Por Rogerio Ruschel (*)
Exclusivo para In Vino Viajas - Meu
prezado leitor ou leitora, uma das coisas boas de escrever sobre a cultura do
vinho é que você conhece pessoas que além de talentosas e elegantes, tem cultura e bom
gosto. O italiano Roberto Cipresso, enólogo da Bueno Wines, é uma destas
pessoas. Fui apresentado a ele por Galvão Bueno com a seguinte frase: “Questo é
il mio fratello italiano”- e de fato os dois se comportam como irmãos de
verdade.
Roberto Cipresso é uma personalidade pública
na Europa: um dos mais premiados enólogos de sua geração, é um professor
disputado e querido, um pesquisador incansável dos mistérios da vitivinicultura
e um emocionado defensor de causas culturais. Ele poderia estar vivendo da fama
de ter sido convidado para fazer os vinhos do Papa João Paulo II, de ter criado o vinho
comemorativo dos 150 anos da Unificação da Itália, ou de ser um dos poucos
criadores de vinhos que conseguiu uma pontuação 99/100 de Robert Parker para um
vinho argentino. E a foto abaixo prova que ele se aprofunda no seu trabalho...
Mas ele é um grande ser humano e quer aproximar os brasileiros dos
italianos por uma das poucas coisas que supera qualquer diferença econômica,
política ou social entre dois povos: a cultura. E In Vino Viajas revela com exclusividade que Roberto Cipresso gostaria
de organizar um evento para destacar um dos aspectos mais interessantes e
curiosos das duas culturas: os diferentes caminhos da evolução do idioma italiano
dos dois lados do Oceano Atlântico desde a unificação da Itália nos últimos 150
anos. In Vino Viajas apoia causas que melhorem a qualidade de vida. Já
publicamos a história de como dialetos vindos com os imigrantes se fundiram com
o português para criar o talian, um idioma único que só existe no Brasil – veja como no fim desta reportagem. Mas antes eu o convido para
conhecer Cipresso.
R. Ruschel: Onde você nasceu e cresceu? A família produzia vinhos?
R. Cipresso: Eu nasci em Veneto, em Bassano del Grappa, Provincia de Vicenza (foto acima), e foi aí que eu passei a
minha infância e minha adolescência, embora durante alguns
anos tenha estudado em Pádua. Meu
pai era um amante de vinho, mas não teve
muito sucesso neste ambiente, o
mesmo com minha mãe. Minha formação superior foi no
Instituto Agrícola de Pádua,
e depois fiz um Mestrado em Viticultura e Enologia no Instituto de San Michele. Eu
continuei a trabalhar por um período com o mesmo instituto, e
através dele conheci um fabricante de Montalcino,
Gianfranco Soldera, hoje
proprietário da Case Basse. Em 1987 me mudei para Montalcino,
inicialmente apenas para trabalhar
com ele. (Abaixo, Montalcino)
R. Ruschel: Somo surgiu e como trabalha a Fattoria La Fiorita, a tua empresa
vinícola? Como são os vinhos? Como se pude comprar teus vinhos no Brasil?
R. Cipresso: O nascimento da empresa
La Fiorita remonta
a 1992 quando com dois amigos tivemos a oportunidade de comprar terras em Montalcino; a empresa desde então tem
se desenvolvido a partir deste pequeno
grupo e a última vez que a
estrutura corporativa mudou desde
a fase inicial foi quando vendemos parte da propriedade
para dois sócios de Nova York. La Fiorita produz Brunello
di Montalcino a partir de uvas provenientes
de dois crus diferentes, o Poggio del Sole e o Pian
Bossolino. No momento nossos vinhos
não estão presentes no Brasil, mas
o país é um
mercado de grande interesse para nós,
e esperamos em breve ser representados. (Abaixo, a propriedade dele,
Poggio al Sole).
R. Ruschel: Como é a Winemaking? Que tipo de clientes e projetos você faz?
R. Cipresso: Winemaking é o nome do meu grupo de consultoria
agronômica e vinho. Tem sua sede em Montalcino e temos colaborado
com produtores em diferentes mercados, com diferentes realidades, da Itália e
do exterior, entre as quais com projetos na Croácia, Romênia,
Espanha, Turquia, Argentina, Brasil e outros paises. (Na foto abaixo o mestre ensinando a perceber aromas).
R. Ruschel: Como você recebeu os comentários de Robert Parker e a pontuação
da Wine Advocate para os vinhos que você desenvolveu para a Bodega
Achaval-Ferrer, da Argentina?
R. Cipresso: A Bodega Achaval-Ferrer conseguiu com seu trabalho e com os seus vinhos uma importante maneira de fazer o vinho na Argentina e tem contribuído com o
desenvolvimento potencial deste setor no pais. Robert Parker
avaliou a empresa considerando isso e
recompensou seus vinhos com
ótimas notas, sendo que a maior pontuação - 99/100 - foi atribuída ao Finca Altamira 2009.
R. Ruschel: Qual o segredo dos vinhos da Bodega Achaval-Ferrer?
R. Cipresso: Creio que essencialmente
estes vinhos reforçam o terroir das uvas onde foram cultivadas, e nós apenas
encorajamos a sua expressão o mais próximo possível nos seus vinhos, ao invés
de, como era feito em muitos casos no passado na Argentina, tentar fazer um
vinho imitando as escolhas de outros países como os Estados Unidos e o Chile.
(Abaixo: Cipresso mergulhado no trabalho
na Achaval-Ferrer).
R. Ruschel: Como você conhecer Galvão Bueno? Bueno me disse que vocês dois,
mais do que sócios são irmãos de alma. Como você vê o futuro com a Bueno Wines?
R. Cipresso: Eu conheci
Galvão Bueno há alguns anos atrás em Montalcino, e nós imediatamente entramos
no mesmo comprimento de onda. A partir de nosso primeiro acordo comercial
nasceu uma amizade muito sincera que vai além de fazer o vinho juntos. Nossos
projetos relacionados ao vinho são feitas em duas grandes apostas: no vinhedo
de Montalcino para a produção do Brunello Bueno-Cipresso, e a realidade
brasileira na campanha gaúcha, com o projeto Bellavista.
“Toscana e Campanha
Gaúcha são dois terroirs e duas empresas que a
única coisa têm em comum é o mesmo sol”
R. Ruschel: Como você avalia o trabalho com a Bueno Wines na campanha gaúcha,
na serra gaúcha e na Toscana? Dá para fazer algum paralelo entre estes tres
terroirs?
R. Cipresso: Estes são projetos muito diferentes e como as qualidades do solo influenciam o tipo de produtos que podem ser
obtidos, isto se torna fascinante porque a
única coisa que as duas empresas têm
em comum é o mesmo sol.
R. Ruschel: Como é o Projeto Winecircus, a cantina-laboratório? Quais os
principais resultados? Quais são os planos futuros?
R. Cipresso: O Winecircus é minha
adega experimental, algo assim como minha oficina de pesquisas. Ela também tem sede
em Montalcino e conta com uma forte equipe de profissionais que me apoiam. Aqui, as uvas se tornam
alguns dos produtos que eu acabo produzindo (como o Brunello Bueno-Cipresso),
mas ao mesmo tempo realizo meus experimentos
e pesquisas que podem levar a minha própria linha de vinhos - La Quadratura del Carchio, Il Punto, Il
Pigreco e l’Eureka. (Na foto
abaixo, alguns dos produtos de Cipresso).
R. Ruschel: Como é o projeto Winetailor? Como funciona? Quais os principais
resultados? Quais são os planos futuros?
R. Cipresso: Winetailor é a "construção"
de um vinho "sob
medida", o que em outros países é chamado de “vinho de garagem”. Existem
muitos amantes do vinho que querem fazer
um produto com a sua personalidade, sob encomenda, e não só a configuração da mistura, o tipo de vinho, mas também a embalagem.
Como muitos não vão ter uma chance porque não
possuem uma vinha e uma adega, eu
os ajudo como consultor. É também
uma forma de financiar e de desenvolver
os produtos de micro-vinificação que
pesquiso no Winecircus, apenas para fins de investigação, a partir de vinhas heróicas
e variedades esquecidas. Então os fãs que vêm a
mim como clientes para obter um vinho "sob medida", ao mesmo tempo que perseguem
seus objetivos, financiam minhas pesquisas. E todos saem ganhando. (Na foto abaixo uma destas
turmas de alunos e fãs.)
R. Ruschel: Como foi fazer o vinho do Papa? Como é este vinho?
R. Cipresso: É um vinho doce, obtido pela associação de diferentes
variedades de uvas cultivadas em diferentes
regiões do território italiano, e foi
uma encomenda da Città del Vino, a Associação
Italiana de Cidades do Vinho, em homenagem a João Paulo II por
ocasião do Jubileu do ano 2000, uma atividade importante
para os católicos, que se repete de 25 em 25 anos.
(Meu caro leitor: In Vino Viajas entrevistou Paolo Benvenuti, o diretor executivo da Associação Italiana de Cidades do Vinho, a Città del Vino; veja o link no fim desta matéria.)
(Meu caro leitor: In Vino Viajas entrevistou Paolo Benvenuti, o diretor executivo da Associação Italiana de Cidades do Vinho, a Città del Vino; veja o link no fim desta matéria.)
“Tenho algumas garrafas do vinho da
Unificação e gostaria de levar para os prefeitos de Garibaldi e de outros municípios do sul do país; seria também uma boa
ocasião para realizar uma conferência sobre o vinho italiano, precisamente no dialeto Vêneto/Talian”
R. Ruschel: Como foi fazer o vinho dos 150 anos da Unificação da Itália? Como é este vinho? Como você produz
vinhos na serra gaúcha, como é possivel fazer uma ligação da Serra Gaúcha com a
Unificação da Itália?
R. Cipresso: O vinho para a celebração do 150º aniversário da unificação
da Itália também nasceu em colaboração com a Associação de Cidades do
Vinho da Itália, e foi produzido a
partir de 150 variedade de uvas, cada uma representando uma
região italiana. Tivemos que estudar com muito cuidado a
fim de obter o melhor equilíbrio
possível entre uvas, porque estávamos combinando diferentes histórias e peculiaridades culturais. Algumas dessas garrafas foram preservados e sonho um dia poder
entregar algumas ao prefeito da cidade de Garibaldi e
aos prefeitos das cidades
vizinhas, nas quais o dialeto veneziano na sua
versão talian ainda está vivo. Na verdade creio que esta
seria uma boa ocasião para realizar uma conferência sobre
o vinho italiano precisamente no dialeto Vêneto/Talian. Vamos
realizar este evento?” Na foto abaixo, este repórter com Galvão Bueno e Roberto
Cipresso.
O
idioma vêneto falado especialmente nas regiões vinícolas do sul do Brasil é considerado
arcaico quando comparado ao vêneto falado atualmente na Itália. Dialetos como
vêneto, piemontese, trentino e toscano falados na Itália antes da unificação do
país, que vieram com os imigrantes, acabaram se fundindo entre si e misturando com o
português para criar o Talian, o segundo mais
importante idioma do Brasil, falado regularmente por cerca de 500 mil pessoas
em 133 municípios brasileiros. Roberto
Cipresso pensa em fazer uma conferência sobre o vinho italiano neste dialeto,
eventualmente analisando seu uso na atividade vinícola. Saiba mais sobre o Talian aqui: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/10/veneto-trentino-e-toscano-veja-como.html
Quando estive com Roberto Cipresso, me comprometi a ajudá-lo a realizar este evento. Ele pensa em fazê-lo em Garibaldi, na serra gaúcha, por causa da proximidade com a comunidade do Vêneto e da atividade vinícola, sendo que a conferência pode ser parte ao vivo e parte por internet. Acredito que poderemos contar com o apoio de Ivane Favero, secretária de Cultura e Turismo de Garibaldi. Quem mais poderia ajudar? Todo tipo de apoio será bem-vindo; comente aqui embaixo ou envie e-mail rruschel@uol.com.br que passarei para o Cipresso.
Se
conseguirmos realizar o evento imaginado por Roberto Cipresso poderemos abrir
uma Garrafa de vinho, ou uma “Garafa” (em Talian), uma “Botiglia” (em Vêneto
Original) ou então uma “Bottiglia”, no italiano atual.
Veja a entrevista com Paolo Benvenuti, diretor da Città del Vino em
Veja a entrevista com Paolo Benvenuti, diretor da Città del Vino em
(*)
Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e aceita ajuda para ajudar Roberto Cipresso
e suas ideias culturais.
Caro amigo Rogério, é com grande prazer que me disponibilizo para auxiliar na realização deste evento. Tive o prazer de conhecer e conviver alguns dias com o enólogo Roberto, na ocasião da Seleccion del Sindaco 2015, no Palácio do Marques de Pombal em Oeiras, Portugal. Realmente uma excelente pessoa e muito profissional!
ResponderExcluirInfelizmente não posso comentar sobre seus vinhos, pois ainda não tive a oportunidade de os provar...
Dessa forma, deixo aqui registrado o meu interesse em disseminar a cultura ligada ao vinho e suas repercussões na atividade turística.
Olá Joice, obrigado pela oferta, você é muito bemvinda. Abraços
ExcluirConte comigo! Abraços
ResponderExcluirIvane, será muito bom poder contar com tua experiencia, muito obrigado.
ExcluirIvane, por favor me envia teu e-mail para rruschel@uol.com.br. obrigado
Excluir