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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Afinal, porque vinhos do Chile, Argentina, França, Portugal e Itália ocuparam quase 80% do mercado brasileiro em 2014?

Por Rogerio Ruschel (*)

Com um consumo per cápita de menos de 2 litros de vinho por ano, o Brasil deveria ser um mercado com grande potencial de crescimento pelo seu volume – afinal, somos o sétimo PIB do mundo (se é que ainda ocupamos esta posição) e temos 200 milhões de pretensos consumidores. Mas não é o que acontece. Bebemos pouco vinho, seja rótulos de baixo preço (segmento dominado por produtos nacionais) seja o chamado vinho fino de mesa, um mercado dominado em 80% por produtos importados. (Acima, imagem obtida no site Eu, Gourmet, de Emerson Haas). Veja nos quadros abaixo o comportamento do nosso mercado: o primeiro quadro mostra quadro que no ano 2000 os produtos importados passaram definitivamente os produtos nacionais; e o segundo quadro mostra como nossas vendas internas estão estagnadas desde 2008.
Em 2014 o Brasil importou cerca de US$ 350 milhões de vinhos finos de mesa, especialmente de seis paises: Chile, Argentina, França, Portugal, Itália e Espanha.
O especialista Adão Augusto A. Morellatto, da International Consulting fez uma análise da importação de vinhos pelo Brasil que no total aumentou 12,15 % em relação a 2013, apesar dos impostos (veja abaixo), das estratégias protecionistas das vinícolas brasileiras e do fator cambial que em 2014 aumentou em quase 15%.
Segundo Morellatto, “o principal exportador novamente foi o Chile, que representa quase 46,40% em valor das importações de vinhos finos, 35,30% em valor para todos os tipos de vinhos e 44,39% em volume. Produtos chilenos continuam crescendo no mercado brasileiro – o crescimento em 2014 foi de 25,59% - talvez porque seu preço médio esteja 25% mais econômico que os vinhos argentinos” e assim competem em igualdade com outros vinhos europeus e brasileiros.  Veja como os produtos importados estão ampliando o mercado brasileiro de vinhos.
Perguntei a Renato Frascino, o Embaixador dos vinhos chilenos no Brasil e editor da seção de Gastronomia da revista Robb Report de produtos de luxo, as razões disso. Explica Renato, “Por uma série de razões, a começar pelo clima que gera bons produtos, porque o Chile tem a Cordilheira dos Andes, os ventos do Oceano Pacifico, o calor do Deserto de Atacama e o frio da Antartica ao Sul e solos minerais com muito Cobre. Depois porque os produtores chilenos, que são empresários sérios e criativos, aproveitam isso e praticam uma enologia competente. A partir da década de 80 grandes marcas como Santa Helena, Santa Carolina e Concha y Toro abriram mercado no Brasil com vinhos varietais e uma linha básica. Veja abaixo o consumo em 2011 per capita.
Frascino continua: “Na sequência as vinicolas chilenas investiram em tecnologia e variedades viniferas, escolhendo os vales adequados com terroirs especificos para uvas específicas. Um exemplo é o Vale de Casablanca com uvas brancas Sauvignon blanc e Chardonnay e as tintas Pinot Noir e Shiraz. Outros vales como Maipo, Colchalga, Maule, Cachapoal, Curicó entre outros trabalham com uvas tintas Carmenere, Cabernet Sauvignon, Shiraz e Merlot entre outras. Com esta diversidade de solos e variedades viníferas, o Chile consolidou sua posição de grande produtor de vinhos de alta gama.”  Veja abaixo uma previsão de como será o consumo no ano de 2017 para vinhos tintos.
A Argentina apresentou um crescimento de 9,52% em relação ao ano passado e sua participação caiu um pouco, fechando 2014 com cerca de 17% do mercado de importados no Brasil, em volume e valor. Segundo Adão Morellatto, “a Argentina sofre com as políticas econômicas implantadas e mantidas pelo governo atual, que penaliza a produção e não dá sustentabilidade e condições de crescimento, devido as constantes crise de abastecimento, o que tem prejudicado todo os setores envolvidos.”
E a França? “Maior produtos mundial e mercado com o maior consumo per capita de vinhos do mundo (60 litros por pessoa) a França exportou produtos a um preço médio de US$ 10,30 p/ litro, influenciado pelo alto valor agregado do champagne, que sozinho representa 37,82% de toda exportação. Seus produtos totalizaram quase 15% de participação no mercado brasileiro de importados, praticamente o mesmo de 2013.” 
Adão Morellatto continua: “Portugal em 2014 quase alcançou a França no mercado brasileiro. Por uma pequena diferença ficou no quarto lugar, incentivado pelas influências e ações que realizam aqui, até mesmo a abertura de filiais por aqui (como a Sogrape em 2013). Participa com quase 12% de share, com crescimento de 4,50% e preços médio de US$ 3,88 p/ litro.” Eu, Rogerio Ruschel, não entendo porque Portugal não tem uma participação maior no mercado brasileiro, porque os produtos tem identidade própria, tem prestigio internacional e não existe a barreira do idioma na comunicação. Será que o mercado brasileiro não é considerado estratégico para eles?
“A Itália ficou em quinto lugar no ranking dos exportadores para o Brasil, um movimento de recuperação após um 2013 de queda, em 2014 cresceu 3,97%, com participação bem próxima de Portugal, exatos 11,13% em valor e de 11,68% em volume.”
“A Espanha talvez tenha sido a grande surpresa do ano em 2014: teve uma ligeira queda de quase -1%, e só não caiu mais, devido ao seu vinho espumante (Cava) ter crescido em participação mais de 16 %. A surpresa é que desde 2007 o vinho espanhol vinha apresentando um crescimento médio de 31% ao ano. Outros paises apresentam menos de 5% de participação, mas alguns cresceram bastante em 2014, como a Alemanha (16,72%), África do Sul (54,95%) e Estados Unidos (47,90%). Os destaques negativos ficaram por conta da Austrália (que caiu 69% em participação) e do vizinho Uruguai que continua patinando desde 2007 na mesma faixa de participação, provavelmente por falta de investimento no mercado. “

(*) Rogerio Ruschel é editor deste blogue e gosta de vinhos bons, não importando a origem - mas ficaria feliz se os produtores brasileiros reagissem em seu próprio mercado.
 

8 comentários:

  1. Ótimo post Rogério! Intriga-me também esta curva crescente do vinho estrangeiro. Será que é a qualidade, o perfil do consumidor, o marketing, o possível "status" que o vinho estrangeiro traz?
    Abraço
    Emerson Haas
    www.eu-gourmet.com

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  2. Obrigado pela leitura, pelo prestigio e pelo elogio, Emerson

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  3. Acabei de voltar da Argentina....Lá só é permitido vender vinho argentino.....eu visitei vinotecas diversas e supermercados e o cenário é o mesmo....eles são patriotas ...no Brasil deveria ser o mesmo....valorizar o seu produto e garantir que só produtos nacionais fossem vendidos.

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    1. Em principio parece uma boa idéia, mas alem de ser limitante para quem gostaria de experimentar outros vinhos, imagine isso ampliado para outros produtos: só poder utilizar produtos feitos no pais... Obrigado pela leitura, abs

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    2. Isso não é patriotismo, é devido ao fato do governo argentino ter restringido fortemente as importações para evitar a saída de dólares do país

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  4. Duas coisas: a importação não está mais subindo conforme a tendencia do gráfico exibido, pois de 2011 ate 2014 o crescimento da importação foi muito menor (e deve inclusive ter retração em 2015 por causa da alta do dólar)
    Esse gráfico dos impostos é antigo e errado: não é todos os lugares que o ICMS é 25% (no RS, p.ex. é 17%, 18% a partir do ano que vem) e o IPI dos vinhos não é 20% (a partir de dezembro vai ser 10%, antes não era nem isso... tinha vinho de R$ 100 que pagava R$ 0,73 de IPI).
    Sem falar que os vinhos importados do Mercosul e do Chile (mais da metade dos importados) não pagam II, e se importados pelos portos dos estados do ES e SC aindaganhavam um crédito fiscal no ICMS (a famosa guerra dos portos).

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  5. Se no Brasil só se pudesse consumir vinho brasileiro eu emigrava, com certeza...

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