O
ranger acendeu o holofote e levei um susto ao ver uma leoa enorme, agachada na escuridão, a menos de
cinco metros de mim, os olhos brilhantes fixos em um grupo de gazelas a 50
metros de distância. Congelei ainda mais (era uma madrugada muito frio), porque
com apenas um salto ela me alcançaria, já que o Land Rover era aberto.
O repórter atendo na savana
Esta cena de
safari fotográfico, emocionante e assustadora para quem está lá naquele
momento, é inesquecível. Era a segunda vez que ia à África do Sul como
jornalista convidado, já havia feito um safari deste tipo e sabia que o risco
de um acidente é mínimo porque os animais não atacam seres humanos que estejam
em veículos (ou elefantes). Mas a sensação de estar assim tão perto de animais
selvagens, meu caro leitor, é uma imagem que gruda no cérebro para sempre, reforçada com o
cheiro, a cor, os movimentos, os uivos e rosnares e as reações de susto das
pessoas.
Passeando em elefantes
O ano era 2005
e eu estava no Kapama Private Game Reserve, com 13.000 hectares, o maior de um único proprietário na região e um dos mais sofisticados da África
do Sul, perto do aeroporto da cidade de Hoedspruit e próximo do mais importante parque de safari fotográfico do mundo, o
Kruger National Park, na provincia de Limpopo, cerca
de 450 Km de Joanesburgo.
O Kapama estava
inaugurando o lodge do Camp Jabulani (o parque tem quatro lodges) e passou a ser o
primeiro a oferecer passeios com elefantes no país. A empresa importou 14 elefantes do Zimbabue, junto com os tratadores/guias que
falam um idioma que os elefantes entendem (sim, além de gestos, alguns
elefantes entendem até 64 palavras de comando,
em inglês, como Stop, Go, Now, Run, etc.).
No Kapama levei
uma vida de artista de Hollywood, porque se come bem, dorme bem e bebe bem –
turismo de primeira cla$$e! Fiz um passeio de umas duas horas pela savana (o
“bush”) montado num elefante dócil, mas poderoso (eles arrancam galhos enormes
de árvore para se alimentar, enquanto caminham), vendo e fotografando bufalos,
zebras, javalis, girafas, antílopes, leopardos, hienas, rinocerontes e leões.
Voltei no fim da tarde ao ponto de partida, um acampamento montado ao lado de um lago onde fui recebido como um ingles em filmes dos anos 70: encontrei uma mesa grande com cadeiras, coberta por toalha de linho, com frutas, queijos, salgadinhos e espetinhos de carne de javali e veado e sucos, água, vinho e champanhe. Me senti o próprio "buana", meu caro leitor.
Voltei no fim da tarde ao ponto de partida, um acampamento montado ao lado de um lago onde fui recebido como um ingles em filmes dos anos 70: encontrei uma mesa grande com cadeiras, coberta por toalha de linho, com frutas, queijos, salgadinhos e espetinhos de carne de javali e veado e sucos, água, vinho e champanhe. Me senti o próprio "buana", meu caro leitor.
Lounge do Kapama
Estavam à
disposição do grupo garrafas de vinhos riesling (brancos) e merlot, pinot noir e
pinotage, uma cepa nativa da África do Sul, criada em 1925 através do
cruzamento de Pinot Noir e Cinsaut, todos da região vinífera de Stellenbosch,
que fica cerca de 30 minutos de carro da Cidade do Cabo. Optei pelo pinotage e
bebi com calma, enquanto por perto rangers armados ficavam de olho nos
rinocerontes que pastavam pelas redondezas. Na linha do horizonte pude
acompanhar o maravilhoso por de sol na savana africana. Coisa de cinema.
Minha cabana no Kapama
Vinhos: herança holandesa e francesa
A África
do Sul fabrica vinhos desde meados do século 17. Em 7 de abril de 1652, o
holandês Jan van Riebeeck chegou ao país para instalar uma base para a Companhia da Índia Oriental
Holandesa em Table Bay e logo percebeu que o clima era propício para
a produção de vinhos. As primeiras cepas vieram de navio da França e a primeira
safra foi produzida em 1659. Vinte anos depois foi fundada a nova cidade de
Stellenbosch - que visitei - hoje o centro da produção de vinhos na África do Sul.
No ano de 1688, fugindo de perseguições
religiosas, protestantes franceses chegaram ao país trazendo know-how sobre
vinicultura e se instalaram na região chamada “canto francês” (Franschhoek). A
produção se expandiu no
século 18 quando as Guerras napoleônicas cortaram o fornecimento de vinhos
franceses à Inglaterra. Em 1886 uma doença dizimou os vinhedos e com o início
da guerra anglo-bôer a indústria quase quebrou. A estabilidade só voltou no fim
da Primeira Grande Guerra com o estabelecimento, em 1918, da Associação da
Cooperativa de Vinicultores, ou KWV, que funciona até hoje, representando cerca
de 5.000 produtores de vinho.
KWV Cathedral Cellar no Paarl Wine Emporium, na Rota do Vinho de Cabo, na Provincia Western Cape (Foto cortesia do South Africa Tourism)
Hoje a indústria do vinho sul-africana está dividida em cinco grandes regiões, mas a principal está situada na província do cabo leste, no sudeste da África. O clima mediterrâneo, quente e ensolarado, mas não muito quente, além das montanhas ricas em granito e ardósia que armazenam água, fazem dessa região, um ótimo cenário para a produção de vinhos de qualidade. Além da uva Pinotage (uma variedade quase exclusiva à África do Sul), são produzidos vinhos com uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Shiraz e Pinot Noir (tintas) e Chenin Blanc, Colombard, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling e Semillon (brancas). Vamos falar mais de vinhos sul-africanos em um próximo post, caro leitor.
Além do safari
Embora mundialmente conhecidos, safáris
fotográficos são apenas uma das atrações da África do Sul - e uma boa razão
para conhecer este belo país. Os mais de 8 milhões
de turistas que anualmente chegam a África do Sul – especialmente europeus e
norte-americanos, além de visitantes do próprio continente – procuram também o
encantamento das belas paisagens, a riqueza folclórica das etnias, o conforto
de hotéis de qualidade internacional, a gentileza da hospitalidade e o valor
cambial da moeda.
O bush, onde a aventura acontece
Joanesburgo é a principal cidade do país, o portão
de entrada dos vôos internacionais. Criada em torno da mineração de ouro,
Joanesburgo (ou “Josbérg”, como eles chamam) é uma cidade grande, centro dos
negócios do país e um dos principais do continente africano. Entre as atrações
estão o Museu da África (bonito, com uma seção de Antropologia interessante), o
novo Museu do Apartheid (que conta a história da intolerância racial do ponto
de vista dos sul-africanos), a Gold Reef City (reconstrução da cidade do tempo
dos pioneiros), e o bairro negro Soweto (sigla para South Western Township,
criado no “apartheid” como uma cidade para negros), terra de dois Prêmios Nobel
– Nelson Mandela e o Bispo Desmond Tutu.
Vista aérea de Joanesburgo
Na Provincia de Gauteng, próximo de Joanesburgo,
estão as Sterkfontein Caves (hoje Patrimônio Histórico da Humanidade), onde
foram descobertos os mais importantes achados paleontológicos do mundo. Embora moderna e cosmopolita, com
grandes hotéis internacionais, Joanesburgo não é bonita como Cidade do Cabo,
não tem o poder político de Pretória, a capital, que fica a apenas 50 quilometros,
não oferece paisagens maravilhosas como a das rotas vinícolas do Cabo, e não
tem praias como a região de Durban ou o Garden Route.
Joanesburgo, vizinha de Pretória, a capital, é o motor econômico do pais, mas
não esgota a preferência dos turistas na África do Sul.
Aliás, Durban é o tema do próximo post, em breve
aqui no blog. Por enquanto um brinde, caro leitor. Ou sawabona (você é importante para mim) como dizem os zulus!
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Saiba mais sobre a África do Sul em
· África do Sul: aventura, safaris e pinotages -
http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/07/africa-do-sul-aventura-safaris-e.html
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