E não custa lembrar: Bordeaux foi eleito Melhor Destino Europeu 2015 e se prepara para inaugurar um gigantesco museu especializado, a “Cidade das Civilizações do Vinho” (maquete na foto abaixo, do lado direito do rio), em 2016.
 
Para atingir esta marca o país vai desenvolver novos roteiros rurais de vinho; incentivar cruzeiros fluviais e adequar portos de rios; vai criar um fundo de investimento estatatal para financiar melhorias nas vinícolas e investir pesadamente em eventos de gastronomia. Este compromisso está assustando a concorrência e explico porque: muitos profissionais dos trades de vinho e turismo ainda consideram enoturismo uma atividade de nicho, um tipo de turismo que “complementa o turismo de sol&praia, cultural, de eventos e outros”, como ainda se ouve por aí. E só para você ter uma comparação, o Brasil – mesmo com 8.500 Km de litoral, 9 diferentes biomas e uma diversidade cultural gigantesca - recebe 6,5 milhões de turistas estrangeiros – incluindo o legado da Copa do Mundo em 2014… Na foto abaixo, a Place de La Bourse, em Bordeaux.
 
Veja alguns números:
·      Na Espanha 42.000 vinícolas receberam 2 milhões de turistas em 2014, o que gerou 50.000 empregos, segundo a Acevin
·      A associação Great Wine Capitals que reúne os 8 principais polos produtores de vinho do mundo, em oito paises, informou que em 2011 cerca de 32% do volume total dos vinhos produzidos nas cidades foram vendidas no balcão, para turistas
·      A U.S. Travel Association divulgou que a California recebeu 21 milhões de turistas em suas regiões vinicolas em 2008 – e que só o Napa Valley, o mais conhecido, recebeu 5 milhões deles
·      A Argentina recebeu a visita de 1,2 milhõões de turistas nas vinicolas associadas a Bodegas de Argentina AC, em 2011
·      O Vale dos Vinhedos, principal polo produtor de vinhos do Brasil, na serra gaúcha, recebeu e visita de 283.240 turistas em 2013.

Em 2014 a França recebeu 88 milhões de turistas e quer crescer cerca de 4% ao ano até 2020. É uma questão de percepção, de vontade política e de competência para realizar. Como disse o Ministro francês, “O turismo é um tesouro nacional e o vinho é um setor importante para atrair visitantes em nossas belas regiões vinícolas e apresentar parte de nossa cultura”. Veja na foto acima um dos muitos charmosos bares de rua em Dijon, capital da Borgonha. Fiquei curioso para saber qual a contribuição dos brasileiros a respeito do enoturismo francês e perguntei a Izabèle Pesinato, coordenadora no Brasil de marketing & imprensa da Atout France, a Agência de Desenvolvimento Turístico da França. Com elegância e profissionalismo ela me respondeu em menos de 48 horas. Veja a seguir.

Entrevista com Izabèle Pesinato, da Atout France - exclusivo.

R. Ruschel - Quais os cinco destinos de turismo em geral na França mais divulgados por jornalistas brasileiros?
I. Pesinato - Paris é sempre solicitada pela imprensa. As regiões mais “tradicionais” são bastante procuradas, como Provence (Riviera Francesa), região de Bordeaux, Vale do Loire e Rhône Alpes. (Veja mapa abaixo o mapa de Bordeaux.) E também existe uma procura por novidades em relação aos destinos como a Córsega e Normandia. Existe também uma solicitação por áreas temáticas de acordo com o perfil do veiculo do jornalista e as mais procuradas são: gastronomia, vinhos e aventura (roteiros de bicicleta e ski).



R. Ruschel - Qual o grau de interesse de jornalistas brasileiros sobre destinos ou roteiros de enoturismo e turismo relacionado a gastronomia na França?

I. Pesinato - Há uma grande curiosidade pelos assuntos gastronomia e enoturismo pelos jornalistas brasileiros e o interesse tem crescido com a evolução da disseminação da gastronomia francesa no Brasil.
R. Ruschel - Quais os destinos mais procurados por turistas brasileiros na França?
I. Pesinato - Os brasileiros que vão a França passam obrigatoriamente por Paris. A cidade dispõe de cerca de 85% de market-share. A segunda região é a Provence (incluindo a Riviera Francesa) e em seguida Aquitânia (com destaque para Bordeaux), Vale do Loire, Rhône Alpes, Alsácia (foto abaixo), Borgonha e Champagne, nesta ordem. Tahiti e St. Barth estão bem posicionados no turismo de luxo.
R. Ruschel - Qual o grau de interesse de turistas brasileiros sobre destinos ou roteiros de enoturismo e turismo relacionado a gastronomia na França?
I. Pesinato - Cultura e patrimônio, gastronomia e vinhos e shopping com turismo urbano são os principais aspectos atrativos de um destino para os turistas brasileiros. Assim, pontualmente sobre gastronomia e enoturismo, há uma grande curiosidade, mas são poucas as pessoas que efetivamente fazem uma viagem temática única e exclusivamente para isso. Geralmente fazem a viagem e dedicam uma, duas até três noites (quando há maior curiosidade) para o assunto, por meio de visitas às vinícolas e degustação do vinho. Como nos últimos anos os brasileiros viajaram mais e consumiram mais vinho, pode-se dizer que há um interesse em crescimento e também a mídia institucional tem colaborado para o aumento da demanda por esses roteiros, geralmente bem elaborados e com preços razoáveis. A maioria dos turistas vai para descobrir, ter um primeiro contato.  O enoturismo representa aproximadamente de 2 a 5% do total de vendas de uma operadora de turismo. (Na foto abaixo este repórter se prepara para mais um passeio em um dos muitos simpáticos vilarejos da Alsacia.)
 


Saiba um pouco mais sobre roteiros de vinho da França



Bordeaux: capital do vinho e maior patrimônio urbano protegido pela Unesco - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/06/bordeaux-capital-do-vinho-e-maior.html

Saint-Émillion, Bordeaux: atrações subterrâneas, belezas medievais e delícias gastronômicas - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/saint-emillion-bordeaux-atracoes.html   


 


(*) Rogerio Ruschel acredita que o enoturismo já deixou de ser uma ativiade de nicho há muitos anos. Agora é uma atividade de experiência turística, moderníssima.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Viana do Castelo, Portugal, recebe especialistas da Europa e América do Sul para Congresso Internacional de Enoturismo dias 2, 3 e 4 de julho





Por Rogerio Ruschel (*)

Meu caríssimo leitor: faltam duas semanas para a realização do Congresso Internacional de Enoturismo - edição Europa em Viana do Castelo, Portugal (na foto acima, o Castelo na Vista de Santa Luzia em foto de Armenio Belo), um dos dois eventos de 2015 da Associação Internacional de Enoturismo (Aenotur), organização que tem como objetivo promover o enoturismo a nível internacional, interligando uma extensa rede de 500 cidades do vinho em todo o mundo. Além dos ganhos potenciais da rede de cidades, a Aenotur tem outro diferencial que será demonstrado no evento: países da América Latina não são apenas assistentes, e sim protagonistas. 
 
Criada em 2014, até o momento a Aenotur tem como associados municipios, entidades e empresas do Brasil, Uruguai, Argentina, Itália, Portugal, França e Espanha, mas deve receber novos associados durante o Congresso. Como a Aenotur é a primeira organização que busca estabelecer intercâmbio de conhecimentos e de mercado entre os paises ibéricos e sul-americanos, In Vino Viajas está acompanhando e divulgando o desenvolvimento de seus trabalhos na forma de reportagens - veja no final o que já publicamos sobre o assunto. E também por causa deste protagonismo, meu caro leitor ou leitora, você vai acompanhar bem de perto este evento, porque estarei participando do evento.

A edição européia do Congresso Internacional vai se realizar entre os dias 2 e 4 de julho nas cidades portuguesas de Viana do Castelo, Melgaço, Monção, Ponte da Barca, Ponte de Lima e na vizinha Cambados, da Espanha. Este encontro é uma continuação do 4.º Congresso Latino-americano de Enoturismo, realizado em Garibaldi, njo Brasil, em 2014, e que em 2015 vai ter duas edições: esta na Europa agora em julho, e outra em Montevidéu, Uruguai, no mes de setembro. Veja na foto acima. O principal objetivo destes eventos é conhecer os fatores determinantes da procura de enoturismo por países e canais de comercialização, bem como compartilhar informações e experiências sobre promoção da oferta turística. E veja na foto abaixo o espectro de atividades da Aenotur.
 
Durante o evento serão apresentadas conferências abertas e realizadas reuniões técnicas e de intercâmbio de experiências, além de visitas técnicas a vinícolas, restaurantes e vinhedos da região que é o berço da uva Alvarinho e é famosa por seus Vinhos Verdes, uma DO do Minho - veja abaixo um vinhedo com alvarinho de Moção e Melgaço. O Congresso também vai discutir as possibilidades de oferta de produtos de enoturismo dos associados no mercado internacional, em mercados como Inglaterra, França, Alemanha e Ásia.
 
O Brasil vai estar representado por três palestrantes: Ivane Fávero, secretária de Turismo e Cultura de Garibaldi e vice-presidente da Aenotur para a América Latina; Carlos Raimundo Paviani, diretor do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e Rogerio Ruschel, editor do blog In Vino Viajas. Outros palestrantes são a mexicana Mariana Mier y Terán, especialista no mercado de enoturismo do Reino Unido; Rainer Brusis, que vai apresentar uma panorâmica do mercado alemão; a espanhola Silvia Martin e o francês Pierre Verdier especialistas no mercado de enoturismo da França; Guillermo Barletta, diretor do Departamento de Turismo da Bodegas de Argentina e Wilson Torres Chavez, uruguaio que preside a Associación de Turismo Enológico del Uruguay – Caminos del Vino. 
"Viana do Castelo receberá os visitantes com  muita alegria", garante o Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Eng.º José Maria Costa (foto acima), e com certeza com muita eficiência, porque o evento conta com a dedicação de muitos profissionais entre os quais José Arruda, secretário da AMVP – Associação dos Municípios Portugueses do Vinho (fundada em 2008 e atualmente com 68 municipios associados) e Manuel Soliño Bermudez, da Xunta de Galícia, integrantes da Comissão Organizadora. Na foto abaixo aspecto do Congresso da entidade realizado em Garibaldi, em 2014.

 
O enoturismo já é uma forte alavanca econômica para as vinícolas e mobiliza uma grande rede de organizações e pessoas em ambientes rurais, onde as vezes é mais dificil haver indústrias. Na Espanha cerca de 42.000 vinícolas receberam 2 milhões de visitantes em 2014, gerando mais de 50.000 empregos. Segundo a U.S. Travel Association, em 2008 as regiões vinícolas da California receberam mais de 21 milhões de visitantes, sendo que a principal, o Nappa Valley, recebeu 5 milhões deles. Em 2011 a Argentina recebeu cerca de 1,2 milhões de enoturistas e até mesmo áreas de enoturismo novas no mundo vinícola, como Niagara no Canada, foi visitada por cerca de 1 milhão de visitantes em 2011, segundo a Wine Council of Ontario.

O primeiro passo para se aproveitar os benefícios do enoturismo é parar de pensar isoladamente. E o Congresso Internacional de Enoturismo - edição Europa da Aenotur será uma grande alavanca para os paises participantes.  Saiba mais sobre o evento e faça sua inscrição até o dia 26 de junho pelo site http://winedestiny.com/


Conheça os dois congressos internacionais da Aenotur em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/04/os-lideres-vao-se-encontrar-nos-dois.html
Entrevista com Ivane Fávero, Vice presidente para América Latina da Aenotur – http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/02/secretaria-de-turismo-e-cultura-de.html
 Entrevista com Luis Aragunde Aragunde, presidente da Aenotur - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/03/espanhol-que-preside-aenotur-apresenta.html
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e acredita que a união faz a força – na vida e nos negócios
 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Junte-se aos parisienses para beber vinho em mamadeira de plástico – mas se prepare porque tem fila!

 
Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado leitor ou leitora: sugiro que na próxima vez que você for a Paris aproveite para mamar um pouquinho como as meninas da foto acima e os grandalhões da foto abaixo.
 
Calma que eu explico: é que vou sugerir que você conheça o bar-restaurante “Le Refuge des Fondus” (foto abaixo) em Montmartre, para poder tomar vinho (francês, logicamente) em mamadeiras de plástico.
 
Isso mesmo: na capital da França, o país mais chique e que mais faz questão de sofisticar o consumo do vinho, consumidores fazem fila na porta de um pequeno bar-restaurante para beber vinho em mamadeiras. Em fins de semana são tantas pessoas que o restaurante prepara filas de mamadeiras para atender a correria, veja abaixo. Por essa nem a Viúva Cliquot esperaria!

Esta ideia maluca obviamente está bombando na internet e daqui a pouco vai aparecer no Brasil como uma grande invenção tupiniquim, mas você vai lembrar que viu primeiro aqui no In Vino Viajas. Eu cumprimento quem teve a coragem de romper os paradigmas ao comunicar que vinho é uma bebida alegre e gostosa que deve ser consumida com alegria e por prazer, em ambiente descontraído com os amigos, e que pode até mesmo continuar a ser romântico, como você pode ver abaixo.

Esta ideia vai ajudar a criar mais consumidores para o vinho como um produto que compete no mercado com outras bebidas mais jovens e criativas – batalha, aliás, que o vinho vem perdendo nos últimos anos. O grande mérito - além é claro, de ser divertido ver seus amigos mamando num restaurante - é acabar com mitos e rituais que alguns especialistas pretensiosos ainda insistem em manter a respeito do consumo do vinho - atitude que está completamente fora de contexto no século XXI e assusta as pessoas, não ajudando a aumentar a base de novos consumidores da bebida.

O fondu-restaurante (que é como eles mesmo se identificam) fica no animadissimo bairro parisiense de Montmartre, conhecido pela igreja Sacre Couer, mas também pelos cabarés (entre os quais o Moulin Rouge) e por ser o principal bairro boêmio de Paris, onde moraram pintores como Picasso, Modigliani, Toulouse-Lautrec, Renoir, Van Gogh e Gauguin e escritores como Balzac, Emile Zola, Boudelaire, Max Jacob e Apollinaire. No bairro também fica o mini-vinhedo urbano mais charmoso do mundo, o Clos de Montamrtre. Veja no fim deste artigo como conhecer todas estas atrações de Montmartre sem ter que sair do “vinhedo global” de In Vino Viajas.

Mas para ser honesto com você, meu prezado leitor ou leitora, anote: 1) se você preferir, pode ser servido em taças; 2) é preciso fazer reserva e o ambiente é muito apertado; 3) dizem que a ideia foi copiada de um restaurante que existia em Nova Iorque - o La Cave de Fondues, no Soho; 4) vinho em mamadeira também já pode ser apreciado em outro restaurante de Paris, o  “Le Zéro de Conduite”, que simplesmente copiou a ideia. Um crítico francês escreveu que o vinho servido não é o de melhor qualidade da França (e povavelmente também não tão caro) e que o dono do restaurante o serve em mamadeiras para pagar menos impostos. Pode ser, mas o vinho é francês e o consumidor gosta.

Enfim, como estudioso de marketing sempre faço um brinde para uma boa ideia que aumente o mercado desde que issso não desqualifique o produto.
Conheça o Clos de Montmartre, o pequeno e charmoso vinhedo de Paris - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/05/clos-de-montmartre-o-pequeno-vinhedo.html
Conheça a mais charmosa igreja de Paris, a Sacre Coeur de Montmartre - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/10/sacre-coeur-de-montmartre-conheca-mais.html
Conheça os belissimos posteres que comemoram 80 anos da Fête des Vendanges em Montmartre - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/05/a-criativa-arte-grafica-da-festa-da.html
Fotos publicadas originalmente no site do restaurante: https://www.facebook.com/lerefugedesfondus/photos_stream
(*) Rogerio Ruschel edita In Vino Viajas em São Paulo, Brasil e gosta de vinhos em garrafa de vidro, tetra-pack ou – quem sabe? – mamadeira de plástico!


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Rótulos de vinhos dos anos 60 lembram a herança portuguesa da vinicultura em São Roque, no estado de São Paulo


Por Rogerio Ruschel, editor e Sandro Marcelo Cobello, texto e rótulos

Meu prezado leitor ou leitora, dias destes fui a São Roque, cidade cerca de 60 Km da capital paulista, e fiquei muito impressionado com a grande quantidade de turistas percorrendo o Roteiro do Vinho da região; passeio que vou apresentar aqui para você, em breve. São Roque tem uma diferença de outros polos produtores de vinho do Brasl: a herança é portuguesa e não italiana. Como In Vino Viajas é cultura, convidei um especialista em vinho e turismo para contar um pouco da história de sua cidade natal e ele fez isso recuperando antigos rótulos de vinhos produzidos na cidade durante as décadas de 60 e 70 que estão ilustrando este texto. Entre outras atividades, Sandro Marcelo Cobello foi secretário de turismo de São Roque, é um especialista em alcachofras (outra badalada tradição da região), pesquisa a memória da cidade e está estudando enologia. Perfeito, portanto, para falar com os leitores de In Vino Viajas. Com a palavra, Sandro Cobello.


Na Europa grande parte das cidades tem cultivo de uvas e produção de vinho, mas no Brasil devido a fatores culturais e climáticos, poucos foram os locais onde o cultivo da uva e a produção do vinho se estabeleceram; atualmente não mais do que três dezenas de cidades e regiões do país tem produção vitivinícola comercial permanente. Na foto abaixo um dos patrimônios históricos de São Roque, o Sítio de Santo Antônio, construído em 1681 e que foi doado por seu ultimo proprietário, o escritor modernista Mario de Andrade, ao Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para preservação.


No estado de São Paulo – a região mais rica do Brasil - os primeiros vinhedos foram cultivados no século XVI na região onde hoje é Santos, na então Capitania de São Vicente; posteriormente na cidade de São Paulo, no bairro do Tatuapé no início da colonização também houve um ciclo de vinhedos, mas entre 1789 e 1808, para evitar uma eventual concorrência, Portugal proibiu a fabricação de vinhos no Brasil-colônia. Porisso somente na segunda metade do século XIX é que o cultivo de uvas e produção de vinho tomou novamente força no estado.
Com a chegada dos imigrantes europeus para a construção da Estrada de Ferro Sorocaba (1875) e da Fábrica Têxtil Brasital (1890), a Estância Turística de São Roque, a 60 km da capital no sentido de Sorocaba, começou a produzir vinhos e nas décadas seguintes se tornou o mais importante produtor de vinho no Estado. Na verdade, segundo historiadores, este seria um resgate da história porque há indícios de que seu fundador, o bandeirante Pedro Vaz de Barros, no ano de 1657 já cultivava videiras e produzia vinho na fazenda que originou a cidade. 

No início do século XX a cidade foi se transformando e todas suas encostas foram sendo tomada por vinhedos; nas décadas de 1950 e 1960 a cidade viveu um período áureo com mais de 150 vinícolas empregando legiões de trabalhadores e uma importante Festa do Vinho que deu destaque nacional à cidade e o título de “Terra do Vinho Paulista” - abaixo o poster da XXII edição da festa.


Mas a partir dos anos 80 a especulação imobiliária foi pressionando a região e transformando antigas áreas de vinhedos em sítios e chácaras de paulistanos e paulistas, de forma que a região entrou no século XXI com pouco mais de uma dezena de vinícolas. Abaixo a entrada de duas delas.




Outro fato pouco divulgado sobre São Roque que começa a ser resgatado, é que seu passado na vitivinicultura tem origem portuguesa e não italiana, como nas demais cidades e regiões do país. Este resgate histórico português teve um impulso em 2007 com a inauguração da Quinta do Olivardo, uma vinícola com proprietários de origem portuguesa, que vem atraindo cada vez mais visitantes e turistas que apreciam a farta culinária com pratos portugueses servidos em seu restaurante. Na foto abaixo, a área de recepção da Quinta do Olivardo.

As origens portuguesas da cidade também estão sendo resgatadas por meio de um mini-museu, pelas festas, danças e eventos. E nos últimos anos com a realização de levantamento de antigos rótulos de vinhos da cidade que confirma essa origem com nomes e sobrenomes portugueses nas vinícolas da cidade – rótulos que In Vino Viajas está apresentando agora, com exclusividade. 

E mesmo que tenhamos saudades dos antigos rótulos dos vinhos de São Roque, o tempo não para. Com a instalação em 2013 do Curso Superior em Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal na cidade (o terceiro do país e único no Sudeste), este resgate histórico vai ser acompanhado também de tecnologia produtiva na área vitícola. 

Explico: durante as décadas áureas de 50 e 60 muitas vinícolas (mesmo com uvas americanas e não européias) produziam vinhos com características trazidas por vinhos portugueses como o Porto e Vinho Verde, e com a chegada dos italianos na região na época da IIa. Grande Guerra, estas características foram sendo substituídas e as origens vitivícolas forem se perdendo. Quem sabe agora os enólogos que aqui estão se formando consigam re-encontrar os traços de identidade da origem portuguesa dos vinhos de São Roque, sem ter que abrir mão dos vinhos com herança italiana que são sempre muito bem-vindos?

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Veja outra herança da vinicultura de Portugal no Brasil em - Fazenda dos Cayres, em São Bernardo do Campo: o elo perdido da vinicultura portuguesa no Brasil? - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/fazenda-dos-cayres-em-sao-bernardo-do.html
 
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e Sandro Marcelo Cobello é consultor em Turismo Rural; contato-s e-mail smcbrazil@hotmail.com