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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Vinhos vulcânicos, as montanhas Peloritani e as maravilhas de Tindari

Por Rogério Ruschel (*)
O promontório de Tindari

A Província de Messina é delimitada pelos oceanos Tirreno e Jônico e pelos montes Peloritani, uma cadeia de montanhas não muito altas (a Montagna Grande, maior pico, atinge 1.374 metros). De formação ígnea e metamórfica, a cadeia faz parte dos Montes Nebrodi a oeste e da estrutura do vulcão Etna, ao sul, e esconde pequenos vilarejos como Novara di Sicilia, Castroreale e Antillo.

Os montes Peloritani vistos de Novara

Saindo de Messina pelo litoral norte coloquei meu pequeno Fiat Panda alugado na rodovia 113, mais turística e menos movimentada do que a moderna auto-estrada A19 que vai até Palermo, com seus belos túneis e elevados. O destino era conhecer Milazzo e Tindari, mas na altura de Barcellona fui convidado a conhecer Novara di Sicilia, um típico vilarejo dos montes Peloritani. 


O vale dos montes Peloritani 
E bota típico nisso: o vilarejo – com 650 metros de altitude - tem menos de 2.000 habitantes e vocação para a agricultura, especialmente frutas, alguns vinhedos e oliveiras para a produção de azeite. Outro aspecto típico é a decadência generalizada (teve quase 7.000 habitantes na década de 1920), o que acontece de maneira generalizada na Sicilia. 

Explico. Com a entrada da Itália no grupo do Euro, aconteceram duas coisas: por um lado os jovens sicilianos agora podiam ir procurar emprego e estudar não mais só em Milão ou Roma, mas em qualquer pais europeu – e o estão fazendo. Na outra ponta, os mais velhos, que fizeram previdência social em Liras italianas, se aposentaram (com grandes ganhos) em Euros. Aliás, esta é uma das causas dos problemas econômicos da Itália neste momento. 
Com isso está ocorrendo um visível esvaziamento populacional e um empobrecimento da Sicilia. O fato de empresas tradicionais do negócio do vinho da Itália continental como os grupos Marzotto Santa Margherita, Grupo Italiano Vini e Zonin estarem investindo na ilha, e o turismo estar crescendo, pode ajudar a reverter essa tendência, mas a Sicilia tem andado “devagar” nos últimos 15 anos.
O vilarejo tem ruas simpáticas, ruínas de palácios romanos e cinco igrejas, sendo a mais importante a Catedral (Duomo), do século XVI. Encontrei um com restaurante familiar onde comi uma pasta com tempero local acompanhada por uma garrafa de vinho Etna – um dos 19 DOCs da Sicilia - produzido na vizinhança do vulcão, cujo solo vulcânico favorece os parreirais.

Mas o destino final era Tindari. Fundada ainda na Era do Bronze (1.500 A.C.), Tindari foi refundada pelos gregos em 396 A.C. e em 254 A.C. se tornou uma cidade romana. Me disseram que Tindari é uma das últimas cidades sicilianas que poderiam reivindicar uma origem puramente grega. O Santuário da Madonna Negra é a principal atração do que restou do ataque dos sarracenos à cidade no ano 836 D.C.; permaneceram ruinas de um anfi-teatro romano construído no século 4 A.C. e partes de antigos templos grego-romanos com este da foto abaixo.
 
Tindari está localizada na beira do mar e fui conhecer restos de antigas paredes na beira do precipício, onde talvez tenha havido um desmoronamento – pelo menos isso foi registrado pelo historiador Plínio, o Velho: segundo ele, metade da cidade teria sido engolida pelo mar. Dois portões da cidade ainda podem ser distinguidos.
 
Mas Tindari encosta no Mar Tirreno também em um litoral sem escarpas, formando uma espécie de praia – e o destaque é o Promontório de Tindari, local de grande beleza – veja a foto abaixo. Apesar de mais de 3.000 anos de história, Tindari foi meio “esquecida” durante boa parte do século XX e só voltou a ser valorizada mais recentemente.
 
No jantar, antes de dormir em um hotelzinho da vizinha Mazzarrà, tomei duas taças de um Sambuca di Sicilia, para comemorar a redescoberta de Tindari. No dia seguinte iria para Taormina, uma das “delicias” da Sicilia, que em breve vai estar aqui em outro post. Por enquanto, um brinde à Madonna Negra de Tindari, caro leitor.
 
 
Veja mais sobre a Sicilia:


Lenguaglossa, Moio Alcântara, Castiglione e Malvagnia:



Tindari e as montanhas Peloritani:




Pesquisa da Universidade de Catania:



(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/. Ruschel esteve na Sicília durante 30 dias, em 2005, pesquisando roteiros turísticos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Messina: a terra das Cruzadas, monstros gregos e vinhos brancos


Messina é uma tres maiores cidades da Sicília (250 mil habitantes) e o ponto da ilha mais próximo do continente italiano: uma ponte imaginária cruzando o Estreito de Messina teria menos de 3,5 quilometros até Villa San Giovani, na Calábria. Como tudo na Sicília, o Estreito – local de tráfego pesado de grandes navios de cruzeiro – é superlativo: fica no Mar Mediterrâneo e liga o Mar Jônico ao mar Tirreno. Muitos mares, muitas travessias, caro leitor...

  Do Porto de Messina se vê, do outro lado, a Itália continental

E muitas histórias e lendas, também. Fundada cerca de 756 A.C. por messenios que fugiram da Grécia liderados pelo rei Zancle, Messina tem uma história que é uma epopéia. Invadida sucessivamente por romanos, fenícios, bizantinos, árabes, normandos, vândalos, cartagineses e outros, e destruída por pestes e terremotos (é vizinha do vulcão Etna), Messina durante algum tempo foi a capital do Reino da Sicília. De Messina partiram muitos navios cheios de cavaleiros para participar das Cruzadas e a cidade recebeu visitas ilustres como Ricardo Coração de Leão em 1.190.  


A Sicília é grande produtora de vinhos brancos e doces, para sobremesa. Como já se produzia muito vinho branco na ilha desde que os gregos lá chegaram, é possível que eu tenha provado alguns Marsala, Malvasia delle Lipari, Monreales ou Mamertinos de Millazzo do mesmo jeito que Ricardo Coração de Leão e muitos reis e imperadores gregos, romanos, bizantinos e árabes. Não é um show?
O Duomo de Messina
Uma das lendas que se confunde com a história de Messina relata que na mitologia grega um monstro chamado Charybdis, filho de Poseidon e Gaia, habitava o litoral de Messina, exatamente no Estreito. As ondas em Messina teriam perturbado o grupo da Odisséiia (relatada por Ulisses) e Jasão e seus Argonautas – isso sem falar que Hércules andou por lá atrás de um touro perdido na região do vulcão Etna. Não vi Charybdis mas o Estreito é profundo o suficiente para esconder muitos monstros…
Fiquei impressionado quando cheguei a Messina de carro, vindo de Catania: ao descer uma ladeira entrando na cidade dei de cara com um imenso navio de cruzeiro que parecia ancorado no fim da rua! Depois fui saber que centenas deles aportam todos os meses, despejando turistas para passear na cidade ou fazer um bate-volta a Taormina, uma das cidades-delírio desta belíssima ilha      (que você vai conhecer em outro post, em breve).
Influência árabe e um gótico estranho por toda a cidade

Messina é uma cidade muito interessante, porque sua arquitetura registra todas estas influências ao longo dos séculos. Visitei algumas das atrações mais conhecidas, como a Catedral (Duomo), igrejas Góticas, a Igreja Santa Maria dos Alemães (de 1.200), a Abadia Santa Maria de La Valle, prédios árabes. E muitos restaurantes. 
Entre as delícias imperdíveis da Sicília estão temperos regionais, alguns dos melhores azeites da Europa, os vinhos da região de Marsala, as frutas fertilizadas pelas cinzas do vulcão Etna e os doces - os maravilhosos doces da Sicília que podem ser acompanhados por vinhos brancos sicilianos com uvas grillo ou catarrato.
Messina é a capital da Província do mesmo nome, por onde perambulei por alguns dias, conhecendo os Montes Peloritani, os vilarejos Milo e Novara e Tindari, uma praia com forte sotaque arqueológico. Mas isto é assunto para outro post, meu caro leitor. Enquanto isso um brinde à la Marsala!

Veja mais sobre a Sicilia:


Lenguaglossa, Moio Alcântara, Castiglione e Malvagnia:



Tindari e as montanhas Peloritani:




Pesquisa da Universidade de Catania:




(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/. Ruschel esteve na Sicília durante 30 dias, em 2005, pesquisando roteiros turísticos turísticos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sicilia: A terra dos três mares


Por Rogério Ruschel (*)
Lembra das brincadeiras na escola? O mapa da Itália parece uma “bota” - e a “bola” que ela está chutando é a Sicilia. Banhada por três oceanos - os mares Tirreno, Jônico e Mediterrâneo, de onde se originou seu slogan de Trimare (tres mares) - a Sicília é um mundo à parte, separada da Itália pelo Estreito de Messina, ponto de passagem entre o Ocidente e o Oriente. 
Ao longo dos séculos esta ilha foi cobiçada por todos os povos e grandes conquistadores da história, e no comportamento de seu povo e no território convivem nítidos vestígios das culturas fenícia, grega, romana, árabe, normanda, espanhola, alemã, francesa e outras mais antigas. E tudo isso aparece hoje para o turista na forma de um tesouro arqueológico, arquitetônico e cultural sem igual. 

A Sicilia é tão extraordinária que lá existem mais monumentos da Grécia Antiga do que na própria Grécia. Lá está também a casa romana mais bem conservada do mundo, em Piazza Armerina; no Vale dos Templos, em Agrigento, convivem ruínas gregas e romanas de templos com mais de 25 séculos - tudo tombado como Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.

Na Sicilia come-se e bebe-se maravilhosamente bem. A gastronomia é variada, com pratos campestres, muitos temperos e ervas, pastas e, é claro, frutos do mar. O vinho vem sendo feito na Itália há muitos séculos, e a Sicília, por sua posição geográfica, teve a oportunidade de aprimorar processos de cultivo e de industrialização diferenciados. 

  A partir de castas de uvas como Inzolia, Grecanica, Nero d' Avola, Perricone, Frappato, Nerello Mascalese e Catarrato, a Sicília produz em torno de 237 milhões de galões por ano, sendo a a segunda maior produtora de vinhos da Itália. Para quem aprecia, vai encontrar na ilha uma cultura enogastronômica acompanhada de atrações históricas e arquitetônicas sem igual.


Pois em 2005 tive a sorte de ser contratado para passar 30 dias na ilha fazendo visitas, sendo “obrigado” a conhecer atrativos e mantendo contatos especiais com especialistas em cultura e turismo e operadores turísticos, para montar roteiros de turismo cultural e ecológico, para serem comercializados para comunidades italianas de São Paulo e Nova Iorque – as cidades com mais descendentes de italianos ricos do mundo. Pois acredite, caro leitor: 30 dias não foi suficiente!


Visitei a região do Vale do Alcântara e passeei no Parque do vulcão Etna; visitei Catania e Caltagirone, Taormina e Forza D’Agró. Estive nas fantásticas ruínas gregas e romanas de Agrigento, no Templo de Segesta, na casa romana de Piazza Armerina e na capital Palermo. E evidentemente na região vinícola do nordeste, onde ficam Marsala, Trapani e a surpreendente Erice. E vou ter a alegria de relembrar tudo isto em uma série de posts que inicio hoje. Vou começar por Messina, no próximo post. Um brinde a isso, caro leitor.



Veja mais sobre a Sicilia:


Lenguaglossa, Moio Alcântara, Castiglione e Malvagnia:



Tindari e as montanhas Peloritani:




Pesquisa da Universidade de Catania:



 
(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - editor deste blog é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/. Ruschel esteve na Sicília durante 30 dias, em 2005, pesquisando roteiros turísticos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Movimento Cittaslow, Greve in Chianti e Slow Food


Neste post publico a segunda parte da entrevista com Paolo Saturnini, ex-presidente nacional da Associazzione Cittá Del Vino; ex-prefeito de Greve in Chianti entre 1995 e 2004; autor de dois livros de culinária envolvendo vinhos e do livro “L’armonia Del Chianti – riflessioni su una terra in bilico” sobre seu território e as memórias do nascimento do Movimento Cittaslow.
Proposto e implantado por Saturnini em Greve in Chianti em 1999, o Movimento Cittaslow - a mais revolucionária proposta de desenvolvimento urbano sustentável da atualidade - já está sendo aplicada em cerca de 150 cidades de 25 países. Saturnini me recebeu em Florença, na Itália, em fins de abril, e me concedeu esta entrevista exclusiva sobre a gênese e o desenvolvimento do Movimento Cittaslow que teve sua primeira parte publicada no blog “Cittaslow: a revolução urbana inspirada no vinho” e continua aqui.
  Congresso internacional do Movimento Cittaslow na Coréia do sul, em 2010
  
Ruschel:
Ser uma Cittaslow é viável só para cidades pequenas?

Paolo:
É mais adequado para cidades pequenas, para evitar que cometam os  mesmos erros das cidades que cresceram sem controle. Cidades pequenas devem preservar; cidades grandes precisam revolucionar – e não sabem como. Cidades grandes têm mais de uma alma: de culinária, de transporte, de energia, etc e porisso têm que fazer mudanças por bairros, por setores. Quem mora em cidades grandes, pode perder a noção de território, de pertinência e de tempo. Atualmente os estatutos da Cittaslow só aceitam cidades associadas com até 50.000 habitantes. Talvez este limite seja revisado na medida em que o movimento se amplie. (Nota do repórter: para se tornar uma Cittaslow, a cidade candidata tem que pagar 600 Euros de taxa de inscrição, receber a visita de auditores e promover uma reunião da qual participem pelo menos 3 municípios associados da rede. Feito isso, deve aceitar os termos dos Estatutos da associação e se comprometer com políticas públicas que ajudem a criar um ambiente propício para atingir os objetivos).
 Paolo Saturnini como ele gosta: rodeado de vinhos

Ruschel:
Como funciona o projeto Cittaslow?

Paolo:
Este é um projeto "em andamento" no sentido de que ele cresce por etapas, quer através do aumento do número de cidades participantes, quer pela aplicação e realização dos objetivos de Cittaslow nas cidades. Quando você se torna uma Cittaslow você tem certos requisitos; com o tempo não só esses requisitos devem ser mantidos - e na medida do possível melhorados - mas também deve lutar para viabilizar outros requisitos que ainda não tinha no momento de reconhecimento.

Ruschel:
Como foi implantado em Greve in Chianti, quais as dificuldades?

Paolo:
Primeiro explicamos os objetivos e debatemos publicamente sobre o que poderia surgir de positivo ou negativo. Criado um ambiente receptivo, começamos a discutir legislações relacionadas a assuntos de interesse coletivo como meio ambiente, energia limpa e mobilidade. Geve in Chianti tinha uma comunidade de imigrantes árabes, que têm outra cultura, e mesmo assim deu certo, porque não existiam diferenças econômicas gritantes. Seguimos nosso ditado “chi va piano va sano e va lontano” (em tradução livre, devagar se vai ao longe).
  
 
Massas e vinhos em loja de Greve in Chianti: a enogastronomia faz parte da cultura


Ruschel:
O movimento está em 25 países, inclusive em vários com culturas diferentes da européia como China, Estados Unidos, Nova Zelândia, Coréia do Sul e África do Sul. Como é feita a mobilização para a candidatura, quem entra com o pedido, como se comportam os políticos?

Paolo:
Pode ser proposto por políticos, mas na maioria das vezes é um movimento que nasce na base, nas ruas, liderado ou proposto por intelectuais da comunidade. Foi o caso da Coréia do Sul, da qual fui o padrinho. Acho que a internet atualmente permite esta mobilização em escala mais rápida. Mas a proposta só pode vingar se tiver o apoio do poder público, e isto pode dificultar. Alguns políticos percebem a oportunidade de visibilidade, e dependendo da mobilização, o prefeito e os vereadores acabam aderindo ao protagonismo comunitário, mesmo que não tenham muito desejo lá no íntimo. E tem outra questão: a dos partidos políticos, que é muito sério aqui na Itália. Geralmente os prefeitos não querem continuar ideias do antecessor, então as propostas mais bem sucedidas são as que conseguem suplantar isto. No meu caso em Greve in Chianti, quando como prefeito eu comecei a falar sobre Cittaslow, encontrei uma adesão significativa de todos os partidos políticos, inclusive da oposição, e isso facilitou a tarefa. Outro segredo do sucesso é que é preciso reconhecer o papel e importância das forças econômicas e sociais, e suas demandas precisam ser contempladas. No Brasil ainda não temos nenhuma Cidade Lenta; você não quer levar o movimento para lá? (Nota do repórter: as cidades de Tiradentes, Minas Gerais; Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul e Santa Teresa, no Espírito Santo estnao em diferentes fases no processo de associação).

 A cidade de Biskupiec, na Polônia, é uma das 180 que integram a rede Cittaslow em 25 países
   
Ruschel:
Existem outras iniciativas similares?

Paolo:
Sim, existem outras iniciativas. A maioria dos municípios participantes do Cittaslow também faz parte de outras associações como, por exemplo, associações de "identidade da cidade" (cidade do vinho da cidade, pão, cidade Querida, cidades floridas, etc.) que realizam políticas e objetivos similares aos da Cittaslow. Muitas cidades também acompanham regularmente as atividades do Slow Food, ou Legambiente ou Symbola, organizações que têm uma origem comum com Cittaslow na defesa do meio ambiente, e na qualidade dos produtos locais. (Nota do repórter: No Brasil outros movimentos similares são Cidades Sustentáveis e Transition Towns - de âmbito nacional - e movimentos do tipo Nossa CidadeTal, Observatório da CidadeTal). 

O berço da Cittaslow
Greve in Chianti é uma pequena comunidade de menos de 15.000 habitantes a 30 quilometros de Florença, no coração da Toscana. Provavelmente existe antes dos etruscos e dos romanos dominarem a área; os registros mais antigos são do século XI.  A economia local está baseada na exportação de óleo de oliva extra virgem e vinhos chiantis e super-toscanos e importação de turistas. A cidade abriga atrações como a Igreja Santa Croce (século XI), uma casa que foi de Américo Vespúcio, um mosteiro Franciscano do século XIV e o castelo de Verrazzano construído pelos Lombardos no século XIII, entre outras obras. Atraídos pela beleza e charme da região e por festivais de vinho, festa das flores, feiras de antiguidades e uma feira semanal de produtos típicos na Piazza Matteotti, a principal da cidade, os turistas que visitam Greve in Chianti podem se deliciar com uma gastronomia de alta qualidade que inclui trufas, porcos Cinta Senese e veados selvagens - todos de produção local. 
 Greve in Chianti durante a Festa dei Fiori, em 2010

Por todas estas razões, ter uma propriedade na região se tornou o objeto do desejo de bem resolvidos e ricos do mundo inteiro que compram propriedades idílicas como as famosas vilas toscanas, pequenos castelos e propriedades rurais centenárias com áreas de produção de azeite e vinho. Compram e não podem modificar um único tijolo. Em 2010 a revista norte-americana Forbes a nomeou a primeira da lista de "Europe's Most Idyllic Places To Live."
Mas Greve in Chianti prospera de um jeito diferente, controlado. Nos anos 80 a cidade já começava a ter problemas de perda de identidade por causa do volume de turistas. Como enfrentar o desafio de atender turistas em maior volume do que podia sem se descaracterizar? A solução convencional no turismo nestes casos é buscar a qualidade, mas a comunidade já oferecia isto. Foi quando o então prefeito Paolo Saturnini propôs uma idéia simples: a associação do conceito de “slow food” para a cidade inteira, um conceito que se materializou no Movimento Cittaslow.

Slow Food: a inspiração

O Movimento Slow Food foi criado em 1986 pelo italiano Carlo Petrini e se transformou em uma organização internacional atualmente com 100.000 sócios de 150 países que promove a eco-gastronomia, a educação alimentar, alimentos sustentáveis e a agricultura de base local. O princípio é simples: a forma como nos alimentamos tem profunda influência no que nos rodeia - na paisagem, na biodiversidade da terra e nas suas tradições.

 

 

 


 


O Movimento Cittaslow herdou não só os princípios, mas também o logotipo Movimento Slow Food, colocando casinhas nas costas do caracol.
 Com sede na cidade de Bra, na Itália, o Slow Food opera tanto localmente (em parcerias como com a Terra Madre, encontro internacional de comunidades do alimento que trabalham pela sustentabilidade de seus produtos alimentares, e com a Fundação Slow Food para a Biodiversidade, braço científico do movimento), como globalmente, em parceria com instituições como a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.

 
No Brasil o movimento mantém 8 Fortalezas (projetos que defendem produtos ou modos produtivos agrícolas específicos de um local), inseriu 24 produtos brasileiros na Arca do Gosto (catálogo mundial de sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção) e desde 2004 tem um convênio com o o Ministério do Desenvolvimento Agrário para desenvolvimento de projetos.  Veja mais em http://www.slowfoodbrasil.com 

Por enquanto é isso, caro leitor: um brinde à qualidade de vida.

(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é jornalista especializado e editor da revista eletrônica “Business do Bem – Economia, Negócios e Sustentabilidade”. Ruschel viajou à Itália a convite dele mesmo.