Por Rogerio Ruschel (*)
Com
um consumo per cápita de menos de 2 litros de vinho por ano, o Brasil
deveria ser um mercado com grande potencial de crescimento pelo seu volume –
afinal, somos o sétimo PIB do mundo (se é que ainda ocupamos esta posição) e
temos 200 milhões de pretensos consumidores. Mas não é o que acontece. Bebemos
pouco vinho, seja rótulos de baixo preço (segmento dominado por produtos
nacionais) seja o chamado vinho fino de mesa, um mercado dominado em 80% por
produtos importados. (Acima, imagem obtida no site Eu, Gourmet, de Emerson Haas).
Veja nos quadros abaixo o comportamento do nosso mercado: o
primeiro quadro mostra quadro que no ano 2000 os produtos importados passaram
definitivamente os produtos nacionais; e o segundo quadro mostra como nossas vendas internas estão estagnadas desde 2008.
Em
2014 o Brasil importou cerca de US$ 350 milhões de vinhos finos de mesa,
especialmente de seis paises: Chile, Argentina, França, Portugal,
Itália e Espanha.
O especialista
Adão Augusto A. Morellatto, da International Consulting fez uma análise da
importação de vinhos pelo Brasil que no total aumentou 12,15 % em relação a
2013, apesar dos impostos (veja abaixo), das estratégias protecionistas das
vinícolas brasileiras e do fator cambial que em 2014 aumentou em
quase 15%.
Segundo
Morellatto, “o principal exportador novamente foi o Chile, que representa
quase 46,40% em valor das importações de vinhos finos, 35,30% em valor para
todos os tipos de vinhos e 44,39% em volume. Produtos chilenos continuam
crescendo no mercado brasileiro – o crescimento em 2014 foi de 25,59% - talvez
porque seu preço médio esteja 25% mais econômico que os vinhos argentinos” e assim
competem em igualdade com outros vinhos europeus e brasileiros. Veja como os produtos importados estão
ampliando o mercado brasileiro de vinhos.
Perguntei a Renato Frascino, o Embaixador dos vinhos chilenos no
Brasil e editor da seção de Gastronomia da revista Robb Report de produtos de
luxo, as razões disso. Explica Renato, “Por uma série de razões, a começar pelo
clima que gera bons produtos, porque o Chile tem a Cordilheira dos Andes, os
ventos do Oceano Pacifico, o calor do Deserto de Atacama e o frio da Antartica
ao Sul e solos minerais com muito Cobre. Depois porque os produtores chilenos,
que são empresários sérios e criativos, aproveitam isso e praticam uma enologia
competente. A partir da década de 80 grandes marcas como Santa Helena, Santa
Carolina e Concha y Toro abriram mercado no Brasil com vinhos varietais e uma
linha básica. Veja abaixo o consumo em 2011 per capita.
Frascino continua: “Na sequência as vinicolas chilenas investiram
em tecnologia e variedades viniferas, escolhendo os vales adequados com
terroirs especificos para uvas específicas. Um exemplo é o Vale de Casablanca
com uvas brancas Sauvignon blanc e Chardonnay e as tintas Pinot Noir e Shiraz.
Outros vales como Maipo, Colchalga, Maule, Cachapoal, Curicó entre outros
trabalham com uvas tintas Carmenere, Cabernet Sauvignon, Shiraz e Merlot entre
outras. Com esta diversidade de solos e variedades viníferas, o Chile
consolidou sua posição de grande produtor de vinhos de alta gama.” Veja abaixo uma previsão de como será o
consumo no ano de 2017 para vinhos tintos.
A Argentina apresentou um
crescimento de 9,52% em relação ao ano passado e sua participação caiu um
pouco, fechando 2014 com cerca de 17% do mercado de importados no Brasil, em
volume e valor. Segundo Adão Morellatto, “a Argentina sofre com as políticas
econômicas implantadas e mantidas pelo governo atual, que penaliza a produção e
não dá sustentabilidade e condições de crescimento, devido as constantes crise
de abastecimento, o que tem prejudicado todo os setores envolvidos.”
E a
França? “Maior produtos mundial e mercado com o maior consumo per capita de
vinhos do mundo (60
litros por pessoa) a França exportou produtos a um preço médio de US$ 10,30 p/
litro, influenciado pelo alto valor agregado do champagne, que
sozinho representa 37,82% de toda exportação. Seus produtos totalizaram quase
15% de participação no mercado brasileiro de importados, praticamente o mesmo
de 2013.”
Adão Morellatto continua: “Portugal em 2014 quase
alcançou a França no mercado brasileiro. Por uma pequena diferença ficou no
quarto lugar, incentivado pelas influências e ações que realizam aqui, até
mesmo a abertura de filiais por aqui (como a Sogrape em 2013). Participa com
quase 12% de share, com crescimento de 4,50% e preços médio de US$ 3,88 p/
litro.” Eu, Rogerio Ruschel, não entendo porque Portugal não tem uma
participação maior no mercado brasileiro, porque os produtos tem identidade
própria, tem prestigio internacional e não existe a barreira do idioma na
comunicação. Será que o mercado brasileiro não é considerado estratégico para
eles?
“A
Itália ficou em quinto lugar no ranking dos exportadores para o Brasil, um movimento de recuperação após um 2013
de queda, em 2014 cresceu 3,97%, com participação bem próxima de Portugal,
exatos 11,13% em valor e de 11,68% em volume.”
“A Espanha talvez tenha sido
a grande surpresa do ano em 2014: teve uma ligeira queda de quase -1%, e só não
caiu mais, devido ao seu vinho espumante (Cava) ter crescido em participação mais
de 16 %. A surpresa é que desde 2007 o vinho espanhol vinha apresentando
um crescimento médio de 31% ao ano. Outros paises apresentam menos de 5% de
participação, mas alguns cresceram bastante em 2014, como a Alemanha (16,72%), África
do Sul (54,95%) e Estados Unidos (47,90%). Os destaques negativos ficaram por
conta da Austrália (que caiu 69% em participação) e do vizinho Uruguai que
continua patinando desde 2007 na mesma faixa de participação, provavelmente por
falta de investimento no mercado. “
(*) Rogerio Ruschel é editor deste blogue e gosta de vinhos bons, não importando a origem - mas ficaria feliz se os produtores brasileiros reagissem em seu próprio mercado.
Ótimo post Rogério! Intriga-me também esta curva crescente do vinho estrangeiro. Será que é a qualidade, o perfil do consumidor, o marketing, o possível "status" que o vinho estrangeiro traz?
ResponderExcluirAbraço
Emerson Haas
www.eu-gourmet.com
Obrigado pela leitura, pelo prestigio e pelo elogio, Emerson
ResponderExcluirAcabei de voltar da Argentina....Lá só é permitido vender vinho argentino.....eu visitei vinotecas diversas e supermercados e o cenário é o mesmo....eles são patriotas ...no Brasil deveria ser o mesmo....valorizar o seu produto e garantir que só produtos nacionais fossem vendidos.
ResponderExcluirEm principio parece uma boa idéia, mas alem de ser limitante para quem gostaria de experimentar outros vinhos, imagine isso ampliado para outros produtos: só poder utilizar produtos feitos no pais... Obrigado pela leitura, abs
ExcluirIsso não é patriotismo, é devido ao fato do governo argentino ter restringido fortemente as importações para evitar a saída de dólares do país
ExcluirDuas coisas: a importação não está mais subindo conforme a tendencia do gráfico exibido, pois de 2011 ate 2014 o crescimento da importação foi muito menor (e deve inclusive ter retração em 2015 por causa da alta do dólar)
ResponderExcluirEsse gráfico dos impostos é antigo e errado: não é todos os lugares que o ICMS é 25% (no RS, p.ex. é 17%, 18% a partir do ano que vem) e o IPI dos vinhos não é 20% (a partir de dezembro vai ser 10%, antes não era nem isso... tinha vinho de R$ 100 que pagava R$ 0,73 de IPI).
Sem falar que os vinhos importados do Mercosul e do Chile (mais da metade dos importados) não pagam II, e se importados pelos portos dos estados do ES e SC aindaganhavam um crédito fiscal no ICMS (a famosa guerra dos portos).
Se no Brasil só se pudesse consumir vinho brasileiro eu emigrava, com certeza...
ResponderExcluirViva a liberdade de escolha!
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