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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Trump quer detonar os vinhos europeus com super-sobretaxas; o que os brasileiros podem ganhar com isso?

Por Rogerio Ruschel
Se a supertarifação de 25% mais 100% sobre todos os vinhos europeus no mercado norte-americano a partir do fim deste mes de janeiro de 2020 como determinado pelo governo dos Estados Unidos de fato acontecer, as consequências podem mudar o mapa do vinho do mundo. E de certa forma beneficiar os consumidores brasileiros. Veja porque.
A agência Reuters informa que a primeira consequência seria a perda de vendas por parte dos maiores produtores europeus de vinho - e pelo efeito cascata, de todo o negócio da vitivinicultura europeia. Três dos cinco maiores produtores de vinho do mundo estão na Europa - Itália, França e Alemanha, além dos EUA e a China. A União Europeia representa mais de 60% da produção mundial de vinho de alta qualidade, mas segundo consta, apenas 8% da produção vai para os Estados Unidos – o maior consumidor, com 2,6 milhões de hectolitros em 2018. Pelo menos diretamente, isso é, não contabilizando eventuais re-exportações que passam por determinados países para chegar aos portos norte-americanos.
A segunda consequência seria a demissão de 78.000 pessoas nos EUA e uma perda de 10 Bilhões de Dólares para o país. Isso porque afetaria 47.000 varejistas de vinho do país e mais de 6.500 importadores e distribuidores.
Se a supertaxação acontecer e permanecer, os europeus vão ter que exportar seus produtos para outros mercados. Estes mercados teoricamente seriam a Grã-Bretanha (que já tem seu próprio problema, com o Brexit), a China, o Japão, a Europa “mais pobre” e a America Latina, onde o Brasil é o país com o maior consumo em volume, e o que paga mais caro por mais produtos estrangeiros. Sim, isso mesmo, os brasileiros são  alguns dos consumidores que poagam mais caro por rótulos ilusórios e fake-wines fabricados por sommeliers contratados à la carte para elogiar. Para cada 10 garrafas de vinho vendidas hoje no Brasil, apenas uma é nacional, segundo Deunir Argenta, presidente da Uvibra. Em volume, o país importou 110 milhões de litros de vinho em 2018, em comparação com 14 milhões de litros de vinhos finos nacionais vendidos no mesmo período.
Essas sobretaxas sobre o vinho europeu se originaram quando o Escritório de Comércio dos Estados Unidos propôs no mês passado impostos punitivos sobre as importações de vinhos e outros bens no valor de US $ 2,4 bilhões, depois que se soube que um novo imposto francês sobre os serviços digitais prejudicariam empresas americanas. E antes disso, uma primeira taxação inesperada de 25% sobre os vinhos europeus já havia sido imposta porque os norte-americanos estariam querendo “se vingar” da guerra comercial entre a Boeing europeia e a Airbus norte-americana.


Sendo assim, pode ser que reduzindo vendas para Estados Unidos e Inglaterra os europeus procurem aumento de vendas no Brasil, o que, em tese, baixaria os preços aos consumidor final, embora saibamos que a volúpia por lucro dos importadores, revendedores e supermercados (que se justificam falando em impostos) é uma triste realidade. Neste caso quem pode sofrer inesperadas consequências é o Chile, porque quase metade das importações brasileiras veio do Chile no ano passado. Se fosse aqui no Brasil diriam que o president está fazendo isso para beneficiar a Vinicola Trump gerida pelo filho Eric Triump, enorme, mas que recentemente pediu permissão para contratar estrangeiros para cargos rejeitados por trabalhadores norte-americanos…
Na sequência Portugal seria afetado em seus planos em relação ao Brasil, embora tenha anunciado seu objetivo de ultrapassar o Chile como maior exportador para opaís trppical em poucos anos. Isso porque além de - potencialmente - ter que competir com produtos franceses e italianos com preços em queda, os portugueses ainda teriam que se preocupar com os 130 milhões de Reais provindos do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados para criar  o Fundo Modervitis, que será usado para apoiar vinícolas brasileiras na concorrência com os importados no context do Acordo Mercosul e Uinão Europeia. Leia sobre este Fundo aqui: http://www.invinoviajas.com/2020/01/brasil-vai-investir/
Será que vamos nos beneficiar com a Guerra commercial entre os Estados Unidos e a União Europeia? Ou, por milagre, será que finalmente os produtores brasileiros entenderiam que precisam conquistar o mercado brasileiro com produtos de qualidade com relação custo-benefício razoável, antes de querer lucrar em dólar?
Quem viver verá.

Um comentário:

  1. O mais provável é que os brasileiros (pelo menos os consumidores), não ganhem nada...
    O Modervitis (a questão é quanto dos 130 mi vão sobrar - SE sobrar - após os permanentes contingenciamentos e cortes do orçamento) poderia ajudar a baixar o custo de fabricação, mas acho que provavelmente vão gastar tudo em divulgação/promoção (inclusive acho que os preços atuais do vinho nacional eles deveriam promover/divulgar mais o enoturismo do que o vinho...) além de quê, como comentaste, o custo não é bem o problema...

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