Por
Rogerio Ruschel (*)
Por causa
das maravilhas facilitatórias da internet, dia 8 de novembro de 2014 fiz uma
palestra por skype num curso que se realizava no Centro Cultural de El Teular, no
Campus de Cocentaina da Universidade de Valência Espanha. Era uma turma de 50 alunos (veja abaixo) de toda a
Espanha que estão aprendendo para compartilhar a tecnologia e o know-how de
produção de vinhos em eco-micro-vinhedos sustentáveis por toda a Europa. Foi um
momento interessante porque distante milhares de quilômetros estou participando
ativamente de uma pequena,
criativa e revolucionária mobilização para compartilhar ideias para um mundo melhor.
A base do
curso é a experiência de um projeto chamado “Microvinhas”, realizado no
vilarejo de Muro de Alcoy, região de Valência, que está produzindo vinhos que chamo de eco, micro, top e show porque são de
altíssima qualidade (top) em minifúndios de 1 hectare (micro), com 100% de práticas
sustentáveis e lucrativas (eco), e com base nas propostas da “economia do bem comum”
(show) do economista sueco Christian Ferber – aquele que impressionou os milionários
“socialmente sensíveis” em Doha, no ano passado. Veja abaixo um banner do
curso.
O projeto Microvinhas
é uma iniciativa que está surpreendendo os meios vinícolas europeus desde que
foi divulgado pelo jornal inglês The Guardian, no começo de 2014, e foi seguido
pela BBC, CBS, TVE, USA Today e
pelos jornalões de muitas capitais européias. Modéstia a parte, “In Vino Viajas” fez
três reportagens sobre o projeto ANTES de vários destas mídias, a partir de maio
de 2014 (veja uma das telas abaixo). Como estas matérias tiveram grande leitura
(no Brasil e no exterior) e tenho mais de 20 anos de experiência como professor
universitário, os organizadores do curso me convidaram para ser um dos
professores. Minha contribuição foi a de especialista em marketing e
comunicação para produtos com sustentabilidade socioambiental que está convivendo
com o “universo” do vinho; trata-se de uma combinação de experiências não
muito comum, e acho até que sou o único desta espécie no Brasil, embora isso
pareça não importar muito por aqui.
Na palestra fiz uma
avaliação dos impactos positivos do processo produtivo das “microvinhas” (veja
o resumo no slide que abaixo) e avaliei algumas condições para que pudéssemos
ter no Brasil minifúndios produzindo vinhos de alta qualidade, de maneira
sustentável – e dando lucro. Infelizmente não pude apresentar casos brasileiros reais porque a assessoria
de imprensa do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) não atendeu o pedido de ajuda do In Vino Viajas mesmo sabendo que seria para divulgação internacional; e por outro lado a ajuda das atenciosas jornalistas da empresa Conceito.Com,
de Bento Gonçalves, que faz assessoria de imprensa para várias empresas, não
chegou a tempo.
Como este
assunto é complexo e respeito o limite de minha competência, pedi e recebi
muita ajuda de muitos profissionais do ramo, a quem agradeço. Raphael Allemand, de EOC International e InterBeaujolais no Brasil
me ajudou com exemplos de microvinhedos franceses; Andréa Junqueira e Lidia
Hartlo, de Etc Vinos, do Brasil forneceram dicas da Alemanha e Áustria; peguei
exemplos de uma palestra do Prof. David Bernardo López Lluch, da Escuela
Politécnica Superior de Orihuela, de Valencia, que encontrei na internet. Pedi
depoimentos exclusivos para Lizete Vicari, produtora brasileira de
eco-micro-vinhos (foto abaixo); Jefferson Sancineto Nunes,
enólogo e engenheiro que é o “pai” do vinho biodinâmico no Brasil; Sonia
Denicol, blogueira, sommeliére e professora; e Juan Cascant, diretor do projeto
Microvinhas e um dos criadores deste movimento todo que agora está atravessando o Oceano
Atlântico desde Valencia e – acho eu - ancorando em território brasileiro.
Gostaria de ter compartilhado
também a opinião da Lis Cereja, da Enoteca Saint Vin Saint (que não chegou a
tempo); da francesa Caroline Putnoki, da Cap’Amazon e dos brasileiros Peter
Wolfenbutter, Didu Russo, entre outros que são minhas referências neste ramo
vinícola. Gostaria de ter tido a contribuição de algum especialista em
minifundios para esclarecer dúvidas sobre uma lei que tramita no Congresso
Nacional sobre a produção de vinho “colonial” e “familiar” em
minifúndios no Brasil, que me parece contrariar o potencial da atividade. O curso reuniu 22 professores altamente
especializados (veja foto abaixo) de cinco universidades espanholas (Madrid,
Valencia e Alicante, entre elas) e 50 alunos. O curso vai até dia 17/11/2014, parte
em salas de aula e parte em vinhedos.
Como consultor em
sustentabilidade e jornalista fiquei muito feliz por poder ajudar esta pequena,
criativa e revolucionária mobilização para compartilhar estas idéias futuristas.
Acho que meus amigos da “tribo” da sustentabilidade vão ficar orgulhosos com
este companheiro aqui; mas não sei como vão reagir os amigos da “tribo” dos
grandes vinhos, gente que acredita que só grandes vinícolas tem o dom divino da
qualidade… E teria muita curiosidade em trocar idéias com especialistas da "tribo" dos minifundios.
Mas o que eu gostaria
mesmo é que a produção de vinhos eco, micro, top e show (de alta qualidade, com valores socioambientais
superiores, produzidos em minifundios, com lucro) fosse discutida no Brasil, onde minifundio é coisa de pobre sem tecnologia, sem mercado e sem
prestigio – um sub-mundo sem valor para a elite que prefere o modelo de exportação de recursos naturais. Seria muito didático se
lideranças sociais e do poder público que trabalham com minifundios vissem o quanto
pode ser lucrativo um minifundio eco-sustentavel como o da vinicola
Romané-Conti, que numa área de menos de 2 hectares produz o melhor (e mais
caro!) vinho da Borgonha, nos últimos 400 anos, sempre por uma família! Me parece
que, se for aprovada do jeito que está, a lei que tramita no Senado (veja resumo abaixo) pode ser
muito boa para fabricantes de equipamentos de vinificação, mas seria inviável para
vinicultura sustentável familiar.
Espero que um dia
possamos discutir isso no Brasil porque podemos ser uma nação poderosa a partir de nossos recursos naturais e talento. Gostaria um dia de ver um case brasileiro deste tipo ser conhecido por jornalistas, sendo
apresentado na Plataforma Liderança Sustentável do Ricardo Voltolini, ao lado
de grandes corporações; sendo alvo de uma reportagem socioambiental da Amelia
Gonzalez; de um livro do Vilmar Berna; de um evento do Sebrae ou de uma matéria
na revista Ideia Sustentável da Claudia Piche. Vamos ter que trabalhar
muito mas vamos chegar lá porque esta pequena revolução do vinho
eco, micro, top e show vai se tornar grande e inexorável – ou então o planeta vai
mesmo para o lixo.
A apresentação está
compartilhada em https://www.academia.edu/9159864/Los_benef%C3%ADcios_del_Projecto_Microvi%C3%B1as_un_modelo_exportable_de_minifundio_sostenible
Saiba
mais sobre Microvinhas aqui:
Sobre o
projeto: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/microvinya-revolucao-dos-minifundios.html
e http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/a-revolucao-das-microvinyas-de-alicante.html
Sobre o
curso: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/10/microvinhas-curso-inovador-na-espanha.html
Saiba mais sobre sustentabilidade:
· Turismo e sustentabilidade: como beber desta
fonte harmonizando benefícios - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/11/turismo-e-sustentabilidade-como-beber.html
· Microvinhas: curso inovador na Espanha sobre
vinicultura sustentável e de alta qualidade em minifúndios tem participação de
especialista brasileiro - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/10/microvinhas-curso-inovador-na-espanha.html
· Microvinhas: os benefícios de produzir vinhos que são eco, micro, top e show - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/11/oportunidades-e-dificuldades-para-o.html
· MicroVinya: a revolução dos minifúndios sustentáveis de Alicante, Espanha, com vinhedos centenários recuperados e vinhos com poderosa identidade social - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/microvinya-revolucao-dos-minifundios.html
· Coisa de chines: um mega hotel ecológico e futurista numa pedreira desativada - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/coisa-de-chines-um-mega-hotel-ecologico.html
· Os impactos do Réchauffement de la Planète (a versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html
· Jovens empreendedores espanhóis e portugueses fazem sucesso produzindo pranchas de surf com rolhas de cortiça recicladas - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/07/jovens-empreendedores-da-espanha.html
· Fique esperto: saiba como a rolha de cortiça preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html
· Bird&Wine: degustar vinhos e observar aves, a inteligente proposta de enoturismo da Rota do Vinho Utiel-Requena, Espanha - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/bird-degustar-vinhos-e-observar-aves.html
· Enoturismo inteligente na Andaluzia, Espanha, propõe “paternidade responsável” de vinhas com “sigue tu cepa” - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/09/enoturismo-inteligente-na-andaluzia.html
· Associazione Vino Libero: um manifesto italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html
(*)
Rogerio Ruschel mora e trabalha em São Paulo onde edita este blog e sonha com
um Brasil mais justo e equilibrado
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