Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado
leitor ou leitora, vou contar uma historia que começa triste mas tem um final
muito feliz – a historia da dona Odete Bettú Lazzari (foto acima) e sua corajosa
família de mulheres. Era uma vez uma pequena propriedade na Linha São Jorge, uma
comunidade no interior do município de Garibaldi, vizinha do Vale dos Vinhedos,
na serra gaúcha, na qual vivia uma família de agricultores de origem italiana que
vivia da produção e venda de uvas e leite. A região era linda (foto abaixo) e
todos vivivam felizes.
Mas em 1997 aconteceu
um problema: Danilo, o chefe da familia, faleceu e o mundo desabou nos ombros da viúva
Odete que ficou com quatro filhas para sustentar. Numa comunidade como essa as mulheres são quase sempre coadjuvantes dos homens da casa, e ao longo de dois anos a
viúva teve que vender as vacas leiteiras, os tratores, arrendar os parreirais e
até pedir dinheiro emprestado para parentes para sustentar a família. Até a
natureza parecia estar pesada, contra as mulheres da familia Lazzari.
Mas em 29 de
novembro de 2001 o município de Bento Gonçalves, o Sebrae e a Atuaserra (organização privada) começaram a implantar a Estrada do Sabor, uma proposta para desenvolver o turismo rural na região e assim oferecer uma oportunidade de geração de emprego e renda para
famílias rurais, com foco na agricultura e a agroindústria. Parecia que o céu
começava a se abrir para a familia Lazzari (foto abaixo).
Além disso ao
mesmo tempo se pensava em internalizar o turismo, isto é, aproveitar o fluxo de
turistas que já visitavam as vinícolas grandes na cidade e outras atrações urbanas
da região, o que de fato aconteceu. Hoje, quinze
anos depois, o roteiro é um grande sucesso de crítica e público, muito bem
organizado e sinalizado – e por isso mesmo muito frequentado.
Dona Odete
Bettú Lazzari - hoje com 66 anos, abaixo – aceitou o convite para participar do
projeto, imaginando poder gerar renda vendendo aquilo que ela e suas filhas
sabiam fazer de melhor: refeições deliciosas com receitas secretas da família.
Nos anos
seguintes a vida foi uma dureza. As cinco mulheres (duas das filhas ainda
adolescentes) enfrentaram todos os tipos de desafios: a falta de crédito oficial, o
preconceito comunitário, a desconfiança dos vizinhos, a falta de estudos e a
inexperiência em receber turistas e gerir um negócio. Dona Odete inventou a
Osteria della Colombina que um dia seria um restaurante e começou oferecendo
pique-niques no jardim da propriedade porque não tinha louças e toalhas; estes
utensilios foram emprestadas pelo Hotel Casacurta e a secretária de Turismo e
Cultura de Garibaldi, Ivane Favero, lembra que levou as louças para a casa da
dona Odete em seu carro.
Pois as
cinco mulheres venceram tudo isso e continuam vencendo: as filhas Rosangela,
Raquel e Roselaine já estão casadas, formadas e tem empregos estáveis que ajudam
o negócio da familia, e a filha mais moça, Raissa, com 27 anos - uma excepcional
relações públicas formada em Enoturismo - é quem está mais presente no dia-a-dia
da Osteria della Colombina ao lado da mãe. Rosangela, a filha mais velha, é
técnica em agropecuária com habilitação em agro-indústria e estudou viticultura
em Verona, Itália. E é uma das maiores incentivadoras da recuperação das
receitas históricas da familia. Nas fotos abaixo Odete com duas das filhas e
uma mostra dos produtos locais.
Pois é, meu
caro leitor ou leitora, quinze anos se passaram, e este não é o final, mas já é
feliz. Hoje a Osteria della Colombina é reconhecida no Brasil e exterior e
serve de exemplo em programas de Turismo Rural na Agricultura Familiar. Dona
Odete e suas filhas recebem grupos de até 35 pessoas que se emocionam com a
experiência criativa, simpática e autêntica oferecida na Osteria, como degustar
refeições típicas de imigrantes italianos (foto acima) em ambiente único, numa
mesa comprida, no porão da casa da família, que ainda tem um piso de “chão batido“
(veja abaixo).
Só para você
ter uma ideia dos dotes culináros da familia, anote: como minha visita foi
individual e fora do horário de almoço, dona Odete teve que “improvisar”,
cozinhando “algo simples”. Este “algo simples” da dona Odete começou com uma
polenta brustolada na chapa como entrada (foto abaixo), acompanhada de alguns
embutidos, capeletti in brodo e um risotto fantástico.
O cardápio
official servido para os visitantes (R$ 60,00 com vinho da casa) inclui estes pratos acima e mais: carne
lessa – carne de galinha caipira e gado cozidas na água com temperos não
revelados.
Na
continuação tem salada orgânica e deliciosa, uma porção generosa de nhoque de
tres queijos com salaminho defumado; uma galinha ao molho vermelho de tomate da
casa; carne de panela assada a moda antiga com bacon e salame – daquelas que
tem sabor de panela realmente antiga - e uma fortaia, um tipo de omelete colonial
italiano – veja na foto abaixo.
E mais: dona
Odete oferece aos visitantes uma sobremesa natural execepcional: muitos
doces, geleias e compotas de frutas e sorvete de limão siciliano feito em casa.
Meu caro leitor ou leitora, é simplesmente divino! E ainda existem receitas
antigas resgatadas pela família, como a moranga recheada (foto abaixo), que fazem
sucesso até mesmo além mar e que não pude conhecer!
A familia oferece
visitação à propriedade com trilhas entre pomares e parreirais, sempre no
meio de uma deslumbrante paisagem; você se sente até mais leve depois do
passeio! A familia mantém um pequeno e intimista museu com objetos antigos como
utensílios domésticos e agrícolas, peças religiosas e fotografias, em uma
réplica de casa de madeira da colonização italiana – veja nesta foto abaixo.
Como bons
empreendedores a familia Bettú Lazzari já está “exportando” produtos como
vinhos familiares (com uvas Montepulciano, Corvina e Malbec, ótimos, por sinal),
tempero, doces de frutas como uvas, citricos, ameixas, pessegos, peras, figos, marmelos
- em pasta, geleias, compotas e conservas, tudo feito com matéria prima
orgânica produzida em casa – e certificada. Veja foto abaixo uma amostra. Dona Odete me disse
que “aqui tudo saiu de nossa cabeça, pensamos coletivamente, nada é feito
sozinho porque somos de uma familia de Cremona, da Itália” – com forte sotaque de quem sempre falou o italiano de Veneto, hoje chamado de talian.
Mas as cinco
mulheres tem outra magia de encantamento: convidam o visitante a participar da "Oficina Mãos na Massa",
a oportunidade do turista preparar sua própria “Colombina”, uma pombinha feita de massa de pão
que repousa em uma embalagem tipo caixa de fósforo que as familias italianas faziam desde o sempre, para envolver as crianças
na produção do pão nas familias. Tem gente que chora – e com razão, porque é um gesto simples mas cheio de significados de momentos que nnao conseguimos ter nas cidades grandes. Dona Oete
me confessa: “Lidamos com o emocional das pessoas, os visitantes passeiam,
fotografam, conversam, ouvem historias, ficam de duas a tres horas aqui, se
emocionam, muitos choram escondido...”.
Pois é: em 15 de junho de 2016 a Osteria della
Colombina completou 15 anos de história, data comemorada com o lançamento de um passeio
autoguiado intitulado “Os Caminhos da Colombina” – veja abaixo a placa criada
pela designer Rosana Marina.
O roteiro,
que sozinho já justifica uma visita a a Osteria della
Colombina, oferece
passeios entre pomares, vinhedos, hortas certificadas orgânicas, animais
domésticos, belas paisagens, agroindústria, uma pequena vinícola de sonho e um museu
familiar. A ideia, como me disse a dona Odete, é que o visitante se sinta em
harmonia com este lugar como nós nos sentimos”.
Nós
nos sentimos, dona Odete, eu me senti de verdade. A Osteria della Colombina que foi palco de uma tragédia familia, resisitiu e continua sendo um
lar - só que agora para muito mais pessoas do que as cinco mulheres corajosas da
familia Bettú Lazzari. Na foto abaixo eu recebo a energia positiva e tenho o privilégio de aprender sobre persistência, união e qualidade de ida com dona
Odete e duas de suas valorosas filhas.
É necessário
agendar a visita para viver esta emoção. Mais informações podem ser obtidas no fone (54) 3464 7755, em
http://www.estradadosabor.com.br/odete_bettu
ou pelo e-mail
Para saber mais sobre turismo em Garibaldi
acesse http://www.turismogaribaldi.com.br/
Em Garibaldi sugiro se hospedar no Casacurta
Hotel - http://www.hotelcasacurta.com.br/
(*) Rogerio Ruschel é editor de in Vino Viajas em São Paulo, mas quando pode vai para a serra gaúcha para poder viver a verdadeira vida de quem sabe viver.
COMPLIMENTI, si, si, una bella storia dei nostri TALIANI.
ResponderExcluirI una bella storia di vida! Grazie Moacir
ExcluirQuê beleza, Ruschel
ResponderExcluirObrigado, Padua - a familia é excelente! Abraços
ExcluirRogerio Ruschel, agradecemos e o cumprimentamos. De fato, a D. Odete e suas filhas são fantásticas! Pessoas do bem!
ResponderExcluirObrigado, Ivane. A Estrada do Sabor é um projeto vencedor e os participantes, como a familia da D. Odete, são pessoas do bem.
ExcluirQue emocionante a historia dessa familia , obrigada por nos proporcionar conhecer esse exemplo a ser seguido! Abraços querido amigo!
ResponderExcluirObrigado, Suzana, é uma bela historia mesmo. E nosso pais está cheio de historias assim, embora a imprensa prefira destacar os massacres, a ladroagem e a parte negra da sociedade. Abraços, Rogerio
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