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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Brasil vai ter mais três regiões vinícolas com certificação de origem; processos aceleram no INPI

 

Por Rogerio Ruschel

Estimado leitor ou leitora, boas notícias: o Brasil está acelerando propostas de certificação de origem para vinhos e espumantes e isso vai ajudar a conquistar respeito e mercado, dentro e fora do país. Estamos muito atrasados em relação a produtores com os quais queremos competir: em 2017 existiam 1.043 Identidades Geográficas - IGs apenas de vinhos, na Europa; só a França tinha 473 regiões certificadas, a Itália tinha 464 e a pequena Luxemburgo, que tem pouquíssima experiência com vinhos e um território do tamanho de uma fazenda de médio porte no Brasil, tem 36 regiões certificadas de vinhos. O quadro abaixo, retirado do meu livro “O valor global do produto local”, mostra um resumo.

Então a boa notícia é que corremos atrás do prejuizo. Hoje o Brasil já dispõe de sete IGs de vinhos, sendo seis delas de Indicações Geográficas (Campanha Gaúcha, a mais recente; Altos Montes, Farroupilha, Monte Belo, Pinto Bandeira, Vales da Uva Goethe) e uma de Denominação de Origem (Vale dos Vinhedos, a mais antiga). Mas outras três estão em processo de reconhecimento: Altos de Pinto Bandeira, Região do Planato Catarinense e Vale do São Francisco.

Não precisamos ter centenas de anos de cultivo e milhares de hectares de produção de uvas e vinhos para que valha a pena investir na identidade e origem. A Vinícola Miolo, por exemplo, com apenas 32 anos de existência, investe na valorização de 10 vinhos e espumantes que levam o selo de Denominação de Origem Vale dos Vinhedos – um pequeno número no universo de sua produção total que inckuioutras regiões.

Quando um produto adquire uma identidade territorial derivada da região onde é produzida (uma Identidade Geográfica – IG), a certificação das características exclusivas ou intrínsecas deste produto, agrega valor de mercado e ajuda a protegê-lo de cópias, através de um selo que garante sua identidade e lhe acrescenta valor como Propriedade Industrial – PI. Venho pesquisando, estudando e reportando sobre este tema não só aqui no In Vino Viajas, mas criei o WebCanal Tesouros no Fundo do Quintal, hoje com 27 videos com historias de sucesso sobre o tema e escrevi o primeiro livro brasileiro de marketing sobre o assunto, “O valor global do produto local – A identidade territorial como estratégia de marketing”, publicado em 2018 pela Editora Senac. Veja os links no fim desta matéria.

Voltando aos vinhos, veja o que um especialista informa: “As Indicações Geográficas brasileiras representam um reconhecimento dos territórios do  vinho  organizados,  geridos  de  forma  coletiva  pelos  produtores  para  valorizar  a origem, promover e garantir a qualidade dos produtos. São regiões que estão ampliando seurenome, o  que  reforça  a  imagem  junto  ao  mercado  consumidor. Apresentam um diferencial para assegurar posição no mercado competitivo. A agregação de valor aos produtos  faz  parte  de  uma  construção  da  imagem  e  do  renome,  que  normalmente evoluem com a consolidação das indicações geográficas”, segundo Jorge Tonietto, Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, na foto abaixo.



A meu pedido o Dr. Jorge Tonietto, fez um resumo das três solicitações de reconhecimento de origem que tramitam no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI): Altos de Pinto Bandeira, Região do Planato Catarinense e Vale do São Francisco. Ele é Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com mestrado em Fruticultura de Clima Temperado pela Universidade Federal de Pelotas - UFPEL e doutorado em Biologie de L'évolution et Ecologie - École Nationale Supérieure Agronomique de Montpellier, França e um dos mais importantes especialistas brasileiros em Indicações Geográficas. Com a palavra, Jorge Toniolo.

Indicação de Procedência “Vinhos de Altitude de Santa Catarina”

Esta IG localiza-se em latitudes pouco tradicionais da viticultura mundial. Possui a área geográfica  delimitada vitivinícola  com  as  temperaturas  mais  frias  do  Brasil,  mesmo estando  em  latitudes  mais  baixas  do  que  as  encontradas  nas  regiões  produtoras  de vinhos do Rio Grande do Sul. Estastemperaturas amenas são resultado da altitude onde os vinhedos são cultivados -sobretudo a partir de 900m, podendo chegar a 1400m, em altitudes onde não existe viticultura na Europa. Nestas condiçõesdo Brasil, o ciclo da videira é mais longo, sobretudo no período de maturação das uvas, resultando em uvas de qualidade que dão origem aos chamadosVinhos de Altitude de Santa Catarina. A produção  de  vinhos  finos  tranquilos  e  espumantes  naturais  é  limitada  ao  volume  de produção de poucas centenas de hectares de vinhedos cultivados na região.Os Vinhos de Altitude de Santa Catarina compõem uma identidade até então inexistente na  vitivinicultura  brasileira doséculo  XX. 

Esta nova  região  produtora  enriquece  o patrimônio  vitivinícola  nacional  e  amplia  a  diversidade dos  vinhos  de  qualidade brasileiros. A estruturação desta IG foi resultado de uma parceria entre a Epagri, Embrapa Uva e Vinho, Sebrae  e  os  produtores da  associação “Vinho de  Altitude –Produtores  & Associados”, que  depositou o  pedido  de  registro da  IG  no  Instituto  Nacional  de Propriedade Industrial –INPI em 2020, o qual está seguindo os trâmites do processo, com perspectivas de obtenção do registro ainda em 2021.Parasaber mais sobre a IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina: http://sistemas.epagri.sc.gov.br/semob/consulta.action?subFuncao=consultaPublicacoesDetalhe&cdDoc=47709

Indicação de Procedência de vinhos “Vale do São Francisco”

Sem dúvida esta é uma IG muito particular na viticultura brasileira e mundial. Trata-se da produção dos chamados vinhos tropicais, no clima tropical semiárido do Vale do São Francisco. Nesta condição, não há alternância entre verões e invernos como ocorre nas regiões de viticultura tradicional do mundo e a videira pode manter o ciclo vegetativo ao longo do ano, possibilitando colheitas e elaboração de vinhos de janeiro a dezembro. Além  disto,  os  vinhos  possuem  uma  identidade  própria  que  resulta  da  interação  das variedades com o clima e o soloda região. A IG Vale do São Francisco é um marco, pois é a primeira em nível mundial estruturada com requisitos equivalentes aos utilizados na União Europeia. E a primeira em vinhos tropicais.

Isto garante a origem e a identidade destes produtos, que inclui os espumantes naturais, espumantes moscatéis, vinhos tintos, rosados e brancos. Um  amplo  projeto  coordenado  pela  Embrapa  Uva  e  Vinho  em  parceria  da  Embrapa Semiárido  e  diversas  outras  instituições,  incluindo  os  produtores  através  do instituto Vinhovasf, apoiou a estruturação inédita desta IG de vinhos tropicais. Com pedido de registro depositado no INPI em dezembro de 2020, estima-se que a IG possa estar reconhecida no primeiro semestre de 2022.Para saber mais: https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/58842515/brasil-e-pioneiro-em-indicacao-geografica-de-vinhos-tropicais

Denominação de Origem de espumante natural “Altos de Pinto Bandeira”

As denominações de  origem contemplam produtos que apresentam características próprias que resultam do efeito dos fatores naturais (clima, solo, relevo) e dos fatores humanos  (variedades,  sistemas  de cultivo, técnicas  de  elaboração  e  envelhecimento) da região  delimitada. Altos de Pinto Bandeira é o resultado de um trabalho evolutivo da região de Pinto Bandeira, hoje compartilhado por uma coletividade de produtores nesta região diferenciada, que se beneficia de um clima ameno de uma zona de maior altitude da  Serra  Gaúcha. Trata-se  da  primeira  DO  brasileira  exclusivamente  de  espumantes naturais. Possui um conjunto estrito de requisitos de produção para garantir verdadeiros produtos  de  terroir:  produção  das  uvas  na  área  delimitada,  apenas  três  variedades autorizadasde  alta  aptidão,  sistemas  de  cultivo  específicos  e  com  controle  de produtividade,  técnicas  de  vinificação  particulares,  incluindo  a  prensagem  de  uvas inteiras, segunda fermentação exclusivamente pelo método tradicional, tempo mínimo de um ano de contato com as leveduras no período de autólise, padrões de qualidade do vinho base e do produto finalizado, incluindo aspectos analíticos e sensoriais.

A Serra Gaúcha tem  como  produto  ícone  os  espumantes  naturais,  reconhecidos no mercado nacionalpela sua qualidade. A DO Altos de Pinto Bandeira garante a origem deste produto, com os melhores padrões de produção tradicional numa área demarcada de  excelência.  Com  isto,  os  consumidores  podem  ter  acesso  a  estes  produtos diferenciados.Um projeto liderado pela Embrapa Uva e Vinho, com a parceria da UCS, UFRGS e dos produtores  da  Asprovinho,  concluiu  a  geração  dos  elementos  que  possibilitarão  o imediato  depósito  do  pedido  de  registro  da  DO  junto  ao  INPI,  com  expectativa  de reconhecimento para  início de 2022. Saim mais: https://www.embrapa.br/en/uva-e-vinho/indicacoes-geograficas-de-vinhos-do-brasil

 

Para saber mais:

* WebCanal Tesouros no Fundo do Quintal – https://www.youtube.com/channel/UCc4c2FU6Z88_XU_2I2lFbmA

* Livro “O valor global do produto local” – https://www.essentialidea.com.br/portfolio-item/o-valor-global-do-produto-local/

* Artigos sobre Identidade Geográfica http://www.invinoviajas.com/?s=identidade+geo

 

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