Meu prezado leitor ou leitora, me recostei
uma videira velha ao lado de um muro de pedra e em respeitoso silêncio
mergulhei meus olhos naquela paisagem magnífica por mais de um minuto. E nas
três horas seguintes quase não consegui parar de tirar fotos, tentando
aprisionar aquele cenário de beleza milenar em uma pequena e ridícula câmera
fotográfica. É impressionante! Sou um jornalista experiente e só fiquei assim,
sem palavras, em poucos locais na minha vida. E o Douro Vinhateiro, em
Portugal, é uma dessas – e creio que impressiona todo mundo porque foi
reconhecido pela Unesco como um Patrimônio da Humanidade em 2001.
Estive lá no começo do inverno, em dezembro, e
embora os vinhedos não tenham a beleza colorida da primavera, o movimento é
menor; em 2015, só em barcos mais de 750 mil turistas estiveram lá. Fui convidado pela Sogrape Vinhos, a
maior e mais premiada vinícola de Portugal, para visitar a Quinta do Seixo, uma
das propriedades mais bonitas do Douro e berço do Don
Sandeman, a marca de vinho do Porto com 225 anos que em 2015 vendeu 6,7 milhões
de garrafas em mais de 130 países – mais de 18.000 garrafas por dia!
Vou contar esta história, mas antes seria bom
você saber porque este é considerado um dos destinos imperdíveis do mundo.
Localizado no Norte de Portugal, o Douro é um lugar histórico: foi a primeira
região vinícola do mundo a ser uma Região Demarcada, em 1756 É um vale
recortado pelo rio Douro (e afluentes) que nasce na Espanha e desagua no
Atlântico, nas cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, depois de percorrer 897
kms.
Hoje, depois de centenas de anos de cultivo
de uvas, atividade que começou no tempo dos romanos, é uma das mais belas
regiões vinícolas do mundo. Sabe aqueles lugares onde você simplesmente não
consegue parar de fotografar? Pois o Douro é assim e eu não resisti, como
mostra a foto abaixo.
Os vinhedos são plantados de três diferentes
maneiras: em socalcos (zonas com inclinação muito elevada, geralmente com muros
de xisto – como na foto acima), em patamares (terraços sem muros de suporte
como na foto abaixo) e no alto (topos) e o solo é basicamente de xisto com
incrustrações de natureza granítica. Pois é: o Douro tem um solo empedrado e
pobre e uma dificuldade acachapante para trabalhar. Mas é de lá que vem a matéria-prima
e é produzido o famoso vinho do Porto e os vinhos de mesa com a DOC Douro.
Você pode visitar o Douro de trem (comboio),
de barco, de carro ou misturando as opções. Fui com o trem IR863 que leva 2:30
hs da Estação São Bento, no Porto, até Pinhão, uma pequena vila à margem
direita do Rio Douro, que é o coração do Alto Douro Superior e voltei de carro com Inês
Vaz, Press Officer da Sogrape.
A viagem acaba sendo rápida porque você não
se cansa da paisagem e a chegada em Pinhão (acima) é uma prenúncio da beleza
que está por vir: a estação de
Pinhão é uma das mais bonitas de Portugal. Construída no século 19, é coberta por 25 painéis de azulejo de
autoria de J. Oliveira em 1937, que representam cenas da cultura da uva e
produção de vinho na região como as das imagens abaixo.
A Sogrape tem seis
quintas no Douro, com um total de 486 hectares de
vinhas plantadas com uvas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta
Barroca, Tinta Roriz e outras, sob a coordenação do enólogo Luis Sottomayor. A
Quinta do Seixo fica na margem sul do rio Douro, no Cima-Corgo (Douro Superior),
cerca de 15 Km da estação de Pinhão, e tem 71 hectares de vinhas plantadas nos
sistemas patamares e vinha ao alto.
Propriedade da Sogrape desde 1987, a Quinta
do Seixo hoje é um moderno centro de vinificação no qual são produzidos vinhos
do Porto e vinhos de mesa e também tem instalações de enoturismo que oferecem
visitas guiadas à adega, à loja e aos lagares robotizados com apresentações
multimídia sobre o ciclo de produção do vinho, complementados por degustações,
cursos e experiências turísticas em uma sala com uma vista panorâmica
espetacular sobre o rio Douro – veja as fotos abaixo.
Você escolhe: os roteiros podem ter de 60 a
120 minutos, custam entre 10 e 38 Euros e incluir a degustação de até cinco
vinhos do Porto em uma sala impecável (foto acima) acompanhados ou não de uma
seleção de queijos regionais do Douro e de uma visita às Vinhas Velhas. Meu
roteiro foi especializado e Eduardo Gomes-Helena, consultor em viticultura e
enologia, foi meu guia na visita técnica (foto abaixo).
E por falar em visita técnica, acho justo
registrar que além dos vinhos excepcionais e do cenário inesquecível, a Quinta
do Seixo tem produzido também outro ativo importante: conhecimento em
sustentabilidade. Gomes-Helena me falou com entusiasmo sobre este assunto: entre
outras ações, a Quinta realiza monitoramento da diversidade nas videiras e no
ecossistema do entorno (contando insetos, por exemplo); promove a
biodiversidade plantando mudas de espécies autóctones como madressilva,
rosmaninho, roselha, caril, medronheiro e espinheiro; restaura a cobertura
vegetal natural e combate pragas das videiras reduzindo ao máximo o uso de produtos
químicos. O técnico me falou que entre outras ações eles vem provocando
confusão sexual na traça-da-uva para ela não se reproduzir mais…
Agende sua visita no site da Sogrape https://www.sograpevinhos.com/visitas/cave/4
- ou em agências de turismo especializadas de Porto.
(*) Rogerio Ruschel é editor de In
Vino Viajas baseado em São Paulo, Brasil, e é o autor de algumas das fotos; as demais são de Sonia Fonseca.
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