Por Rogério Ruschel (*)
A história da Alsácia é uma epopéia. Ocupando um vale fértil ao longo do Rio Reno protegido pelas montanhas Vosges, no nordeste da França, fronteiriça com Alemanha e Suiça, a região foi habitada por tribos nômades de caçadores em tempos pré-históricos e pelos Celtas a partir de 1.500 A.C. Por volta do ano 58 A.C. virou um território romano dedicado à viticultura; com o fim do Império Romano foi território de Alamanos, Francos, parte do Sacro Império Romano-Germânico e cedida à França no fim da Guerra dos 30 Anos, em 1648.
Mas
tem mais: nos séculos seguintes foi disputada por Alemanha e França, junto com
um território vizinho, a Lorena; após a Primeira Grande Guerra a Alemanha perdeu
a Alsácia para a França, anexou-a de volta durante a Segunda Grande Guerra, e
finalmente perdeu-a novamente para a França em 1944.
Como
resultado destes quase 5.000 anos de história conturbada, na Alsácia de hoje
predominam vilarejos com nomes alemães ou franceses onde moram franceses de
origem alemã (embora a maioria da população alemã tenha sido expulsa e o idioma
duramente combatido pela França), tendo como principal cidade Estrasburgo, bem
ao Norte. Para o turista é uma região belíssima e culturalmente diferenciada
por tantas influências e muitos destes vilarejos ainda apresentam ruínas
romanas e inúmeros castelos dos tempos áureos de famílias poderosas do Sacro
Império Romano-Germânico, como os Habsburgos.
Atrações em toda parte
Além do vinho (que você poderá conhecer em detalhes em outro post neste blog) e da cerveja, pães, doces e queijos – que fazem a fama
da Alsácia, o turista encontra locais verdadeiramente encantadores para
visitar. Cada vilarejo tem atrações próprias como muralhas romanos, castelos de
800 anos, riachos encantadores, restaurantes charmosos, bosques preservados,
shows com animais, festivais de musica e vinho e feiras livres. Todos são
cuidadosamente preservados e floridos e muitos fazem parte destacada do programa
“Villes Et Villages Fleuris” francês, como Eguisheim, que se considera uma das
mais antigas cidades da Alsácia (com registros do ano 720 DC) e berço da
vinicultura na região.
É difícil destacar atrações, até porque no segundo dia você já não lembra mais o nome dos vilarejos, mas é imperdível uma visita ao Castelo de Haut-Koebnigsbourg, em Orschwiller, que, segundo registros existentes, teria sido construído no século XII. Foi propriedade dos Habsburgos, dos Tierstein, pilhado e incendiado durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Entre 1900 e 1908 foi restaurado pelo Imperador alemão Guilherme II, e finalmente passou a ser propriedade da França em 1919, com o Tratado de Versalhes.
A cegonha é o símbolo da Alsácia desde tempos imemoriais, e em alguns vilarejos pode-se ver ninhos nos tetos de torres, vigiados severamente pela população. Aliás, a preservação de bosques, riachos e animais é parte do modo de viver alsaciano. Visitei um belo show de aves de rapina treinados (falcões, águias, corujas, abutres e assemelhados), o La Volerie dês Aigles, no Castelo de Kintzheim, parte de um programa de re-introdução destas aves. Outros centros de preservação, pesquisa e exibição de animais silvestres da região trabalham com lontras, cegonhas (em Hunawihr) e macacos Magot.
Em termos de gastronomia a riqueza está nas diversas influências culturais. Pode-se comer típicos chucrutes, backeofes, kugelhopf, bretzels e muita carne de porco alemães, ao lado de tartes aux myrtilles, coq au riesling e tartes flambées e tartes a l’oignon bem franceses. E queijos, é claro.
Hospedei-me em Colmar (centro comercial do
vinho alsaciano), de onde fazia incursões diárias de até 30 quilometros a
Sélestat, Ribauvillé, Ingersheim, Bergheim, Saint-Hippolyte, Riquewhir,
Zellenberg, Kayserberg, Kientzheim e outros vilarejos com nomes impronunciáveis
e muito atraentes.
Em Colmar vale visitar o Museu Interlinden, com obras da Idade Média ao Renascimento; o Museu Bartholdi, arquieto criador da Estátua da Liberdade; os canais com casas floridas da Petit Venise e degustar o ambiente. No caminho entre Colmar e Mulhouse ficam duas atrações que não conheci: a Cité de l’Automobile, o maior museu de automóveis da Europa e o Ecomuseu da Alsácia, com 72 casas rurais dos séculos 16 a 18.
Enfim, trata-se de uma região que mesmo
destruída por invasões durante vários séculos, tem um povo receptivo e de bom
gosto que mantém profundo respeito pelo território em que vive. E que sabe que
o turismo é parte fundamental da economia. Um brinde a isso!
(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br - é turista inveterado, jornalista e
consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/
.Ruschel viajou à Alsácia por conta dele mesmo.
Belas fotos! Parabéns pelo blog! Já pensa em uma próxima viagem? Sol Flauto
ResponderExcluirObrigado, Sol. Sou otimista: tô sem grana mas sempre pensando em viajar pelos roteiros do vinho do mundo. Falta Bordeux, Alemanha, Chile, Grécia, Portugal...
ExcluirAdorei seu blog Rogério! Muito bacana sua iniciativa! Beijos
ResponderExcluirObrigado, Fabíola - um brinde às coisas boas da vida, porque não basta trabalhar.
ResponderExcluirAlsacia realmente é um brinde aos espumantes e colheita tardias!
ResponderExcluirÉ mesmo, Rê - brindemos a isso! Bjs
ExcluirAdorei o post! E relembrei meus momentos em Colmar!!! :) Adoro este blog!
ResponderExcluirReviver uma viagem é apenas um dos beneficios de ter feito a viagem, Deziree. Vamos continuar revivendo e espero que você continue nos visitando e divulgando o blog.
Excluirbjs de são paulo