Por Rogerio Ruschel (*)
Com turismo sustentável os animais não tem medo dos visitantes, como em Galápagos
Turismo
sustentável é aquele no qual todas as partes envolvidas saem ganhando: o
turista vivencia uma experiência única em contato com culturas e ambientes
novos; o local visitado se beneficia sociológica e economicamente ao ser
conhecido e divulgado para além de suas fronteiras (e somente se respeita
aquilo que se conhece); e a economica local (comunidades, poder público e
pequenas empresas) se beneficia com novos negócios gerados pelo turismo. E o
turismo, como se sabe, movimenta negócios em mais de 50 atividades diferentes. Todo tipo de turismo deveria ser sustentável, mas infelizmente não o é. E o turismo mais sustentável é aquele praticado em centros urbanos, com indicadores socioambientais positivos e também aquele realizado em contato próximo da natureza como as variações do eco-turismo, turismo de aventura e turismo rural.
Nos Andes
Pratico
eco-turismo e procuro fazer turismo sustentável desde adolescente. Fui turista em parques públicos
e privados na África do Sul (veja posts neste blog), Nova Zelândia e nos
Estados Unidos no
Yosemite Park, o primeiro parque nacional do mundo, criado em 1890 – onde conheci um programa que ensinava cegos a fotografar entre as mais de 40 atividades eco-turísticas. Estive em
Galápagos, onde o turismo é extremamente controlado e muito lucrativo. Caminhei pela região dos vulcões no
Equador e em parques nacionais da Colombia e do Brasil. Fiz roteiros de eco-turismo na
serra gaúcha, na Amazônia, em Lençois Maranhenses-MA e em Bonito-MS, entre
outras regiões do Brasil. Me hospedei em fazendas de turismo rural no Paraná e na Sicilia, onde ajudei a fabricar azeite e estocar vinhos. Experiências encantadoras.
Com turismo sustentável os animais não tem medo dos visitantes, como em Galápagos
Mais do que praticar, tenho investido tempo e dedicação na divulgação e
valorização do conceito win-win do
turismo sustentável no Brasil. Fiz a primeira pesquisa sobre o perfil
profissional do ecoturismo no Brasil, em 1994, em parceria com o WWF, a ONG do
ursinho panda. Organizei eventos de ecoturismo em São Paulo e Canela nos anos
90; ajudei a fundar o IEB, hoje Instituto Peabiru; prestei consultoria para investidores
privados e poder público - para os governos do Ceará e Tocantins e para o convênio
Prodetur, parceria da Embratur com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
nos anos 2000 com o objetivo de valorizar aspectos ambientais e culturais em
atrações turísticas. E durante uns 4 anos representei no Brasil o CEFAT - Centro Europeo
de Formación Ambiental y Turística, ONG fomentada pela Comunidade Econômica
Européia para desenvolvimento do turismo rural.
Tumba Canari: um mini Machu-Pichu nos Andes equatorianos
E
nas dezenas de artigos e reportagens que escrevi sobre turismo sustentável,
sempre procurei demonstrar que esta é uma atividade extraordinária porque pode
promover deenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões, inclusive a
econômica. Com isso quero dizer que acredito piamente no valor que o turismo pode gerar para a preservação ambiental e cultural.
A palavra de um
especialista internacional
Oliver
Hillel é um dos mais respeitados especialistas em turismo sustentável do mundo.
É brasileiro, um brasileiro de muito talento, atualmente morando no Canadá.
Tive a oportunidade de conviver com ele no Brasil, quando no começo dos anos 90
criamos ou participamos dos primeiros eventos de ecoturismo no Brasil em
Canela, Ilhéus e Iguape.
Oliver Hillel (de terno cinza, ao meu lado, de camisa verde) e amigos do Senac
Lençois Maranhenses: macaquinhos agregam valor à experiência do turista
Pois o Oliver está fazendo
brilhante carreira internacional em organizações multilateriais; atualmente
trabalha no Secretariado
da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) – uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) - onde promove globalmente
o turismo como ferramenta para conservação. O turismo sustentável traz vários benefícios para o ecossistema, plantas, animais e
geografia do destino (geralmente um Parque público), para as comunidades do
entorno do destino, como grupos étnicos habitantes do ecosssistema ou comunidades
e governos locais adjacentes, e para o turista, que volta para casa com marcas
indeléveis de ter vivido uma aventura e experência que o aproximou da natureza
e quebrou sua rotina de urbanóide.
Cabana onde fiquei em um parque privado na África do Sul
Oliver Hillel defendeu mais uma vez estes benefícios como um dos palestrantes da 11ª reunião da Conferência das Partes da CDB (COP 11), realizada em Hyderabad, na India, entre 8 e 19 de outubro de 2012. Veja a seguir a tradução livre de sua apresentação feita pelo Instituto Semeia, e mais abaixo, veja como acessar a entrevista com ele.
Depoimento de Oliver Hillel na COP 11
Disse Oliver aos representantes de mais de 120 países: “Realisticamente, temos uma fração muito pequena
dos recursos e da capacidade instalada para alcançar isso (meta da CDB, sobre
áreas protegidas). Alguns países estão mais avançados, outros estão menos.
Planos ambiciosos (para a conservação) demandam mais e mais recursos, enquanto
as doações são cada vez menores. Então temos um problema com isso. Um problema
sério."
"Por
outro lado, depois de 20 anos trabalhando com turismo, posso dizer que alguns
destes parques possuem todos os elementos para gerar MUITA receita a partir do
turismo, além de oportunidades de negócios para comunidades locais e indígenas,
para os públicos de interesse, e significado para cada vez mais pessoas, que
passam a conhecer o parque. A biodiversidade só é protegida quando as pessoas
sabem a respeito desta. Quando as pessoas não vão aos parques, elas têm menos
motivação para protegê-los."
Turismo sustentável ensina respeito às culturas tradicionais
"Em minha
experiência pessoal, o que acontece é que das 192 partes, países que fazem
parte da Convenção, talvez 10, 15 deles descobriram formas para canalizar uma
pequena parte dos recursos que vem das comunidades do entorno das áreas
protegidas para o gerenciamento em benefício da própria área - seja pública,
privada, da comunidade local e indígena, com a gestão da própria comunidade. A
maioria da receita com turismo nunca é direcionada para a manutenção das áreas
protegidas."
A natureza é a moldura deste restaurante no roteiro do vinho em Paarl, África do Sul
"E aqui
entra o Semeia, uma ONG inovadora e com a qual estamos muito satisfeitos por
colaborar. Tomou para si a tarefa de descobrir bons exemplos, as lições
aprendidas, e como podemos alavancar mais apoio do setor privado. Não é uma
panaceia. Sabemos disto. Recebi um ótimo relatório da EQUATIONS, uma ONG local
na Índia, sobre todas as falsidades e problemas de empresas dizendo que
beneficiam as pessoas, mas que não fazem."
Medindo uma árvore gigantesca na Amazonia brasileira
"Desafiando
cada um de vocês aqui, eu pessoalmente não tenho identificado um único país no
mundo em que pelo menos uma área protegida não receba uma substancial parte do
seu orçamento advindo do turismo. Turismo tem seus ciclos de geração de
recursos. Claro que gestores de áreas protegidas preferem apoios financeiros
estáveis, mas devem existir diversos mecanismos para levar o dinheiro de uma
parte para outra. Mas eles existem e funcionam.”
Safari na África: roteiros naturais que preservam biomas e animais
Oliver
Hillel considera que o Brasil “ainda está engatinhando” no uso de iniciativas
pró-ativas no desenvolvimento do turismo em áreas protegidas como estratégia de
preservação da biodiversidade. E lembra países onde podemos buscar referências
para nos transformar: Quênia, África do Sul, Costa Rica, Estados Unidos,
Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Botswana.
Quanto vale esta experiência na savana africana?
E o vinho?
Posso
garantir que o turismo sustentável bem feito traz um grande conjunto de
benefícios, e ao contrário do que muitos pensam, não é coisa para
“bicho-grilo”: em todos eles o turista é tratado com classe, e em todos eles o
vinho é parte da experiência e das refeições, porque o vinho - um produto
essencialmente natural - combina com natureza, aventura e qualidade de vida.
Navios oferecem conforto e qualidade aos visitantes de Galápagos - incluindo boas alternativas em vinhos
Este
post é dedicado a Oliver Hillel, pelos seus mais de 25 anos dedicado à
preservação das riquezas naturais. Um brinde a isso.
Até nos Andes o turismo sustentável pode gerar renda, emprego e preservação
Saiba mais sobre sustentabilidade:
Turismo e
sustentabilidade: como beber desta fonte harmonizando benefícios - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/11/turismo-e-sustentabilidade-como-beber.html
Microvinhas:
curso inovador na Espanha sobre vinicultura sustentável e de alta qualidade em
minifúndios tem participação de especialista brasileiro - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/10/microvinhas-curso-inovador-na-espanha.html
Microvinhas: os benefícios de produzir vinhos que são eco, micro, top e show - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/11/oportunidades-e-dificuldades-para-o.html
MicroVinya: a revolução dos minifúndios sustentáveis de Alicante, Espanha, com vinhedos centenários recuperados e vinhos com poderosa identidade social - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/microvinya-revolucao-dos-minifundios.html
Coisa de chines: um mega hotel ecológico e futurista numa pedreira desativada - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/08/coisa-de-chines-um-mega-hotel-ecologico.html
Os impactos do Réchauffement de la Planète (a versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html
Jovens empreendedores espanhóis e portugueses fazem sucesso produzindo pranchas de surf com rolhas de cortiça recicladas - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/07/jovens-empreendedores-da-espanha.html
Fique esperto: saiba como a rolha de cortiça preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html
Bird&Wine: degustar vinhos e observar aves, a inteligente proposta de enoturismo da Rota do Vinho Utiel-Requena, Espanha - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/bird-degustar-vinhos-e-observar-aves.html
Enoturismo inteligente na Andaluzia, Espanha, propõe “paternidade responsável” de vinhas com “sigue tu cepa” - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/09/enoturismo-inteligente-na-andaluzia.html
Associazione Vino Libero: um manifesto italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html
(*) Rogério Ruschel é turista,
jornalista e consultor especializado em sustentabilidade. Ruschel acredita que
sustentabilidade e turismo PRECISAM andar juntos.
Ola Rogério como vai? Parabéns pelo blog, pela publicação e pela forma de viajar! Muito legal mesmo. Gostaria de lhe convidar a conhecer um portal para o qual escrevo, é o www.ecohospedagem.com que trata de turismo sustentável para turistas, como você, e também para hoteleiros!
ResponderExcluirUm abraço e parabéns novamente.
Thiago Cagna
Obrigado, Thiago. Vou visitar teu site.
ResponderExcluirAbs
Rogerio Ruschel
Muito bom, Rogério! Gostei. Por favor continue escrevendo sobre suas experiências -- sua visão pessoal é igualmente relevante. Você contou "Me hospedei em fazendas de turismo rural no Paraná e na Sicilia, onde ajudei a fabricar azeite e estocar vinhos" e fiquei curioso sobre os detalhes e possíveis analogias entre os duas lugares. Além deste site, onde encontrar suas outras reportagens? Abraços, Carlos
ResponderExcluirOla Carlos - grato pela visita e pelas palavras.
ExcluirTanto o ecoturismo quanto o turismo rural feitos de forma correta tem os mesmos princípios em qualquer lugar do mundo: os recursos locais e as atividades produtivas são a atração, e o turista cresce em contemplação do belo, mas também com aprendizado e sensibilidade. Entre as possíveis analogias, anote esta que é 100% verdadeira: pessoas que moram no interior e trabalham com a terra, são mais calmas, mais educadas e mais felizes. No site www.ruscheleassociados.com.br tem algumas matérias minhas (em Artigos); em http://issuu.com/vivacotia/docs/viva_cotia_4__edi__o_-_novembro_de_2012 tem alguma coisa também.
Grato pelo apoio e gentileza. Veja o que publiquei hoje, sobre a Unesco e vinhedos.