Por Rogerio Ruschel (*)
Terra de índios
tupinambás, a cidade de São Luis tem uma história única. Única cidade
brasileira fundada por franceses (em 1612 e batizada São Luis em homenagem ao
rei francês Luis XIII) e tomada por portugueses três anos depois, o vilarejo
viveu uma história de isolamento que durou mais de um século. Na foto acima um
detalhe do teto da Igreja da Sé, tombada como Patrimônio da Humanidade, e na
foto abaixo um cartão postal de 1920. Mais abaixo ainda um mapa de 1629 mostrando a localização da cidade.
A economia, inicialmente
baseada na cana de açúcar (abaixo, desenho de Debret sobre moagem de cana), cacau e tabaco (com uso de mão de obra india e
negra), foi acelerada a partir de 1760 pela produção de algodão e pela
indústria têxtil, proporcionando grande desenvolvimento urbano liderado pelo Marquês
do Pombal.
Algumas décadas depois,
com a queda do preço do algodão, a elite migrou para Rio de Janeiro e São
Paulo, abandonando os casarões do bairro Praia Grande, que por esta razão
sobreviveram e hoje são a principal atração turística da cidade, que se orgulha
de ter o maior conjunto arquitetônico colonial português das Américas. De fato, os cerca de 3.500 prédios
tombados pelo IPHAN nos anos 60 e reconhecidos pela Unesco em 1997 como
Patrimônio Cultural da Humanidade, tornam São Luís uma cidade com um charme
único – especialmente as casas com azulejados portugueses, como abaixo.
Em São Luis a história
impacta o visitante. Este herança
portuguesa está localizada no Centro Histórico, que deve ser conhecido por
passeios a pé por praças com nomes de poetas (como Catulo da Paixão Cearense) e
ruas como Portugal (abaixo), Estrela (abaixo), Nazaré, do Giz, da Pacotilha e
Becos da Mina Boa (veja abaixo), da Alfândega, do Silva e da Sé.
As principais atrações são
casarões (sobrados e solares de 1 a 3 pisos) que vêm sendo recuperados e
reutilizados desde 1970 - aliás, a memória do projeto de recuperação está muito
bem documentada no Solar dos Vasconcelos. Muitos deles mantém fachadas
azulejadas e portais ou escadarias com pedra de cantaria e alguns têm
"eira e beira" - isto é, mais de um beiral no telhado, o que
identificava uma propriedade de ricos.
No Centro Histórico podem
ser visitados o Teatro Arthur Azevedo, um dos mais bonitos do Brasil; a Escola
de Música Lilah Lisboa; a Faculdade de Arquitetura; o Palácio dos Leões (veja
abaixo), atual sede do governo estadual, construído em 1612 pelos franceses
como um forte e que sofreu reformas e ampliações até assumir as feições
neoclássicas atuais, e seu vizinho, o Palácio La Ravardiére,
atual sede da prefeitura.
Outros prédios tombados
são o Museu Histórico e Artístico do Maranhão, que mantém interessante acervo
relacionado a manifestações culturais como bumba-meu-boi (abaixo, este repórter
com uma fantasia de bumba-meu-boi), tambor de crioula, dança do coco, Festa do
Divino - informações encontradas também na Casa do Maranhão.
Se você tiver coragem
visite a Feira da Praia Grande (Casa das Tulhas) e prove alguns dos muitos
produtos regionais (veja abaixo) à venda por lá como camarão seco, cachaça de
muitas frutas mas também – e parece inacreditável, mas veja abaixo as fotos –
cachaça de lagosta e siri, doces regionais, manteiga de garrafa, geléias e
licores.
Na cidade ainda vale a
pena visitar o Cafuá dos Mercês e o Convento das Mercês apropriado pela família
Sarney para se transformar em um memorial personalista; e as Igrejas do
Desterro, Nossa Senhora do Carmo e da Sé (com um altar banhado a ouro), entre
outros.
Muitos sobrados abrigam
lojas de artesanato, bares ou restaurantes. O artesanato é bonito, com peças
baseadas em fibras de palmeiras, azulejos, madeira e tecidos e o local mais
adequado para compras é o Ceprama, a maior feira do estado.
Como-se bem em São Luis,
em restaurantes que apresentam cardápio de frutos do mar como a grande atração.
Vale a pena experimentar o arroz de cuxá (com
camarão seco e vinagreira), as caldeiradas (de sururu, camarões e peixes), o
baião de dois (arroz e feijão) e a Maria Isabel (arroz com carne de sol). Para
acompanhar prove os doces, licores e cachaças feitas com cupuaçu, bacuri,
buriti, jaca, caju, murici e, se for macho, a tiquira, uma cachaça fortíssima.
São Luis fica numa ilha e
é banhada pelo rio Anil e pelo mar. Só na década de 70 começou a se expandir
para além do Centro Histórico, a partir da construção de duas pontes. A parte
nova ostenta prédios modernos, avenidas largas e os principais hotéis da
cidade. E é claro que São Luis também tem
praias para oferecer: as principais são a Calhau, São Marcos e Ponta D'Areia
(com muitos bares e restaurantes), mas tem as "selvagens" como
Araçagy e Raposa. As praias são mais calmas, menos barulhentas, a maré é mais
marcante, enorme, mas o sol vai te torrar, como em outras capitais nordestinas.
(*) Rogerio Ruschel é
enófilo, jornalista e gosta de cachaça – mas não provou as cachaças de lagosta
ou siri de São Luis
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