Por Rogerio
Ruschel
Entrevista exclusiva. Minha estimada leitora ou leitor, muito
se tem falado sobre o crescente protagonismo das mulheres no mundo dos vinhos,
e hoje você vai conhecer um belo exemplo disso. Vai conhecer a história de Leticia
Galvão Bueno - a moça sorridente da foto acima - que há tres anos assumiu o
lugar do pai Galvão Bueno como CEO da Bueno Wines, no momento em que a empresa familiar
decide se transformar em uma empresa de alto perfil e padrão internacional. E vai
conhecer os primeiros resultados, tanto no processo produtivo quanto na
distribuição e comercialização.
Formada em jornalismo
e única filha mulher
de Galvão, Leticia é responsável pela comunicação e pela gestão da
carreira de negócios do pai há mais de 20 anos. Entre 2006 e 2010 dirigiu a We,
agência de comunicação da Stock Car, responsável pela criação da plataforma
digital e pelas ações promocionais da categoria no Brasil. Em 2010 fundou a The
Aubergine Panda, uma agência digital de comunicação (muito bem sucedida, por
sinal) e em paralelo, foi diretora de marketing da Bueno Wines. Até que em 2015
assumiu a cadeira principal.
“Em seis meses vamos lançar nosso próprio
vinho.”
Leticia relembra
a história da Bueno Wines (BW) de seu ponto de vista. Em março de 2009 Galvão entrou
na sua sala colocou duas garrafas de vinho de prova em cima da mesa e anunciou:
“Em seis meses vamos lançar nosso próprio vinho.” Com a ajuda de Darci e
Adriano Miolo e do enólogo Michel Rolland, Galvão havia decidido transformar
seu sonho de em realidade. E o trabalho de Leticia súbitamente se tornou um
desafio complexo, porque teria poucos meses para aprender sobre vinhos, planejar,
criar e lançar uma marca de vinho ligado a uma personalidade pública. Assim,
neste clima de correria foram lançados em 2009 o Bueno
Paralelo 31, um corte
bordalês que o Galvão sonhava, e o espumante Bueno Cuvée
Prestige, em 2010 (foto abaixo).
O mercado
gostou. Galvão também. Tanto que comprou sua área de vinhedo em Candiota – RS e
começou a fazer vinhos com a ajuda da Miolo - e a partir de 2011 em parceria
com o enólogo italiano Roberto Cipresso. O tal “sonho do Galvão” foi evoluindo
de uma “brincadeira do Galvão Bueno para seus amigos famosos”como se dizia na
época, para uma atividade que obrigou Leticia a se dedicar cada vez mais aos
vinhos e cada vez menos a sua agência digital de comunicação.
”Vamos garantir a
qualidade, o resto depois a gente resolve.”
Então em
2015 a coisa piorou – ou melhorou, para quem gosta de desafios: os
acionistas decidiram transformar a Bueno
Wines em uma empresa competitiva em termos globais. Tudo teria que ser feito, ou
refeito, intensificado ou iniciado. Leticia recorda: ”Galvão disse “quero ter o
melhor vinhedo do Brasil”, e como isso na vitivinicultura significa também ter
vinhos premium, tivemos que tomar uma série de iniciativas, algumas muito mais
emocionais do que racionais. A estratégia decidida era - e continua a ser até
hoje - vamos garantir a qualidade, o resto depois a gente resolve.”
Entre as
ações realizadas na Bellavista Estate (foto acima), na campanha gaúcha (foto
abaixo), Leticia recorda “a adoção da tecnologia “tessuto
non tessuto”, uma cobertura que deixa passar água, evaporar, mas reflete o sol, pioneira na vitivinicultura
brasileira (veja em In Vino Viajas); a implantação de uma central meteorológica
própria, completa, única do Brasil; um programa detalhado de acompanhamento e
análise de 18 etapas do processo produtivo. No fronte de batalha de São Paulo
vem sendo montada uma estrutura própria de distribuição, até então feita pela Miolo;
a busca de mercados de valor com a exportação; a revisão da identidade da marca
no portfólio de produtos e o lançamento de novos produtos como recentemente o
azeite AZ 0.2. (Vem ai, segundo soube, um Merlot de alta qualidade, um Desirée
branco e um rosé tranquilo, “com design da Provence”.) Galvão é o chairman e
pazrticipoa das decisões da empresa, especialmente as relacionadas aos produtos
– afinal, é o dono do sonho inicial.
Nesta
reorganizacão, desde janeiro de 2018 a BW tem um novo diretor comercial,
Douglas Delamar, também sócio, que vem trabalhando na distribuição e
exportação. Atualmente a Bueno Wines produz cerca de 300.000 garrafas por ano,
95% do Brasil e 5% da Toscana e já é a segunda maior exportadora do Brasil. As
vendas vão muito bem, crescendo cerca de 30% ao ano. As metas estão sendo alcançadas e ultrapassadas
trimestralmente, o que indica que a estratégia parece estar dando certo na
parte mais importante: os produtos.
Produtos falando inglês
e mandarim
Hoje a BW
tem 11 rótulos vendidos no Brasil, entre os quais alguns campeões como o
Bellavista Estate Pinot Noir (o melhor da casta na 7a. edição da Grande Prova
de Vinhos do Brasil), o Bueno Paralelo 31, que coleciona medalhas de ouro no
Brasil e exterior, e o espumante Cuvée Prestige D.O. medalha de ouro pela IWSC
de Londres. A coleção de prêmios tem aumentado, mas para a CEO, a principal
tarefa agora é o posicionamento. “Estamos trabalhando para substituir a imagem
que existia de que o Galvão faz vinhos chics e porisso os vinhos do Galvão são
bons, por outra, de que a Bueno Wines faz vinhos de alta qualidade.” diz. Leticia
busca posicionar a empresa como ela a vê daqui a cinco anos: uma adega boutique
produzindo 500 mil garrafas de vinhos de alta qualidade, por ano: “A mais
importante do Brasil”, resume.
Posicionamento
é mesmo a tarefa do momento. Leticia me recebeu em uma mesa coberta por
planilhas de vendas e lay-outs que me pareceram, assim de soslaio, sobras de
uma reunião com a agência de propaganda (na foto de abertura ela já tinha
limpado a mesa…). E confirmou: depois de um ano de estudos e reflexão, neste
momento a BW está começando a produzir os materiais que vão reforçar a marca
institucional, no Brasil e no exterior. Delamar, o diretor comercial, me deu um
folheto muito elegante, com a linha de produtos de exportação, com um detalhe interessante:
está impresso em mandarim! O volume da exportação ainda é pouco mas é
estratégico, diz Leticia. E complementa: “Escolhemos canais de distribuição
adequados a produtos de maior qualidade – por exemplo, não estaremos em
supermercados convencionais. A Bueno Wines vai começar a ser mais visivel para os
clientes.” Como Leticia é ao mesmo tempo o cliente e a agência, a chance de dar
certo é alta se ela for exigente com ela mesma.
Perguntas clássicas,
respostas objetivas
Fiz as
clássicas perguntas que se costuma fazer a uma mulher de sucesso (e que as
minhas leitoras certamente esperam). Letícia tem respostas objetivas: Sente
preconceito? “Não, como cresci com irmãos e sempre trabalhei e convivi em um
ambiente masculino, o das corridas de automóveis, posso até sofrer preconceito
mas não percebo.” Planeja algum tipo de produto com foco no público feminino?
“Não, mulheres apreciam o mesmo que os homens em um vinho e devem ser tratadas como
apreciadores da qualidade.” Mulheres tem mais sensibilidade para aromas? “Sim,
ainda bem, e são mais exigentes, ainda bem”.
Os
negócios da BW são múltiplos: na Itália, na serra e na campanha gaúchas e em
São Paulo, sede da empresa. Ela ainda apoia atividades filantrópicas e
participa de eventos como formadora (foto abaixo) Como faz para cuidar de tudo
isso? “Com ajuda. Temos engenheiros, enólogos, gestores nas áreas-chave,
vendedores, um sócio que cuida disso.” (Parte da equipe de campo está na foto
abaixo). Adora comunicação e detesta planilhas financeiras, mas faz o que
precisa ser feito.
Mãe da
Vitoria, 22 e do Nicolas, 12 anos, Letícia tem conseguido equilibrar a vida
profissional com a familiar. O que não é fácil, porque além da BW, e de
outras atividades relacionadas a Galvão Bueno, ela continua atuante na Aubergine
Panda, tocada com a ajuda de seu marido Daniel Trenche.
Mas está conseguindo se superar, como outras mulheres vem fazendo na indústria.
A Baronesa Philippine
Rothschild teve que deixar suas atividades culturais em Paris para assumir a
Mouton Rothschild, mas manteve sua “vida dupla”, levando a arte para os rótulos
dos vinhos. Laura Catena, a 4a. geração da Catena Zapata, é médica,
CEO da Bodega Catena Zapata, do Instituto mantido pela empresa e de sua própria
adega, a Luca Winery em Mendoza, mas ainda continua sendo médica, de maneira
voluntária.
Leticia
faz parte deste grupo de mulheres que arranja tempo, arrisca o pescoço, não
abre mão de conviver em família, tem amigos e faz seu próprio caminho. Gente que
se dedica e leva fé. E por falar em fé: Leticia é devota de Nossa Senhora da
Vitória. E creio que isso também vai ajudá-la a cumprir a promessa feita ao pai
há alguns anos atrás: ”Vamos garantir a qualidade, o resto depois a gente
resolve.” Acompanho esta empresa e posso garantir: sim, ela está resolvendo. Brindo
a isso - tim-tim!
Saiba
mais sobre os vinhos da Bueno Wines aqui: http://www.invinoviajas.com/2017/08/a-vindima-magica-de-galvao-bueno/
Conheça
Roberto Cipresso, o enólogo e sócio da Bueno Wines aqui: http://www.invinoviajas.com/2015/11/conheca-roberto-cipresso-o-criador-dos/
Conheça o
espumante Desirée aqui: http://www.invinoviajas.com/2015/08/galvao-bueno-declara-publicamente-seu/
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