Por Rogerio Ruschel, editor e Sandro Marcelo Cobello, texto e rótulos
Meu prezado leitor ou leitora, dias destes fui a São Roque, cidade cerca de 60 Km da capital paulista, e fiquei muito impressionado com a grande quantidade de turistas percorrendo o Roteiro do Vinho da região; passeio que vou apresentar aqui para você, em breve. São Roque tem uma diferença de outros polos produtores de vinho do Brasl: a herança é portuguesa e não italiana. Como In Vino Viajas é cultura, convidei um especialista em vinho e turismo para contar um pouco da história de sua cidade natal e ele fez isso recuperando antigos rótulos de vinhos produzidos na cidade durante as décadas de 60 e 70 que estão ilustrando este texto. Entre outras atividades, Sandro Marcelo Cobello foi secretário de turismo de São Roque, é um especialista em alcachofras (outra badalada tradição da região), pesquisa a memória da cidade e está estudando enologia. Perfeito, portanto, para falar com os leitores de In Vino Viajas. Com a palavra, Sandro Cobello.
Na Europa grande parte das cidades tem cultivo de uvas e produção de vinho, mas no Brasil devido a fatores culturais e climáticos, poucos foram os locais onde o cultivo da uva e a produção do vinho se estabeleceram; atualmente não mais do que três dezenas de cidades e regiões do país tem produção vitivinícola comercial permanente. Na foto abaixo um dos patrimônios históricos de São Roque, o Sítio de Santo Antônio, construído em 1681 e que foi doado por seu ultimo proprietário, o escritor modernista Mario de Andrade, ao Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para preservação.
No estado de São Paulo – a região mais rica do Brasil - os primeiros vinhedos foram cultivados no século XVI na região onde hoje é Santos, na então Capitania de São Vicente; posteriormente na cidade de São Paulo, no bairro do Tatuapé no início da colonização também houve um ciclo de vinhedos, mas entre 1789 e 1808, para evitar uma eventual concorrência, Portugal proibiu a fabricação de vinhos no Brasil-colônia. Porisso somente na segunda metade do século XIX é que o cultivo de uvas e produção de vinho tomou novamente força no estado.
No início do século XX a cidade foi se transformando e todas suas encostas foram sendo tomada por vinhedos; nas décadas de 1950 e 1960 a cidade viveu um período áureo com mais de 150 vinícolas empregando legiões de trabalhadores e uma importante Festa do Vinho que deu destaque nacional à cidade e o título de “Terra do Vinho Paulista” - abaixo o poster da XXII edição da festa.
Mas a partir dos anos 80 a especulação imobiliária foi
pressionando a região e transformando antigas áreas de vinhedos em sítios e
chácaras de paulistanos e paulistas, de forma que a região entrou no século XXI
com pouco mais de uma dezena de vinícolas. Abaixo a entrada de duas delas.
Outro fato pouco divulgado sobre São Roque que começa
a ser resgatado, é que seu passado na vitivinicultura tem origem portuguesa e
não italiana, como nas demais cidades e regiões do país. Este resgate histórico
português teve um impulso em 2007 com a inauguração da Quinta do Olivardo, uma
vinícola com proprietários de origem portuguesa, que vem atraindo cada vez mais
visitantes e turistas que apreciam a farta culinária com pratos portugueses
servidos em seu restaurante. Na foto abaixo, a área de recepção da Quinta do
Olivardo.
As origens portuguesas da cidade também estão sendo
resgatadas por meio de um mini-museu, pelas festas, danças e eventos. E nos
últimos anos com a realização de levantamento de antigos rótulos de vinhos da
cidade que confirma essa origem com nomes e sobrenomes portugueses nas
vinícolas da cidade – rótulos que In Vino Viajas está
apresentando agora, com exclusividade.
E mesmo que tenhamos saudades dos antigos rótulos dos vinhos de São Roque, o tempo não para. Com a instalação em 2013 do Curso Superior em Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal na cidade (o terceiro do país e único no Sudeste), este resgate histórico vai ser acompanhado também de tecnologia produtiva na área vitícola.
Explico: durante as décadas áureas de 50 e 60 muitas
vinícolas (mesmo com uvas americanas e não européias) produziam vinhos com
características trazidas por vinhos portugueses como o Porto e Vinho Verde, e
com a chegada dos italianos na região na época da IIa. Grande Guerra, estas
características foram sendo substituídas e as origens vitivícolas forem se
perdendo. Quem sabe agora os enólogos que aqui estão se formando consigam
re-encontrar os traços de identidade da origem portuguesa dos vinhos de São
Roque, sem ter que abrir mão dos vinhos com herança italiana que são sempre
muito bem-vindos?
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Veja outra herança da vinicultura de Portugal no Brasil em - Fazenda
dos Cayres, em São Bernardo do Campo: o elo perdido da vinicultura portuguesa
no Brasil? - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/fazenda-dos-cayres-em-sao-bernardo-do.html
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e Sandro
Marcelo Cobello é consultor em Turismo Rural; contato-s e-mail smcbrazil@hotmail.com
Muito bom!
ResponderExcluirObrigado, Carlos Fioravante. Os vinhos de São Roque ainda sofrem preconceito, mas as vinícolas tem uma história de muito trabalho e estão investindo no caminho certo. Abs, Rogerio
ResponderExcluirTem um pequeno erro no seu texto, quando você diz "São Roque tem uma diferença de outros polos produtores de vinho do Brasil: a herança é portuguesa e não italiana" não é totalmente verdade, grandes vinícolas da época do surgimento da vitivinicultura em São Roque eram de imigrantes italianos como por exemplo Vinhos Primor, Capuzzo, Penonne, entre outras, e não exclusivamente portugueses. Inclusive o italiano Antônio Maria Picena fundador da Cooperativa Agrícola e Vinícola de São Roque onde atuou em prol da vitivinicultura, isso na déc de 20.
ResponderExcluirEmbora São Roque seja Fundada por um Português da época de sua fundação até efetivamente o surgimento de uma cultura do vinho se passaram séculos. talvez a época que fez este estudo você não teve acesso a grande parte da documentação, que de fato é escassa, sobre a história do vinho em São Roque.
O que confunde, é que hoje, a maioria, das vinícolas que sobreviveram são de ascendência portuguesa.
Você tem razão. Obrigado pela informação. Rogerio Ruschel
ExcluirOlá...acho estranho não mencionar o VINHO SIMÕES, do meu avô Manoel que chegou ao Brasil em 1898 vindo de Sangalhos...Portugal...e se estabeleceu com vinhos no Bairro do Taboão em São Roque SP, e meu pai JOSÉ SIMÕES que continuou com a adega até meados de 1960, abastecendo diversos locais de São Paulo capital....e outros portugueses que aqui se estabeleceram....fica minha nota.....José Carlos português e Neto.
ExcluirOlá José Carlos. O autor não mencionou todos os produtores, apenas mostramos os rótulos como uma herança gráfica.
ExcluirSe você quiser escrever sobre o vinho do seu avô, será bemvindo, vamnos poder contar opara outros leitores. Abraços, Rogerio
Farto fala du garfurino
ExcluirEra um ótimo vinho tinto! Produtor: Serafim da Cruz, meu vizinho na época.
ExcluirAntônio Ferreria de Almeida é tataravô dos meus filhos !
ResponderExcluirBisavó do meu marido !