Por Karina de O Noçais
(*)
Exclusivo para In Vino Viajas - Quando comecei a escrever este post sobre Bordeuax consegui umas fotos
antigas com a família Guignard, e quando as mostrei para o Rogerio Ruschel,
editor do In Vino Vianas, ele decidiu começar esta história mostrando algumas
delas - como a que abre este post, uma cena da vindima na propriedade Guignard
em uma época não identificada, mas provávelmente nos anos 1950.
Quando falamos em Bordeaux alguns pensam que é uma denominação de origem
controlada da França (AOC). Isto está certo, mas na verdade dentro da região de
Bordeaux existem 57 AOC's – e Medoc, na foto acima, é uma delas. Trata-se do
maior vinhedo demarcado em extensão do mundo, que produz 660 milhões de
garrafas todo ano – e garrafas de alta qualidade, é claro. Isso quer dizer que
quem gosta teria que beber muito vinho para poder conhecer cada uma das
sub-regiões, sendo as principais Médoc, Entre-Deux-Mers, Graves, Sauternes,
Saint-Emillion, Barsac e Libournais. São vizinhas entre si, mas produzem vinhos
diferentes. Veja o mapa abaixo.
O terroir é o grande
responsável por essas diferenças – sutis mas importantes – entre os vinhos, já
que temos uma superfície muito grande e muitas diferenças geográficas e assim
temos uvas completamente diferentes em um mesmo lugar. Na foto abaixo, dos anos
1950, os Guignard preparam seu terroir
Além das diferenças entre uvas de mesmo tipo, temos a possibilidade de
fazer o corte (mistura entre as uvas diferentes, blend em inglês), entre 5
tipos principais que são cabernet sauvignon, merlot, peti verdot, malbec,
cabernet franc e carmenère, sendo as três primeiras as mais usadas. E o blend é
parte da arte francesa de produzir vinhos, e um dos segredos dos produtores de
Bordeaux, como a família Guignard que produz vinhos há 400 anos em Graves,
a quem pertencem estas fotos antigas. Aliás, para quem diz que a mulher entrou
no mercado de trabalho só recentemente, veja abaixo duas fotos “modernas” de
agricultoras dando duro nos vinhedos de Bordeaux.
Voltemos ao blend. Hoje além de ser professora de francês e sommelier,
trabalho representando comercialmente no Brasil uma vinícola de Bordeaux da
região de Graves, a Sélection Guignard, uma empresa tradicionalíssima, que
produz um dos vinhos mais conhecidos da região e talvez o mais antigo. Nesta
foto abaixo dá para ver o que hoje chamaríamos de “parte da frota de logística
de distribuição de vinhos em Bordeaux”...
A Selection Guignard é administrada por uma família que está no ramo de
vinhos há mais de quatro séculos; hoje três irmãos cuidam dessa propriedade
(na foto abaixo, o pai deles). No lugar onde foi a casa da família no passado,
hoje é a sede da empresa.
Na foto abaixo Monsieur Guignard, o pai dos irmãos
que hoje administram a empresa, examina as videiras no vinhedo tendo ao fundo o
château de Roquetaillade, propriedade da familia.
Como para quem gosta de vinhos é uma oportunidade fantástica conhecer
uma experiência bordolesa de 400 anos, pedi a Bruno Guignard, um dos filhos e o
enólogo da empresa para compartilhar um pouco de sua experiência conosco. Ele
não é de falar muito, mas consegui algumas respostas.
Karina: O que você faz na Séléction Guignard?
Bruno: Sou o enólogo, sou responsável pela colheita, a vinificação e do
cultivo do vinho. Sou responsável também por alguns mercados como Ásia, Russia
e Brasil.
Karina: Qual é o
segredo para fazer um bom vinho?
Bruno: Infelizmente não há uma receita milagrosa para fazer um bom
vinho. Se houver um segredo é o terroir! É a base de tudo.
Karina: Qual a
importância do enoturismo para a Séléction Guignard?
Bruno: Bordeaux é uma região que vive da vinicultura, dos vinhos, da
gastronomia e do turismo. Bordeaux foi a primeira região vinícola do mundo a
criar um roteiro para visitantes. Para nós é uma coisa muito boa. Além das
atrações tradicionais na região (uns 30 roteiros diferentes) hoje há um
percurso de vinhos de Graves e de Sauternes
(http://www.bordeaux-graves-sauternes.com/) que proporciona ao visitante toda a
experiência que a cultura do vinho pode nos oferecer é a primeira em Bordeaux
que em um lugar só encontramos o que precisamos, meu irmão Dominique é que está
à frente desse projeto. Na propriedade nós recebemos visitantes, mesmo no fim
de semana e o durante o verão. Os amantes de vinho gostam muito de encontrar os
viticultores e de entender como se faz o vinho.
Aqui no Brasil a
Vinho e Ponto tem alguns dos vinhos da Selection Guignard como o Château
Roquetaillade La Grange tinto 2009 e o Château Le Bernet tinto 2010 e branco
2013.
Uma cidade
encantadora
O que eu faço é apaixonante, pois com o francês eu
dou aula no Brasil, sou guia turística na França e tenho um contato direto com
meus vinhos prediletos, os de Bordeaux. Bordeaux é uma
cidade que tudo nos inspira a tomar a bebida de Baco. Tinto, branco ou rose, o
vinho está por todos os cantos e centenas de bares e restaurantes, além da
“Maison du Vin” onde acontecem cursos, degustações ou você simplesmente pode tomar vinho em taça das regiões de Bordeaux. Pelas ruas encontramos algumas vinhas em
restaurantes na entrada ou podemos visitar o museu do vinho, ou ainda conhecer
o porto que foi o primeiro da França. Abaixo, a Place de La Bourse.
Em Bordeaux temos atrações para todos os gostos, já que tudo tem
história. É uma região que por muito tempo pertenceu aos ingleses, então
podemos aprender um pouco da história desses países. Com uma arquitetura
deslumbrante - e uma grande área tombada como Patrimonio da Humanidade pela Unesco - ela encanta a todos que a visita, e mesmo para os que não gostam
tanto de vinho, é um passeio incrível. A primeira vez que fui à Bordeaux achei
que em três dias poderia conhecer esse lugar, mas hoje sei que precisamos de
muito tempo para termos uma ideia de como é rica essa região na cultura do
vinho e de história juntos. Tive uma vantagem: conhecer a língua francesa me
ajudou muito, uma vez que saindo de Paris o inglês fica mais raro de encontrar
e os cardápios com especialidades da região francesas são mais específicos.
O enoturismo é muito difundido na região de Bordeaux, e podemos conhecer
vinícolas com hora marcada no “Office du Turisme”. Muitas vinícolas também
recebem visitantes em inglês, mas com menos horários do que as visitas em
Francês, e se você quiser visitar os grandes nomes tem que fazer as reservas o
quanto antes para conseguir. O passeio pode ser feito de carro, de bicicleta e
desde o ano passado uma empresa de barcos está fazendo esse passeio de uma
forma luxuosa e confortável (veja em http://www.rubiatur.com.br/). Na Gare Saint Jean, na foto acima, você encontra linhas de trens para toda a França e de bondes na cidade.
Todo esse cenário
fica ainda melhor quando estamos sentados em um dos restaurantes ou brasseries
“bordolais” com uma taça de vinho e degustando um dos pratos regionais como o
“Entrecôte à la Bordelaise” ou em um café comendo um “Cannelé” com os aromas de
um lugar que é mágico. Espero que tenham gostado desse pequeno passeio pelos
vinhedos e histórias de Bordeaux.
(*) Karina de O Noçais (karina.nocais@yahoo.com.br) é
formada em Letras pela pela PUC-SP e professora de francês; formada em um curso de Sommelier pela
ABS, trabalha com vinhos de Bordeaux.
Adorei...
ResponderExcluirMerci, Henry
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