Por Rogerio Ruschel
Se a supertarifação de 25%
mais 100% sobre todos os vinhos europeus no mercado norte-americano a partir do
fim deste mes de janeiro de 2020 como determinado pelo governo dos Estados
Unidos de fato acontecer, as consequências podem mudar o mapa do vinho do
mundo. E de certa forma beneficiar os consumidores brasileiros. Veja porque.
A agência Reuters informa que a primeira consequência seria
a perda de vendas por parte dos maiores produtores europeus de vinho - e pelo
efeito cascata, de todo o negócio da vitivinicultura europeia. Três dos cinco
maiores produtores de vinho do mundo estão na Europa - Itália,
França e Alemanha, além dos EUA e a China. A União Europeia representa mais de 60% da produção
mundial de vinho de alta qualidade, mas segundo consta, apenas 8% da produção
vai para os Estados Unidos – o maior
consumidor, com 2,6 milhões de hectolitros em 2018. Pelo
menos diretamente, isso é, não contabilizando eventuais re-exportações que
passam por determinados países para chegar aos portos norte-americanos.
A segunda consequência seria a demissão de 78.000 pessoas
nos EUA e uma perda de 10 Bilhões de Dólares para o país. Isso porque afetaria
47.000 varejistas de vinho do país e mais de 6.500 importadores e
distribuidores.
Se a
supertaxação acontecer e permanecer, os europeus vão ter que exportar seus
produtos para outros mercados. Estes mercados teoricamente seriam a
Grã-Bretanha (que já tem seu próprio problema, com o Brexit), a China, o Japão,
a Europa “mais pobre” e a America Latina, onde o Brasil é o país com o maior
consumo em volume, e o que paga mais caro por mais produtos estrangeiros. Sim,
isso mesmo, os brasileiros são alguns
dos consumidores que poagam mais caro por rótulos ilusórios e fake-wines
fabricados por sommeliers contratados à la carte para elogiar. Para
cada 10 garrafas de vinho vendidas hoje no Brasil, apenas uma é nacional,
segundo Deunir Argenta, presidente da Uvibra. Em volume, o país importou 110
milhões de litros de vinho em 2018, em comparação com 14 milhões de litros de
vinhos finos nacionais vendidos no mesmo período.
Essas sobretaxas sobre o vinho europeu se originaram
quando o Escritório de Comércio dos Estados Unidos propôs no mês passado
impostos punitivos sobre as importações de vinhos e outros bens no valor de US
$ 2,4 bilhões, depois que se soube que um novo imposto francês sobre os
serviços digitais prejudicariam empresas americanas. E antes disso, uma
primeira taxação inesperada de 25% sobre os vinhos europeus já havia sido
imposta porque os norte-americanos estariam querendo “se vingar” da guerra
comercial entre a Boeing europeia e a Airbus norte-americana.
Sendo assim, pode ser que reduzindo
vendas para Estados Unidos e Inglaterra os europeus procurem aumento de vendas
no Brasil, o que, em tese, baixaria os preços aos consumidor final, embora saibamos
que a volúpia por lucro dos importadores, revendedores e supermercados (que se
justificam falando em impostos) é uma triste realidade. Neste caso quem pode
sofrer inesperadas consequências é o Chile, porque quase metade das importações
brasileiras veio do Chile no ano passado. Se fosse aqui no Brasil diriam que o
president está fazendo isso para beneficiar a Vinicola Trump gerida pelo filho Eric
Triump, enorme, mas que recentemente pediu permissão para
contratar estrangeiros para cargos rejeitados por trabalhadores norte-americanos…
Na sequência Portugal seria afetado em
seus planos em relação ao Brasil, embora tenha anunciado seu objetivo de
ultrapassar o Chile como maior exportador para opaís trppical em poucos anos.
Isso porque além de - potencialmente - ter que competir com produtos franceses
e italianos com preços em queda, os portugueses ainda teriam que se preocupar
com os 130 milhões de Reais provindos do IPI – Imposto sobre Produtos
Industrializados para criar o Fundo Modervitis, que será usado para apoiar
vinícolas brasileiras na concorrência com os importados no context do Acordo
Mercosul e Uinão Europeia. Leia sobre este Fundo aqui: http://www.invinoviajas.com/2020/01/brasil-vai-investir/
Será que vamos nos beneficiar com a
Guerra commercial entre os Estados Unidos e a União Europeia? Ou, por milagre,
será que finalmente os produtores brasileiros entenderiam que precisam
conquistar o mercado brasileiro com produtos de qualidade com relação
custo-benefício razoável, antes de querer lucrar em dólar?
Quem viver verá.
O mais provável é que os brasileiros (pelo menos os consumidores), não ganhem nada...
ResponderExcluirO Modervitis (a questão é quanto dos 130 mi vão sobrar - SE sobrar - após os permanentes contingenciamentos e cortes do orçamento) poderia ajudar a baixar o custo de fabricação, mas acho que provavelmente vão gastar tudo em divulgação/promoção (inclusive acho que os preços atuais do vinho nacional eles deveriam promover/divulgar mais o enoturismo do que o vinho...) além de quê, como comentaste, o custo não é bem o problema...