Por Rogerio Ruschel
Meu prezado leitor ou leitora, passei um fim
de semana me sentindo uma uva Pinot Noir. Explico. Quanto mais tempo o sumo da
uva tinta ficar em contato com a casca durante a fermentação, mais estrutura, com
tanino e cor o vinho poderá ter. Algumas uvas, como a Pinot Noir, tem a casca
mais fina e é necessário mais tempo de contato com o sumo para se obter cor e
taninos. Pois isso foi o que aconteceu comigo - e provavelmente com alguns dos
meus 16 colegas da turma 53 do curso Nível 1 do curso de Formação de Sommelier
Internacional da ISG. No fim de semana estudei muito, fiquei por horas em
contato com a apostila do curso para “pegar estrutura e tanino” e poder enfrentar
a prova final.
O curso da ISG - International Sommelier
Guild, representada com exclusividade no Brasil pela Sommelier School de São
Paulo, tem três níveis com dificuldades crescentes e é aceita
internacionalmente, como me disse Marcelo Asnis,
um dos diretores. Fiz o 1o.
Nível – Intermediate Wine Certificate que tem 24 horas-aula e a degustação de
48 vinhos (alguns deles na foto abaixo). No final enfrenta-se uma prova com 60
questões e uma degustação cega onde temos que adivinhar tudo. O professor foi o
jornalista Beto Duarte. O Nível 2 – 16 aulas (96
vinhos) e Nível 3 – 32 aulas (451 vinhos), qualifica e prepara os alunos para
os títulos de “Master of Wine” e “Master Sommelier Internacional”.
No início me parecia fácil, afinal há muitos
anos leio, pesquiso, entrevisto, visito, degusto e escrevo sobre vinhos. Mas
preferi passar pela “sessão Pinot Noir”.
A apostila do curso (aliás muito interessante e divertida de ler) tem
quase 200 páginas e inclui não só as características das principais uvas, mas o
perfil de solos e terroirs, o detalhamento de processos industriais,
vocabulário especializado e um imenso conjunto de características dos vinhos.
Que tal identificar uma uva a partir da descrição de suas bagas e cachos, pelo
tipo de doença que pode enfentar ou sua preferência por tipo de solo? E saber
quais as diferenças entre vinhos da mesma uva produzidos em uma região do Novo
Mundo e do Velho Mundo? Por isso
tive que ler e reler a apostila de 200 páginas, repassar os slides e rever as
fichas de degustação durante o fim de semana. No momento em que escrevo esta
matéria ainda não tenho o resultado, porque a correção das provas é feita na
sede da ISG, nos Estados Unidos. Mas acho que fui bem, vamos esperar.
Dividi esta experiência com 16 colegas
(acima), com diferentes objetivos. Marcos Buturi,
especialista em carnes, gestor da área de restaurantes da JBS, é um enófilo com
grande capacidade olfativa e uma bela adega em casa, e fez o curso apenas por
prazer pessoal, não pretende ser sommelier. “Vinho é uma eterna descoberta de
novas experiências e sabores, é um prazer interminável, por isso quero conhecer
melhor”, afirma. A bancária Fernanda Eiko Kinoshita
também fez o curso por prazer pessoal, mas não descarta a possibilidade de
fazer o Nivel 2 e trabalhar profissionalmente com vinhos.
Mas o curso atende outros objetivos. O casal Luis Marcelo Pioli e Crisley Fernandes de Andrade Pioli moram em Jacutinga, no sul de Minas Gerais, onde produzem café. No municipio da “capital nacional da malha” e estância hidromineral, há tres anos estão trabalhando para produzir vinhos, o que deve se realizar a partir do ano 2020. Com assessoria dos agrônomos de sua equipe, plantaram Syrah, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir. Estão fazendo o curso para aperfeiçoar os conhecimentos e se preparar para as próximas etapas do negócio, porque, como diz Luis, “exportamos café e conhecemos pessoas do ramo, mas precisamos estudar muito para fazer vinhos com qualidade para mercados internacionais”.
Georgio Robert também não pretende ser sommelier, mas como trabalha com vendas
em uma importadora de vinhos, acredita que a certificação da Wine Certification
vai ajudá-lo a atender melhor seus clientes e a abrir mercado para ser um
educador sobre o assunto. E Marcia M. Novais, que
atualmente trabalha em uma loja de shopping center, faz o curso para “agregar
valor ao que gosto” como diz. E acrescenta: “Adoro vinhos. Vinho é muito
criativo e eu adoro novidades. Quando você conhece vinhos tem menos pena de
investir em qualidade.” Quando janta com o namorado, ela é quem escolhe o
vinho, informa com uma indisfarçável alegria.
O que com certeza aprendi no curso é que o
mundo da vitivinicultura oferece possibilidades para pessoas de bom gosto de
diversas maneiras. Brindo a isso e a todos que investem em conhecimento para
melhorar sua vida, seja profissionalmente, seja emocionalmente. Caros
companheiros e companheiras da 53, tim-tim!
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