Por Rogerio Ruschel
Meu prezado amigo ou amiga, semana passada ganhei
um simpático presente do Marcelo Saraiva, um importador de vinhos que vem fazendo
um trabalho valioso para os que gostam de exercer o livre arbítrio no mundo do
vinho. Ele visita, prova e escolhe rótulos de adegas pequenas e dedicadas de
países com tradição vinícola mas fora do convencional.
Faz isso há 15 anos, mas
abriu a importadora no ano passado. Deu a ela o nome Distintos Wines (não
poderia ter outro nome, concordo!!!) e os vinhos são escolhidos na Áustria, Bulgária,
Turquia, Grécia, Eslovênia e Romenia, entre outras fontes. Marcelo pediu minha
opinião sobre dois tintos: um Cabernet Franc 2015 da Aurora, uma empresa
familiar do Líbano, e um Plavac 2015 da Vina Caric, da Croácia. Pois provei o
libanês no fim-de-semana – e estou com saudades até agora…
O
Cabernet Franc 2015 da Aurora é uma dupla raridade: pela origem (é um vinho da
Vila Aoura, de altitude média nas montanhas Batroun, do Líbano) e por ser 100%
Cabernet Franc, uma uva usada geralmente para fazer cortes em Bordeux (de onde teóricamente
é originária) e em outros países, e muito importante na região do vale do Loire,
onde foi introduzida no século XVII se transformando na principal uva tinta.
O
vinho que provei é produzido em escala reduzida (1.500 garrafas/ano), em terras
de solo argiloso, com colheita difícil, feita à mão, na segunda semana de
setembro nos 2,5 hectares rodeados por oliveiras e carvalhos, da familia Gearas
(foto acima). Foi envelhecido por 12 meses de em barris de carvalho, dos quais
30% em barris novos, e tem recomendação para guarda de 5 anos. Custa R$ 298,39.
Nestes
tempos de quarentena fui com muuuuuita calma. Decantei por 60 minutos beliscando
queijinhos e depois degustei-o com carne vermelha feita na panela com alecrim,
sal, alho, brócolis, alguma pimento bem light com complemento de cenoura e
mandioquinha feitas no vapor. Trata-se de um vinho cor vermelho vivo,
estruturado (e por isso suave e macio), encorpado na medida, com evidentes
frutas vermelhas e uma memória de caramelo. Na ficha do importador consta final
com menta, mas não senti tanta menta assim. Mas a permanência, o retrogosto,
esse sim, foi um espetáculo: chamo isso de um vinho feliz que permanece quase
um minuto alegrando a boca... Para terminar, a sobremesa foi pêra – uma pêra
portuguesa doce, sumarenta, deliciosa.
Os
vinhos do Líbano são pouco conhecidos até porque a produção é pequena (os
muçulmanos, cerca de 60% da população, não bebem álcool) e nos últimos 50 anos
o território esteve conflagrado políticamente. Mas esta região produz vinhos que
são dispersados pelo mundo há séculos. A própria cidade de Batroun, que fica no
litoral a cerca de 50 Kms da capital Libano, resistiu por séculos a invasões de
gregos, romanos, muçulmanos, cruzados, otomanos e franceses – e vem
recepcionando turistas com tantas atrações que foi incluído como um dos 10
lugares para se visitar em 2020 pela rede de TV CNN.
Para
quem não lembra, o Líbano
é um pequeno país na Ásia
Ocidental espremido entre o Mar Mediterrâneo, a Siria e Israel. Com um
território de 10.452 km², foi o lar dos fenícios, povo semita conhecido por sua
cultura maritima e imagem de excepcionais comerciantes, que entre
os anos 2700 e 450 a.C levaram seus
produtos para todos os cantos do mundo. Vinho certamente era um deles, para
beber, vender, trocar. Pois agora você pode provar uma destas heranças
libanesas selecionadas por um importador que preza o estilo de vida – e adora
falar de vinhos e viagens - sem ter que atravessar metade do planeta e subir as
montanhas salinizadas de Batroun. Bebo a isso.
Veja mais aqui: https://www.distintoswine.com.br/ - (11) 99550-5426
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