Por
Liana John, edição de Rogerio Ruschel
Estimado
leitor ou leitora, estamos com muita sorte: a talentosa jornalista Liana John
esteve na Grécia e com grande gentileza brinda os leitores de “In Vino Viajas” com
um delicioso relato sobre a paisagem, a cultura, os vilarejos, o povo, a
gastronomia e os vinhos de Santorini. Nas fotos acima e abaixo, imagens
surpreendentes dos vinhedos aos pés do Monte do Profeta, mas na matéria tem
muitas outras. Com a palavra Liana John.
“Se for à Grécia, ponha os pés – e os
olhos – na ilha de Santorini. Reserve uma mesa voltada para o lindíssimo
pôr-do-sol na vila de Oia e prove o vinho branco local, devidamente acompanhado
por polvo grelhado.
A
bela paisagem de Santorini inclui punhados de casinhas brancas agarradas às
bordas da cratera de um imenso vulcão – ainda ativo e fumegante – inundado
pelas águas azuis do Mar Egeu. Onde não há casas e hotéis (como o da foto
abaixo) estão os vinhedos, quase invisíveis aos leigos e distraídos.
Ali
se plantam vinhas de uva Assyrtiko, variedade local cultivada há séculos, com
uma condução desconhecida em outras localidades: a base de cada parreira é
enrolada em círculo, semelhante a um ninho (foto abaixo), de onde as ramas saem
quase rentes ao chão. As justificativas para esse formato incluem a proteção
contra os ventos constantes, a manutenção do calor no outono e inverno e o
aproveitamento dos nutrientes do solo vulcânico, sobre o qual vingam muito
poucas espécies nativas de plantas.
Devido
a esta particularidade, de início é difícil reconhecer os vinhedos, quando se
passeia pelos 76 km2 da ilha principal, onde vivem cerca de 15.500 habitantes.
Só quando aprendemos o que procurar é que eles se mostram onipresentes, tanto em
pequenos lotes urbanos (mais parecidos com terrenos baldios) como ao lado de algumas
das 600 capelinhas de teto abobadado azul. Ou ainda nas encostas íngremes das
montanhas do interior, com destaque para o Monte do Profeta Elias, onde fica o monastério
de mesmo nome. Cercado pelos vinhedos dos monges, claro.
Em
um dos penhascos, com vista deslumbrante para o mar, fica a vinícola Santo
Wines, uma união das cooperativas vinícolas do arquipélago, que reúne 1.200
produtores. Ali se fabrica nosso grego preferido: o Santorini Assyrtiko Grande
Reserve, um branco seco diferenciado, no qual os aromas de frutas secas
mediterrânicas se combinam aos minerais vulcânicos captados por vinhas
centenárias e um toque de carvalho dos 12 meses de “envelhecimento” em barris
franceses. Ali também se oferece um cardápio degustação e se pode comprar
azeitonas e azeites gregos, além dos vinhos. Eles têm tintos, espumantes e
vinhos doces (Vinsanto, abaixo), claro, mas as estrelas são os brancos.
O
Grande Reserve pede frutos do mar de qualidade e nossa opção foi um polvo
grelhado e fatiado, impecável, consumido à luz do famoso pôr-do-sol (abaixo) da
vila de Oia (pronuncia-se “ia”). Cauda de lagosta, lagostins, camarões, ostras
e mariscos também devem ficar perfeitos, se preparados à base de vapor, calor
(da grelha) e ervas ou consumidos só com um limãozinho (no caso das ostras).
Tudo pelo máximo sabor original, que tal vinho pede (e merece).
Antes
ou depois da degustação, vale uma caminhada descompromissada pelas ruas de Oia,
repletas de lojas de artesanatos e joias, com visadas e ângulos preenchidos
pelo branco das construções, de uma arquitetura muito particular. Não faltam
antigos moinhos de vento (abaixo) – de onde antes se obtinha energia – nem
afrescos, cruzes e motivos cristãos ortodoxos, pontilhando o branco das paredes
e tetos. Muitas casas e boa parte dos 70 mil leitos de hotel disponíveis em
toda a ilha são trogloditas, isto é, cavados na rocha vulcânica.
A
capital da ilha, Thira (pronuncia-se Fira), igualmente repleta de casinhas
brancas à beira de precipícios, com certeza merece um dia de visita. O pequeno
e muito bem organizado Museu Prehistórico é obrigatório: ali estão peças e
afrescos (encantadores), recuperados da cidade portuária de Akrotiri,
localizada no extremo sul da ilha. As escavações também podem ser visitadas, na
ida ou na volta da Praia Vermelha (Red Beach), para quem gosta de águas frias,
porém absurdamente transparentes. Na foto abaixo, exemplo de mosaico do Monasterio
do Profeta Elias
A
antiga Akrotiri foi inteiramente soterrada por cinzas da erupção vulcânica
ocorrida por volta do ano 1.650 antes de Cristo (sim, há uns 3.660 anos). Como
em Pompeia, móveis e objetos de decoração permaneceram preservados sob as
cinzas, revelando o incrível desenvolvimento da civilização minoica. Só não há
pessoas, como na cidade italiana ao sopé do Vesúvio, cuja explosão aconteceu
bem depois, no ano 79. Há sinais de que a população fugiu às pressas, levando
seus tesouros e joias em ouro e bronze, provavelmente para morrer no mar,
devido ao violento derrame de material piroclástico e consequente tsunami. A catástrofe
provocada pelo vulcão de Santorini é estimada pelos especialistas como a pior
dos últimos 10 mil anos! Na foto abaixo a ilha de Terasia, a outra ilha
habitada do aequipélago de Santorini.
É
possível passar por Santorini e só ter olhos para suas atrações, dos simpáticos
burrinhos que carregam turistas morro acima aos incontáveis degraus das ruelas
cheias de charme. É possível ignorar o vulcão ou as transformações por ele
impostas à população habitante das encostas. Basta pegar um dos 500 cruzeiros
marítimos e seguir a multidão de 750.000 turistas que anualmente ali
desembarcam para um atribulado dia, no fim da primavera, durante todo o verão ou
no início do outono. No total, contando também quem vai de avião e balsa, a
pequena Santorini recebe 2,5 milhões de turistas por ano!
Para
fugir aos congestionamentos de visitantes, no entanto, o melhor é ir um pouco
antes ou logo depois da temporada de cruzeiros. Assim, dá para evitar filas e sentar
num dos numerosos restaurantes voltados para a caldeira do vulcão, cercada do
profundo azul do mar. Em voz moderada, pode-se pedir um pescado e degustar
longamente outro vinho branco da mesma vinícola Santo Wines: o Santorini
Nykteri Reserve, com 75% de uvas Assyrtiko, 15% Athiri, 10% Aidani.
Com
um toque cítrico e grande personalidade, ele combina bem com aquela paisagem
vertiginosa, em camadas de rochas vermelhas, pretas e cor de areia, pontilhadas
de pedras-pomes, demarcando a catástrofe do passado. Então se entra em contato
direto com Kronos, o deus grego do tempo, o mais jovem dos titãs, filho de
Urano (Céu) e Gaia (Terra) e pai de Zeus, o imortal supremo do Olimpo. Dá até
para imergir na mitologia e perder a noção das horas...”
Conheça
o trabalho de Liana John (na foto acima, em Thira) aqui: http://conexaoplaneta.com.br/blog/category/bioconecta/ ou aqui: http://www.camirim.com.br/
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