Meu caro leitor ou leitora, a política
externa interfere no mercado brasileiro de vinhos muito mais do que imaginamos
e desde o período colonial. Um exemplo: em 1789, para garantir a
comercialização de seu vinho para o Brasil e evitar uma eventual concorrência,
Portugal proibiu a fabricação de vinhos na colônia; a proibição só caiu em 1808
porque a Coroa veio para cá fugindo de Napoleão Bonaparte - o pintor Debret registrou
uma cena quotidiana disso, acima. É possível ver esta interferência no estudo
preparado por Oscar Daudt, diretor do EnoEventos, o principal portal de
informações sobre vinhos no Brasil. Os dados são do MDIC - Ministério do
Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior e cobrem um período de 26
anos, de 1989 até 2014 – veja no quadro abaixo a evolução das importações.
-->O quadro acima mostra que começamos a
aumentar a importação com o fim da didatura militar no começo dos aos 90 (a partir de 1992, já na gestão do
presidente Itamar Franco (1992-1995), como resultado tardio da “abertura dos
portos” realizada pelo deposto presidente Fernando Collor (1990-1992) porque
antes disso as importações eram proibitivas. Quer dizer: com os militares
“protegendo o mercado brasileiro” sofríamos também nas papilas gustativas além de
ter que pagar 20 mil dólares por uma linha telefonica, comprar computadores
ruins, ultrapassados e caros e automóveis que eram verdadeiras “carroças”.
-->Outro exemplo interessante está no quadro
acima: os brasileiros misteriosamente “passaram a preferir” vinhos
latino-americanos a vinhos franceses, portugueses, italianos, espanhóis e
norte-amercianos a partir de 2004, no segundo ano da primeira gestão Lula. A
razão? Os brasileiros foram obrigados a compartilhar seu gosto com práticas
bolivarianas da política externa brasileira praticada pelo PT desde 2003 que incluem uma taxação de impostos de até 82% para vinhos não do Mercosul.
-->Destaco outras informações. Em 26 anos o
Brasil importou mais de US$ 3 bilhões em vinhos (veja quadro acima), de cerca
de 30 países, com destaque para produtores latinos. Em 2014 o valor de
importações de vinhos estrangeiros foi de US$ 324,5 milhões e mais de 54% dos
vinhos importados vieram dos paises do Mercosul, considerando-se o Chile como
associado: Chile (35,12%), Argentina (17,58%) e Uruguai (1,17%).
-->A contra-partida foi fraquíssima: em 2014 o Brasil exportou apenas
US$ 10, 2 milhões (veja quadro acima), dos quais 20% foram para a Inglaterra,
12% para a Bélgica (provavelmente espumantes) e 10% para o Paraguai. Dez
milhões de dólares são menos de 28 milhões de reais, caro leitor, um valor
assustadoramente mixuruca para quem tem (ou tinha?) o sétimo PIB do planeta. Em
seu estudo, Oscar Daut revela que “Meu sonho não é nada de extraordinário.
Apenas desejo viver o dia em que tenhamos preços de vinho semelhantes aos
demais países, que nossa bebida preferida seja tratada como um prazer
corriqueiro, sem a aura de elitismo que nos manipula, que o Brasil valorize
seus próprios vinhos, mas sempre mantendo a curiosidade pela produção dos demais
países e pela diversidade.” Assino embaixo. O estudo completo de Daudt está em http://www.enoeventos.com.br/201501/importacoes/importacoes.htm
Saiba mais sobre a presença de vinhos
latino-americanos no mercado brasileiro em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/01/afinal-porque-vinhos-do-chile-argentina.html
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, mora e
trabalha em São Paulo e já teve ou conviveu com computadores horriveis, linhas
telefônicas caras, automóveis ruins e vinhos de má qualidade – mas não faz mais
isso…
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