Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, a indústria do vinho é de importância estratégica na Espanha. A produção de vinhos é uma herança nacional, faz parte das famílias, da história e da cultura do país e do ponto de vista econômico representa uma das principais indústrias do PIB. Em 2013 a Espanha foi o maior produtor mundial de vinhos e em 2014 ficou apenas um pouquinho atrás da França – estes dois países estão constantemente trocando de posição, mes a mes.
Embora o
enoturismo na França seja mais desenvolvido, na Espanha a atividade é também
gigantesca: conforme dados da Acevin, a Associação Espanhola de Cidades do Vinho,
cerca de 42.000 vinícolas receberam um pouco mais de 2 milhões de turistas em
2014, gerando cerca de 50.000 postos de trabalho nas 24 rotas de vinho
certificadas (mapa acima e quadro abaixo). O movimento financeiro somente das 523 vinícolas e
29 museus associadas ultrapassou 42,5 milhões
de Euros, algo como 161 milhões de Reais. Este número não inclui o faturamento de
outros estabelecimentos que também fazem parte das rotas de turismo do vinho
como hotéis, alojamentos, lojas especializadas e restaurantes.
A atividade é
levada muito a sério e como existem centenas de opções de degustações nas 50
províncias espanholas e para encontrá-las era necessário pesquisar
individualmente na internet, em 2013 uma empresa criou o primeiro software de
geolocalização e georeferência de degustações de vinhos no país para facilitar
a vida do enoturista. A empresa se chama Cata Del Vino e o portal (www.catadelvino.com) está se tornando uma
espécie de Trivago do setor de vinho no pais.
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Na foto abaixo, La Rioja, que também está no Cata
Del Vino, e ao longo da matéria veja alguns dos gráficos desta pesquisa.
A pesquisa reforçou também o que outros
levantamentos e In Vino Viajas já vem informando: 93% dos entrevistados declararam ter interesse
em comprar vinho nas vinícolas que visitam e 52% deles disseram que o motivo
que os levou a visitar uma adega foi a oferta de preços dos vinhos (veja acima).
Só para comparar: em 2014 a Great Wines Capital, associação que reúne os principais
pólos de produção vinícola do mundo, divulgou uma pesquisa informando que cerca
de 32% da produção de vinhos das adegas associadas era vendida no balcão, para
turistas.
Embora 56% dos entrevistados reconheçam que o
que os atrai é provar o vinho na vinícola onde ele é feito, 64% dos
entrevistados disseram que a atração no enoturismo não é apenas conhecer as
vinícolas e degustar vinhos, mas também visitar a região, a comunidade e seus
arredores.
Outra coisa óbvia foi agora dimensionada por esta pesquisa da
Espanha: 72% dos entrevistados admitem não entender a terminologia utilizada
pelo produtor ou sommelier que coordenou a degustação de vinhos oferecidos no
tour vinícola. E apenas 37% dos entrevistados disseram que o que mais
valorizaram na visita à vinicola foi a explicação sobre o processo
de vinificação e a degustação. O que ocorre é que a maioria dos enólogos e
sommeliers acham que todas as pessoas tem o mesmo grau de interesse e de
informação sobre o vinho que eles tem, o que certamente não é verdade. Eu, por
exemplo – e talvez você – não tenho o menor interesse em saber dados técnicos
de produção do vinho, e sim ver onde foi feito, por quem, e prová-lo. Vale repetir
o que tenho dito: o enoturismo só vai ser viável quando for operado para
turistas “normais”, e como uma atividade regional, e não apenas dentro de
vinícolas e para turistas especializados em vinho.
Outros dados são interessantes. Os visitantes
percebem que a visitação é um bom negócio: 87% dos entrevistados consideram que
o turismo do vinho é muito bom para a imagem de marca dos vinhos e das
vinícolas e 52% deles acreditam que o turismo do vinho é também economicamente
rentável para as vinícolas visitadas. E 83% dos entrevistados disseram que
recomendariam aos seus amigos e familiares o roteiro que fez.
A pesquisa da Cata Del Vino conclui resumindo
que o enoturismo promove a cultura do vinho; aumenta o turismo no território; é
uma nova forma de renda adicional para os produtores de vinho; aumenta o
consumo de vinho por novos usuários; promove melhorias no ambiente e na
infra-estrutura; melhora a imagem do vinho como produto e diversifica o turismo
permitindo ajustes sazonais, porque é uma atividade que pode ser realizada o
ano inteiro.
Então meu prezado leitor ou leitora, façamos
um brinde à alegria de poder conhecer novas comunidades
da cultura do vinho e à boa informação que podemos compartilhar aqui
no In Vino Viajas: tim-tim!
(*) Rogerio Ruschel edita In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasi, mas pesquisa tudo sobre enoturismo, em todos os países que tenham informações
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