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sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Saiba porque Madalena, vila da Ilha do Pico, nos Açores, um Patrimônio da Humanidade pela Unesco, foi eleita a Cidade Portuguesa do Vinho de 2017


Por Rogerio Ruschel (*)

Entrevista exclusiva com o Prefeito de Madalena e com o Presidente da CVRAçores sobre os planos da Cidade Portuguesa do Vinho de 2017.

Estimado leitor ou leitora. O território português do Arquipélago dos Açores tem uma origem conturbada e heróica: em uma região do Oceano Atlântico a cerca de 1.700 Km de Lisboa, a erupção de um vulcão fez surgir um amontoado de rochas com alguma terra. Na foto acima, o Museu do Vinho da Ilha do Pico e ao fundo a montanha do Pico, também abaixo.

Ao longo dos séculos as ilhas foram sendo colonizadas e hoje formam a Região Autônoma dos Açores, um conjunto de 9 ilhas e muitas ilhotas com cerca de 250.000 habitantes. A maior e mais populosa delas, a ilha de São Miguel e sua capital, Ponta Delgada, têm pelo menos a metade deste total. E a Ilha do Pico, onde está a montanha do vulcão do Pico, é a segunda maior e o Concelho de Madalena (município) tem cerca de 6.000 habitantes (foto abaixo).

Com uvas trazidas de Creta (Grécia) e da Sicília (Itália) conforme afirmam alguns historiadores, na Ilha do Pico foi implantada uma “indústria de vitivinicultura única no mundo, em solos que desafiam a sua própria definição, porque praticamente só existe rocha e muita pedra amontoada em muros que circundam as videiras para as proteger dos devastadores ventos salinos “, como resume Paulo Machado, presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores.
O trabalho com a vitivinicultura feito a partir do ano 1432 nesta ilha já teve vários reconhecimentos, entre os quais destaco dois: em 2004 a Cultura da Vinha da Ilha da Pico foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura; e semana passada, Madalena, sua capital, foi eleita como a Cidade Portuguesa do Vinho de 2017 pela Associação Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), derrotando outros cinco candidatos: Alenquer + Torres Vedras (Lisboa), Moura (Alentejo), Pinhel (Beira Interior) e Vila Nova de Foz Côa (Douro). Para os brasileiros descendentes de açorianos, especialmente no sul do país, destaco a mensagem do prefeito de Madalena, José António Soares, abaixo: ele informa que pretende promover os Açores no Brasil, especialmente em Santa Catarina.Na foto abaixo as curraletas, organização do solo com muro de pedras basálticas para proteger as videiras. Cada curraleta pode ter entre 6 e 10 videiras.

Para contar esta historia da Ilha do Pico, entrevistei as pessoas responsáveis pelas atividades da Cidade Portuguesa do Vinho de 2017: o prefeito da cidade e o presidente da associação dos produtores de vinho. Espero em breve apresentar a você aspectos do turismo no arquipélago, das tradições culturais e dos vinhos dos Açores, mas agora veja as entrevistas exclusivas que estas lideranças picoenses deram a “In Vino Viajas”.Na foto abaixo a igreja da Lajes do Pico.

Entrevista com José António Soares, presidente do Conselho de Madalena (prefeito)

R. Ruschel: Quais os compromissos assumidos pelo Município de Madalena por ocasião da candidatura, qual a programação planejada?
José António Soares: Ao formalizar a sua candidatura, o Município propôs-se dinamizar uma vasta panóplia de eventos ao longo do ano, que irão fazer da Madalena o principal núcleo da vitivinicultura na região e no país.
Das artes às ciências, dando enfase às singularidades da nossa terra, serão realizadas várias iniciativas destinadas a um público eclético e heterogéneo, abrangendo todas as faixas etárias. Desde a realização de workshops, conferências e tertúlias à apresentação de livros e realização de feiras, dezenas de eventos prometem animar o Município, que viverá o seu momento apoteótico em julho, nas Festas da Madalena, um dos mais importantes festivais açorianos, cuja edição de 2017 será dedicada ao Vinho.
Destaco ainda, a realização da Gala de Abertura da Cidade do Vinho em março, bem como a celebração de diversas efemérides, nomeadamente o Dia Europeu do Enoturismo e a Gala dos 10 anos da Associação de Municípios Portugueses do Vinho, que certamente permitirão refletir sobre o passado, o presente e o futuro do mundo rural e da vitivinicultura, celebrando a nossa mais intrínseca identidade.
R. Ruschel: Qual foi o orçamento apresentado por Madalena para promover-se como Cidade Portuguesa do Vinho 2017?
José António Soares: O orçamento previsto para a realização do evento é de 50 mil Euros. Na foto abaixo, o interior da igreja Santa Maria de Madalena.

R. Ruschel: Como se pretende realizar a promoção da cidade no exterior? Há interesse em promover Madalena e Açores no Brasil? E na América Latina?
José António Soares: A promoção da Madalena, do Pico e dos Açores além-fronteiras é fundamental para a Câmara Municipal, que tem vindo a envidar os seus melhores esforços em prol da afirmação do Município no exterior, sendo os resultados muito positivos, dado o crescimento exponencial do turismo no Concelho e na Ilha.
Neste sentido, a importância da diáspora como veículo de promoção é fundamental, tendo o Brasil um papel central, dada a dimensão e importância da comunidade açoriana aí residente, muito em particular no Sul, no estado de Santa Catarina.
R. Ruschel: Como o Município avalia os benefícios que os Açores e a Madalena poderão obter sendo a Cidade Portuguesa do Vinho em 2017?
José António Soares: A Cidade do Vinho é o evento mais importante da vitivinicultura em Portugal, e irá fazer da Madalena em 2017 o principal núcleo do setor na região e no país.
O evento, que se realiza pela primeira vez nos Açores, irá potenciar de forma incontornável o turismo, o enoturismo e todas as áreas de atividade a montante ou a jusante destes setores, alavancando o tecido empresarial local, e por conseguinte, toda a economia.
Fortalecendo a marca Madalena, Capital dos Açores da Vinha e do Vinho, o evento irá ainda reforçar de forma indelével o vinho como produto estratégico e singular do Concelho, associando-o ao património edificado e natural da Madalena, numa visão multidimensional, projetando o Município e a Ilha além-fronteiras.

R. Ruschel: Qual a entidade ou organização dos Açores responsável pela proteção e gestão do Património da Humanidade?
José António Soares: A Direção Regional do Ambiente e o Parque Natural da Ilha do Pico são as entidades responsáveis pela proteção e gestão da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, Património da Humanidade.
Entrevista com Paulo Machado, presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores

R. Ruschel: Qual foi a participação da CVRAçores no projeto? E como vai apoiar na realização dos eventos?
Paulo Machado: A CVRAçores colaborou como parceiro no projeto, disponibilizando informações e dados importantes para reforçar e fortalecer a candidatura. Nos eventos que se realizarão em 2017 a CVRAçores deverá apoiar as ações dedicadas à promoção dos vinhos certificados, nomeadamente feiras, concursos, debates, provas temáticas e dentro do seu campo de atuação, canalizar recursos para divulgar a Capital do Vinho dentro e fora da região.

R. Ruschel: Como a CVRA e/ou o Concelho avalia os benefícios que Madalena e os Açores poderão obter sendo a Cidade Portuguesa do Vinho 2017?
Paulo Machado: No entender da CVRAçores esta é uma oportunidade excelente para dinamizar e dar a conhecer ao país e ao mundo uma das mais singulares construções humanas ligadas à prática vitícola. O aumento do número de visitantes que se deslocarão ao Pico para conhecer a Cidade Portuguesa do Vinho trará dividendos diretos para os produtores de vinho, aumentando o reconhecimento dos vinhos locais, mas também para toda a indústria turística já instalada que concilia história, cultura, património, vulcanismo e diversas atividades marítimas.
Socialmente será muito importante, permitindo o reforço de uma identidade muito própria da população local, que tem uma ligação muito estreita com o vinho. Poucas regiões no mundo tem uma cultura vínica tão enraizada como aqui. Praticamente todas as famílias produzem uvas e vinhos pelo menos para autoconsumo e fazem das suas pequenas adegas o espaço primordial para receber e festejar com os seus amigos. Para a indústria vitivinícola local será a confirmação do excelente trabalho realizado nos últimos anos com forte investimento na melhoria da qualidade dos vinhos e no aproveitamento das especificidades locais (castas únicas, solos vulcânicos, clima marcadamente marítimo e imprevisível).

R. Ruschel: Qual o legado que a CVRAçores estima que vai ficar para a comunidade?
Paulo Machado: Acima de tudo ficará o fortalecimento da identidade de um povo que sobreviveu e criou riqueza em torno da indústria do vinho.
R. Ruschel: Como os produtores conciliam a produção de uvas (490 hectares) com as áreas classificadas pela Unesco na Ilha do Pico
Paulo Machado: A maioria da área em produção encontra-se dentro da zona classificada pela UNESCO, por também ser esta a de maior potencial vitícola e onde as uvas atingem melhor qualidade. As intervenções do homem são muito semelhantes às realizadas pelos primeiros viticultores 500 anos atrás, pois é impossível a mecanização. É um modo de cultivo ancestral, perpetuado ao longo de gerações.
Os viticultores respeitam muito o património que lhes foi legado e não havendo muitas possibilidades de intervir de forma diferente, acreditam que esta é a melhor forma de produzir uvas e resistir às adversidades climáticas. Na foto abaixo alguns dos vinhos dos Açores.

R. Ruschel: Como a denominação de Patrimonio da Humanidade pela Unesco agrega valor aos vinhos dos Açores?
Paulo Machado: A classificação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha da Pico como Património da Humanidade é o reconhecimento de uma viticultura única no mundo, em solos que desafiam a sua própria definição, porque praticamente só existe rocha e muita pedra amontoada em muros que circundam as videiras para as proteger dos devastadores ventos salinos. Nestas condições as produtividades são muito baixas embora os vinhos tenham características únicas (salinos, minerais e muito frescos) que os tornam inigualáveis e de grande qualidade.
Poder em cada garrafa transmitir uma história heroica de sobrevivência e transformação de um terreno inóspito e improdutivo em fonte de riqueza, que é reconhecida pela UNESCO, é uma enorme valorização para os vinhos do Pico. 
Saiba mais sobre os vinhos dos Açores em http://www.cvracores.pt/

Rogerio Ruschel (*) publica este blog em São Paulo, Brasil, e sempre sonha em conhecer a Ilha de Pico e outros rincões da cultura do vinho reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Leite fresco 24 horas em caixas automáticas e hortas orgânicas na creche comunitária: conheça duas ideias sustentáveis de vilarejos de Rhone-Alpes, França


Por Rogerio Ruschel (*)
Estimado leitor ou leitora, como você sabe, o foco de In Vino Viajas é o vinho e as historias que o cercam - a cultura do vinho. Mas você e eu também gostamos de queijos e alimentos orgânicos – e estes produtos vêm da terra. Então vou mostrar duas pequenas grandes ideias criativas com foco na sustentabilidade que conheci na região francesa de Rhone-Alpes, bem perto da fronteira com a Suiça. Uma delas você está vendo na foto acima: uma caixa automática de leite fresco, o que se poderia chamar de uma vaca eletrônica.

A caixa automática está implantada na rua central de Saint Gennis Poully, um vilarejo com 8.500 moradores no Departamento de Ain, Cantão de Ferney-Voltaire, em Auvergne-Rhone-Alpes, França. A caixa automática é abastecida todos os dias as 6:00 horas da manhã e pode ser comprada a qualquer momento. Um litro de leite fresco e cru, que sai geladinho de uma torneira acionada pelo comprador, custa em torno de R$ 4,00 incluindo a garrafa de vidro (veja detalhes acima e abaixo).

Não sei se eles tem uma cooperativa para a produção e entrega do leite, ou se é uma empresa que compra e explora o ponto de venda automático; o que importa é que o leite fresco está disponível a qualquer momento para moradores e visitantes e era muito gostoso!

A igreja de Pouilly-St-Genis apareceu pela primeira vez nos mapas religiosos no atlas histórico de G. Debombourg com o nome latino de Pulliam, na época do segundo reinado de Bourgogne, entre os anos de 879-1032.  E se hoje a igreja não é significativa, outra atração turística de Pouilly-St-Genis são os painéis pintados nos prédios; veja acima e abaixo alguns deles.


Pouilly-St-Genis fica no sopé do Jura, a cadeia de montanhas que fica na fronteira com a Suíça, na área transfronteiriça de Genebra. Por isso grande parte do CERN, o acelerador de partículas de Genebra e maior laboratório de pesquisa de física fundamental do mundo, está localizado no território do vilarejo desde meados da década de 1960. O experimento ALICE está localizado na periferia da cidade, e a entrada principal para o campus primário do CERN (Meyrin) e para o experimento ATLAS estão localizados apenas a 3 km do centro de St Genis. Isto tudo aquece a economia local. Visitei o CERN (foto abaixo), que você pode conhecer aqui: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/10/conheca-o-cern-o-acelerador-de.html
E por falar em  economia local: a caixa automáticva de leite foi fabricada em Chênex, uma pequena comunidade próxima de Pouilly-St-Genis, na região de Rhone-Alpes, no departamento de Haute-Savoie, a uns 8 Km da fronteira com a Suíça. A comunidade de Chênex foi fundada na Idade Média, com o primeiro registro no ano de 1344 e tem como principal atividade a agricultura e o turismo relacionado com a qualidade de vida já que é cercada por áreas verdes. Tudo muito ecológico, muito verde, como a foto abaixo mostra. 

Pois para harmonizar a vida ecológica que os “Chênexiennes” são obrigados a ter, o município decidiu potencializar o principal recurso que tinha – terra para plantar – e criou as hortas comunitárias. As hortas ou jardins familiares, como eles chamam oficialmente, são áreas de 25 m2 a 50 m2 de propriedade pública ao lado da creche municipal, cedidas por um pequeno valor aos moradores interessados em plantar alimentos orgânicos. Veja o cartaz promocional abaixo. Cada “inquilino” deve implementar uma cultura que atenda sua família e que possa trocar com outros, oferecendo o que eles chamam de “uma melhor convivência comunitária.” E obviamente é proibida a venda ou qualquer atividade comercial. Simples e criativo, não? 

Mas aqui está o melhor: porque fazer hortas? Os  “Chênexiennes” acreditam que as hortas criam laços sociais entre os cidadãos porque promovem celebrações e intercâmbios porque os participantes se comprometem e a respeitar outros jardineiros, seus vizinhos na comunidade. Alem disso a ideia incentiva a produção e o consumo de produtos orgânicos, promove o relacionamento entre diferentes gerações e ainda disponibilizam as crianças da creche uma ferramenta didática. Isso é o que eu chamo de pequena grande ideia de quem olha para o futuro.

Um brinde a isso – com leite e vinho!

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e divulga ideias sustentáveis, mesmo que sejam pequenas


 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Protegendo safras: engenheiros do Chile criam sistema anti-terremoto para proteger barricas e garrafas de vinhos, depósitos, máquinas e adegas no mundo inteiro


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, infelizmente terremotos abalam famílias, vilarejos, comunidades e países com muita frequência. Não temos como evitá-los, mas podemos tentar reduzir seus danos. E eles ocorrem em todo o planeta; esta semana sacudiu a Nova Zelândia. Na Europa a Itália tem um histórico de terremotos e erupções vulcianicas de vários séculos, mas vem sofrendo muitos tremores neste segundo semestre de 2016. Em outubro o centro do país foi abalado por um terremoto que foi o mais intenso desde 2009, que deixou 159 mortos e milhares de desabrigados (fotos abaixo).
Além destas perdas, os estragos também estão no patrimônio cultural e arquitetônico e nas atividades regulares da agricultura, entre as quais a vitivinicultura. Entre as regiões vinícolas mais suscetíveis por terrremotos no país estão as áreas próximas dos Apeninos, a Toscana, Umbria, Marche, Emilia-Romana, Abruzos, Lacio e a Sicilia, que tem historias arrepiantes relacionadas com o vulcão Etna.Outros dois vulcões assustam os italianos: Vesuvio (no Golfo de Nápoles) e o Stromboli, na ilha Stromboli.
Já na America do Norte a principal vítima no setor vinícola é a California. Um terremoto em agosto de 2014 causou perdas milionárias à indústria vinícola em Napa Valley – como dá para ver na foto que abre este matéria e até mesmo lojas de vinhos, como a da foto abaixo. O que a seca de dois anos não havia conseguido prejudicar, o terremoto fez em segundos, destruindo milhares de barris de vinho. Especialistas avaliaram que as perdas chegaram à cifra de 1 bilhão de dólares, em um setor que movimenta mais de 13 bilhões de dólares por ano. Entre os produtos em estoque a colheita de 2013 foi uma das mais afetadas, mas a de 2012, tida como Vintage, ficou praticamente intacta porque se encontrava em pallets de carga e bem acondicionada, pronta para a distribuição. 
Na America do Sul o Chile é quem sofre com os terremotos mais destruidores porque o país se encontra em área de elevada tensão e instabilidade geológica propiciada pelo choque direto das placas tectônicas de Nazca, posicionada sob o Oceano Pacífico, e a Sul-americana, posicionada na América do Sul. O maior terremoto da história recente ocorreu justamente no Chile, na cidade de Valdívia, em 1960. Naquele ano, a intensidade alcançou os 9,5 graus na Escala Richter, provocou mais de 2.000 mortos, em uma das maiores catástrofes naturais da história da humanidade. 
Em 27 fevereiro de 2010 um terremoto com magnitude de 8,8 desabrigou mais de dois milhões de pessoas e afetou diversas áreas de vitivinicultura que tiveram suas plantações e adegas afetadas. Pelo menos um em cada quatro tanques de aço inoxidável com vinho foram afetados, resultando numa perda de 125 milhões de litros, o equivalente a 12,5% da produção em 2009. Algumas infra-estruturas, especialmente das regiões de Maule e Rapel, localizadas perto do epicentro, tiveram danos gigantes; o vinho é a principal indústria de duas das regiões mais próximas ao epicentro do terremoto, Maule e Bio-Bio (mapa abaixo).
Pois no fim de outubro de 2016 os vitivinicultores destas regiões em todo o globo terrestre ouviram uma boa noticia: um grupo de pesquisadores da Universidade Católica do Chile desenvolveu um sistema de isolamento sísmico para recipientes de líquidos especificamente concebido para proteger os depósitos dos vinhos de terremotos. O sistema consiste de um conjunto de dispositivos flexíveis que são instalados nos suportes do reservatório, o que produz um efeito isolante. A idéia é que a energia do terremoto seja absorvida pelo isolamento dos dispositivos de vibração que isolam os dois movimentos no solo: horizontal e vertical, numa adaptação dos sistemas já utilizados em edifícios com grande altura que tem um sistema pendular de balanço vertical. O sistema, de acordo com os pesquisadores, pode ser dimensionado para o tamanho e peso que forem necessários e poderá também proteger os equipamentos e máquinas industriais em geral. Os criadores esperam que os equipamentos comecem a ser entregues aos compradores em 2018.

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasil, onde não há terremotos, a não ser os provocados por politicos



quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Cambados, na Galícia, Espanha, é a Cidade Europeia do Vinho 2017: conheça seu patrimônio cultural, história e seus vinhos Alvarinho da D.O. Rias Baixas


Por Rogerio Ruschel (*)
Cambados, cidade da Galícia, Espanha, município turístico integrante da Denominação de Origem DO Rias Baixas e da Rota do Vinho Alvarinho foi eleita Cidade Europeia da Vinho 2017. O anúncio foi feito no evento de gala da Rede Europeia de Cidades do Vinho (Recevin), realizada na Cidade Europeia do Vinho 2012, Palmela (Portugal), dia 4 de Novembro de 2016. Na foto abaixo o conselho da Recevin, sob o comando do presidente José Calixto, faz a análise das quatro candidaturas.
 Pelo acordo entre as entidades associadas que formam a Recevin (rede de produtores e de cerca de 800 cidades vinícolas de Áustria, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Eslovénia, Espanha e Portugal), este ano a escolha recairia sobre uma cidade espanhola e Cambados - a capital do vinho Alvarinho - venceu a concorrência pesada com três cidades finalistas, com forte tradição na vinicultura: Aranda del Duero (Burgos), Villafranca del Penedés (Barcelona) e La Palma del Condado ( Huelva, Andaluzia).
O projeto vencedor de Cambados, apresentado pela prefeita Fatima Abal, o conselheiro de Enoturismo José Ramón Abal e o gerente da Mancomunidade do Salnés, Ramón Guinarte, inclui um investimento de 450 mil euros para a realização de cerca de 80 atividades de enoturismo em 2017, que você vai conhecer aqui em breve. Aranda del Duero, capital vinícola da Ribera del Duero ficou surpresa com o resultado porque segundo a prefeita Raquel González, a comunidade tinha muito apoio popular e um belo projeto,no qual iria investir 2,5 milhões de Euros.

Cambados vai suceder as cidades italianas de Conegliano & Valdobbiadene, Cidades Europeias do Vinho 2016. Cambados é uma cidade litorânea e portuária com 13.500 habitantes na Provincia de Pontevedra, noroeste da Espanha, próxima da fronteira com Portugal (190 Kms da cidade de Porto) que atrai turistas por suas belezas naturais, patrimônio histórico, esportes de natureza e por seus vinhos brancos Albariño (Alvarinho em Portugal), que harmonizam perfeitamente com o grande destaque da gastronomia da região: os frutos do mar vendidos especialmente no Mercado de la Plaza.

Estive em Cambados (foto abaixo) como palestrante do Congresso Internacional de Enoturismo - edição Europa, evento realizado no Edificio Penã em julho de 2015 realizado pela Associação Internacional de Enoturismo (Aenotur), aliás criada em junho de 2014 em Cambados – veja entrevista no fim desta reportagem.

O Congresso teve o apoio dos Concelhos de Castelo de Viana (Portugal) e Cambados (Espanha), além da Xunta de Galizia. Na foto abaixo a prefeita Fatima Abal, ao centro, está co-presidindo a mesa do evento, ao lado de dirigentes da Aenotur.



Visitei a cidade, o litoral e o porto (fotos acima), o Conjunto Historico de Cambados que inclui a adega-monumento Palacio de Feniñanes, visitei bodegas e vi uma coisa rara: o  resultado do trabalho da maré que sobre e desce em um vinhedo da Bodega Lagar da Costa (fotos abaixo). 




Visitei várias lojas especializadas (fotos acima) e degustei vinhos da centanária Bodega Paco Baión com seus vinhedos fantásticos e sede com arquitetura arte deco (fotos abaixo; na foto do grupo visitante, a prefeita Fatima Abal está na frente, de roupa amarela).

Visitei e degustei alvarinhos de exportação também na extraordinária adega Martin Codax, uma das mais bonitas e bem organizadas para o turismo que já conheci – veja as fotos abaixo.


Quando você for a Cambados já como Cidade Europeia do Vinho 2017, aproveite para conhecer a Praça e o Palacio de Feniñanes com seu castelo e adega histórica (foto abaixo); as ruinas de Santa Mariña de Dozo (foto abaixo), a torre de San Saturnino e o Mirador da Pastorapara ter uma visão ampliada da cidade e do porto.

Mas principalmente aproveite para relaxar, passear pela cidade e região e comer os famosos frutos do mar acompanhado do badalado vinho Alvarinho. Brindo a esta sua experiência!
Saiba mais: Prefeito de Cambados e presidente da Aenotur mostra como a experiência internacional pode ajudar o desenvolvimento do enoturismo no Brasil - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/03/espanhol-que-preside-aenotur-apresenta.html
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasil, mas gosta de vinhos alvarinhos, turismo de qualidade e de beber com amigos de qualquer lugar do mundo


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Vinhos orgânicos, azeites finos, alfarrobas saudáveis e animais felizes: veja como o capitão Zeppenfeld construiu um pequeno paraíso sob o glorioso céu do Alentejo


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, há cerca de 25 anos um capitão da marinha mercante e também armador de Bremen, Alemanha, chamado Horst Zeppenfeld, lançou âncoras no Vale do Açor de Cima, em Mértola, no Baixo Alentejo, Portugal. O alemão e sua mulher se apaixonaram pela região (o que não é dificil porque todo mundo se apaixona pelo Alentejo) e resolveu investir na compra de uma propriedade atendendo um sonho antigo: produzir vinhos com qualidade e identidade, de maneira sustentável.


Naquele tempo poucas pessoas falavam em vinhos sustentáveis, mas ele comprou a sociedade Agrícola Herdade dos Lagos e começou a trabalhar com este foco. 25 anos depois hoje a vinícola trabalha com as uvas tintas Aragonez, Syrah, Touriga Nacional e Alicante Bouschet e as brancas Alvarinho e Arinto (vindas do Norte do país), com os quais produz 100% de vinhos biológicos que ganham prêmios internacionais e recomendações de especialistas – e é a unica vinicola do Alentejo que conseguiu isso.

O capitão Zeppenfeld e sua equipe tiveram muito trabalho, enfrentaram muita burocracia, mas colheram bons frutos. Atualmente a Herdade dos Lagos ocupa uma área de 1000 hectares, nas quais foram construídas quatro barragens com lagos que ajudam na agricultura e na alimentação de cerca de 1000 ovelhas da raça Merina (foto abaixo), que devem ser felizes porque vivem bem em troca apenas da lã. Mas as ovelhas são um complemento ao negócio, porque em primeiro plano está o cultivo de vinhas, das olivas e da alfarroba, um vegetal que pode substituir o cacau.

Na propriedade de 1000 hectares, a Herdade dos Lagos produz vinhos tintos, rosés e brancos biológicos (alguns veganos) em 25 hectares; azeite extra virgem de alta qualidade em oliveiras que ocupam 80 hectares; produz também um mel biológico muito puro e uma vagem chamada alfarroba em 260 hectares do solo seco. Além de fibras alimentares, a alfarroba (foto abaixo) contém muito cálcio e ferro, o que a torna ideal para dietas e para a alimentação de crianças e para fazer farinhas sem colesterol, glúten e lactose, uma alternativa perfeita para pessoas alérgicas o chocolate. Bem coisa de alemão, não?

Hoje tudo na propriedade é feito seguindo os princípios da agricultura biológica certificada, um modelo de negócio baseado na utilização eficiente dos recursos naturais e baixa pegada ambiental. A produção vinícola, por exemplo, chegou a 100% de certificação biológica no ano de 2006. Veja no quadro abaixo os principios da vitivinicultura orgânica.

Mas a Herdade dos Lagos vai além de produtos certificados: faz o aproveitamento das águas da chuva e da energia solar, faz colheita manual, investe na manutenção do ecossistema e das cadeias alimentares e ajuda a preservar plantas e animais. Um dos destaques atrai muitas pessoas porque é interessante: mais de 30 ninhos artificiais de grande porte colocados em postes e árvores da Herdade (foto abaixo) para servirem de “residência de verão” as cegonnhas. E todos os anos nidificam cerca de 1.500 grous (Grus grus) e outras aves migratórias que fazem dos lagos da Herdade dos Lagos locais de estadia temporária, todos os anos.



Os ninhos de cegonha foram colocados pela Liga da Proteção da Natureza – a mais antiga ONG de meio ambiente da Peninsula Ibérica – porque há 15 anos as aves corriam o risco de desaparecer. Elas vêm do Norte da Europa (Fino-Escandinávia) fugindo do frio, chegam à Península Ibérica no final de Outubro e se distribuem pela Andaluzia e Extremadura (na Espanha) e pelo interior do Alentejo, viajando até 3.500 Km. Em março e abril eles nidificam e em julho vão embora com um ou dois filhotes. No inverno de 2015/2016 foram contados 2.184 animais no Baixo Alentejo. 

A filha do Capitão Zappenfeld, Antje Kreikenbaum, atualmente comanda a administração da empresa com o apoio do marido, o arquiteto paisagista Thorsten Kreikenbaum e a ajuda de Carsten Heinemeyer, enólogo e dos executivos portugueses Helena Ferreira Manuel, gestora agrícola, que gere em Portugal a propriedade e Carlos Delgado, agrônomo responsável pelo marketing e vendas, com quem estou na foto abaixo. As vendas e o marketing internacional são realizados pelo escritório de Bremen, onde os produtos podem ser encomendados diretamente. Aliás, cerca de 50% da produção é vendida na Alemanha.
Então você já sabe: dentro uma taça de um HDL Aragonez Bio estão os premiados aromas do Alentejo, mas também o resultado de uma série de ações em benefício de um futuro melhor para nosso planeta. Eu brindo a isso!
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e conheceu o sonho do capitão Zeppenfeld a convite da Vinhos do Alentejo.