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terça-feira, 7 de julho de 2020

Muita alegria e 2 mil anos de tradição esperam os visitantes nas festas da Abertura das Talhas e da Vitifrades, na Vidigueira, Alentejo, Portugal

Por Rogerio Ruschel
EXCLUSIVO – Entrevista com Luis Amado, ex-Presidente da Junta, vinicultor e  empresário de turismo de Vila de Frades.
Meu estimado leitor ou leitora, vou ajudá-lo a descobrir um precioso segredo que a aldeia de Vila de Frades, no Concelho (município) de Vidigueira, Alentejo, em Portugal, mantém preservado por 2.000 anos: o Vinho da Talha. É um segredo porque o vinho de talha que ainda é produzido como os romanos o faziam quando habitavam esta região da Peninsula Ibérica, só existe aqui. E é precioso porque se trata de um vinho fresco, saudável, com potente identidade territorial e por isso mesmo com muita agregação de valor, razão pela qual está na moda na Europa. Na foto de abertura, a alegria da abertura das talhas em uma das adegas familiares da região.
Vem comigo. E vou ajudá-lo a viver as duas melhores experiências turísticas que cercam o vinho de talha, em locais com o Selo Clean & Safe do Covid-19: o ritual festivo da Abertura das Talhas e a Vitifrades, a grande Festa do Vinho de Talha. Estes são eventos que integram o patrimônio cultural do vinho de talha que está sendo inscrito no Inventário Nacional do Patrimônio Cultural e Imaterial de Portugal e futuramente será candidato na Lista do Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade da Unesco.
Os leitores de In Vino Viajas sabem que gosto deste vinho e admiro o contexto cultural e patrimonial em que ele está inserido, razão pela qual tenho publicado vários artigos sobre o tema, cujos links você encontra no final desta entrevista. Para que você possa conhecer esta experiência como um turista privilegiado, entrevistei Luís José Roque Amado, produtor de vinho de talha em Vila de Frades e também diretor da Janelas do Turismo, agência de turismo. Presidente da Junta de Freguesia de Vila de Frades por três mandatos, Luis Amado foi também Membro da Assembléia Municipal de Vidigueira por quatro mandatos. Com a palavra, Luis Amado, o cidadão da foto abaixo.

In Vino Viajas - Existe alguma estimativa sobre o volume de produção de vinho de talha no Alentejo?
Luis Amado - A produção de vinho de talha divide-se em três gavetas diferenciadas, a primeira, dos produtores que nas suas adegas o produzem para consumo próprio e com amigos, numa vertente mais social; a segunda, dos produtores que com as suas adegas abertas vendem o vinho a garrafão, como aliás sempre foi costume; e a terceira, os produtores que já têm marca e vinho certificado e com rótulo próprio. Estes últimos, a estimativa de produção é calculada, já nos anteriores não é possível, porque depende muito das colheitas, e da vontade própria de cada um, por isso é muito variável.
In Vino Viajas - O que é a Abertura das Talhas e a celebração Vitifrades, as Festas Báquicas? É sempre na segunda quinzena de dezembro?
Luis Amado - A Abertura das Talhas é um ritual, ou costume popular que visa assinalar o vinho novo, o vinho de talha desse ano, que cada produtor ostenta com orgulho e assinala abrindo as talhas normalmente por altura do São Martinho, dia 11 de novembro, convidando amigos e brindando. Já a Vitifrades é a Grande Festa do Vinho de Talha e realiza-se em Vila de Frades há vinte e dois anos, realizando-se normalmente no segundo fim de semana de dezembro. O vinho de talha é servidom copos, como mostra a foto abaixo.
In Vino Viajas - Estas festas estão consideradas na calendário promocional do Turismo de Vidigueira, do Alentejo e do Turismo de Portugal?
Luis Amado - A Abertura das Talhas é um evento lançado e promovido pelas Janelas do Turismo há três anos, que tem tido como foco algumas adegas de Vila de Frades, com um programa cultural, provas de vinhos, petiscos e cante alentejano, mas só este ano irá integrar os canais de promoção do Turismo do Alentejo e do Turismo de Portugal, já que localmente tem sido muito difícil e é trabalhar mais por conta própria e sem os apoios necessários, mas com o tempo iremos fazer crescer o evento e coloca-lo em todos os calendários.
Já as Festas Báquicas, a Vitifrades, pela sua longevidade e enraizamento local é só por si uma fonte de referência e calendarizada na promoção dos eventos locais, embora eu ache que ainda um pouco ofuscada, atendendo à dimensão e importância do certame.


In Vino Viajas - Quais são as experiências e vivências dos quais os turistas podem participar?
Luis Amado - Além dos eventos que anteriormente foram mencionados, como a Abertura das Talhas e a Vitifrades, que já atraem muita gente a este território, o vinho de talha, a história e a tradição que está ligada ao seu processo de vinificação é só por si um veículo de chamamento e atrativo ao turista.
O facto de se proporcionarem momentos em pequenas adegas típicas, bebendo o vinho aparado da talha, ouvindo o próprio produtor a contar como produziu o seu vinho, a provar as melhores iguarias alentejanas, como uma linguiça caseira assada, umas azeitonas pisadas temperadas com orégãos e com pão da Vidigueira ainda cozido em forno de lenha, é um prazer que estas gentes não abdicam e que gostam de abrir a sua adega e por a melhor mesa para que os visita.
In Vino Viajas - Os turistas podem participar como jurados em concurso de vinhos de talha?
Luis Amado - Não. O concurso dos melhores vinhos de talha promovido pela Vitifrades já leva vinte e dois anos, abrangendo a região vitivinícola de Vidigueira, Cuba e Alvito e é o único concurso de vinhos de talha em todo o país. No mesmo participam todos os produtores que levam a concurso os seus vinhos em três categorias, o branco, o tinto e o palhete (rosé), ou petroleiro, como era vulgarmente conhecido esse vinho em Vila de Frades.
O concurso divide-se entre os três primeiros prémios e as menções honrosas e tem como jurados a organização do evento, alguns especialistas ligados aos vinhos, e todos os anos é escolhido um produtor local que daí constituem o júri numa prova cega que dá origem à atribuição dos prémios, que é um dos momentos altos da Feira e motiva aqueles que produzem vinho de talha.
In Vino Viajas - Existem pacotes turísticos organizados para esses eventos? A Janelas do Turismo organiza visitas de grupos a Vitifrades, saindo de Lisboa nesta época festiva?
Luis Amado - Sim, existem, muitos e variados programas durante o período do vinho de talha, entre novembro e janeiro, mas a Vitifrades, a Grande Festa do Vinho de Talha é promovida pela Associação de Desenvolvimento Local Vitifrades, que através da sua direção e promove o certame em dezembro.
 Já a Abertura das Talhas, é a agência Janelas do Turismo que promove, como atrás referi. Mas para os dois eventos, e restante época do vinho de talha, temos pacotes turísticos que vão brevemente ser apresentados através da nossa página de Facebook e que visam levar os grupos a conhecer a essência das adegas, os produtores e a diversidade dos vinhos de talha, sendo que a Abertura das Talhas, não é um evento de Feira, mas sim, um evento que permite uma rota vinhateira e turística pelas terras que ainda mantém viva a tradição deste vinhos.
In Vino Viajas - Qual a capacidade de recepção de alojamentos de Vila de Frades e na região?
Luis Amado - A capacidade de alojamento não é muito grande, mas no meu entender é suficiente, estendendo-se por Vila de Frades, Vidigueira, Cuba e Beja, sendo a mesma dividida entre os Hotéis e alojamentos locais, que permitem receber e alojar os turistas em ambientes distintos, tanto urbanos, assim como rurais, nalguns casos, com outras atividades lúdicas associadas ao período de estadia em Portugal.
In Vino Viajas - Quais as atrações complementares na região para um turista que venha de bem longe, como do Brasil? A Janelas do Turismo tem um pacote para este tipo de turista?
Luis Amado - Sem dúvida, nós temos esquematizados programas tanto para o visitante ocasional, como para o turista que vem por exemplo do Brasil. A região Alentejo é muito fértil em ofertas, que vai desde o vinho, como dos produtos locais de excelência, como o pão, os queijos de cabra e ovelha, os enchidos, o mel, o azeite e muitos outros. A gastronomia alentejana, a Villa Romana mais bem conservada do Mundo, São Cucufate, as figuras históricas de Vasco da Gama ou Cristóvão Colombo, que estão aqui separadas apenas por dez quilómetros de Vidigueira a Cuba, as paisagens vinhateiras, as aldeias históricas, o branco do casario, o cante alentejano, o dialeto alentejano e os passeios de barco no Grande Lago de Alqueva, o Maior Lago Artificial da Europa, fazem deste território, um destino predileto.
Saiba mais sobre o vinho de talha:
Rota turística do Vinho de Talhga: http://www.invinoviajas.com/2019/05/vinho-de-talha/

sábado, 4 de abril de 2020

Aurora 2015, uma raridade na mesa: um Cabernet Franc muito distinto, com alma francesa e passaporte libanês

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado amigo ou amiga, semana passada ganhei um simpático presente do Marcelo Saraiva, um importador de vinhos que vem fazendo um trabalho valioso para os que gostam de exercer o livre arbítrio no mundo do vinho. Ele visita, prova e escolhe rótulos de adegas pequenas e dedicadas de países com tradição vinícola mas fora do convencional. 

Faz isso há 15 anos, mas abriu a importadora no ano passado. Deu a ela o nome Distintos Wines (não poderia ter outro nome, concordo!!!) e os vinhos são escolhidos na Áustria, Bulgária, Turquia, Grécia, Eslovênia e Romenia, entre outras fontes. Marcelo pediu minha opinião sobre dois tintos: um Cabernet Franc 2015 da Aurora, uma empresa familiar do Líbano, e um Plavac 2015 da Vina Caric, da Croácia. Pois provei o libanês no fim-de-semana – e estou com saudades até agora… 

O Cabernet Franc 2015 da Aurora é uma dupla raridade: pela origem (é um vinho da Vila Aoura, de altitude média nas montanhas Batroun, do Líbano) e por ser 100% Cabernet Franc, uma uva usada geralmente para fazer cortes em Bordeux (de onde teóricamente é originária) e em outros países, e muito importante na região do vale do Loire, onde foi introduzida no século XVII se transformando na principal uva tinta. 

O vinho que provei é produzido em escala reduzida (1.500 garrafas/ano), em terras de solo argiloso, com colheita difícil, feita à mão, na segunda semana de setembro nos 2,5 hectares rodeados por oliveiras e carvalhos, da familia Gearas (foto acima). Foi envelhecido por 12 meses de em barris de carvalho, dos quais 30% em barris novos, e tem recomendação para guarda de 5 anos. Custa R$ 298,39.


Nestes tempos de quarentena fui com muuuuuita calma. Decantei por 60 minutos beliscando queijinhos e depois degustei-o com carne vermelha feita na panela com alecrim, sal, alho, brócolis, alguma pimento bem light com complemento de cenoura e mandioquinha feitas no vapor. Trata-se de um vinho cor vermelho vivo, estruturado (e por isso suave e macio), encorpado na medida, com evidentes frutas vermelhas e uma memória de caramelo. Na ficha do importador consta final com menta, mas não senti tanta menta assim. Mas a permanência, o retrogosto, esse sim, foi um espetáculo: chamo isso de um vinho feliz que permanece quase um minuto alegrando a boca... Para terminar, a sobremesa foi pêra – uma pêra portuguesa doce, sumarenta, deliciosa.

Os vinhos do Líbano são pouco conhecidos até porque a produção é pequena (os muçulmanos, cerca de 60% da população, não bebem álcool) e nos últimos 50 anos o território esteve conflagrado políticamente. Mas esta região produz vinhos que são dispersados pelo mundo há séculos. A própria cidade de Batroun, que fica no litoral a cerca de 50 Kms da capital Libano, resistiu por séculos a invasões de gregos, romanos, muçulmanos, cruzados, otomanos e franceses – e vem recepcionando turistas com tantas atrações que foi incluído como um dos 10 lugares para se visitar em 2020 pela rede de TV CNN. 

Para quem não lembra, o Líbano é um pequeno país na Ásia Ocidental espremido entre o Mar Mediterrâneo, a Siria e Israel. Com um território de 10.452 km², foi o lar dos fenícios, povo semita conhecido por sua cultura maritima e imagem de excepcionais comerciantes, que entre os anos 2700 e 450 a.C levaram seus produtos para todos os cantos do mundo. Vinho certamente era um deles, para beber, vender, trocar. Pois agora você pode provar uma destas heranças libanesas selecionadas por um importador que preza o estilo de vida – e adora falar de vinhos e viagens - sem ter que atravessar metade do planeta e subir as montanhas salinizadas de Batroun. Bebo a isso.
 
Veja mais aqui: https://www.distintoswine.com.br/ - (11) 99550-5426

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

“O Brasil terá que adequar a legislação sobre produtos com Identidade Geográfica ao Mercosul e à União Europeia”, alerta especialista européia

Por Rogerio Ruschel
EXCLUSIVO – Entrevista com Ana Soeiro, Diretora Executiva da QUALIFICA/oriGIn Portugal e Vice-Presidente para a Europa do Movimento Internacional oriGIn.
Meu prezado leitor ou leitora, prestando mais um serviço para pessoas que procuram informação de qualidade como você, neste momento em que muitos brasileiros começam a despertar para a necessidade de investir na identidade territorial de agroalimentos para sobreviver ao Acordo Mercosul/União Europeia, In Vino Viajas entrevista uma das maiores especialistas no assunto no mundo.
Ana Soeiro (na foto acima) é Comendadora da Ordem do Infante D. Henrique pelo seu trabalho em prol dos Produtos Tradicionais Portugueses. Isto só já bastaria para avalizar seu trabalho, mas é apenas um dos reconhecimentos oficiais da Diretora Executiva da QUALIFICA/oriGIn PORTUGAL, Secretária-Geral da Associação Nacional de Municípios e de Produtores para a Valorização e Qualificação dos Produtos Tradicionais Portugueses (QUALIFICA), e Vice-Presidente para a Europa do Movimento Internacional oriGIn. Engenheira Agrônoma, Soeiro foi representante de Portugal no Comitê Europeu das Identificações Geográficas - IGs por 15 anos e desenvolveu o sistema de identificação e valorização dos produtos tradicionais portugueses em Portugal. É autora de publicações sobre produtos tradicionais e sistemas de qualificação (IGs) e já esteve no Brasil em várias Missões. Veja a seguir trechos desta entrevista.

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R. Ruschel: Qual o trabalho da Qualifica/oriGIn Portugal?
Ana Soeiro: "A QUALIFICA/oriGIn Portugal foi constituída em Outubro de 2008 como uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, com o objetivo de desenvolver entre outros, os seguintes objectivos:
a) Potenciar o trabalho já desenvolvido pelos membros, em matéria de valorização dos produtos, de melhoria das condições dos estabelecimentos, de promoção comercial, turística, cultural, ambiental e de defesa do consumidor, aumentando a cadeia de valor e a experiência efectiva no mercado;
b) Representar e defender os membros perante os órgãos de soberania e demais entidades públicas e privadas nas áreas de actuação que integram os fins e objectivos da Associação;
c) Criar e gerir marcas colectivas de associação, destinadas, designadamente, a assinalar os produtos, serviços, unidades produtivas e estabelecimentos que atinjam parâmetros previamente fixados em matéria de genuinidade, tradicionalidade, origem, características qualitativas diferenciadas ou modos de produção ou de prestação de serviços com características particulares e que, por tais condições, sejam motor de desenvolvimento e património cultural;
d) Promover o conhecimento, o uso e o respeito pelos produtos tradicionais portugueses, valorizando a sua função económica e a sua dimensão social e cultural e satisfazendo as expectativas dos consumidores, sem prejuízo da inovação, designadamente em matéria de formas de apresentação comercial e uso dos mesmos produtos;
e) Fomentar a comercialização dos produtos tradicionais, apoiando, melhorando e proporcionando a existência de estabelecimentos, mercados locais e específicos, circuitos e cadeias de comercialização, total ou parcialmente qualificados;
f) Defender e promover as IG, em Portugal e no Mundo, incentivando o respectivo registo nacional, comunitário e internacional e lutando contra a sua utilização abusiva ou fraudulenta;
g) Participar nos trabalhos e nas iniciativas da Rede Mundial oriGIn;
h) Defender o conceito de IG em Portugal e na Europa e contribuir para o seu desenvolvimento mundial;
i) Promover o reconhecimento do papel essencial das IG para o desenvolvimento sustentável;
j) Obter uma melhor protecção para as IG ao nível nacional e internacional.
Abaixo, castanhas de ovos de Aveiro.

R. Ruschel: São muitas tarefas; qual o quadro de membros associados?
Ana Soeiro: A QUALIFICA / oriGIn Portugal tem cerca de 130 membros em 3 tipos de associações:
1. Membros efectivos:
a) Municípios ou as suas associações;
b) Agrupamentos de Produtores;
c) Entidades de natureza pública ou privada, nacionais, regionais ou locais de cariz sócio-cultural, económico, profissional ou de solidariedade social;
d) Produtores, comerciantes e quaisquer outros agentes económicos;
e) Investigadores, professores e técnicos
2. Membros de honra - instituições e personalidades que prestem apoio relevante às actividades da entidade
3. Membros associados - entidades públicas ou privadas com interesse em apoiar, potenciar ou promover o trabalho desenvolvido pela associação.

R. Ruschel: Quais os serviços prestados aos associados?
Prestamos diversos serviços aos associados, com destaque para:
a) Apoiar os processos de qualificação dos produtos, das empresas ou dos nomes dos produtos dos seus membros, promovendo o seu registo a nível nacional, comunitário ou internacional;
b) Apoiar e defender marcas, patentes, logótipos e outras figuras de propriedade industrial que sejam pertença dos seus membros, ou por eles geridas, no âmbito da sua esfera de acção, podendo inclusivamente constituir-se como assistente em processos judiciais;
c) Apoiar o desenvolvimento e a estruturação dos Agrupamentos de Produtores, apoiando os seus esforços junto dos decisores e do público em geral para melhor conhecimento e defesa das suas IG e de outras marcas, promovendo a partilha de conhecimentos e de experiências;
d) Realizar manifestações culturais, tais como congressos, colóquios, seminários, encontros e conferências;
e) Promover e/ou elaborar estudos e projectos e filmes, livros e outras publicações;
f) Proceder ao inventário do património gastronómico e bibliográfico sobre as matérias abrangidas;
Em particular, a QUALIFICA/oriGIn Portugal desenvolveu uma parceria com uma empresa portuguesa e construiu e lançou um APP para os produtos tradicionais portugueses – a PTPT. Esta APP permite relacionar os produtos tradicionais, mutos deles com IG, descrevendoos mas também indicando quem são os seus produtores e em que locais podem ser adquiridos. Permite pesquisar por produto, por #tag, por município
 R. Ruschel: Qual o volume de negócios mobilizado por IGs no mercado mundial?
Ana Soeiro: Infelizmente não há dados actualizados sobre as IGs no mercado mundial, Num ponto de vista muito pessoal, acho que o volume de negócios actual é bastante elevado na medida em que:
a) Há mais IGs registadas , não só na União Europeia, mas em muitos outros países como Vietname, India, Marrocos, China, Ucrânia, México, Brasil, entre muitos outros
b) A UE tem estabelecido acordos comerciais ou similares com países ou com Grupos de países em que a protecção mútua das IGs está sempre presente. Estes acordos facilitam o comércio mundial das IGs e dão mais garantias aos produtores que os nomes dos seus produtos não serão imitados ou usurpados

“Com a Comissão Europeia colaboramos activamente na coordenação de cursos sobre o controlo das IGs, seja ao nível da produção, seja ao nível do Mercado. Neste cursos diversos técnicos brasileiros já receberam formação.”

R. Ruschel: Qual a representatividade institucional e técnica da Qualifica/oriGIn Portugal? Como é o relacionamento com o INPI e outros órgãos de governo português e europeu?
Ana Soeiro: A QUALIFICA / oriGIn Portugal é uma associação de direito privado e, como tal , não tem nenhuma representatividade institucional. No entanto, tem protocolos de colaboração com Universidades Públicas e com Institutos Politécnicos, com Instituições de Investigação Agrária e Zootécnica, com a Ordem dos Engenheiros, com Organizações socioprofissionais, com a Confederação dos Agricultores de Portugal etc. e com empresas privadas que se ocupam de exportação, de advocacia, de turismo, de controlo de produtos como DOP ou com IGP.
Mantemos um excelente relacionamento com o INPI e com a ASAE - Autoridade de Segurança Alimentar e Económica. Internacionalmente mantemos um excelente relacionamento com a OMPI/WIPO, com o EUIPO e com a Comissão Europeia, para além do Movimento Internacional oriGIn. Com a Comissão Europeia colaboramos activamente na coordenação de cursos europeus sobre o controlo das IGs, seja ao nível da produção seja ao nível do mercado, Neste cursos diversos técnicos brasileiros já receberam formação.
 R. Ruschel: A sra. já fez missões em 28 países e já esteve no Brasil várias vezes.
Ana Soeiro: Já estive por diversas vezes no Brasil seja a pedido da OMPI/WIPO, seja da Comissão Europeia, seja de entidades brasileiras - Universidades e outras. A minha participação teve início em 2009, em Porto Alegre, mas também já fiz missões no Rio de Janeiro, Fortaleza, São Luis do Maranhão, Patos de Minas, Brasília, Belo Horizonte, Ilhéus, Santa Catarina, Corupá, etc. sempre no sentido de dar a conhecer o sistema de qualificação, registo, protecção e controlo das Indicações Geográficas e dar formação e técnicos brasileiros do Ministério da Agricultura, do INPI, do SEBRAE, de Universidades e de Associações de Produtores e Comerciantes nestas áreas de trabalho, mas também a alunos universitários, técnicos de divulgação e técnicos de municípios. Abaixo, Pastel de feijão de Torres Vedras

R. Ruschel: Sobre o Acordo Mercosul - União Europeia, qual a perspectiva de Portugal a respeito do Acordo? E a perspectiva de outros países europeus?
Ana Soeiro: Em matéria de IGs penso que o Acordo UE – Mercosul não trará problemas maiores, já que há uma série de cláusulas temporais e de derrogações similares às que existem outros acordos da UE com países terceiros e que tivemos que aceitar. Embora as vezes com algum custo grave para os nossos produtores, face ao registo nesses países do Mercosul, de IGs europeias como se fossem meras marcas por parte de empresas não produtoras dos produtos com IG ou ao uso menos correcto ou mesmo abusivo de certas IGs europeias nesses países.
Sei da desilusão de alguns membros do Mercosul pelo facto de ainda não termos, na União Europeia uma legislação harmonizada que permita proteger as IGs de produtos não alimentares. Mas penso que num prazo razoável a UE disporá de tal legislação e nessa altura poder-se-ão rever os termos do Acordo para que as IGs dos não alimentares sejam mútuamente reconhecidas e protegidas.

“Os produtores conhecem muito bem os canais de escoamento dos seus produtos e as quantidades produzidas e podem auxiliar e muto as autoridades a controlar produtos quye fraudem as denominações de idenbtidade territorial”

R. Ruschel: Os prejuízos com a contrafacção (imitação fradulenta) são muito elevados. Existe alguma estimativa de redução dos prejuízos em 5 e 10 anos?
Ana Soeiro: Não conheço nenhum estudo nesse sentido, mas obviamente que o bom seria reduzir para Zero! Será provavelmente impossível de conseguir, mas o facto é que as entidades competentes dos diversos estados membros da UE trabalham cada vez mais em cooperação e há redes de alerta rápido para avisar/impedir a circulação e ou a importação de produtos contrafeitos e há bases de dados exclusivamente destinadas às autoridades e onde podem ser visualizados produtos e rótulos mas também onde podem ser registados os nomes dos infractores e os principais tipos de infracção cometidos.
Uma matéria que tem que ser seriamente ponderada pelas autoridades dos Estados membros é a de colaborarem cada vez mais com os Agrupamento de produtores que gerem as IGs. Os produtores conhecem muito bem os canais de escoamento dos seus produtos e as quantidades produzidas e podem auxiliar e muto as autoridades caso estas os ouçam com regularidade e compreendam que as maiores fraudes são efectuadas no mercado e não pela produção!
No que respeita às IGs há uma proposta muito interessante da Comissão Europeia para que deixem de poder circular no território europeu IGs contrafeitas, anda que destinadas a outros mercados não europeus. Dá-se, assim, um sinal claro de luta contra esta autêntica “praga” que lesa a economia dos produtores e dos consumidores! Todos são enganados e maltratados com as fraudes.

“O Brasil terá que pensar num futuro muito próximo em adequar a sua legislação - que não está harmonizada nem com a da União Europeia nem com a dos membros do Mercosul”

R. Ruschel: Quais os principais obstáculos para a expansão das IGs em países em desenvolvimento?
Em primeiro lugar estará talvez, a falta de conhecimento prático sobre o assunto, por parte das autoridades, dos produtores e dos consumidores. Outro obstáculo grande é a ausência de sistemas de controlo oficial em muitos desses países. O recurso a empresas de controlo, devidamente acreditadas, é normalmente caro e faz com que os produtores desses países acabem por lucrar pouco ou nada com a implementação do sistema de protecção das suas IGs.
 R. Ruschel: A senhora teria uma mensagem para produtores brasileiros a respeito das IGs?
Ana Soeiro: Eu julgo que no Brasil já há um conhecimento razoável do sistema por parte dos técnicos de muitos organismos de Estado, de Universidades e de alguns produtores.
Penso, muito sinceramente, que o Brasil terá que pensar num futuro muito próximo em adequar a sua legislação - que não está harmonizada nem com a da União Europeia nem com a dos membros do Mercosul, por exemplo – e em estruturar um sistema de controlo nacional que permita dar garantias ao consumidor sobre a genuinidade dos produtos com IG.
Claro que este sistema de controlo tem que ser feito ao nível da produção, mas também, e sobretudo, ao nível do mercado já que é neste segmento que se verificam, em todo o mundo, as maiores fraudes. Mas, mesmo assim e com todo o trabalho que há para fazer, as IGs recompensam isso!!"
Recebi a seguinte mensagem de Ana Soeiro: “Fiquei muito curiosa a respeito do seu livro “O valor global do produto local – a identidade territorial como estratégia de marketing”. Como posso conseguir um exemplar?“ Doutora Soeiro, obrigado pelo interesse, vou lhe responder pessoalmente. 
 
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